terça-feira, 29 de outubro de 2013

TUDO TEM O SEU TEMPO

Há uma década que colaboro na blogosfera sampedrense.
À excepção do CARICAS, os demais blogues locais desapareceram ou raramente publicam algum post. O mesmo acontece um pouco por todo o país.
Os blogues já tiveram o seu tempo. É visível muito menor frequência destes órgãos de comunicação.
A partir de hoje, deixo de publicar textos - era o único a fazê-lo há anos - no "Mais São Pedro do Sul", passando apenas a colaborar na imprensa local, como tenho feito.
Agradeço aos leitores a paciência que comigo tiveram durante quase 4 anos.
Por fim, agradeço ao meu amigo Dr. Daniel Martins o espaço que aqui me concedeu.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

AMIZADES E SUBMISSÕES

Numa entrevista concedida, há cerca de um quarto de século, ao jornal da sua organização, "Diário", o líder do Partido Comunista do Perú, mais conhecido por Sendero Luminoso, Abimael Guzzman, a uma pergunta sobre se tinha amigos, respondeu "não tenho. Tenho camaradas, bons camaradas". Esta expressão, além de demonstrar que para este intelectual e dirigente revolucionário a amizade nada conta, nem qualquer outro sentimento individual, mas apenas a camaradagem e a realização da revolução, tinha outro significado: avisar os ditos camaradas que não eram seus amigos e, se pisassem o risco, sabiam o que os esperava.
Ontem, durante um debate parlamentar, em resposta a uma acusação do líder do PCP, Jerónimo de Sousa, de que o governo servia os seus amigos banqueiros, Pedro Passos Coelho afirmou não ter o governo amigos.
Entre os pobres e a classe média não se vê, de facto, amizade ou simpatia pelo executivo de Passos Coelho. Só por masoquismo se pode gostar de um governo que, além de tudo que já fez contra estas camadas da população, na proposta do OGE/2014 corta salários e pensões a partir de 600,00 euros, mantém o IRS e o IVA elevados e prevê um desemprego ainda maior, enquanto baixa o IRC em 2%. Pouco antes, o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, pessoa conhecidíssima pela sua coerência, dizia não serem necessárias mais medidas de austeridade.
Diz o governo que a baixa do IRC estimula a economia. Como, se a população continua a perder poder de compra, tendo menos dinheiro para adquirir os produtos fabricados pelas empresas? Incentivando as exportações, diz o governo. Só que, 95% das empresas são PMEs. A sua esmagadora maioria vive do mercado interno. Logo, esta baixa do IRC, sem a diminuição do IRS e do IVA, e tendo em conta o corte de salários e pensões, apenas beneficia as grandes empresas, prosseguindo a liquidação de muitas das pequenas e médias. Mais uma demonstração do carácter de classe do governo Passos/Portas!
Aqui chegados, parece que os amigos do governo são os banqueiros e os grandes industriais. Nem sempre o que parece é. A relação entre uns e outros não é de amizade, mas de submissão do governo ao poder económico, que utiliza aquele, mas não vê os seus membros como amigos, até porque não são dos seus.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

ALEMANHA RICA, ALEMANHA POBRE

Na Revista da última edição do "Expresso", vinha uma reportagem sobre Leipzig, cidade alemã integrante da ex-RDA.
Ali era afirmado que a taxa de desemprego naquela cidade é de cerca de 11% da população activa, 14% dos seus habitantes têm um apoio da segurança social semelhante ao nosso RSI e o número de pessoas a viver abaixo do nível de pobreza é de 21%.
É esta a outra face da Alemanha, a Alemanha pobre. A mesma reportagem refere haver desprezo na parte ocidental do país relativamente aos habitantes da antiga RDA. Curiosamente, a Srª Merkel nasceu na RDA e militou no seu partido comunista.
Antes da queda do muro de Berlim, não havia liberdade na RDA. A riqueza deste país equivalia a metade da riqueza da RFA. No entanto, a RDA era o país com melhor nível de vida no leste da Europa. Os seus cidadãos tinham emprego, saúde e educação garantidos.
As consequências da passagem das sociedades socialistas totalitárias para a democracia e o capitalismo também foram estas. Está aqui a explicação para a força eleitoral que os ex-comunistas têm no leste alemão ou para os húngaros terem eleito um governo de extrema-direita que diariamente comete atentados contra a democracia.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS EM 10 PONTOS

1º - No passado dia 29 de Setembro, os portugueses mostraram um cartão vermelho ao governo e à sua política, obtendo o PSD a maior derrota de sempre em eleições autárquicas. Até na Madeira o PS ganhou em mais municípios que aquele partido. Alberto João Jardim está no ocaso do seu poder.
2º - O CDS, que continua com um pé dentro e outro fora do governo, não foi penalizado como o PSD, tendo obtido a presidência de 5 câmaras (mais quatro que em 2009).
3º- O PS foi o grande vencedor, consolidando António José Seguro a sua liderança. A táctica deste partido de não criar, no período eleitoral, elevadas expectativas mostrou estar correcta, contrariamente ao então afirmado por vários analistas e comentadores políticos.-
4º - O PCP voltou a ultrapassar os 10% e a recuperar câmaras importantes como Évora, Beja ou Loures.
5º - O BE registou uma acentuada descida de votos, perdendo para o PS a única câmara que detinha. Mostrou também não ter uma máquina local eficaz como, por exemplo, o PCP.
6º - A soma da abstenção, dos votos nulos e brancos ultrapassa 50% do eleitorado. Este facto é demonstrativo do sentimento que paira no país contra os partidos do sistema. Aliás, onze listas independentes venceram em igual número de câmaras, entre as quais Porto, Oeiras, Portalegre e Matosinhos.
7º - O PSD não tirou as devidas ilações destes resultados. Mostrou encontrar-se, tal como o governo, no qual é o principal partido, completamente isolado e repudiado junto da população. No entanto, numa atitude perfeitamente esquizofrénica, reagiu como se nada se tivesse passado. No Conselho Nacional que se seguiu ao acto eleitoral, não foi analisado o porquê da derrota. A preocupação dos srs. conselheiros laranjas foi propôr uma política de "caça às bruxas" relativamente aos críticos da estratégia falhada. Eis mais uma prova de que a maioria esmagadora do aparelho do PSD está com esta política de traição à social-democracia e à herança de Francisco Sá Carneiro.
Quem quiser lutar pela realização da social-democracia em Portugal terá de fazê-lo em outra sede.

NOVO CICLO EM S. PEDRO DO SUL


8º - Aquando da vitória do PSD e do Dr. António Carlos Figueiredo nas eleições autárquicas de 2001, em artigo publicado no jornal "Notícias de Lafões", afirmei passar qualquer solução futura do PS por Vitor Figueiredo, então reeleito Presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro do Sul. Passados 12 anos e após várias derrotas copiosas, foi precisamente com Vitor Figueiredo que os socialistas recuperaram a C.M. local e com maioria absoluta, o que só havia acontecido com o Dr. Bandeira Pinho, independente.
Provou-se também que não é necessário ter qualquer licenciatura, mestrado ou doutoramento para se ser um bom político e demonstrar trabalho, como fez na Junta de Freguesia da sede do concelho, o que foi determinante para esta vitória.
9º - O PSD registou uma derrota histórica por razões nacionais e locais. Por um lado, verificou-se também em S. Pedro do Sul uma vontade de penalizar a política governamental, por outro lado, Adriano Azevedo mostrou não recolher a empatia do eleitorado. Algumas afirmações suas na campanha eleitoral, especialmente nos debates, foram autênticos tiros nos pés. Treze anos depois, a História veio dar razão à Comissão Política de então e à maioria dos militantes do PSD quando disseram não à escolha que o então secretário-geral, José Luis Arnaut, quis impôr nas eleições autárquicas intercalares então decorridas, o Dr. Adriano Azevedo. O candidato foi o Dr. António Carlos Figueiredo, o qual venceu quatro eleições por larga maioria absoluta. É minha convicção que se pudesse voltar a candidatar-se, seria reeleito.
10º- Em S. Pedro do Sul, as eleições foram muito bipolarizadas. Daí os maus resultados da CDU e do BE, o qual ficou afastado da Assembleia Municipal, onde mostrou grande actividade no anterior mandato. A bipolarização terá também prejudicado o Dr. José Sousa e os seus companheiros da lista "A Nossa Terra", que apresentou propostas positivas para o futuro do concelho e recolheu a simpatia de parte importante da população.
Recordo ter o Dr. Sousa um papel importantíssimo nas vitórias do PSD nos últimos 13 anos.
António Carlos Figueiredo e José Sousa são dos não muitos militantes do PSD que se mantêm fieis ao ideal social-democrata.

(Publicado na GAZETA DA BEIRA, de 10/10/2013)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

NÃO APRENDERAM NADA

Os partidos e membros do governo, muito especialmente o primeiro-ministro, nada aprenderam com a derrota eleitoral de que foram alvo nas últimas eleições autárquicas. Pelo contrário, prosseguem a mesma política de destruição das forças produtivas. Não há sinal de baixa de impostos no próximo orçamento. Os cortes de salários e pensões continuam. Nem as pensões de sobrevivência escapam. Os salários dos funcionários públicos baixarão, segundo o "Correio da Manhã" de hoje, até 10%.
A austeridade prosseguirá, aumentando a recessão, como reconhece o próprio FMI. Qualquer principiante de economia sabe que tendo os cidadãos menos poder de compra e sendo a carga fiscal elevada, a economia tem um crescimento negativo e o desemprego aumenta, o que, aliás, é visível no nosso país nos últimos dois anos.
Perante o quadro descrito, só por ignorância ou má fé se pode dizer vir aí o crescimento. Como os governantes não serão assim tão ignorantes, forçosamente se conclui que mentem descaradamente e estão de má fé, como disse o militante do PSD, Pacheco Pereira, em recente entrevista ao "Público".
Todos os sacrifícios por que a maioria dos portugueses (não os mais ricos) tem passado foram feitos em nome da recuperação financeira, a qual falhou. Nenhum dos objectivos do memorando foi atingido. A troika deveria ter ido embora no passado dia 23 de Setembro. O défice deveria estar em 2,5% do PIB. A "grande luta" do governo PSD/CDS consiste em que o mesmo fique no final deste ano em 5,5%.
Esta política falhou. Os membros do governo falam cada um de sua maneira. Mais do que nunca, impõe-se a intervenção do Presidente da República, demitindo este governo e convocando novas eleições legislativas, ou procurando a criação de um governo de salvação nacional com outro primeiro-ministro.

domingo, 6 de outubro de 2013

ESTALINISMO DE DIREITA

As últimas eleições autárquicas registaram uma enorme derrota do PSD e uma grande vitória do PS.
A CDU voltou a obter mais de 10% de votos e recuperou câmaras importantes como Beja, Évora ou Loures.
O BE teve um sério revés, perdendo a única C.M. que detinha, Salvaterra de Magos, para o PS.
Foi claramente repudiada a política governamental. No entanto, o CDS, certamente devido à sua atitude de estar com um pé dentro e outro fora do governo, aumentou de 1 para 5 o seu número de Câmaras Municipais, pelo que o grande prejudicado dos partidos do poder foi o PSD.
Os "sociais-democratas", em vez de reflectirem no seu isolamento no país, reagiram em Conselho Nacional como se nada tivesse ocorrido. Em vez de pedirem contas ao líder e restantes responsáveis do partido pela humilhante derrota, os srs. conselheiros laranjas pretendem a expulsão dos críticos da estratégia falhada, à boa maneira estalinista. Resquícios da formação política durante a juventude do próprio Passos Coelho, de Agostinho Branquinho, de Nuno Crato, de Franquelim Alves e tutti quanti?

NOVO CICLO EM S. PEDRO DO SUL

Em S. Pedro do Sul, venceu o PS, por maioria absoluta, na Câmara e na Assembleia Municipais, conquistando também a maioria das freguesias, o que determina o início de um novo ciclo político no nosso concelho. Vitor Figueiredo provou não ser necessário possuir um "canudo" para se ser um bom político e vencer de forma inequívoca umas eleições.
Após 13 anos de poder, com larga maioria, o PSD sofreu uma pesada derrota, determinada pelos seguintes factores: além da vontade nacional de penalizar aquele partido, o seu candidato à C.M., Adriano Azevedo, não criou empatia no eleitorado, tendo, durante a campanha eleitoral, dado vários tiros nos pés.
As eleições no nosso concelho foram bipolarizadas, tendo penalizado a CDU, o BE e "A Nossa Terra". Esta lista independente recolheu, no entanto, bastante simpatia dos sampedrenses. É bom também recordar que o seu cabeça de lista, José Sousa, foi importantíssimo em todas as vitórias obtidas pelo PSD de 2000 para cá.
Se António Carlos Figueiredo pudesse ter concorrido, penso que seria reeleito.
Os meus amigos António Carlos Figueiredo e José Sousa são dos poucos militantes do PSD que se mantêm fieis à social-democracia e ao pensamento de Sá Carneiro.

PS: em próximo número do jornal "Gazeta da Beira" desenvolverei pormenorizadamente os resultados das últimas autárquicas, a nível nacional e local.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

RUI RIO


Há algum tempo, o ainda Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, criticou a prática política do seu partido (PSD), considerando que o mesmo se tem afastado da social-democracia e não preza o factor social. Mais afirmou não apoiar Luis Filipe Menezes enquanto candidato à C.M. da Cidade Invicta, devido à sua política gastadora e criadora de pesada dívida em Vila Nova de Gaia.
Rui Rio sempre repudiou o neo-liberalismo, a actual ideologia do partido liderado por Passos Coelho. É um social-democrata inequívoco, à semelhança de Francisco Sá Carneiro e demais fundadores do PPD.
Enquanto no governo o PSD e o CDS destroem a economia, provocando falências, elevado desemprego, mais pobreza e mais miséria, em nome do mais que falhado combate ao défice e à dívida, Rui Rio, à frente de uma coligação entre aqueles dois partidos, no município do Porto, nos últimos 12 anos, requalificou pontos essenciais da cidade, aplicou uma invejável política social e reduziu grandemente a dívida herdada. Por outro lado, não tem cedido aos lobbies desportivos, culturais ou da construção civil. Provou poder ser-se eleito naquela cidade com a oposição de Pinto da Costa.
É de uma pessoa com o perfil de Rui Rio que o país precisa na chefia do governo. No entanto, as suas palavras não tiveram eco no aparelho do PSD, o que mostra estar o mesmo dominado pelos actuais dirigentes e detentores do poder executivo, que trocaram a social-democracia pelo neo-liberalismo cavador de injustiças sociais, desigualdade e pobreza, cá e no mundo inteiro.
No actual PSD poucos militantes professam a social-democracia. Dificilmente tal partido voltará a ser um partido conciliador da economia aberta e competitiva, do direito de propriedade, com a solidariedade e a justiça social, bem como uma especial atenção aos mais desfavorecidos. Quem se identifica com o ideal social-democrata não é neste partido, nem votando no mesmo, que o fará.

PS: em artigo publicado na edição de 25/07/2013 de “Gazeta da Beira” e intitulado “Economia ou sociedade de mercado”, a determinada altura era afirmado que os programas do PSD e o CDS afirmavam não estar a solução toda no Estado. Tal foi um lapso. A expressão correcta é: “nos programas do PSD e do CDS diz-se que a solução não está toda no mercado”. A correcção aqui fica, com o devido pedido de desculpas aos leitores.

Publicado na GAZETA DA BEIRA, de 26/09/2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

ANGELA MERKEL GANHA ELEIÇÕES SEM MAIORIA

Os democratas-cristãos e Angela Merkel venceram as eleições legislativas alemãs, no passado domingo. Reforçaram a sua votação, mas não conseguiram atingir a maioria absoluta. Os seus aliados liberais não obtiveram a percentagem mínima de votos (5%) para permanecerem no parlamento, pelo que, provavelmente, a Alemanha passará a ser governada por uma coligação entre democratas-cristãos e sociais-democratas.
Os alemães têm razão para votar em Merkel e no seu partido, pois a actual UE e a moeda única foram criados à medida do seu país, prejudicando as economias mais fracas, as quais, ainda que também por outros motivos, se endividaram. Com esse endividamento, as "ajudas" alemãs têm-lhe rendido muito dinheiro, num belíssimo exemplo de solidariedade dos ricos para com os pobres, tal como afirmam os tratados europeus...
O alemão médio sempre sonhou dominar a Europa. Não é por acaso que os nazis, de Hitler, chegaram ao poder através de eleições. Se a Alemanha perdeu a II guerra mundial, está a conseguir, pela economia, atingir os objectivos imperialistas então pretendidos, por falta de competência e de patriotismo da maioria dos governantes dos restantes paises da UE.
O Partido Social Democrata Alemão irá regressar, ainda que como segundo partido, ao poder. Espera-se que se recorde ter nascido do movimento operário da segunda metade do séc. XIX contra o capitalismo selvagem, e faça jus ao seu nome e ideologia, contrariamente ao Sr. Hollande na França.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

NUNO CRATO REGRESSA AOS SEUS TEMPOS JUVENIS

As direcções de algumas escolas secundárias querem proibir as suas alunas de usar decotes considerados excessivos e mini-saias nas aulas e/ou nos recreios. Já agora, porque não obrigá-las a usar capa para taparem bem os seus corpos juvenis?
As associações de pais não concordam com tais decisões. O ministro da educação, Nuno Crato, até agora, não se pronunciou sobre a questão, porque, certamente não se opõe às ditas decisões. Assim sendo, sentir-se-á voltar aos bons velhos tempos de juventude quando passou por várias organizações que perfilhavam o maoismo, para o qual, a nível político geral e, na China, em particular, o sexo era tabu. Naquele país, nas aulas não se falava de educação sexual e era proibido um casal de namorados beijaram-se na boca em público.
De facto, o moralismo revolucionário da esquerda estalinista e maoista é igualzinho ao moralismo hipócrita da direita ultra-conservadora. Por isso alguns revolucionários que conheci se afirmam, sem rirem, serem "de direita e conservadores". Mais do que isso, vocês transformaram-se nuns reaccionários que só envergonham quem convosco lutou por causas justas animadas por ideias erradas.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

11 DE SETEMBRO

Há 12 anos, terroristas suicidas pertencentes à Al-Qaeda lançaram dois aviões contra as torres gémeas, em Nova Iorque, e um outro contra o Pentágono.
Em consequência daquele acto criminoso faleceram vários milhares de pessoas.
Aquele ataque foi perpetrado contra a liberdade. Os seus autores eram psicopatas com ódio a tudo que seja diferente do fundamentalismo islâmico.
A comunicação social tem destacado a comemoração do 12º ano daquele terrível acontecimento nos EUA, o que está certo. Deveria ter tido a mesma atitude no passado dia 6 de Agosto relativamente à recordação do lançamento pelas tropas americanas das bombas de Hiroxima e Nagasaqui, no Japão, causadoras de muitos milhares de mortos. Lembramos também que passam hoje 40 anos sobre o golpe de estado fascista do general Augusto Pinochet, no Chile, orquestrado pela CIA, no qual teve graves responsabilidades o então secretário de estado dos Negócios Estrangeiros americano, Henry Kissinger. Em consequência de tal golpe, foram mortos milhares de chilenos.
A Al-Qaeda cometeu - e continua a cometer - aquele e outros crimes em nome de Alá. Os EUA praticaram as mortes atrás mencionadas em nome da liberdade e demais valores civilizacionais ocidentais..
Nem só os comunistas ou os jacobinos, no pós-Revolução Francesa, mataram muita gente em nome de grandes e generosos ideais como sociedade sem exploradores nem explorados, onde todos serão iguais, liberdade, igualdade e fraternidade.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O POLITICAMENTE CORRECTO E A FALSIFICAÇÃO DA HISTÓRIA

Na edição da Revista do "Expresso" do passado dia 7 de Setembro, vinha publicado um trabalho de reportagem sobre 25 dos 100 considerados ilustres portugueses do séc. XX. Entre aqueles conta-se o já falecido Francisco Martins Rodrigues, que em 1963 abandonou o PCP, de que era um dos principais dirigentes, fundando no ano seguinte, com mais dois dissidentes do partido já liderado por Álvaro Cunhal, João Pulido Valente e Rui d'Espiney, a FAP (Frente de Acção Popular) e mais tarde o CMLP (Comité Marxista-Leninista Português), o qual tornou aquela frente seu braço armado. Estas foram as primeiras organizações maoistas portuguesas.
A prosa sobre Francisco Martins Rodrigues, assinada por Valdemar Cruz, refere ter o mesmo sido preso no início do ano de 1966 com muitos militantes do CMLP/FAP. Esquece, no entanto, o autor da prosa de dizer que tais prisões se deveram à delação do herói revolucionário Francisco Martins Rodrigues na PIDE.
A história verdadeira é esta: havia desconfiança de que um militante do CMLP/FAP, de seu nome Mário Mateus, seria um pide infiltrado. Numa noite, Martins Rodrigues e Rui d'Espiney levaram o tal Mateus para a mata de Sintra, onde este, após levar uma carga de porrada, confessou trabalhar para a PIDE e receber da mesma 2 500 escudos por mês. De seguida, os outros dois matam-no a tiro de pistola.
A PIDE rapidamente prendeu os executantes de Mário Mateus, sujeitando-os a intensa tortura, à qual não resistiram, tendo delatado todos os camaradas que conheciam. Essa sua atitude é que permitiu o desbaratar da organização de que eram dirigentes pela polícia política do regime.
Alguns militantes conseguem fugir para França, juntando-se a outros camaradas aí exilados. Acabaram com o braço armado da organização (FAP) e expulsaram posteriormente Francisco Martins Rodrigues e Rui d'Espiney. A partir dessa altura (1968), o princpial dirigente do CMLP passa a ser o futuro líder do PCP (m-l), hoje militante do PSD e neo-salazarista, Heduino Gomes (Vilar).
Francisco Martins Rodrigues foi condenado na pena de 19 anos de prisão, apenas saindo da cadeia no 25 de Abril. Após a revolução, foi o "pai" da UDP e do PCP(R). O comunista brasileiro, que pertenceu ao círculo de Estaline, Diógenes Arruda, após a "reconstrução do partido", leia-se: o surgimento do PCP(R) no fim de 1975, veio para Portugal controlar o mesmo, tendo levado o respectivo Comité Central, devido ao seu comportamento na PIDE, contrário à chamada firmeza bolchevique, a expulsar Rui d'Espiney e afastar daquele comité Martins Rodrigues, na condição de nunca mais lhe pertencer. Esta atitude relativamente ao Chico, como era tratado na organização, deveu-se ao relevante papel dirigente que teve na reconstituição do partido. Rui d'Espiney permaneceu na UDP.
Em 1984, Francisco Martins Rodrigues sai do PCP(R) e cria a organização denominada "Política Operária", passando a ser director de uma revista com o mesmo nome até à sua morte em 2008.
A extrema-esquerda que não gostava de Martins Rodrigues, dada a sua delação na PIDE, passou, desde os anos 60 do século passado, a apelidá-lo de Chico Bufo.
Quando Francisco Martins Rodrigues morreu, rezei pela sua alma. Desejo que descanse em paz. Reconheço que teve um papel importantíssimo na luta anti-fascista, embora defendesse uma ditadura de sinal contrário. No entanto, não concordo nem pactuo com a correcção política do jornalista Valdemar Cruz. Sempre que se fale ou escreva sobre Francisco Martins Rodrigues, não se refira apenas o que o beneficia. O seu comportamento na polícia, inadmissível em qualquer partido ou organização comunista, levou à prisão e ao exílio muita gente.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

CIA ENSINOU TORTURAS À PIDE

Segundo uma notícia publicada na última edição do jornal "Expresso", a CIA entregou um manual de torturas à PIDE, a polícia política da ditadura anterior ao 25 de Abril. De acordo com um especialista na matéria, algumas dessas torturas ainda foram aplicadas recentemente aos detidos de Guantanamo.
Este facto ilustra uma certa América, que sendo democrática, em nome da luta contra o comunismo, ajudou ditadores fascínoras, ladrões e corruptos em vários pontos do globo, especialmente na América Latina.
Pinochet, Trujillo, Jimenez, Marcos e tantos outros foram alguns dos tiranos colocados e mantidos no poder com a ajuda da CIA e de vários governos americanos.
Essa América queimou muita gente viva, com napalm, no Vietname. Quem não se lembra da célebre fotografia da menina vietnamita, a correr nua, queimada por napalm lançado pelos yankees, com a dor espelhada no rosto e especialmente nos olhos? Essa mesma América lançou as bombas de Hiroxima e Nagasaqui, no Japão, matando dezenas de milhares de pessoas. É a América imperialista e rapinadora das riquezas alheias.
Há uma outra América, a que foi importante na luta contra o fascismo, o nazismo e o outro totalitarismo do século XX, o comunismo, a América que, com o Plano Marshall, ajudou a Europa a sair da crise do pós-II guerra mundial e enriquecer. Foi essa América que derrotou os republicanos e o reaccionarismo dos sectores mais ortodoxos, ignorantes, obscurantistas e patéticos da direita, representados por Sarah Palin, e elegeu Barak Obama, o qual se aproxima do modelo social-democrata europeu, enquanto os governos do nosso continente, com destaque para o governo Portas-Passos, aplicam um ultra-liberalismo conservador, destruidor da coesão social.
Não foi para imitar Bush, agora na Síria, que Obama foi eleito e teve a simpatia de pessoas democratas e progressistas no mundo inteiro.
Como dizia Marx, "a História repete-se, não como tragédia, mas como farsa". Se o ditador Assad cair, não haverá qualquer democracia na Síria, como não houve no Egipto, na Líbia e em outros países árabes. O poder será tomado por gente ligada à Al-Qaeda. Também Saddam Hussein e Bin Laden foram apoiados por administrações democratas e republicanas nas guerras contra o Irão, bem como a guerrilha curda, e a defunta URSS no Afeganistão. Saddam, há mais de 30 anos, matou milhares de curdos com armas químicas, com o apoio dos EUA. Viu-se como estes tipos agradeceram ao país do tio Sam o apoio dado!
Que Cameron alinhe nesta aventura que irá sair cara a todos os níveis não admira. O seu rosto espelha a sua inteligência. Já que Hollande o faça, não passa de uma traição sua aos ideais de uma nova esquerda alternativa ao conservadorismo social.

PS: este artigo foi publicado em 29/8/2013. Por lapso, foi eliminado e reposto na presente data.

A MENTIRA TEM A PERNA COXA

O nº 2 do PSD, Marco António Costa, o tal com quem Paulo Portas disse, na campanha eleitoral para as últimas eleições legislativas, nunca aceitar formar governo, afirmou na universidade de Verão daquele partido que "o PSD tem todo o direito de aplicar o programa com que foi eleito".
Só que, o PSD ganhou as eleições com um programa diferente do que tem aplicado no governo. Na altura, os "sociais-democratas" diziam que caso vencessem as eleições não haveria despedimentos na função pública, nem aumento de impostos, nem cortes de pensões e de salários.
Como facilmente se constata, puseram em prática, em conjunto com o CDS, um outro programa totalmente inverso.
Diz uma velha expressão popular que "a mentira tem a perna coxa". Os detentores do poder não param de mentir e enganar os cidadãos. Nesta altura do campeonato, já só se deixa enganar quem quer. Há que demonstrá-lo na próximas autárquicas, que têm também um significado nacional.

domingo, 18 de agosto de 2013

SÓ SE DESILUDE QUEM SE ILUDIU

O leitor lembra-se de, há um ano, Pedro Passos Coelho ter afirmado no Algarve que o essencial da crise e da austeridade tinha passado? Só se iludiu quem quis, pois a realidade objectiva e subjectiva, como diria o próprio primeiro-ministro nos seus tempos de militância comunista, demonstrava o contrário. Logo a seguir, a TSU e o OGE para  o ano em curso, que passados poucos meses era um documento sem valor, falso como  tudo o que o líder do partido neo-liberal sediado na S. Caetano à Lapa e do actual governo havia dito desde a campanha que o conduziu a S. Bento, foram as primeiras decisões comprovativas de que Passos Coelho não passava de um ilusionista.
Lembra-se ainda, amigo leitor, que aquando da remodelação governamental efectuada há poucas semanas, o primeiro-ministro e seus ajudantes, especialmente Pires de Lima, enchiam a boca com o "novo ciclo caracterizado pelo crescimento"? Pouco tempo depois, no passado dia 16, novamente na "rentré" algarvia do PSD, Passos Coelho não falou de qualquer política virada para  o crescimento económico e o emprego. Pelo contrário, o seu discurso marca uma linha de continuidade (leia-se de mais austeridade e empobrecimento). Nada mudou relativamente ao tempo de Vitor Gaspar.
Após tanta mentira do primeiro-ministro, do PSD e do CDS, já ninguém se pode desiludir, pois já anteriormente não havia qualquer motivo para ilusões.
Este discurso prova também que o crescimento verificado no segundo trimestre relativamente aos primeiros 3 meses deste ano é meramente conjuntural, tendo, aliás, a economia decrescido 2% em  comparação com igual período do ano de 2012. Igualmente conjuntural é a descida do desemprego no mesmo trimestre, pois tal apenas se verificou em trabalhos muito mal pagos - nos outros o emprego diminuiu - e porque estava a chegar o Verão, quando se criam postos de trabalho apenas para esta época.
Num momento de crise como o que vivemos estamos a ser governados por ilusionistas de feira !

terça-feira, 13 de agosto de 2013

APRENDER COM GUERRA JUNQUEIRO

 
Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar. 



PUBLICADO NO BLOGUE "ABRUPTO", DE PACHECO PEREIRA, NO DIA DE HOJE.

NOTA: QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE POLÍTICA ACTUAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA.

sábado, 10 de agosto de 2013

O INTELECTUAL MISTIFICADOR

O intelectual orgânico deste governo, Miguel Poiares Maduro, mostra-se cada vez mais, à semelhança dos intelectuais daquela estirpe, especialmente os serventuários de ditaduras, um mistificador.
Veio dizer que a quebra no desemprego é  sinal de que "estamos a melhorar".
A verdade é esta: aquela quebra deve-se ao efeito sazonal do Verão e apenas se verifica em empregos com baixos salários, pois nos trabalhos melhor pagos o desemprego continua a aumentar. É o INE quem o diz.
E no tocante à dívida pública, ao défice, ao número de pessoas a recorrer ao Banco Alimentar e a instituições particulares de solidariedade social para se alimentarem e vestirem, estamos melhor, Prof. Maduro?
Com a ida de  Miguel Poiares Maduro para o governo talvez se tenha perdido um brilhante intelectual e analista, que certamente deixará de ter o mesmo respeito dos seus pares, e ganhou-se um mau político. É o que acontece quando os intelectuais perdem a independência de pensamento e de espírito  e se tornam em propagandistas do poder, quase sempre - é este o caso - mais papistas que o Papa.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ECONOMIA OU SOCIEDADE DE MERCADO ?

                           
Há muitos anos, quando era director do jornal "Expresso", José António Saraiva qualificou, naquele semanário, Proença de Carvalho, Vitor Cunha Rego e Maria Elisa Domingues, como defensores de um liberalismo económico selvagem. Não tinha razão, pois todos eles, no que diziam e escreviam, mostravam preocupações sociais e a defesa da ascenção social dos mais pobres.
Passado todo este tempo, José António Saraiva é director do semanário "Sol", ao serviço da cleptocracia angolana e porta-voz das posições do governo Portas-Passos. A ideologia, falhada em todo o mundo e também no nosso país, que serve de base a esse governo, é o neo-liberalismo, herdeiro de Ronald Reagan e Margareth Thatcher. Saraiva  tornou-se num dos seus maiores seguidores. Pela sua lógica de há 20 anos, é hoje um dos defensores do capitalismo selvagem. Aliás, é vê-lo elogiar a facilidade em despedir - chegou a escrever que os despedimentos deveriam ser totalmente livres, o que Paulo Portas também fez no "Independente", afirmar estar certo baixar salários e trabalhar mais, cortar nas reformas, aumentar impostos, e tudo o mais levado à prática pelos partidos ditos social-democrata e democrata-cristão, ao contrário do afirmado na campanha eleitoral de há dois anos.
Recentemente, escrevia no jornal com cheiro a sangue de angolanos e não só "vivermos numa sociedade de mercado, como defendiam o PS, o PSD e o CDS".
Nenhum daqueles partidos, nos seus programas, fala em "sociedade de mercado". Pelo contrário, falam em "economia de mercado regulada pelo Estado". Antes de estarem no actual governo, PSD e CDS afirmavam que "a solução, mesmo na economia, não estava toda no mercado". O PS, após ter abandonado o estatismo que o caracterizou em outros tempos e o próprio marxismo, passou a defender o funcionamento do mercado sob supervisão do Estado, rejeitando muito claramente a sociedade de mercado.
Se Saraiva mentiu relativamente aos programas daqueles partidos, falou verdade quanto ao funcionamento das sociedades ocidentais, onde a política está submetida à economia e os grandes grupos económicos mandam e controlam o poder político, especialmente nos países onde a nova direita liberal-conservadora, capitaneada por Angela Merkel, recentemente apelidada de falsa democrata-cristã por uma sua companheira de partido, ex- assessora do chanceler Helmut Kholl, de pouco valendo o voto popular. Ou seja, o poder económico está a destruir a democracia política e também a democracia económica, acentuando as desigualdades sociais e a exploração de mão de obra barata, em favor dos privilegiados. Recordamos, a propósito, ter o liberalismo clássico a luta contra o privilégio como ponto comum com sociais-democratas, socialistas, comunistas e anarquistas.
Por outro lado, o PSD e o CDS, apesar do que está escrito nos seus programas, têm encaminhado Portugal para uma sociedade de mercado, ao gosto do capitalismo sem alma e dos seus serventuários, como José António Saraiva. É a esta gente, apesar de desacreditada e moribunda do ponto de vista político, que vamos continuar entregues por obra e graça do Senhor Presidente da República.
               
PS: cada vez mais este PSD se afasta da verdadeira social-democracia. O partido mais próximo de tal ideologia e do pensamento de Sá Carneiro, adaptado aos novos tempos, apesar de todas as críticas que lhe possam ser feitas, é o PS.
É também necessário, nas próximas eleições autárquicas, infligir, a nível nacional, uma pessada derrota aos partidos do governo, para a mudança rumo a um país mais justo, fraterno, solidário e inclusivo.


Publicado no jornal "Gazeta da Beira", de 25/7/2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

O APELO DO PAPA AOS JOVENS

O Papa Francisco I visitou recentemente o Brasil, tendo participado e celebrado uma missa no Encontro Mundial da Juventude realizado no Rio de Janeiro, no qual participaram alguns milhões de jovens.
Aconselhou os mais novos a serem apóstolos de Cristo, na defesa da Verdade e da Justiça. Mais: disse-lhes para se manifestarem, sem medo, por um mundo mais justo.
O Papa tem criticado o poder económico que desvirtua a democracia e manda no mundo, tornando-o mais injusto. Como diz o escritor liberal e também sul-americano, Mário Vargas Llosa, "o capitalismo é um sistema amoral e injusto, tendo de ser regulado pela democracia". Ora, actualmente, assistimos ao contrário: os políticos, mesmo em democracia, submetem-se ao poder do dinheiro. Basta olhar para quem nos (des)governa. Quem viu o desejo e a luta por uma sociedade melhor por parte dalguns deles, incluindo Passos Coelho, quando jovens, como viu o autor destas linhas !...
Na origem deste poder desregrado do dinheiro e do ressurgimento do capitalismo sem alma está o neo-liberalismo, a herança de Reagan e Thatcher, desvirtuador do liberalismo clássico, "pai" do conceito moderno de democracia.
É, pois, contra o neo-liberalismo, responsável pelo vosso desemprego e falta de perspectivas de futuro que vós, jovens, deveis manifestar-vos. Perigo pior para a humanidade, nos dias de hoje, só o vindo do terror da Al-Qaeda. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

SAI FRANQUELIM, ENTRA BRANQUINHO

O ex-militante do PCP e actualmente primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, parece ter uma grande atracção pela escolha para o seu governo de alguns seus ex-inimigos maoistas, que o apelidavam e aos seus ex-camaradas de "revisionistas", "sociais-fascistas" e "lacaios do social-imperialismo revisionista soviético".
O ministro da educação, Nuno Crato, pertenceu ao PCP(m-l), ao CMLP/PUP e ao PCP(R)/UDP.
O secretário de Estado da inovação e competitividade agora de abalada, Franquelim Alves, foi dirigente do MRPP. Entretanto, para secretário de Estado da segurança social entrou Agostinho Branquinho, mais um ex-jotinha laranja, em tempos militante do MRPP e do PCP(m-l).
Corria o final do Verão do ano de 1976 quando o MRPP, cumprindo um dos seus objectivos, convoca o seu I Congresso para o final daquele ano, a fim de fundar o "verdadeiro partido marxista-leninista-maoista", o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP). A então direcção regional litoral do Norte do partido, denominada Zona Ribeiro Santos, com sede no Porto, liderada por Horácio Crespo, hoje militante do PS e professor universitário de Economia, discorda daquela convocatória, defendendo o abandono da via revolucionária seguida pelo partido de Arnaldo Matos, a aliança com as organizações maoistas que afirmavam a impossibilidade da revolução e a ligação com todas as forças anti-PCP, incluindo as mais conservadoras, como era o caso do PCP(m-l), liderado por Heduino Gomes, o "camarada Vilar".
O principal aliado de Horácio Crespo no Porto era Agostinho Branquinho, uma espécie de motorista e moço de recados daquele.
A apelidada pelo MRPP "pandilha do Crespo", incluindo o Branquinho, foi expulsa. Pouco após, Agostinho Branquinho aderia ao grupo vilarista (PCP(m-l), tornado numa espécie de public relations da China em Portugal, pois praticamente mais nenhuma actividade desenvolvia, não tendo qualquer crédito nos sindicatos, no associativismo estudantil ou outro movimento de massas.
Em 1980, o PCP(m-l) é extinto. Após os seus membros terem constituido o Partido Trabalhista (PT), também liderado pelo Heduino, o mesmo desapareceu em poucos anos. Heduino adere ao PSD em 1984, tendo sido chefe do gabinete de propaganda deste partido aquando da liderança de Mota Pinto.
Após a morte de Mota Pinto, tornou-se um obscuro militante, nada tendo hoje a ver, na prática, com o partido a que aderiu, pois insulta Sá Carneiro, defende Salazar, o seu regime e o colonialismo. Leia-se o seu blogue "Mais Lusitânia" e poderá ver-se como não exagero nada. Recordo apenas ter Heduino Gomes pertencido ao PCP, à FAP (Frente de Acção Popular), braço armado do CMLP (Comité Marxista-Leninista Português) e ao PCP(m-l), como acima se afirma. Recusou-se a fazer a guerra colonial, tendo fugido para França em meados dos anos 60.
Quando o PCP(m-l) acabou, Agostinho Branquinho aderiu ao PSD. No entanto, pertenceu sempre à sua ala direita. Quando esta, capitaneada por Cavaco Silva e Eurico de Melo, conspirou contra o governo de Pinto Balsemão, em 1981, teve um forte apoiante no então jovem Branquinho, o qual, numa atitude de mais papista que o papa, no Conselho Nacional do partido que reafirmou o apoio a Balsemão, rejeitou sozinho o mesmo.
Há pouco tempo, foi trabalhar para a famigerada Ongoing, regressando agora à política como secretário de Estado.
Os últimos ex-maoistas escolhidos por Passos Coelho têm, curiosamente, estado nos últimos anos em muito más companhias. Este na Ongoing, o Franquelim de Económicas, no BPN e na SLN.
Heduino Gomes, Vilar para os ex-camaradas, elogia o salazarismo. Agostinho Branquinho faz parte do governo mais à direita desde o 25 de Abril. Analisando os seus percursos, estão no caminho certo...         

sábado, 20 de julho de 2013

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS, JÁ

A tentativa de acordo entre os partidos do chamado arco constitucional proposta pelo Presidente da República falhou.
A culpa do falhanço foi dos partidos da coligação governamental, que queriam amarrar o Partido Socialista às suas políticas também falhadas. Basta recordar que o défice, incluindo o dinheiro investido na nacionalização encapotada  e mal disfarçada do BANIF, ultrapassa os 10% do PIB. Quer o défice, quer a dívida pública, são maiores que há dois anos, quando Sócrates abandonou o poder, apesar de se ter destruido económica e socialmente o país em nome da recuperação financeira.
A carta de demissão de ministro das finanças  de Vitor Gaspar é o espelho do desastre económico-financeiro irrevogável (usando a linguagem de Portas) da coligação de direita no poder. O mesmo Portas dá constantemente o dito por não dito. Como dizia o meu saudoso amigo Dr. Carlos Candal, figura histórica do PS, "virou-nos as costas, salvo seja".
No nosso entender, a única solução para a resolução da presente crise passa por dar a voz ao povo. O vencedor das eleições a realizar seria o PS, muito provavelmente sem maioria. Como o PSD e o CDS registariam copiosoas e merecidas derrotas, as suas lideranças mudariam. Acreditamos que ainda poderiam voltar a ser verdadeiros partidos social-democrata e democrata-cristão. Então, sim, poderíamos ter uma governo de salvação nacional constituido por aqueles três partidos, que recuperasse financeiramente o país com justiça social.
O nosso azar está em Passos e Portas. Esperamos que Cavaco Silva, que até chegou a afirmar, quando primeiro-ministro, ser social-democrata como Bernstein, conclua o mesmo na decisão que vier a adoptar.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A LINHA JUSTA DO PAPA E A HIPOCRISIA DE CERTOS "CATÓLICOS"

O Papa Francisco I tem denunciado a ideologia economicista, neo-liberal, dominante e as suas consequências: aumento da pobreza e das desigualdades sociais, abusos do alto capital financeiro e não só, e retirada de direitos aos trabalhadores, parte mais fraca das relações laborais. Denúncias de injustiças relativamente aos poderosos, incluindo os religiosos judaicos do Seu tempo, foram feitas por Cristo.
O Papa tem cumprido a sua missão no mundo, à semelhança de Jesus, adaptando a doutrina cristã ao tempo presente. A opção pelos pobres e a luta contra as injustiças são fundamentais para a salvação dos seres humanos.
Tempos houve em que alguns representantes da Igreja Católica interpretavam de forma deturpada e ao serviço dos "de cima" expressões evangélicas como "felizes os pobres, que deles é o reino dos céus", vendo nas mesmas uma maneira de levar os pobres a aceitar a exploração a que estavam sujeitos, porque um dia teriam a recompensa no além. Dava um grande jeito aos possuidores de riqueza que era a pobreza daqueles. No entanto, o sentido da frase de Cristo era o de apelar para a moralidade na obtenção da riqueza.
Ainda hoje, há quem, dizendo-se fervoroso católico, não siga as posições do papa Francisco I e deturpe o caminho da busca da salvação eterna, como é o caso do fundamentalista religioso e fanático apoiante do neo-liberalismo (condenado pela Igreja de que faz parte), bem como do governo à espera do golpe de misericórdia, o Professor de economia João César das Neves. Recentemente, afirmava no "Diário de Notícias" que o mal das sociedades actuais consiste em terem virado as costas a Deus - aqui tem bastante razão - e não aceitarem as dificuldades inerentes à austeridade, aguardando a respectiva recompensa no céu.
Se Cristo cá voltasse, teria muitos vendilhões a correr do templo, como alguns auto-denominados católicos apostólicos romanos que afirmam, entre outras insanidades, "ainda bem que se está a empobrecer. Isto não podia ser sempre a subir (sic)", "ainda bem que está a morrer mais gente. As pessoas viviam muito tempo". Como esses "católicos" pertencem ao país dos "de cima", facilmente se deduz a quem se referem no tocante a empobrecimento e mortes. Tenho ouvido coisas destas em S. Pedro do Sul, à saída da missa onde esta gente acabou de comungar!...
Não é com intelectuais como João César das Neves e com gente egoista, invejosa e hipócrita que a Igreja Católica segue as pisadas de Francisco I ao serviço da fé, da justiça e da verdade.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

RAPAZES HOMENS E HOMENS RAPAZES

O meu avô materno, que foi operário ferroviário, contava muitas vezes que quando um jovem seu amigo entrou para a CP, na qualidade de funcionário administrativo de estação, o pai do mesmo lhe disse: "vê lá se queres ser homem rapaz ou rapaz homem".
Esta "estória", que já em criança ouvia ao meu avô, ilustra, muitos anos depois, a irresponsabilidade dos actuais detentores do poder político. Estamos mesmo entregues a homens rapazes, alguns já septuagenários.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

GOVERNO IMPLODE

Ao fim de dois anos de exercício do poder, em nome da recuperação financeira, o governo de Passos Coelho destruiu o essencial da economia. A esmagadora maioria dos portugueses está mais pobre, as falências de empresas e individuais multiplicam-se, o desemprego ultrapassa um milhão de trabalhadores, uma grande parte dos quais já não recebe subsídio de desemprego. Quanto à situação financeira, o défice já ia, no final do primeiro trimestre de 2013, em 10,6% do PIB (o maior desde o segundo semestre de 2010, ou seja, superior ao que o governo de Sócrates deixou). Tal défice deve-se, em parte, ao dinheiro metido pelo Estado no BANIF, mas se não fosse essa "ajuda", a fazer lembrar o buraco do BPN, o mesmo estaria em 8,8%, mais de 2% que no ano de 2012. A dívida dispara, estando já em 127%/PIB.
Destruiu-se o essencial da economia e agravaram-se os problemas financeiros. Essa foi a consequência do amadorismo e da incompetência do governo ainda em exercício, o qual demonstrou constantemente não estar à altura da sua responsabilidade.
Aquele falhanço foi claramente reconhecido na carta de demissão de Vitor Gaspar. Paulo Portas também abandonou o governo. Passos Coelho mantém-se no maior dos autismos, fruto do desespero em que se encontra.
O governo implodiu e viu os seus dias chegarem ao fim.
A única solução parece passar por dar a voz ao povo. Certamente o PS será o vencedor das eleições que eventualmente sejam convocadas. No entanto, dificilmente obterá uma maioria absoluta. Terá que formar uma coligação com outros partidos e obter o maior consenso possível entre os parceiros sociais, a fim de vencer a crise que dia a dia se agrava. O PSD e o CDS terão novamente um papel importante a desempenhar num tal cenário. O último destes partidos deverá, para isso, seguir uma linha verdadeiramente democrata-cristã, à semelhança do pretendido desde 1974 por Freitas do Amaral, Amaro da Costa e outros seus fundadores. O PSD deverá correr com os incompetentes e anti-sociais-democratas que tem à frente e encontrar uma nova liderança identificada com a herança de Sá Carneiro, adaptada às circunstâncias actuais.-

sexta-feira, 28 de junho de 2013

GREVE GERAL: O MEDO ACABOU

A greve geral realizada ontem, dia 27 de Junho, foi um êxito. Em idênticas greves anteriores, registou-se assinalável adesão no sector público, mas muito menor no sector privado. Muitos trabalhadores tinham medo de exercer aquele seu direito constitucional.
Desta vez, a adesão foi novamente massiva na administração e empresas públicas, mas também em muitas empresas privadas, especialmente em algumas das maiores. O medo acabou. A greve recente dos professores mostrou que lutar é vencer.
O governo PSD/CDS está isolado junto dos trabalhadores, tendo contra si as centrais sindicais e sendo alvo de fortes críticas por parte das associações empresariais, as quais defendem um novo rumo económico, afastado da austeridade cega e virado para o investimento. Nem os representantes dos trabalhadores, nem os do patronato concordam com este caminho absurdo.
A legitimidade não reside apenas numa vitória eleitoral e no suporte maioritário no parlamento, ou no apoio do Presidente da República, pois o país real está contra esta política e os seus executantes, que venceram as últimas eleições com base na mentira. Este simples facto já é suficiente para a sua perda de legitimidade !

domingo, 23 de junho de 2013

HUMOR E FALTA DE ÉTICA

Recentemente, o líder do grupo parlamentar do  PSD, Luis Montenegro, teve o desplante de afirmar que o país se encontra melhor que há dois anos, quando o governo do seu partido e do CDS tomou posse.
Houve tempos em que só entrava para a maçonaria quem se pautasse por uma ética irrepreensível. Até aquela agremiação já não é o que era. Sinais dos tempos...
O ministro das Finanças, Vitor Gaspar,  disse na A.R. ser a crise na construção civil devida ao mau tempo verificado no primeiro trimestre do ano em curso. O comentador laranja, da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa, procurou desculpar o mago falhado das finanças, dizendo tratar-se de humor  anglo-saxónico. Humor ou não, demonstra uma grande falta de ética e de preocupação com quem vive mal devido à sua política. Aquela "graça" não admira, vinda de quem, tendo as responsabilidades que tem, se preocupa com os desaires do Benfica, não se lhe ouvindo uma palavra de apoio a quem não tem pão nem trabalho.
Estas provocações merecem uma resposta. No próximo dia 27, vamos tornar a greve geral contra a política do governo num grande sucesso !

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ALTERNÂNCIA E ALTERNATIVA

A democraia pressupõe, naturalmente, a alternância entre partidos e projectos políticos diferentes. Mais importante que a alternância entre forças adversárias é a alternativa entre políticas.
Em França, por exemplo, apesar de todas as promessas de mudança de François Hollande, algo mudou para que tudo continuasse na mesma, nomeadamente na cedência às políticas neo-liberais da ex-comunista e falsa democrata-cristã Angela Merkel. Está-se perante mera alternância. O novo governo italiano tem um projecto de mudança, ou seja, alternativo às políticas anteriormente aplicadas.
A política seguida em Portugal, na senda das medidas postas em prática pela nova direita europeia, influenciadas pelo liberalismo económico, tem destruido a economia e empobrecido ainda mais quem já é pobre e as classes médias, enquanto a elite económica não sente a crise. Apesar de todos os sacrifícios suportados pelos cidadãos, em nome da correcção da situação financeira herdada de anteriores governos, a dívida pública continua a aumentar, situando-se em 127% do PIB, e o défice continua claramente elevado relativamente ao acordado com a troika. Nos primeiros três meses de 2013 atingiu mais de 8%. Por outro lado, o governo PSD/CDS encontra-se dividido e paralisado, não tendo o primeiro-ministro o mínimo de autoridade.
Em consequência desta situação, o governo encontra-se completamente isolado na sociedade, inclusivé entre militantes e simpatizantes do PSD e do CDS. Só tem o apoio dos aparelhos dos partidos que o constituem e de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, o mais impopular dos Chefes de Estado após o 25 de Abril.
É necessário encontrar uma alternativa ao actual governo. No passado dia 30 de Maio, sob a égide de Mário Soares, reuniram na Aula Magna da Universidade de Lisboa os partidos parlamentares de esquerda, PS, PCP e BE, o PCTP/MRPP (ignorado pela imprensa), os líderes das centrais sindicais e diversos independentes, incluindo militares de Abril. O militante do PSD, Pacheco Pereira, pertenceu à organização daquele encontro.
Dentro do maior partido governamental, os verdadeiros sociais-democratas, que não estão na política por tachos e sinecuras para eles e demais familiares, mas na defesa de uma sociedade coesa e solidária, contestam também vivamente o actual poder executivo e o seu protector, Aníbal Cavaco Silva. Está criada uma frente rejeicionista da política actual, a qual vai da ala esquerda - fiel à herança de Sá Carneiro e à social-democracia - do PSD à extrema-esquerda, maioritária política e sociologicamente no país.
Há condições para mudar de política em Portugal e nos restantes países da UE, abandonando o economicismo constante de todos os tratados europeus, desde Maastricht, admitindo taxas de inflação, défices e dívidas superiores às definidas nos mesmos, sem, obviamente, cair em exageros, e apostando no Keinesianismo, na parte económica, abandonando o neo-liberalisno, falhado, ultrapassado e detestado nas sociedades modernas. O investimento estatal é importante para relançar a economia e puxar pela iniciativa privada. O new deal americano, na sequência da crise de 1929, e o Plano Marshall, após a II guerra mundial, aí estão a comprová-lo. Numa primeira fase, o défice e a dívida poderão aumentar, mas, com o crescimento económico, a criação de emprego e o consequente aumento do consumo, os mesmos diminuirão. A experiência prova-o.
Nos outros países, os partidos de direita e esquerda democráticas, se levarem à prática aquelas políticas económicas e sociais, poderão pôr fim à crise e conduzir os respectivos povos à retoma da esperança em melhores dias.
No nosso país, os sociais-democratas do PSD poderão assumir esse papel, se limparem o seu aparelho, afastarem a actual direcção e o respectivo líder, escolhendo para o seu lugar e o governo reformistas com consciência social. Se não forem capazes de cumprir tal tarefa, poderá sê-lo o PS, com um secretário-geral e restantes dirigentes credíveis, sozinho, ou em coligação com os restantes partidos de esquerda, desde que estes ponham de lado os dogmas a que estão presos e adaptem as suas ideologias aos novos tempos.

publicado na GAZETA DA BEIRA, de 6/6/2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

QUE LEGITIMIDADE?

Os apoiantes do actual governo afirmam ter o mesmo legitimidade, por ser apoiado por uma maioria na Assembleia da República.
Aquela legitimidade é formal.
Será legítimo ganhar eleições mentindo ao eleitorado, dizendo não aumentar impostos, não despedir funcionários públicos, não cortar pensões de reforma, e, no poder, fazer exactamente o oposto?
Será legítimo destruir económica e socialmente um país, em nome da diminuição da dívida pública e do défice, quando aquela aumenta cada vez mais e este se mantem muito elevado relativamente ao acordado com a troika?
Será legítimo afrontar o Tribunal Constitucional, procurando contornar a legalidade, invocando o fim da crise, enquanto a mesma não pára de aumentar?
A legitimidade do governo Passos/Portas não é real. As sondagens, embora tenham o valor que têm, mostram que os partidos governamentais cada vez têm menos apoio popular. Onde o primeiro-ministro e os seus ajudantes se deslocam são alvo de grandes vaias e muito poucos aplausos. Nas conversas de rua ou de café, ouça-se o que as pessoas pensam de quem as (des)governa.
A permanência deste governo em funções apenas afunda o buraco em que há muito caímos. Se Portugal tivesse um Chefe de Estado na verdadeira acepção do termo, já estaria demitido, procurando-se outra solução governamental no actual quadro parlamentar ou dando a voz ao eleitorado.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SÁ CARNEIRO APLAUDIDO EM REUNIÃO DA ESQUERDA

Na reunião em que participaram os partidos de esquerda, PS, PCP, BE e PCTP/MRPP, realizada no passado dia 30 de Maio na Aula Magna da Universidade de Lisboa, sob a égide de Mário Soares, o nome de Sá Carneiro, mencionado numa mensagem enviada pelo militante do PSD, Pacheco Pereira, foi aplaudido pela generalidade dos presentes.
Há uma explicação para aquela atitude. Contrariamente ao primeiro-ministro e à actual direcção do PSD, Sá Carneiro era social-democrata, tendo como referência a social-democracia histórica e a sua aplicação prática, especialmente nos países nórdicos. Já numa entrevista concedida a Jaime Gama, no "República", em 1971, quando era deputado da ala liberal da Assembleia Nacional, afirmou-se social-democrata.
Na oposição e no poder, defendia a diminuição do peso do Estado na economia - a qual deveria assentar na iniciativa privada - porque na época revolucionária aquele peso foi demasiado longe, imitando as então auto-proclamadas democracias populares do leste europeu. Por outro lado, sempre considerou que alguns sectores fundamentais deveriam pertencer à esfera pública, devendo o Estado ter um carácter regulador. No seu tempo, surgiu a "moda" do liberalismo económico, com Reagan e Thatcher, o qual nunca endossou.
A social-democracia "sá carneirista" era a síntese de partes de ieologias, como costuma dizer Pacheco Pereira: o humanismo cristão e a doutrina social da Igreja, o personalismo, a economia de mercado, e a tradição social-democrata e socialista, em geral, no combate à pobreza. Este conjunto de ideias tornou o PSD num partido central e reformista, albergando no seu seio pessoas que iam do centro-direita ao centro-esquerda. Hoje, é um partido de direita e ultra-liberal. A própria AD não era um projecto de direita, mas uma frente que englobava a direita, o centro e uma parte da esquerda.
Quem estiver minimamente atento, poderá constatar encontrar-se, presentemente, mais próximo daqueles ideais o PS que o PSD.
Se houver no PSD quem retome a social-democracia, varra o aparelho, afaste Passos Coelho e restante direcção partidária, poderá, mudando de política, ainda captar muitos votos de pessoas de esquerda e ter esperança na vitória em próximas eleições. Se na S. Caetano à Lapa tudo continuar na mesma, até porque o espaço outrora ocupado por Sá Carneiro, está-o hoje pelo PS, António José Seguro será o primeiro-ministro escolhido pelos portugueses em tais eleições. Foi o militante do PSD e ministro de Cavaco Silva, Mira Amaral, quem o afirmou em entrevista radiofónica realizada no sábado passado.

terça-feira, 28 de maio de 2013

DR. PASSOS COELHO, IMITE O FILHO PRÓDIGO

A parábola do filho pródigo é uma das mais conhecidas passagens do Evangelho.
Segundo a parábola, um filho pede a sua parte na herança ao pai e parte, esbanjando-a até ficar na miséria. Então, regressa à casa paterna, ficando o seu pai muito feliz, tendo feito uma grande festa.
Passos Coelho está a pôr na pobreza e na miséria o país e os seus cidadões (Cavaco dixit), não devido ao esbanjamento, mas ao aperto de cinto provocador da queda do poder de compra, da recessão e de um enorme desemprego. O seu pai afirmou que o país não tem conserto, devendo o filho abandonar a governação. Se tal acontecer, o Dr. Passos Coelho (pai) fará, segundo disse, uma grande festa familiar.
Dr. Passos Coelho (filho), imite o filho pródigo. Dê uma grande alegria ao seu progenitor e a Portugal.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

FALECERAM GEORGE MOUSTAKI E RAY MANZAREK

Ah, os que já não criam
vêem cumprir o seu ideal
diz-lhes que uma flor vermelha
floriu em Portugal

George Moustaki


Faleceram durante esta semana o cantor francês George Moustaki e o músico americano Ray Manzarek, ex-teclista dos lendários “Doors”. De formas diferentes, mas parecidas, ambos eram representantes do espírito contestatário e rebelde dos anos 60 do século XX.
Contra o conservadorismo social e a hipocrisia moral daquela época, surgem movimentos como o dos hippies, os situacionistas (o nome não é para ser levada à letra) ou os beatniks, os quais influenciaram grupos de rock como os “Doors”, liderados pelo lendário Jim Morrison.
O grupo constituído por Morrison, John Densmore, Robert Krieger e Ray Manzarek fez enorme sucesso entre a juventude da época e, com as suas canções, deu um grande contributo para as revoluções de então, especialmente a revolução sexual. Embora as suas letras não fossem políticas no sentido mais ortodoxo do termo, estiveram também na origem de uma maior abertura social .
Politicamente, na década de 60, a tendência de grande parte da juventude, especialmente os estudantes, era para a militância na extrema-esquerda. O Maio de 68, as lutas nos “campus” das universidades americanas e em vários países europeus, incluindo Portugal, comprovam-no de forma clara.
George Moustaki foi um cantor de intervenção, apoiante activo do Maio de 68. Que haja conhecimento, nunca esteve ligado a qualquer organização ou ideologia revolucionária. No entanto, sempre foi de esquerda radical, utópico, mas possuidor de uma grande generosidade e defensor de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Lembro-me de o ouvir pela primeira vez, com 14 anos de idade, após o 25 de Abril. Quem viveu aquela época jamais esquecerá a sua canção dedicada à nossa revolução, “Avril au Portugal”, cantada em português pelo brasileiro Chico Buarque, da qual se publicam alguns versos em epígrafe.
Moustaki visitou Portugal pouco depois de Abril de 1974, tendo contactado com o povo na rua e actuado ao lado de Zeca Afonso.
Até à morte continuou a cantar os problemas dos trabalhadores, de todos os mais fracos, não esquecendo os imigrantes, e combatendo o racismo e a xenofobia.
Com a morte de Ray Manzarek e George Moustaki, a cultura, desprezada pelo economicismo neo-liberal dominante, fica mais pobre. A melhor homenagem que os seus admiradores lhes poderão prestar é continuar a sua luta contra o conservadorismo e as injustiças sociais trazidos novamente pelo liberalismo económico e a nova direita dominante na Europa.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O INTELECTUAL ORGÂNICO E INOCENTE ÚTIL



Com a ajuda dos inocentes (e idiotas) úteis conquistaremos o mundo.

LENINE

Miguel Poiares Maduro sempre se mostrou um intelectual dotado de rara inteligência, espírito crítico e grande independência. Com a sua nomeação para ministro adjunto do primeiro-ministro e do desenvolvimento regional, todos aqueles seus atributos parecem ter ido por água abaixo.
As intervenções do ministro da propaganda, como começa a ser conhecido, das quais se destaca a entrevista concedida à última edição do “Expresso”, são a prova do fim da sua irreverência e da bajulação do actual poder moribundo de Gaspar, Passos, Portas e Cavaco, no qual se integrou perfeitamente. Por outro lado, passa a vida a falar de consenso, palavra que significa, não o que parece, mas o canto de sereia para a submissão do PS ao projecto classista (dos ricos, anti-humanista e destruidor do estado social) do governo e da troika.
O escritor italiano Umberto Eco afirma que o intelectual, para não ser orgânico e servidor do poder, deve ser, mesmo quando o apoia, sua consciência crítica, precisamente aquilo que morreu na alma de Miguel Poiares Maduro, assim ligando, lamentavelmente, a sua imagem ao governo mais medíocre do pós-25 de Abril, do qual é um intelectual orgânico e inocente útil, como diria Lenine. Nesta matéria, o ex-comunista Pedro Passos Coelho aprendeu bem a lição do seu antigo mestre, no uso e manipulação de pessoas... enquanto interessarem.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

FALECEU MARGARETH THATCHER

Recentemente, faleceu Margareth Thatcher, ex-primeira ministra britânica entre os anos de 1979 e 1990.
A dama de ferro, como lhe chamaram, naquele tempo, os soviéticos e assim ficou conhecida, foi eleita pelo Partido Conservador, tendo herdado do Partido Trabalhista, então inspirado no marxismo, uma economia débil, com enorme inflação e desemprego.
Margareth Thatcher, após ter sido eleita primeira-ministra, pôs em prática o liberalismo económico então na moda, hoje causa da decadência europeia.
O governo conservador diminuiu o peso do Estado na economia, privatizando uma série de importantes empresas estatais, cortou despesas públicas e diminuiu os impostos.
Nas privatizações foi aplicado o capitalismo popular através da dispersão do capital das empresas por pequenos accionistas e pelos trabalhadores das mesmas. Thatcher dizia pretender tornar cada inglês num proprietário, o que, em parte, foi conseguido. Dois terços dos britânicos tornaram-se donos de casa própria e automóvel. A inflação baixou. O desemprego, numa primeira fase, aumentou muito, dado o encerramento de empresas deficitárias. Posteriormente diminuiu, quase tendo sido atingido o pleno emprego, facto a que não foi alheia a revisão das leis laborais. O crescimento da economia e do poder de compra dos cidadãos foi acentuado.
A nível da política internacional, recusou, tal como Reagan, a conciliação com a então URSS, apoiando os movimentos contestatários dos países de leste, como o Solidariedade, na Polónia e, numa fase posterior, os esforços de Gorbatchev no sentido de democratizar a chamada pátria soviética. Reagan, Thatcher, o Papa João Paulo II e o próprio Gorbatchev foram os grandes responsáveis pela queda do muro de Berlim e o fim do comunismo.
Margareth Thatcher sempre se manifestou contra o federalismo europeu e a moeda única, prevendo que aqueles conduziriam à diminuição da soberania de cada país e ao domínio alemão. A História está a dar-lhe razão. No entanto, também não tinha uma perspectiva nacionalista. Defendia uma Europa unida, onde pessoas e mercadorias circulassem livremente, mas fosse respeitada a soberania dos parlamentos nacionais.
Estes são os aspectos positivos da política thatcheriana. Mas, como diz uma velha expressão, não há “bela sem senão”.
A outra face da política desta senhora tem muitos aspectos negativos.
Se é verdade que a maioria da população passou a viver melhor e o número de pobres diminuiu, não teve preocupação social relativamente a estes. Esta lady proferiu frases demonstrativas de que quem era pobre o era por culpa própria, devendo assumir essa “cruz”. Não é por acaso que o actual governo tem como referência o liberalismo económico, tendo os partidos que o constituem renegado (é esse mesmo o termo) a social-democracia e a democracia-cristã.
Thatcher afirmou que “a sociedade não existe, mas apenas cidadãos e famílias”. Esta expressão é demonstrativa do individualismo e ausência de sentido social caracterizadores da sua personalidade e de todos os neo-liberais seus seguidores.
O egoísmo decorrente daquela ideologia, fomentador do “cada um por si” e da ausência de sentido espiritual é um dos factores da decadência das sociedades livres ocidentais.
A excessiva desregulamentação praticada por Thatcher e pelo seu amigo e parceiro ideológico Ronald Reagan, em nome da libertação da sociedade civil, está na origem do capitalismo selvagem hoje dominante em boa parte do mundo e da crise devastadora que grassa no Ocidente, especialmente em Portugal e nos outros países do sul da Europa.
Outra faceta de Thatcher era o autoritarismo. Diálogo com as forças da sociedade que em Portugal se chamam parceiros sociais não era com ela. Recordo que o então primeiro-ministro Cavaco Silva dizia ser o diálogo com os parceiros sociais uma das características que o distinguiam da sua colega britânica. Curiosamente, num artigo laudatário de lady Thatcher que escreveu na Revista da edição do “Expresso”, de 13/4/2013, omitiu aquele aspecto…
A desregulamentação já mencionada levou ao controlo do poder político pelo poder económico. É o liberal Mário Vargas Llosa quem o diz, considerando poder conduzir tal situação ao fim da própria democracia.
A globalização injusta, a qual agravou as desigualdades sociais, e a troca da produção pela economia de casino são outros factores decorrentes do neo-liberalismo na origem da grave crise presentemente vivida em boa parte do globo, muito especialmente na UE.
O liberalismo económico na sua faceta reaganista-freedmanista-thatcherista, deturpador do espírito original liberal, é, pois, o principal culpado da crise e injustiças hoje vividas. Para a ultrapassagem desta situação, é necessário e urgente acompanhar a liberdade económica e a globalização por regulação estatal, a primeira, e por uma entidade supra-nacional, a segunda, apenas permitindo o livre comércio a países praticantes da democracia e dos direitos humanos e sociais.
Por outro lado, é necessário o investimento estatal como forma de puxar pela iniciativa privada. Se tal política poderá levar a um aumento da despesa pública e do défice numa primeira fase, o crescimento económico decorrente da mesma diminui-los-á, criando riqueza e emprego. A solução monetarista e “austeritária” das instituições europeias e do FMI apenas soma crise à crise, sendo Portugal , infelizmente, um caso paradigmático, dessa situação. Aos que dizem constituirem estas ideias uma utopia, recordo terem a América após a crise económica de 1929 e a Europa do pós 2ª Guerra Mundial, através do Plano Marshall, adoptado aquela política económica Keynesiana com grande sucesso económico e social.
A terminar: o leitor perguntará: este indivíduo não andou muitos anos a defender o liberalismo? A resposta aqui fica: continuo a ser liberal no plano político e nos costumes. Defendo a liberalização económica (não é o mesmo que liberalismo económico), com “freio”, acompanhada de forte componente social e regulada pelo Estado, o qual deverá ter um papel importante no tocante ao investimento público e na manutenção sob o seu controlo dos chamados monopólios naturais, dos quais destaco a água em vias de ser privatizada pelos incompetentes que nos governam.
Autocritico-me por me ter identificado plenamente com as políticas de Reagan e Thatcher. Embora tenham aspectos positivos, também têm muito de negativo e injusto. Falta-lhes o factor social e de preocupação com os mais pobres da sociedade. Foi o que fez Tony Blair, com a terceira via, adicionando estes aspectos à parte positiva da herança dos conservadores e Margareth Thatcher. Foi essa a política de Sá Carneiro, a terceira via, avant la letre , que em Portugal se chama social-democracia.

publicado no jornal GAZETA DA BEIRA

segunda-feira, 6 de maio de 2013

GOVERNO SANTANA LOPES II

Durante o governo de Pedro Santana Lopes de má memória, era vulgar ministros contradizerem-se, bem como o próprio primeiro-ministro.
Aquela situação volta a verificar-se com o governo actual. Notícias recentemente divulgadas sobre divergências entre Paulo Portas, os outros ministros do CDS e alguns do PSD com Passos Coelho e Vítor Gaspar, tiveram ontem a sua confirmação nas declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros.
Paulo Portas afirma claramente não concordar com uma medida concreta do governo a que pertence, a nova taxa proposta sobre as pensões de reforma.
Está provado que o governo se encontra dividido. O primeiro-ministro, além do seu isolamento social, começa a estar também isolado – com o ministro das Finanças – no próprio executivo a que preside, no qual já não tem a necessária autoridade.
Há, pois, muitas semelhanças com o governo de Santana Lopes, mas com uma diferença: hoje atravessamos uma muito grave crise económica, social e financeira, pelo que, mais que naquele tempo, impõe-se a demissão do governo.
Muitos verdadeiros sociais-democratas, fieis à herança de Sá Carneiro, têm criticado a política do governo e da direcção do PSD. Está na hora de avançarem para a conquista do partido, com vista à constituição de um governo de salvação nacional com as demais forças do arco constitucional, que abandone esta austeridade destruidora do país e concilie o combate à crise com crescimento económico e justiça social.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

MENSAGEM DO PAPA NO 1º DE MAIO

Numa mensagem divulgada no 1º de Maio, o Papa Francisco I criticou a situação de exploração e baixos salários a que estão sujeitos muitos trabalhadores no mundo inteiro.
Recordou a recente tragédia ocorrida no Bangladesh e a afirmação de um operário que se salvou na área onde ocorreram as mortes mencionadas na comunicação social, de que vivia com apenas 38 euros por mês. Contrariando a ideologia culpadora dos desempregados pela situação em que se encontram, dominante na Europa e muito especialmente no governo Coelho/Portas, disse ainda "existirem muitos desempregados a querer trabalhar e não o conseguirem", e "serem injustas as sociedades que os excluem e não têm capacidade de os integrar no mercado de trabalho".
Estas palavras do Sumo Pontífice são um alerta para as injustiças resultantes do neo-liberalismo e da globalização originada pelo mesmo. Esperamos terem eco junto de políticos que se dizem influenciados pela doutrina social da Igreja e o humanismo cristão.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

ESTALINISMO DE DIREITA

Na velha URSS havia uma anedota que dizia ser, não o futuro, mas o passado, imprevisível, pois a cada purga estalinista, alguém era apagado da História do partido e da revolução. Ou seja, nunca tinha existido. Nas suas obras, especialmente o "1984", Orwell afirmava serem aquelas pessoas "vaporizadas".
Na direita portuguesa, também há quem tenha comportamentos idênticos. Segundo uma reportagem publicada na última edição da revista "Sábado", a Drª Assunção Esteves, Presidente da Assembleia da República, ordenou que se apagasse do seu site oficial a referência ao casamento que a uniu a José Lamego, militante do PS e ex-membro do MRPP (onde tive oportunidade de o conhecer aquando da sua passagem por Viseu entre 1974 e 1976, como professor de Introdução à Política na Escola Emídio Navarro), que foi ferido a tiro pela PIDE aquando do assassinato de Ribeiro Santos, sendo posteriormente detido em Caxias.
Mas mais: do mesmo site foi apagada a origem de classe da presidente do parlamento. Ali se dizia - já não diz - ser filha de um alfaiate.
A número dois do Estado tem vergonha de ser filha de um alfaite, a cujo sacrifício, certamente, deve ter chegado onde chegou.
Se aquele apagar de factos se assemelha, nesse aspecto, ao estalinismo, maoismo e tutti quanti, os complexos em ter vindo de baixo  são demonstrativos de que o reformismo social-democrata que, contrariamente ao marxismo, não defendia o fim dos ricos, mas o enriquecimento dos pobres e remediados, com grande apoio dos que subiam na vida a pulso e com mérito, morreu no PSD. Embora ainda haja muitos autênticos sociais-democratas neste partido, o mesmo já não o é há muito, mas um herdeiro do pior do reaganismo e do thatcherismo.

PS: afinal, sempre temos um governo de iniciativa presidencial. Veja-se o discurso de Cavaco Silva no último 25 de Abril, cobrindo a política governamental, bem como atacando a oposição e todos os contestatários do governo Coelho/Portas. É esta a isenção do PR. Também para ele, à boa maneira estalinista, existem palavras que significam o seu contrário. Orwell chamava a isto o "double talk" (dupla linguagem).

quarta-feira, 24 de abril de 2013

VIVA O 25 DE ABRIL !

Amanhã, passam 39 anos sobre o fim de uma das mais velhas ditaduras da Europa e a realização de uma revolução que, apesar das perversões originais de alguns dos seus autores, acabou por conduzir Portugal rumo a uma democracia pluralista e social, cujas conquistas têm vindo a ser liquidadas pelos arautos do economicismo e do dogmatismo ultra-liberal no poder.
Abaixo publicamos a canção "Grândola, Vila Morena", do saudoso Zeca Afonso, contra-senha do 25 de Abril, que tem sido cantada em todas as manifestações contra o governo mais detestado pela população desde aquela madrugada libertadora.
Viva o 25 de Abril!
Glória aos valorosos capitães do MFA! 

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade

Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade

Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

terça-feira, 23 de abril de 2013

PSICOPATAS SOCIAIS

O jornalista Carlos Vargas, ex-assessor para a comunicação social do ministro Álvaro Santos Pereira, afirmou ser o ministro das Finanças, Vitor Gaspar, um psicopata social.
Certamente, Carlos Vargas estaria a referir-se à ausência de sentido social e à falta de preocupação com os velhos e novos pobres, características do tecnocrata “iluminado” das Finanças, extensivas aos restantes membros do governo e à nova direita dominante no Ocidente e boa parte do mundo.
Essa direita teve como pai Ronald Reagan e como mãe Margareth Thatcher, recentemente falecida. O seu liberalismo económico teve aspectos positivos no crescimento da economia, na criação de emprego e na ascenção social de pobres e remediados. No entanto, nem todos conseguiram subir na vida. Os que continuaram pobres ficaram ainda mais pobres. Face a estes, quer os republicanos americanos, quer os conservadores ingleses, nos anos 80, mostraram insensibilidade social e desprezo, culpando-os, na prática, pela sua situação, à semelhança de Passos e Gaspar, actualmente, no nosso país.
Thatcher dizia não existir a sociedade, mas apenas pessoas, famílias e empresas. Esta expressão espelha o individualismo e o egoísmo dos neo-liberais, responsáveis pela falta de solidariedade, coesão social e ausência de valores que corrói o Ocidente.
Por outro lado, a excessiva desregulamentação ultra-liberal conduziu ao aprisionamento dos Estados pelo poder económico, ao abandono da produção e ao endosso de uma economia de casino, originários da crise actual.
O neo-liberalismo falhou. A liberalização económica deverá ser acompanhada de solidariedade, justiça social e regulação. Só assim, retomando o capitalismo a sua faceta humanista, desaparecerão da política os psicopatas sociais.

terça-feira, 16 de abril de 2013

EVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE

Quando Marcelo Caetano sucedeu na chefia do governo - presidência do Conselho de Ministros, como então se dizia - a Salazar, afirmava caracterizar-se a sua acção por "evolução na continuidade". Foi mais continuidade que evolução, levando à queda da ditadura sem praticamente um gemido.
A substituição do ministro alvo do anedotário nacional, Miguel Relvas, faz lembrar aquela frase de Caetano.
Não houve qualquer refrescamento do governo. O novo ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luis Marques Guedes, já exercia anteriormente as funções de secretário de estado da Presidência do Conselho de Ministros e sempre se caracterizou como um adesivo colado a todos os líderes do seu partido. Miguel Poiares Maduro é um intelectual e professor universitário de valor, mas também o eram outros governantes do PSD ou indicados pelo mesmo, como Braga de Macedo, Vitor Gaspar ou Álvaro Santos Pereira, e não deixaram de falhar em toda a linha nos seus objectivos.
Se no tocante a mudança de pessoal a situação é a mencionada, no aspecto político propriamente dito, apenas temos continuidade sem evolução. A decisão do Tribunal Constitucional, consequência e não causa das medidas governamentais, em nada fez o executivo mudar a política que está a conduzir Portugal para o abismo.
O governo está cada vez mais isolado. Se não fosse o apoio do PR, neste momento, quando muito, estaria em funções de gestão. Terá um fim ainda mais inglório que o governo de Marcelo Caetano, deixando, no entanto, o país exaurido económica, financeira e socialmente, contrariamente ao sucessor de Salazar, o qual deixou as finanças públicas equilibradas e uma economia a crescer acentuadamente.     

quinta-feira, 11 de abril de 2013

DRª FÁTIMA MATA MOUROS

A Drª Fátima Mata Mouros, Juiza Desembargadora do Tribunal da Relação de Lisboa, foi, há algum tempo, indicada pelo CDS para o Tribunal Constitucional (TC).
Na recente tomada de posição do mesmo Tribunal sobre a constitucionalidade do OGE/2013, votou favoravelmente todas as decisões que reprovaram algumas partes daquele documento.
Trabalhei com a Drª Fátima Mata Mouros no antigo Tribunal da Boa Hora, em Lisboa (Varas Criminais). A sua imagem era a de uma Magistrada competente, isenta e justa. Não me admirei com a sua atitude contrária às pretensões do partido que a indicou para o TC. Mais uma vez provou a sua competência, isenção e sentido de justiça, tal como uma sua colega nomeada para idêntico cargo pelo PSD.
Estou convencido que o mesmo faria qualquer outro Magistrado Judicial ou do Ministério Público que conheci.
Assim fosse competente isento e justo, sobetudo no plano social, o governo frustrado com aquelas decisões, o qual mostrou a sua faceta, já não digo anti-democrática, mas a-democrata (expressão que António Barreto utilizava relativamente a Cavaco quando o mesmo era primeiro-ministro), culpando o TC pelas suas próprias responsabilidades. É ou não verdade ter sido o executivo alertado para possíveis inconstitucionalidades do OGE para o ano corrente? Tinham ou não razão os que diziam no Outono do ano passado ser o orçamento uma ficção? O próprio Vitor Gaspar, no final do segundo mês deste ano, já dizia atingir a economia, em 2013,  um crescimento negativo de 2,3%, enquanto tal documento apontava para -1%. A decisão do TC é uma consequência e não a causa dos falhanços do governo, o mais incompetente e anti-social desde o 25 de Abril. 

terça-feira, 2 de abril de 2013

TINHA QUE SER NO DIA 1 DE ABRIL

Na sua edição de ontem, o diário "I", a propósito das mentiras do 1º de Abril, referia ter Passos Coelho afirmado naquele dia, há dois anos, ser "um disparate afirmar que o PSD iria após as eleições que se seguiram acabar com o 13º mês para os funcionários públicos".
Passado este tempo, até La Palisse chegaria à conclusão que tal frase só poderia ser dita em 1 de Abril. Mas não foi a única mentira do primeiro-ministro. Também disse não aumentar os impostos, não efectuar cortes nas pensões de reforma e corrigir a grave situação financeira então (e hoje) vivida essencialmente pelo lado das despesas. Como todos sabemos, fez exactamente o contrário.
Até quando disse "ir além da troika", só afirmou meia verdade. Disse-o e fê-lo relativamente aos mais pobres e à classe média. Onde está o corte nas PPP previsto no memorando? E a correcção da situação financeira em 60%, no tocante a despesas, e 40%, no respeitante a receitas?
Passos Coelho mentiu. A sua austeridade e todos os sacrifícios impostos aos portugueses não evitaram o aumento da dívida pública e a diminuição do défice abaixo do previsto, rebentando com a economia e os laços sociais. Por isso, ainda na primeira metade do seu mandato, o governo é detestado pela maioria da população e encontra-se completamente desnorteado.
É certo que não é Passos Coelho o único político mentiroso. Em parte por isso, a classe política está desacreditada, pondo em perigo a própria democracia. Como dizia o saudoso Vitor Cunha Rego, "não há legitimidades abstractas".
Por estas e por outras é que eu não pertenço presentemente a qualquer partido político, nem penso vir a pertencer, enquanto a alternância no poder for entre mentirosos, charlatães e medíocres.    

quinta-feira, 28 de março de 2013

A PÁSCOA, O NOVO PAPA E A LUTA PELA JUSTIÇA

A Páscoa marca a vitória da vida (ressurreição de Cristo) sobre a morte. É uma época de alegria e de esperança.
Num tempo de recessão, desemprego, empobrecimento, crise, não só em Portugal como em muitos outros países, surgiu dentro da Igreja Católica uma voz de esperança, a do Papa Francisco I.
O novo Papa, enquanto cardeal e arcebispo de Buenos Aires, sempre se bateu contra as injustiças e esteve ao lado dos mais pobres. Vivia num apartamento onde cozinhava muitas das suas refeições e, tal como Cristo, estava em constante contacto e ajuda aos mais desfavorecidos. Conhecia grande parte dos sem abrigo da capital da Argentina pelo próprio nome.
Após ter sido eleito sucessor de S. Pedro, afirmou dever ser a Igreja pobre e para os pobres. À semelhança dos anteriores Papas, denunciou o capitalismo selvagem e uma certa lógica da globalização que lhe é inerente.
Quando o Papa João Paulo II, pouco após ser eleito, se deslocou à Polónia, sua terra natal, aí afirmou "não tenhais medo". Francisco I traz também uma mensagem de esperança, alegria e confiança num mundo mais justo. Só com tal prática, segundo os ensinamentos de Cristo, se poderá alcançar a salvação.
Que a mensagem de paz, amor e solidariedade de Francisco I influenciem os poderes seculares!
A todos os leitores desejamos uma Páscoa feliz.

quinta-feira, 21 de março de 2013

QUEM DISSE QUE A ESQUERDA E O MARXISMO ESTÃO DESACTUALIZADOS?

Hugo Chavez, Presidente venezuelano recentemente falecido, embora não tivesse implantado uma ditadura de partido único, também não era nenhum exemplo de democrata. Controlava sectores importantes da comunicação social, com destaque para a televisão, sendo perseguidos muitos dos seus opositores.
No entanto, Chavez foi sempre eleito por confortáveis maiorias. Tal como na Venezuela, em diversos países das Américas Central e do Sul têm sido eleitos presidentes e governos de esquerda socialista de inspiração marxista. Afinal, existem alternativas vencedoras ao neo-liberalismo responsável pela presente crise social, económica e de valores no mundo capitalista ocidental.
Naquelas paragens, o capitalismo apenas tem espalhado pobreza, miséria e desigualdades sociais. Daí a derrota das direitas na generalidade daqueles países. Ah, a CIA já não promove, nem apoia golpes de estado fascistas nessa zona do globo como fez noutros tempos, ensopando-a em sangue, no Chile, na Guatemala, em El Salvador, na Argentina, na Bolívia, no Paraguai, no Panamá, no Haiti, na República Dominicana e tantos outros países latino-americanos. Por um lado, já não tem força para isso, por outro lado, essa América que se identifica com Mitt Romney ou com a idiota e inculta Sarah Palin, é repudiada pelo povo da pátria do Tio Sam, o qual reelegeu, há 4 meses, o democrata, na mais ampla acepção do termo, Barak Obama.
Infelizmente, enquanto na América avançam, com sucesso, políticas parecidas com o que na Europa se considerava (e ainda considera nos países nórdicos) social-democracia e democracia-cristã, no velho continente, da Alemanha para baixo, destroem-se o estado social e os direitos dos trabalhadores.     
Em todo o mundo, se o capitalismo e o liberalismo não recuperarem a sua faceta humanista,  o socialismo mais ortodoxo voltará a triunfar por eleições ou de outra forma, na qual o leitor estará a pensar, até porque está  a diminuir a pobreza,  com as suas políticas anti-capitalistas (ver quadro sobre a situação social da Venezuela). Lembram-se da velha frase de Ché Guevara, morto  às ordens da CIA há quase meio século, "temos que construir um, dois, vários Vietnames"?

                                                                SITUAÇÃO SOCIAL VENEZUELANA
                   1999                                                                                                             2012

População: 23   867  000                                                                                          29 718 000
PIB per capita: 3 150 euros                                                                                         8 300 euros
Taxa de desemprego: 14,9%                                                                                                  6,5%
Pobreza extrema: 21,7%                                                                                                      10,7%
Taxa de inflação: 30,1%                                                                                                       20,1%
Dívida pública: 56,4% do PIB                                                                                       29% do PIB
Taxa de analfabetismo: 20%                                                                                                   4,9%
Mortalidade infantil: 20.06/por mil                                                                                         14,78 por mil
Exportações de petróleo: 12 762 milhões de euros                                                53 218 milhões de euros Número de homicídios: 25 por 100 000 habitantes                                       45,1  por 100 0000 habitantes                                                                                                                                                                            
                                       fonte: jornal "Expresso", de 16/3/2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

PALHAÇADAS ELEITORAIS

José António Saraiva, director do jornal oficioso do governo PSD/CDS, "Sol", escreveu no último editorial  daquele semanário, a propósito das recentes eleições italianas, que "a democracia está a tornar-se numa palhaçada".
Como diz uma velha frase, "Deus escreve direito por linhas tortas". A democracia está a transformar-se numa palhaçada, mas não pelos motivos apontados pelo sr. Saraiva, que mostra um sentimento de desespero e derrota pelo facto de os povos não "compreenderem" a  austeridade e os efeitos da globalização.
Tal palhaçada é resultante  dos seguintes factos:
-  a classe política  cada vez se sente e mostra menos responsável perante os seus eleitores e mais seguidista relativamente ao alto capitalismo e suas sociedades secretas, como o grupo de Bildeberg.
- Com aquele objectivo, mente descarada e vilmente durante as campanhas eleitorais, prometendo uma coisa e fazendo o seu oposto. É o triste caso dos partidos componentes do actual governo português, idolatrado de forma dogmática e fanática pelo sr. Saraiva.
- As elites afastam-se da actividade política, sobretudo por aqueles motivos, abrindo o caminho ao controlo da mesma por medíocres e indigentes intelectuais. Num país e numa situação política normais, Pedro Passos Coelho seria primeiro-ministro? O falso licenciado Relvas coordenaria politicamente um governo? Seguro estaria à frente do maior partido da oposição?
- A austeridade não é para todos, mas para os pobres e a classe média, a qual está a desaparecer, principalmente nos países ocupados (assim mesmo, sem aspas) pela troika.
- A globalização tem aumentado as desigualdades e injustiças sociais, empobrecendo a maioria dos cidadãos dos países desenvolvidos, com a deslocalização de empresas para o terceiro mundo.  
Apesar de ter abandonado  o marxismo há quase 28 anos  - e não pretender voltar a endossá-lo, embora considere ter aquela ideologia aspectos positivos deturpados pelos marxistas e marxólogos - a História está a dar razão a Karl Marx quando afirmava: "as eleições em regime capitalista são uma farsa" e  "o desenvolvimento do capitalismo conduz à destruição das classes médias e à concentração de riqueza nas mãos da alta burguesia." Infelizmente, em nome do liberalismo, ideologia que em tempos idos provou o contrário. Perante isto, vale a pena continuar a ser liberal? Vale, pois, ignorando o ultra e o neo-liberalismo e seguindo em frente. Recordamos, a propósito, ter o escritor checo, anti-comunista, Milan Kundera, afirmado, há várias décadas,  ser a esquerda a grande marcha da História e que perante os crimes do comunismo, as pessoas de esquerda deveriam ignorar o mesmo e seguir em frente.
A terminar: José António Saraiva ainda se lembrará de quando escreveu no "Expresso", do qual era director, conduzir o liberalismo defendido, entre outros, por Vitor Cunha Rego (já falecido), Proença de Carvalho ou Maria Elisa Domingues, ao capitalismo selvagem, no que não tinha razão nenhuma? O governo português e os seus patrões (do sr. Saraiva) da angolana Neshwold, ligada ao poder corrupto, despótico  e com cheiro a sangue, de Angola, sediada no Panamá, pelos motivos em que o leitor está a pensar, representarão, por acaso, um capitalismo inteligente e humanista?
Um historiador, de seu nome António José Saraiva, há cerca de 50 anos, era militante do PCP. Álvaro Cunhal encarregou-o EM MOSCOVO de, juntamente com Maria Lamas, escrever um texto para uma conferência, sobre a guerra colonial portuguesa então no início. Cunhal alterou, em grande parte, o que aqueles seus dois camaradas escreveram. António José Saraiva disse não ler aquilo com que não concordava, tendo o secretário-geral do PCP retorquido ser a alteração ao texto por si efectuada a posição oficial do partido.
O historiador abandonou o local da reunião, demitindo-se, de imediato, do partido que serviu quase 30 anos. Onde estiver, o que "pensará" da incoerência, oportunismo e servilismo de seu filho?        

sexta-feira, 8 de março de 2013

O TRONO É DO CHARLATÃO

Em debate realizado na Assembleia da República, o primeiro-ministro afirmou ser contra o aumento do salário mínimo, chegando a dizer que o mesmo deveria diminuir, para aumentar a competitividade da economia, só não o fazendo, à semelhança do governo irlandês, porque no seu país aquele ordenado é muito maior  que o português.
Embora o salário mínimo seja muito mais elevado na Irlanda que em Portugal, o povo irlandês tem perdido muito poder de compra. O desemprego ali registado é elevado (menos que o nosso), mas anteriormente à crise, a Irlanda tinha atingido praticamente o pleno emprego. Nesse tempo, dificilmente se viam "sem abrigo" nas ruas. Hoje, vêem-se imensos. A dívida e o défice daquele país são, respectivamente, de 120% e 8% do PIB. Malhas que a troika tece...
Mas, voltando a Portugal, o nosso (salvo seja) primeiro-ministro entende que quem vive com o mínimo ainda deveria ganhar menos. O ultra-liberal António Borges é da mesma opinião. Para eles, competitividade significa mão de obra barata e terceiro-mundização das relações laborais. Para qualquer verdadeiro social-democrata ou liberal a competitividade assenta em boa formação profissional e mão de obra qualificada.
Porque não disse Passos Coelho barbaridades destas na campanha eleitoral que o conduziu a chefe do governo? Certamente o resultado final seria outro. Como uma vez afirmei por Sócrates, também a Passos Coelho se aplica  a expressão de uma canção de José Mário Branco e Sérgio Godinho, que dá título a este post.

PS: aos que afirmam que uso violência verbal nos meus escritos, fiquem sabendo que a procissão ainda nem chegou ao adro. Mais uma vez, citando Sérgio Godinho, prefiro "estar de mal com outros e de bem comigo". Como diria António Vitorino em outras circunstâncias de tempo e modo, vão-se habituando...