sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ACORDAI

Nas recentes manifestações de 15 de Setembro, foi cantado o tema "Acordai", que tem letra de José Gomes Ferreira e música de Fernando Lopes Graça. Seguidamente, publicamos tal poema.


Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

ORGANIZAÇÕES MAOISTAS VOLTAM A MULTUPLICAR-SE

O século XXI será o século do comunismo.
Arnaldo Matos


Nos anos 60 e 70 do século passado, à semelhança do resto da Europa, havia em Portugal uma série de partidos e organizações maoistas. No pós-25 de Abril eram mais de uma dezena.
A viragem verificada no processo político português em 25 de Novembro de 1975, as mudanças pró-capitalistas na economia chinesa, as divergências dos que os maoistas da linha dura apelidavam de novos mandarins com a Albânia, e o fim do chamado socialismo científico neste país, levaram ao fim da maioria daqueles partidos e organizações em todo o Ocidente. Em Portugal, desde há 25 anos, que apenas o PCTP/MRPP, fundado em 1970, se mantinha, com poucos militantes e simpatizantes, até ao início do séc XXI.
No início do terceiro milénio, um grupo radical, após ter operado uma cisão de esquerda no partido de Arnaldo Matos, criou o Círculo Revolucionário (CR), que edita o jornal "Bandeira Vermelha" e a "Página Vermelha", na internet.
Recentemente, descobri também na net que surgiu no ano de 2011 uma terceira organização maoista, a União Comunista Revolucionária (UCR).
Estas duas últimas organizações têm ligação ao Movimento Revolucionário Internacionalista (MRI), fundado em 1984, espécie de internacional maoista. O MRPP, como sempre, aliás, continua a não reconhecer nenhuma organização com as mesmas afinidades ideológicas em qualquer país, pois, no seu entender, tal constitui "um problema para a classe operária e demais trabalhadores dos outros países". Por outro lado, entende ter sido o maoismo um desenvolvimento importante do marxismo-leninismo, mas apenas no tocante à experiência chinesa. Já não considera o maoismo como nova etapa do marxismo-leninismo. Também não vê o Presidente Gonzalo, pseudónimo de Abimael Guzzman, líder do Partido Comunista do Perú, mais conhecido por Sendero Luminoso, preso há 20 anos no seu país, como o "maior marxista-leninista vivo", nem o "pensamento gonzalo" como nova etapa do marxismo, como os seus dissidentes do Círculo Revolucionário, os quais consideram Arnaldo Matos, Garcia Pereira e demais militantes do seu antigo partido traidores à causa revolucionária, bem como a UCR.
CR e UCR tem ligações ao MRI. A UCR apela à guerra popular contra o actual sistema.
Um pouco por toda a Europa, têm reaparecido várias organizações inspiradas no maoismo. No Perú, após a prisão de Abimael Guzzman e outros dirigentes senderistas importantes, o seu partido atravessa muitas dificuldades, incluindo algumas cisões. No entanto, no Nepal, o Partido Comunista Maoista, de Prachanda, venceu as últimas eleições legislativas, com 40% de votos, tendo o próprio Prachanda sido primeiro-ministro algum tempo. Na Índia, nas Filipinas ou na Tailândia, estão activas guerrilhas inspiradas no maoismo e no pensamento gonzalo.
No início do século XXI, Arnaldo Matos afirmou que o mesmo seria "o século do comunismo". O maoismo, considerado morto nos anos 80 e 90, volta a organizar-se, multiplicando-se as organizações que do mesmo se reclamam, tal como nos velhos tempos da minha militância nesse campo ideológico, dado o caminho seguido pelo capitalismo após a queda do muro de Berlim, tendo, de um modo geral, deixado de ser o capitalismo de rosto social e humanista do pós-segunda guerra mundial,tornando-se na subtracção de rendimentos do factor trabalho para o factor capital, agravando e criando novas gritantes desigualdades, para o que contribuiu a globalização desregulada. As injustiças resultantes desta situação, a desilusão face aos partidos comunistas em tempos ligados a Moscovo e a não alternativa de boa parte dos partidos socialistas, de que o português é caso paradigmático, estão na origem desta ressurreição dos seguidores do "grande timoneiro", embora com muito menos pujança que há 30, 40 ou 50 anos.
Se o capitalismo tem abusado e criado cada vez mais injustiças, e a esquerda tradicional está na situação acima dita, não tenham também ilusões relativamente ao maoismo, quer velhos militantes honestos, a maioria meus antigos camaradas e amigos, quer jovens radicais desesperados. Mao foi um tirano. Se qualquer das organizações maoistas da nossa praça alcançasse o poder, outra tirania nos esperava. Vós, meus ex-camaradas, por quem ainda tenho muita estima pessoal, e jovens iludidos por tais ideais, seríeis as primeiras vítimas dos vossos chefes, esses devidamente informados. Vede o que aconteceu a muitos companheiros de Lenine na revolução de 1917, ou de Mao, na revolução de 1949.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

UNIÃO NACIONAL CONTRA O GOVERNO

Durante quase meio século Portugal foi governado por um partido único chamado União Nacional, que no tempo de Marcelo Caetano passou a denominar-se Acção Nacional Popular.
Tal regime autoritário entendia que a democracia dividia os cidadãos, os quais, como carneiros, deveriam enfileirar atrás do chefe político.
Passos Coelho conseguiu, em democracia, criar uma união nacional de pernas para o ar. Melhor dizendo, conseguiu uma verdadeira união da esmagadora maioria dos portugueses contra si, a sua política e a troika, com a retirada de dinheiro aos trabalhadores para aliviar os patrões através das mudanças introduzidas na TSU.
No passado sábado, dia 15, um milhão de pessoas, convocadas por movimentos espontâneos, contestaram tal política na rua. Confederações patronais e sindicais não concordam com as alterações na TSU. Umas e outras afirmam conduzirem as mesmas não a mais, mas a menos emprego, dado diminuirem o poder de compra da população.
Não são muitas as empresas viradas para as exportações. 95% do tecido empresarial português é constituido por pequenas e médias empresas, as quais vivem essencialmente do mercado interno. Passos Coelho e quem o rodeia desconhecem isto, porque não conhecem o país que governam, o que é gravíssimo na actual situação económica e social.
Além do PS, o PCP, o BE e a extrema-esquerda, também Paulo Portas e o CDS contestam esta perfeita loucura. Passos está isolado como nenhum primeiro-ministro esteve após as primeiras eleições legislativas. Se não tiver a humildade de mudar de política, ouvir os outros partidos, os parceiros sociais, o povo que cada vez o contesta mais e o PR, haverá uma crise política de graves proporções. O culpado da mesma será ele, com a sua incompetência.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

11 DE SETEMBRO, DIA DE AZAR

No dia 11 de Setembro de 1973, o general Pinochet, através de um golpe de Estado, acabava com o regime democrático no Chile, iniciando um regime repressivo e sanguinário.
No dia 11 de Setembro de 2001, terroristas suicidas da Al Qaeda, no ataque às torres gémeas, em Nova Iorque, matavam cerca de 3 000 pessoas.
No dia 11 de Setembro do corrente ano, após as dolorosas medidas anunciadas pelo primeiro-ministro poucos dias antes, a que me referi no post anterior, em que comparava esse cavalheiro a Mitt Romney, o ministro das Finanças afirmava que, apesar de o cumprimento do memorando durar mais um ano – a pedido do governo, segundo um representante da troika – o executivo terá de aumentar impostos, diminuir salários e pensões, entre outras decisões gravosas para os portugueses.
Na campanha eleitoral, o actual primeiro-ministro prometeu não aumentar impostos, nem cortar salários aos funcionários públicos. Há poucos meses afirmou não serem necessárias mais medidas de austeridade. Há menos de um mês, no Pontal, disse prever um crescimento positivo da economia no próximo ano. No dia 11 de Setembro, Vítor Gaspar desmentia-o, considerando continuar a aumentar o número de desempregados e ter a economia um crescimento negativo, de 1%, em 2013.
Para além de não haver uma liderança, nem tão pouco coordenação neste governo, os seus membros, especialmente o primeiro-ministro, primam pela mentira. Como dizia o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht, “o que é difícil não é governar, mas explicar a escravidão e a mentira”.
O actual governo está desacreditado ao fim de pouco mais de um ano. Os seus objectivos como fim dos enormes sacrifícios para a maioria da população portuguesa falharam rotundamente. Na coligação governamental, e especialmente no PSD, o desnorte é enorme, devido a tanta incompetência, aldrabice e falta de estratégia num tempo tão difícil.
Tudo isto terá consequências, das quais o Senhor Presidente da República não poderá lavar as mãos como Pilatos.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O MITT ROMNEY PORTUGUÊS

Qual a diferença entre o candidato republicano à presidência dos EUA, Mit Romney e Passos Coelho? O primeiro é mórmon e o segundo é agnóstico.
No plano político, nada os distingue. Romney, em nome da promoção do emprego, quer cortar os impostos pagos pelos ricos, os quais, comparados com os impostos europeus, são bem incentivadores para os empresários. Como contrapartida, pretende acabar com uma série de benefícios sociais concedidos aos pobres, especialmente no campo da saúde, pela administração Obama. Isto para não falar no reaccionarismo social do candidato republicano e do seu nº 2, Paul Ryan, que até afirmam não serem a violação e o incesto motivos para despenalização do aborto.
God save América! Que Obama seja eleito em Novembro!
Pedro Passos Coelho, pelo seu lado, confirmou, com as últimas medidas de austeridade anunciadas, o carácter de classe do seu governo e do PSD.Os trabalhadores passam a descontar mais 7%, por mês, para a segurança social, enquanto o patronato passa a pagar quase menos 6%. São os póprios empresários, como o ex-presidente da CIP, Van Zeller, que afirmam não promover tal decisão a baixa do desemprego.
Quanto a mexidas nas PPP e nas rendas, o executivo fica aquém da troika. Ir mais além da dita, só para os pobres e a classe média. Ainda há dúvidas que a social-democracia morreu no partido que provocatoriamente ainda a utiliza na sua designação? Que o CDS nada tem a ver com a democracia-cristã europeia, criadora de um estado de bem-estar?
A direita, europeia ou americana, com algumas raras excepções, nada tem de social. Espelha perfeitamente o retrato que dela faz a esquerda: ao serviço dos ricos e contra os pobres, bem como a classe média, cada vez mais proletarizada, usando a linguagem marxista.
Von Mises afirmava que os liberais não deveriam constituir partidos, mas entrar para os partidos democráticos, de direita, centro ou esquerda, e procurar influenciá-los. Não é nesta "nova" direita, herdeira das piores tradições direitistas e conservadoras, que alguém pode pensar defender o liberalismo clássico. Terá de o fazer na sociedade civil, preferencialmente em "think thanks", ou nos partidos socialistas, na esperança de os mesmos seguirem a terceira via, de Clinton, Schroeder, Blair, ou da "praxis" de Lula e do PT, no Brasil.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PORQUE NÃO TRABALHAR 7 DIAS POR SEMANA?

A troika sugeriu que os trabalhadores gregos passem a laborar 6 dias por semana e a ganhar menos.
Na Austrália, a mulher mais rica do mundo afirmou que "está farta da inveja", aconselhando os trabalhadores a "trabalhar mais e beberem menos". Pois, divertimento, só para burgueses como ela! Como dizia o outro, "o que ela quer sei eu".
A troika encontra-se em Portugal. Já descartou responsabilidades no falhanço do cumprimento do défice e no aumento da dívida pública, atirando-as para cima do governo PSD/CDS, que também as tem, sem dúvida alguma. É a paga pelo facto de o governo ser mais papista que o Papa, leia-se, mais troikista que a troika.
Esperamos o que a troika vai sugerir, em meados deste mês, para o cumprimento do seu falhado memorando e respectiva política ultra-liberal, que fará Adam Smith dar voltas no túmulo, na impossibilidade de execrar pessoalmente os seus falsos seguidores como Lenine execrou os ultra-esquerdistas. Estaremos condenados também a ter apenas um dia de descanso por semana? Já agora, para recuperar a tão famigerada competitividade, a qual, nos termos em que é proposta, agrava as desigualdades sociais, porque não propôr 7 dias semanais de trabalho, regredindo, em termos sociais, ao século XIX?
Era este o fim da História a que se referia, há 20 anos, Francis Fukuyama?