sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A OPÇÃO DE CLASSE DO GOVERNO

"Opção de classe" é uma terminologia tipicamente marxista e significa "opção pelo proletariado", "pela classe operária e demais trabalhadores", na luta de classes que, segundo aquela ideologia, conduzirá à sociedade sem classes: o comunismo.
Recentemente, o democrata-cristão que integrou a direita na democracia no pós-25 de Abril, Diogo Freitas do Amaral, afirmou ser a "nova luta de classes uma luta dos ricos contra os pobres". Mais dizia assentar tal luta nas ideias liberais postas em prática por Reagan e Thatcher desde há mais de 30 anos.
Discordo da segunda parte da sua opinião, pois aquelas políticas, ao defenderem a promoção segundo o mérito de cada um, conjugado com a igualdade de oportunidades e a liberdade de escolha que lhe é intrínseca, fez baixar o desemprego, melhorar o nível de vida dos mais desfavorecidos e das classes médias, embora também dos ricos, em consequência, essencialmente, do crescimento do poder de compra daqueles e da baixa dos impostos.
Só que, a baixa das contribuições não foi apenas para o factor capital, mas também para os trabalhadores. Recordo que na Grã-Bretanha e nos EUA, naquele tempo, a classe média cresceu consideravelmente, tornando-se amplamente maioritária.
Já quanto à primeira parte da opinião do Prof. Freitas do Amaral, estou inteiramente de acordo. Só que, os pseudo-liberais que dominam o mundo, nos quais se incluem Passos Coelho e o PSD, em nome do liberalismo aplicam uma política de direita nada liberal. Aumentam os impostos, especialmente sobre as classes médias, as quais se estão a proletarizar, como previa Karl Marx há 150 anos, e tornam os pobres miseráveis. Onde está a diminuição do peso do Estado? Onde está a definição das funções do Estado? Com a tripla Passos-Gaspar-Portas passámos a ter mais estado e pior estado, ao contrário de um slogan de Cavaco, de meados dos anos 80 do século passado, o qual não era nem é liberal.
O autêntico liberalismo implica o inter-classismo e a ascenção social dos "de baixo". Se quisermos utilizar uma linguagem marxista, contrariamente à proletarização da burguesia defendida pelos comunistas, os verdadeiros liberais opõem o aburguesamento do proletariado. Leia-se atentamente os clássicos do liberalismo e veja-se se são ou não estas as ideias plasmadas nas suas obras.
Que o PSD e o CDS têm uma política de classe a favor dos "de cima" e de empobrecimento dos "de baixo" já muita gente tinha concluido. A proposta da baixa do IRC, nos termos em que é feita, só o vem confirmar. Fala "o Álvaro" na "mais baixa taxa de IRC da UE", a taxa única de 10%, relativa àquele imposto. Mas para quem? Apenas para empresas que efectuem investimentos muito elevados, não para os pequenos e médios industriais e comerciantes, os quais continuariam a pagar as quantias elevadas actualmente suportadas. Tal conduziria ao desaparecimento das pequenas e médias empresas, que constituem mais de 90% das empresas nacionais, ficando a economia na mão dos "grandes" nacionais e estrangeiros, enquanto todos os demais cidadãos continuariam condenados à pobreza e a todo o cortejo de humilhações caracterizadoras da mesma.
Em vários países da Europa, especialmente no leste, existem taxas fiscais únicas baixas, mas para todos os empresários e trabalhadores. Desta forma mantém-se a progressividade fiscal (quem mais ganha mais paga) e atrai-se investimento, criando riqueza e emprego.
Se dúvidas existiam, esta proposta dissipou-as de vez: a opção de classe dos partidos governamentais é apenas e só pelos ricos, contra os pobres e remediados. Nada tem de social-democrata, democrata-cristã ou liberal clássica. Insere-se na política de uma nova direita reaccionária e pseudo-liberal contra a qual há que desencadear uma luta sem tréguas, não, na opinião do autor destas linhas, em defesa de socialismos ultrapassados e falidos, mas na promoção de um capitalismo de rosto humano, controlado pelo poder emanado da vontade popular. A propósito, o governo Coelho/Portas, por ter colocado em prática uma política muito diferente da prometida em campanha pelo PSD e o CDS, deveria ser imediatamente demitido, pois enganou e traiu os portugueses.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O MINISTRO DA PROPAGANDA


Em debate realizado ontem na A.R., o deputado do PCP Honório Novo apelidou Álvaro Santos Pereira de ministro da propaganda.
O ministro da propaganda mais conhecido no século XX foi Goebels, do governo de Hitler, na Alemanha nazi.
Goebels dizia que “uma mentira suficientemente repetida passa a ser verdade”. Nesse aspecto, o actual governo, bem como, infelizmente, boa parte dos governos e políticos das próprias democracias, parecem ter aprendido tal lição daquele dirigente nazi. No entanto, compará-los politicamente, incluindo “o Álvaro”, com Goebels, é absurdo, pois seria relativizar a barbárie nazi de má memória. Recordamos que aquele ministro de Hitler, ao ver a vitória inequívoca dos aliados na II grande guerra mundial, suicidou-se, assim como a sua mulher, e matou, por envenenamento, as crianças suas filhas.
Álvaro Santos Pereira e Goebels têm um aspecto comum: serem professores universitários, de profissão. No entanto, o Prof. Doutor Santos Pereira não tem o nível intelectual do Prof. Doutor Goebels, o qual era um sobredotado genial ao serviço do mal.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O ANTICICLONE AÇOREANO

O anticiclone eleitoral registado no passado domingo nos Açores, além de uma grande vitória para o PS, ao fim de muitos anos de poder, constituiu uma derrota de consideráveis proporções para os partidos do governo nacional, especialmente o PSD, o que, aliás, foi reconhecido pelo seu líder e primeiro-ministro.
De nada valeu a candidata”social democrata” Berta Cabral distanciar-se do governo central. Nada ajudaram as visitas de Moreira da Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, ou Paulo Portas, aos Açores, pelo que esta derrota também é deles.
Se este governo está cada vez mais isolado da sociedade, Passos Coelho e Vítor Gaspar estão isolados no governo, como se pôde constatar por notícias relativas às prolongadas reuniões do Conselho de Ministros aquando da discussão da aprovação do Orçamento Geral de Estado para 2013.
Nesta situação de crise económica, financeira, social e, agora, sobretudo política, usando uma linguagem popular, o governo “deu o que tinha a dar” (tirar, já tirou demais). Impõe-se o seu fim e a constituição de um governo de salvação nacional, partidário ou constituído por independentes, com óbvio suporte parlamentar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

12 DE OUTUBRO

Passam hoje 40 anos sobre o assassinato do estudante José António Ribeiro Santos pela PIDE, a polícia política do regime reaccionário da época, no então ISE, actual ISEG.
José António Ribeiro Santos era estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, militava no MRPP e na sua organização estudantil, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML).
Decorria um "meeting" contra a guerra colonial no ISE. Um indivíduo suspeito de pertencer à PIDE tirava apontamentos dos cartazes afixados. Quando os estudantes se preparavam para lhe dar o justo correctivo, o presidente da Associação de Estudantes da escola, Pedro Aranda, militante do PCP e da UEC, teve a "brilhante" ideia de chamar a PIDE para confirmar se o tipo em causa pertencia aos seus quadros. Quando os agentes da PIDE chegam há confrontos. Um dos pides assassina, a tiro, Ribeiro Santos e fere numa perna José Lamego, hoje militante do PS, que após o 25 de Abril, ainda ligado ao MRPP, foi professor na Escola Emídio Navarro, em Viseu, tendo-se deslocado por diversas vezes a S. Pedro do Sul.
O funeral de Ribeiro Santos foi uma enorme manifestação contra o regime, que deixava cair a máscara da "liberalização", apesar da violência policial, que levou à agressão e prisão de inúmeras pessoas, especialmente jovens.
A morte de Ribeiro Santos provocou uma grande onda de contestação nas escolas e em muitos locais de trabalho.
No madrugada do dia 9 de Outubro de 1975, no Terreiro do Paço, um grupo de 6 militantes do MRPP colava cartazes ilustrativos de um comício que no seguinte dia 12 comemorava precisamente o 3º aniversário do homicídio de Ribeiro Santos. Um bando de 60 membros da UDP, força hoje integrante do Bloco de Esquerda (BE) atacou aquele grupo, com barras de ferro e paus, tendo lançado vários elementos do MRPP ao Tejo. Entre eles estava Alexandrino de Sousa, também estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, dirigente da FEML e director do seu jornal, "Guarda Vermelha", que foi selvaticamente agredido pelos UDPs, os quais bateram com a sua cabeça no chão e nas paredes, lançando-o ao rio, tendo conhecimento de que não sabia nadar, assim provocando a sua morte.
Em comício da UDP realizado no mesmo dia, o seu "pai", Francisco Martins Rodrigues, vangloriou-se da morte do jovem Alexandrino de Sousa. Com a mesma valentia com que ajoelhou aos pés da PIDE, denunciando e permitindo a captura de diversos camaradas por si dirigidos no Comité Marxista-Leninista Português (CMLP), em meados dos anos 60. A traição de Martins Rodrigues na PIDE levou a que o mesmo ficasse conhecido como Chico Bufo.
Quando Ribeiro Santos foi assassinado era eu criança. Creio só ter ouvido falar dele após o 25 de Abril. Em Outubro de 1975, com 16 anos, era um activista do MRPP e da FEML. Ouvi falar de Alexandrino de Sousa, mas nunca tive a honra de o conhecer, como aconteceu com José Lamego, acima mencionado.
Hoje, penso terem Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa morrido heroicamente, plenos de generosidade, e com esperança numa sociedade justa e fraterna. No entanto, os seus ideais - e meus, à época - mostraram-se errados e injustos.
Quando a pior faceta do capitalismo domina o mundo, e muito especialmente o nosso país, entregue a incompetentes, seguidores de tal faceta, provocando a destruição da classe média e a miséria dos pobres, o desemprego, na realidade superior a um milhão de trabalhadores, entre os quais se encontram mais de um terço dos jovens, há que seguir o exemplo de luta abnegada de Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa contra esta situação. Sem luta nada se consegue. Mas, a ideologia a que aqueles mártires aderiram não é boa solução. Conduz também a ditadura. Tal luta deverá ser travada dentro dos limites do regime democrático e parlamentar.
Não vou especular sobre se Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa, caso fossem vivos, estariam ou não no PCTP/MRPP. Para essa especulação não há, obviamente, resposta. Como crente, tenho fé e esperança de um dia me encontrar com eles e termos uma longa conversa.
HONRA A RIBEIRO SANTOS E ALEXANDRINO DE SOUSA !

domingo, 7 de outubro de 2012

O MUNDO ESTÁ PERIGOSO. NÓS, POR CÁ, TODOS BEM...

O saudoso intelectual, jornalista e político Vitor Cunha Rego dizia, há já cerca de 20 anos, que o mundo estava perigoso. Na mesma altura, afirmava ter a globalização como objectivo servir 500 multinacionais. Onde estiver, verá que a História lhe está a dar razão.
Que o mundo, hoje, está muito mais perigoso, provam-no o princípio de guerra entre a Síria e a Turquia, país da NATO, a guerra civil no primeiro daqueles paises, o novo Vietname dos EUA no Afeganistão, o eterno conflito entre Israel e a Palestina, o confronto que opõe Sudão do Norte e Sudão do Sul, a provável independência da Catalunha, que será o início da implosão da Espanha, e tantos outros factos, entre os quais se destaca o acentuar das desigualdades entre ricos e pobres, especialmente nos países ricos, provocando situações explosivas.
Mas, nós, por cá, segundo afirmou o primeiro-ministro no Algarve, no passado mês de Agosto, estávamos bem. Então a crise não tinha passado? No próximo ano não haveria recuperação da economia? Fazia lembrar Sócrates nos seus melhores ou piores (que cada um entenda como quiser) momentos.
O governo, em uníssono, afirmava, no há pouco findo verão, que não eram necessárias mais medidas de austeridade.
Passos Coelho, no pouco tempo que militou no PCP e na sua organização de juventude terá intuido o optimismo antropológico. Apesar de hoje estar vincadamente à direita -não sei como alguém pode qualificar este fulano de social-democrata sem se rir - manteve aquela característica típica das pessoas da esquerda a que pertenceu. Só que, à semelhança dessas pessoas, vê os seus sonhos esbarrar na dura realidade, a qual foi ilustrada recentemente pelo seu ministro das finanças, que o desmentiu, afirmando cair a economia no próximo ano 1% e aumentar o desemprego(nas estatísticas, pois o real já ultrapassa os 20%) para 16,4% da população activa em 2013. Já não falamos do enorme aumento de impostos (Vitor Gaspar dixit), o qual penalizará o crescimento económico, empobrecerá ainda mais a classe média e lançará os pobres na miséria.
Se a esquerda e os sindicatos contestam esta política, o ambiente à direita não é melhor para o governo. Hoje mesmo, o presidente da CIP, António Saraiva, afirma em entrevista ao "Diário de Notícias" ser pena não poder haver uma greve dos patrões. Nunca tal se ouviu após o 25 de Abril. Paulo Portas e o CDS estão com um pé dentro e outro fora do governo.
Resumindo e concluindo: contrariamente ao que que o optimista sr. Coelho afirmava há menos de 2 meses, nós por cá, incluindo ele, estamos muito mal. O seu governo está no estertor, aguardando o golpe de misericórdia, o qual é um imperativo. Espera-se que o Senhor Presidente da República rapidamente demita este governo que conduziu o país ao colapso, palavra tão do seu agrado, e encontre uma alternativa com os partidos parlamentares e os parceiros sociais. Se tal não acontecer, a situação nas ruas poderá tornar-se incontrolável e - o que não passaria pela cabeça de ninguém há pouco tempo - o populismo e o desespero poderão conduzir a uma revolução ou contra-revolução.