quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A DOENÇA INFANTIL DO LIBERALISMO

Lenine considerava “o esquerdismo a doença infantil do comunismo”. Aliás, escreveu um livro com tal título.
Álvaro Cunhal, imitando o mestre, publicou também, no final da década de 60 do século passado, um livro intitulado “Radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista”, no qual verberava os grupos maoistas, trotskistas ou guevaristas surgidos na época em Portugal.
Quer Lenine, quer Cunhal, consideravam que o radicalismo, em nome do comunismo, se caracterizava pelo aventureirismo e conduzia a revolução a um beco sem saída, beneficiando os seus inimigos.
Também o liberalismo, após a retirada de Ronald Reagan, já falecido, ou Margareth Thatcher, da política, caiu num radicalismo de sinal contrário ao mencionado por aqueles dirigentes comunistas. Em nome da emancipação da sociedade civil, caiu-se na excessiva desregulamentação, a qual conduziu a abusos do capital, à aposta na economia de casino, através de um excesso de capitalismo financeiro, à desindustrialização das sociedades capitalistas mais desenvolvidas, conduzindo todos estes factores a um consumismo insustentável.
O resultado daqueles factores está à vista. Austeridade que empobrece quem já era pobre, bem como as classes médias, especialmente nos países periféricos como Portugal, Grécia e Irlanda, que chegaram às portas da bancarrota. Espanha e Itália vão pelo mesmo caminho. Nos países mais ricos, como a Alemanha ou os EUA, os trabalhadores não vêem os seus salários subir há 15 ou 20 anos, provocando maiores desigualdades.
Karl Marx dizia que o “desenvolvimento do capitalismo conduziria ao desaparecimento das classes médias e à concentração de riqueza nas mãos da alta burguesia”. O capitalismo de rosto humano, levado à prática desde a II Grande Guerra Mundial até à recente crise, provou o contrário: o desenvolvimento capitalista criou fortes classes médias. A economia de mercado demonstrou garantir melhor nível de vida para a maioria das pessoas do que as economias de direcção central marxistas. O “segredo” para esta transformação foi a submissão do poder económico ao poder político forte e entregue a homens e mulheres de princípios, com boa formação política e económica.
O radicalismo neo-liberal atrás referido, que pode considerar-se a doença infantil do liberalismo político e económico, só foi possível, dado a política estar entregue a medíocres e oportunistas subordinados ao poder e interesses económicos, virando do avesso o liberalismo original, que postulava a regulação da economia por um estado forte.
As nefastas consequências desta doença infantil neo-liberal, representada por Passos Coelho e restante nova direita que governa a maioria dos países da UE, já está a servir os seus inimigos políticos. As consequências dessas consequências (passe a expressão) não serão boas.

PS: a ser verdade o que a imprensa tem afirmado, o projecto de alteração do programa do PSD prevê a retirada do Estado da saúde, da educação e de tudo que tenha a ver com políticas sociais, o que nem de perto, nem de longe, alguma vez foi posto em prática no país mais liberal, os EUA. Assim sendo, o PSD não é mais um partido social democrata ou sequer liberal. Mais parece influenciado pelo “Tea Party”, de Sarah Palin. Consumado que seja tal facto, os verdadeiros sociais democratas, no sentido português do termo, terão que ir defender as suas ideias para outro lado.

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