domingo, 26 de fevereiro de 2012

QUEM DIZ QUE É PELA RAINHA

No dia 23 do corrente mês passaram 25 anos sobre a morte do cantor Zeca Afonso.
Seguidamente, evocando a sua obra, publicamos um poema de uma das suas canções, ilustrativo de uma certa realidade política e social que se vem agravando nos últimos anos.

QUEM DIZ QUE É PELA RAINHA

Quem diz que é pela rainha
nem precisa de mais nada
embora seja ladrão
pode roubar à vontade
todos lhe apertam a mão
é homem de sociedade

Acima da pobre gente
subiu quem tem bons padrinhos
de colarinhos gomados
perfumando os ministérios
é dono dos homens sérios
ninguém lhe vai aos costados

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A DOENÇA INFANTIL DO LIBERALISMO

Lenine considerava “o esquerdismo a doença infantil do comunismo”. Aliás, escreveu um livro com tal título.
Álvaro Cunhal, imitando o mestre, publicou também, no final da década de 60 do século passado, um livro intitulado “Radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista”, no qual verberava os grupos maoistas, trotskistas ou guevaristas surgidos na época em Portugal.
Quer Lenine, quer Cunhal, consideravam que o radicalismo, em nome do comunismo, se caracterizava pelo aventureirismo e conduzia a revolução a um beco sem saída, beneficiando os seus inimigos.
Também o liberalismo, após a retirada de Ronald Reagan, já falecido, ou Margareth Thatcher, da política, caiu num radicalismo de sinal contrário ao mencionado por aqueles dirigentes comunistas. Em nome da emancipação da sociedade civil, caiu-se na excessiva desregulamentação, a qual conduziu a abusos do capital, à aposta na economia de casino, através de um excesso de capitalismo financeiro, à desindustrialização das sociedades capitalistas mais desenvolvidas, conduzindo todos estes factores a um consumismo insustentável.
O resultado daqueles factores está à vista. Austeridade que empobrece quem já era pobre, bem como as classes médias, especialmente nos países periféricos como Portugal, Grécia e Irlanda, que chegaram às portas da bancarrota. Espanha e Itália vão pelo mesmo caminho. Nos países mais ricos, como a Alemanha ou os EUA, os trabalhadores não vêem os seus salários subir há 15 ou 20 anos, provocando maiores desigualdades.
Karl Marx dizia que o “desenvolvimento do capitalismo conduziria ao desaparecimento das classes médias e à concentração de riqueza nas mãos da alta burguesia”. O capitalismo de rosto humano, levado à prática desde a II Grande Guerra Mundial até à recente crise, provou o contrário: o desenvolvimento capitalista criou fortes classes médias. A economia de mercado demonstrou garantir melhor nível de vida para a maioria das pessoas do que as economias de direcção central marxistas. O “segredo” para esta transformação foi a submissão do poder económico ao poder político forte e entregue a homens e mulheres de princípios, com boa formação política e económica.
O radicalismo neo-liberal atrás referido, que pode considerar-se a doença infantil do liberalismo político e económico, só foi possível, dado a política estar entregue a medíocres e oportunistas subordinados ao poder e interesses económicos, virando do avesso o liberalismo original, que postulava a regulação da economia por um estado forte.
As nefastas consequências desta doença infantil neo-liberal, representada por Passos Coelho e restante nova direita que governa a maioria dos países da UE, já está a servir os seus inimigos políticos. As consequências dessas consequências (passe a expressão) não serão boas.

PS: a ser verdade o que a imprensa tem afirmado, o projecto de alteração do programa do PSD prevê a retirada do Estado da saúde, da educação e de tudo que tenha a ver com políticas sociais, o que nem de perto, nem de longe, alguma vez foi posto em prática no país mais liberal, os EUA. Assim sendo, o PSD não é mais um partido social democrata ou sequer liberal. Mais parece influenciado pelo “Tea Party”, de Sarah Palin. Consumado que seja tal facto, os verdadeiros sociais democratas, no sentido português do termo, terão que ir defender as suas ideias para outro lado.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

HÁ 200 ANOS NASCIA CHARLES DICKENS

Em 7 de Fevereiro de 1812, nascia na Inglaterra o escritor Charles Dickens.
Filho de pessoas pobres, começou a trabalhar com 12 anos numa fábrica, como operário. Mais tarde, subiu na vida a pulso, tendo sido empregado de escritório, jornalista e escritor.
Pelo casamento e através do seu trabalho intelectual, tornou-se rico. No entanto, a sua opção foi sempre pelos pobres e pela justiça social.
Na época vitoriana, era uma das figuras mais populares da velha Albion. Nas suas obras literárias, denunciou a hipocrisia moral daquela época, que continua a influenciar certos neo-liberais conservadores, em grande parte responsáveis pela crise económica, financeira e social que atravessa o Ocidente, bem como a exploração do capitalismo selvagem, à qual estavam também sujeitos velhos e crianças, sem protecção social, trabalhando 14 e 16 horas por dia.
Uma leitura atenta das obras de Dickens, ou a visão de filmes baseados nas mesmas, levará à conclusão de que não é só na China, que reúne o que de pior existe no comunismo e no capitalismo, e outros países do terceiro mundo, que as relações laborais estão a regressar ao século XIX.
Neste tempo cinzento e amargo, especialmente para quem vive apenas do seu salário, sejam bem vindos novos “escritores malditos” e mal vistos por uma certa sociedade oficial, como Charles Dickens foi no seu tempo.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O CALADO QUE PASSOU A PALRADOR DE SERVIÇO

Foi no final do mês de Outubro do ano da graça de 1988. Decorria um congresso da JSD em Tróia, no qual participei. Era, na altura, presidente da mesa da Assembleia Geral Distrital de Viseu da organização da juventude do PSD.
No segundo dia do Congresso estávamos vários participantes no mesmo, pela manhã, a tomar o pequeno almoço num bar situado junto ao Sado. Ali se encontravam também o actual secretário de Estado das comunidades, José Cesário, e Miguel Relvas, hoje ministro dos assuntos parlamentares, da administração local, juventude e desporto, “controleiro” da comunicação social estatizada, e então secretário-geral da JSD. O presidente desta organização era Carlos Coelho, sendo o actual primeiro-ministro, Passos Coelho, seu vice-presidente.
Miguel Relvas dirigiu-se a José Cesário, perguntando-lhe se deveria falar ou não no congresso. Este último disse-lhe: “se é para te queimares, vale mais não falares”. Foi exactamente o que fez Relvas. Durante todo o congresso, o homem do aparelho da organização não abriu a boca.
Miguel Relvas, que ao tempo, passava quase despercebido na “jota”, tornou-se um palrador que intervem a propósito de tudo e de nada, num discurso pontuado por banalidades. É a gente desta, conhecedora dos aparelhos partidários e do serviço prestado a certos empresários, que governa um país como se governasse uma empresa, mas desconhece o país real, obcecada apenas com os números do défice e da dívida, estando “nas tintas” para a pobreza e o necessário crescimento económico para combater a mesma, que Portugal está entregue. Mas, como diz o chefe do governo, “temos de empobrecer”.
Aquela expressão de Passos Coelho não é mais grave que a “gaffe” de Cavaco Silva sobre as suas pensões de reforma e despesas mensais? Porque não levantou a mesma celeuma na comunicação social? Estamos mesmo num situacionismo que faz recordar outros tempos de má memória. É por estas e por outras que o autor destas linhas está no reviralho...