sábado, 24 de dezembro de 2011

SE CRISTO VOLTASSE À TERRA

Na próxima noite comemora-se o nascimento de Cristo. A Sua missão era simultaneamente divina e humana. Como Filho de Deus, veio resgatar os pecados dos homens, morrendo por eles, pregado numa cruz. No entanto, a Sua mensagem também era para o mundo, na defesa da Verdade, da Justiça Social e da Liberdade, numa palavra: na prática do bem como forma de salvar a humanidade. Por isso, foi perseguido e morto pelos poderosos daquele tempo, desde os romanos aos sumos sacerdotes judaicos.
E se hoje Cristo voltasse à Terra? Como reagiriam os "comedores de dinheiro" - recordando uma canção de Adriano Correia de Oliveira - detentores do poder económico que manda numa boa parte do mundo, especialmente no Ocidente, os quais, subvertendo as regras da democracia, destruindo as forças produtivas, exigindo, no que são prontamente atendidos pelas classes políticas medíocres dominantes, o fim de direitos ancestrais de quem vive apenas do seu salário? Se ouvissem Jesus dizer novamente "é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico entrar no reino do Céu", qual seria a sua atitude? Deixo as perguntas. Que cada um encontre a resposta que melhor entender.
A todos os colaboradores e leitores deste blogue, desejo um Feliz Natal e, na medida do possível, um bom 2012.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FALECERAM VACLAV HAVEL E KIM JONG IL

Faleceram, recentemente, Vaclav Havel e Kim Jong Il. O primeiro foi chefe de Estado da Checoslováquia e da República Checa, eleito pelo povo, e defendia a democracia liberal. O segundo liderava o Partido Comunista e a república norte-coreanos, tendo sido escolhido pelos "iluminados" do Comité Central daquele partido, sob indicação do seu pai e anterior ditador, Kim Il Sung. O sucessor de Kim Jong Il será um seu filho. Estamos perante uma dinastia marxista. Marx não terá certamente previsto que tal acontecesse em seu nome.
Kim Jong Il era comunista. Vaclav Havel era anti-comunista.
Havel foi um intelectual empenhado na defesa da liberdade e no combate à tirania comunista, muito especialmente após a invasão do seu país pelas tropas do Pacto de Varsóvia em 1968.
Em 1977, assinou a célebre Carta 77, um manifesto de intelectuais opositores do regime comunista. Esta coerência teve grandes e graves custos para este dramaturgo, pois passou vários anos atrás das grades.
Mas, como dizia num seu poema António Aleixo, "a razão, mesmo vencida, não deixa de ser razão". A chamada revolução de veludo de 1989 na Checoslováquia, que na sequência da queda do muro de Berlim e dos vários regimes totalitários de esquerda no leste, o que, há que reconhecer, se deveu essencialmente à política reformista de Gorbatchev, foi liderada por Havel, o qual seria eleito Presidente da República por larga maioria dos checoslovacos.
Quando começaram significativas manobras no sentido da separação da Eslováquia dos checos, Havel promoveu um referendo naquela zona da ex- Checoslováquia, o qual determinou a sua independência.
Com Havel e outros democratas, a Checoslováquia transitou de uma economia de direcção central para uma economia de mercado sem sobressaltos, permitindo uma melhoria significativa do nível de vida dos seus cidadãos. É que ali, o Estado não abdicou do seu carácter regulador e as privatizações foram efectuadas de forma transparente. Bom seria que certos "liberais" que nos governam seguissem o mesmo exemplo nas privatizações da EDP, da REN e outras empresas...
Vaclav Havel foi um defensor da liberdade e da democracia. Todos os amantes destes valores se curvam perante a sua memória.
Kim Jong Il não passou, como o seu progenitor, de um ditador estalinista. Não é necessário falar da fome que os norte-coreanos passam, morrendo, em consequência da mesma, aos milhares, enquanto o chefe morto e seus capangas sempre viveram no luxo. Como dizia Orwell, em regimes deste jaez, "todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros". Basta ver o choro forçado de imensos norte-coreanos exibido nas televisões, com medo que o vizinho, potencial PIDE local, os denunciasse, para se constatar o que é a vida num regime concentracionário e totalitário.
Alguns jovens que, por desespero, com falta de emprego e sem perspectivas de futuro, aderem a organizações esquerdistas, é bom que saibam que se os que os manipulam fossem poder, seriam Kims, Maos, Estalines ou mesmo Pol Pots. Quem vos avisa conhece bem alguns desses "revolucionários" de pacotilha que vos manipulam e dos quais vós seríeis, com o vosso idealismo, algumas das vítimas, talvez as primeiras.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PC FOI DO PC

Quando recentemente Pacheco Pereira, na "Quadratura do Círculo", criticou a política do primeiro ministro Passos Coelho, logo alguns laranjinhas ensinados de nascença disseram: "uma vez comunista, sempre comunista". Também por mim, que, como Pacheco Pereira, fui comunista de linha maoista, já foram feitas afirmações e insinuações do mesmo género. Basta ver o post anterior a este no "Mais São Pedro do Sul".
Há uma certa direita para a qual quem a criticar e aos seus é comunista. Infelizmente, alguma dessa direita ignorante e acéfala acoita-se no Partido Social Democrata. Pois então, fiquem esses "direitinhas" a saber que o seu actual líder e chefe do governo, Passos Coelho (PC) pertenceu, na adolescência, no final dos anos 70 do século passado, ao PC (Partido Comunista) e às suas organizações União dos Estudantes Comunistas (UEC) e Juventude Comunista Portuguesa (JCP). Na qualidade de militante dessas organizações, participou num congresso onde Álvaro Cunhal esteve presente, tendo completado, aliás, nesse dia, 66 anos. Passos Coelho foi um dos jovens comunistas que mais enfaticamente vitoriaram o então secretário-geral do seu partido.
Nesse tempo, nós, maoistas, combatíamos o PCP e a URSS, que apelidávamos de social-imperialista. Considerávamo-los inimigos principais. No PREC, o partido a que pertenci (MRPP) fez alianças tácticas com o PS e o PPD, actual PSD, para derrotarmos o projecto de Álvaro Cunhal. Anos mais tarde, PC pertencia ao PC. Após a invasão da Checoslováquia e da Hungria pela URSS.
Olhando para a acção de Pedro Passos Coelho, esse sim, parece manter os ensinamentos bebidos no PC e na UEC. O seu seguidismo relativamente a Angela Merkel faz lembrar a teoria da "soberania limitada", da autoria de Leonid Brejnev, líder do PCUS e da URSS aquando da militância comunista do adolescente hoje presidente do Conselho de Ministros.

domingo, 20 de novembro de 2011

RESPOSTA A UMA PROVOCAÇÃO

Ao ler o blogue "O Caricas", verifiquei estar o meu nome e fotografia entre as pessoas que através do facebook afirmam que "gostam do Caricas". Cumpre-me esclarecer o seguinte:
1º - Não gosto do "Caricas", por razões que se prendem com a censura a um artigo sobre os negócios de Cavaco Silva e sua filha no BPN, de que solicitei publicação naquele blogue há quase dois anos. Por tal motivo, rompi com "O Caricas" e o(s) seu(s) anónimo(s) autor(es) e passei a colaborar no "Mais São Pedro do Sul", a convite do Dr. Daniel Martins.
2º- Não tenho qualquer página, nem pretendo ter, no facebook, pelo que os elementos que constam do "Caricas" são uma falsificação.
3º - Se o leitor consultar artigos meus publicados há alguns anos no "Caricas", verificará que aparece junto dos mesmos a fotografia em causa, a qual foi retirada a meu pedido. Tal foto, provavelmente, continuará na posse de quem produz "O Caricas". Não sei se foi tal blogue que forjou ou não a página, nem isso é importante para mim.
4º - O que importa - e aí incide a provocação - é que algumas das "minhas" preferências na dita página são a propaganda do Sendero Luminoso, vários "sites" do PCTP/MRPP e a CGTP. Bom, meter a CGTP no mesmo saco dos maoistas, das duas uma, ou mostra ignorância ou a sua disfarçante imitação.
5º - O que vai dito em 4º prende-se com posições políticas por mim assumidas nos últimos tempos, expressas, aliás, neste blogue.
6º - Não deixei de ser militante do PSD, pois continuo a identificar-me com o seu programa, especialmente com a parte que afirma "O PSD, sendo social democrata, valoriza a liberalização política e económica, com regras, rejeitando o socialismo e o conservadorismo social". Aliás, continuo a ser membro da A.M. de S. Pedro do Sul eleito pelo Partido Social Democrata.
7º - Porque me identifico com aqueles ideais sou opositor ao actual governo e à actual direcção do partido, pois a sua prática, em nome do combate à crise, está a destruir a economia, a tornar os pobres em miseráveis e a empobrecer as classes médias, enquanto os mais ricos não sentem a crise. Não me posso identificar com quem aumenta horários de trabalho e diminui salários, pratica cortes cegos em bens como a saúde ou a educação, prejudicando essencialmente os mais necessitados. Isto não é social democracia, nem liberalismo no sentido clássico do termo, pois já o "pai" do liberalismo económico, Adam Smith, referia, há mais de 250 anos, a necessidade de criação de "uma rede social abaixo da qual ninguém caisse". Shumpeter, Hayek, Von Mises e tantos outros sempre repudiaram a igualdade absoluta, porque conduziria à miséria, defendendo a necessária desigualdade na chegada, resultante da promoção segundo o mérito e do prémio do risco, mas conjugada com a igualdade na partida (de oportunidades), por forma a eliminar a miséria e pobreza, criando classe médias maioritárias.
8º - Continuo a ser um liberal progressista, embora dos pontos de vista político e económico tenha muito em comum com os liberais conservadores. Não tenho nada a ver é com o neo-liberalismo actual, que é uma deturpação e uma provocação ao liberalismo tradicional, do qual nasceu o conceito moderno de democracia. Este neo-liberalismo, exagerando na desregulamentação económica,provocando a submissão do poder político ao poder do dinheiro, desincentivando o capitalismo produtivo e promovendo um excesso de capitalismo financeiro (a chamada economia de casino), é o responsável pelo estado a que Portugal e diversos países da UE chegaram, que só tem um nome: decadência absoluta.
9º - Para sair desta situação, em democracia, os partidos do poder têm que voltar a fazer crescer as economias, mas com distribuição justa da riqueza, bem como garantir o acesso de todos à saúde, à educação, à cultura e outros bens absolutamente necessários à existência humana. A doutrina social da Igreja Católica e, de uma forma geral, o humanismo cristão, sem pôr em causa a independência entre a Igreja e o Estado, são possíveis referências necessárias à saída da crise e ao regresso às sociedades estáveis e de bem-estar que conhecemos no Ocidente.
Os liberais e os socialistas terão o seu lugar na criação de sociedades mais justas. Os primeiros deverão renegar o actual neo-liberalismo e retomar as origens da sua ideologia como fonte inspiradora, devidamente adaptada ao tempo presente. Os segundos deverão abandonar dogmas ultrapassados e fazerem sua a terceira via enunciada por companheiros seus como Blair ou Schroeder.
Caso os partidos democráticos assim não actuem, a nível nacional e internacional, provocarão a revolução social. As primeiras faíscas que poderão incendiar toda a pradaria, como diria Mao, estão à vista.
10º - Como se pode verificar, não regressei às ideias dos meus verdes anos. Só o poderá afirmar quem considere como comunistas perigosos todos aqueles que denunciam as injustiças do capitalismo selvagem e se colocam ao lado dos que sofrem. Façam favor de meter, então, nessa galeria, o actual e o anterior Papas, o Cardeal D. José Policarpo e os Bispos D. Manuel Martins e D. Januário Torgal Ferreira. Olhem que este último não invocou a memória de Álvaro Cunhal, mas de Sá Carneiro, para criticar as injustiças praticadas pelo governo de Passos e Portas.
11º - Por último e para quem faz "O Caricas": retire a minha foto e o meu nome dos seus amigos do facebook, pois como digo acima, não possuo aí qualquer página e não sou amigo do seu blogue. Quanto a si, tenho pena de não saber quem é, pois se for pessoa das minhas relações, deixaria de o ser. Nem sequer lhe admitiria que me desse os bons dias.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

HOMENS DE PALAVRA

Numa entrevista dada ao "Diário de Notícias", há muitos anos, o primeiro secretário-geral do MRPP, Arnaldo Matos (o actual secretário-geral daquele partido chama-se Luis Franco) afirmou haver feito alianças tácticas com o PSD, o PS e seus líderes, em 1974/75, contra o fascismo e o social-fascismo, inimigos comuns de todos.
Sobre Soares, Arnaldo Matos disse ser uma pessoa em quem não se podia confiar, pois "assumia hoje um compromisso e, amanhã, defendia uma posição completamente diferente". Sá Carneiro, segundo aquele dirigente maoista, "era um homem de palavra. Aquilo com que se comprometesse, cumpria zelosamente".
Como se pode constatar, o actual líder do PSD e primeiro-ministro segue também zelosamente o exemplo do principal fundador e primeiro líder do partido. Como prometeu na campanha eleitoral, não sobe impostos, apenas contrai despesas, não prevê, de forma alguma, despedimentos na função pública, está a proceder a uma profunda reforma do Estado e garante liberdade de escolha aos utentes quanto aos estabelecimentos de saúde e educação, bem como na segurança social. O projecto de Sá Carneiro tem, pois, um excelente e óptimo continuador. Só aqueles que continuam a ter a mania que são livres pensadores e não sabem como é difícil governar, pois se o soubessem, desejariam sempre obedecer (Brecht dixit) não o compreendem...

domingo, 30 de outubro de 2011

PORTUGAL, A PEQUENA CHINA DA EUROPA?

Na origem do Dia Internacional da Mulher esteve uma luta travada por operárias americanas para obtenção de melhores condições de trabalho. Idêntica luta de operários de Chicago tornou o 1º de Maio no Dia Internacional dos Trabalhadores.
Em ambos os combates contra as condições humilhantes de trabalho da época, vários homens e mulheres foram presos e assassinados pela polícia às ordens do poder.
Um dos objectivos de tais lutas, realizadas na segunda metade do séc XIX, era a jornada diária de 8 horas de trabalho. Os partidos sociais-democratas da época e a Igreja Católica, através da sua doutrina social, que esteve na origem da democracia-cristã moderna, apoiaram as aspirações operárias e sindicais. Veja-se a encíclica "Rerum Novarum", escrita pelo Papa Leão XIII no início da última década do séx XIX.
Hoje, em Portugal, no séc XXI, um governo constituido por dois partidos que se afirmam social-democrata e democrata-cristão prolonga o horário diário de trabalho nas empresas privadas para 8,30 horas.
Que mais irá acontecer aos trabalhadores deste país que alguns já apelidam de "pequena China da Europa?"

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O LIXO OCIDENTAL

Há menos de um ano, o ditador líbio agora morto, Kadafi, era recebido com todas as honras por chefes de Estado e de Governo no Ocidente, como Obama, Sarkozy, Cameron, Berlusconi, Sócrates, e outros que agora provocaram a sua queda.
Após Kadafi se haver tornado inimigo da Al-Qaeda e ter deixado de apoiar grupos terroristas esquerdistas na Europa, passou a ser a “coqueluche” dos governantes ocidentais, da NATO e da UE no mundo árabe. Os negócios entre estes e a Líbia, especialmente à volta do petróleo, aumentaram com vantagens mútuas. Os crimes do ditador e o sofrimento do seu povo passaram a ser esquecidos pelos campeões dos direitos humanos.
Entretanto, explodem várias revoltas em países árabes, entre os quais a própria Líbia. A ONU autorizou uma intervenção por parte da NATO, a fim de evitar o massacre dos revoltosos líbios pelas forças leais a Kadafi. Ultrapassando o mandato das Nações Unidas, as tropas da NATO ajudaram à vitoria daqueles. Kadafi passou novamente de amigo a inimigo. Estas atitudes dos governantes políticos e chefes militares ocidentais fazem lembrar as tácticas de Lenine, Estaline ou Mao relativamente à política de alianças…
Kadafi foi preso pelos seus inimigos. Seguidamente, é assassinado barbaramente, sem ter oportunidade de se defender num julgamento justo.
O comportamento dos vencedores do conflito prova que falar de democracia na Líbia, em termos de futuro, seria cómico se o que aí vem, como se prevê, não fosse trágico. Como dizia no “Público” do passado dia 24 de Outubro João Carlos Espada, a propósito destes acontecimentos que compara, aliás, com os crimes praticados pelos jacobinos no período de terror que se seguiu à Revolução Francesa de 1789, “a ditadura de um não pode ser substituída pela ditadura de todos ou da maioria”.
Uma verdadeira democracia pressupõe um governo limitado pela lei, a existência de poderes que se controlem uns aos outros, a garantia das liberdades e direitos humanos, eleições livres e a co-existência pacífica de vários partidos. Nada nos diz que será o que se irá passar na “nova” Líbia.
As tropas da NATO não fizeram nada para poupar a vida de Kadafi – é bom não esquecer que a sua detenção começou com um ataque aéreo daquela organização militar – levando-o a julgamento no Tribunal Penal Internacional. Obviamente, esta “falha” da NATO teve o apoio dos governantes dos países membros da mesma. Até agora não houve um único que se distanciasse da falta de acção dos militares às suas ordens no terreno, possibilitando um acto de justiça dita popular.
Eis uma prova do ponto a que está a chegar a civilização ocidental. Ainda existe prática da mesma, mas essencialmente por organizações da sociedade civil. Esta actuação por parte de quem exerce o poder político faz lembrar uma antiga canção brasileira que diz a certa altura: “será que você não verá o lixo ocidental?”

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ACABOU O ESTADO DE DIREITO?

O conhecido constitucionalista Gomes Canotilho afirmou que algumas medidas para combater a crise e cumprir o acordo com a troika passam por cima da Constituição da República.
É caso para perguntar: acabou o Estado de Direito? Estamos numa república de bananas? Já chegámos à Madeira?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

SE SÁ CARNEIRO CÁ VOLTASSE

A propósito das medidas duríssimas e brutais inseridas no OGE/2012, disse o bispo D. Januário Torgal Ferreira que se Sá Carneiro cá voltasse cairia para o lado ou, então, onde estiver, dará muitas voltas, ao ver o caminho seguido pelo partido de que foi o principal fundador e primeiro líder.
Agora pode ver-se o significado da afirmação de Passos Coelho na noite do passado dia 5 de Junho, segundo a qual o legado de Sá Carneiro deve adaptar-se às “novas realidades”. Obviamente, a situação política, social e económica actual é diferente da de há mais de 30 anos, mas os princípios e ideias que estiveram na origem do então PPD são perenes, ainda que adaptados à mudança e não estáticos.
No entanto, a prática do PSD no governo tem constituído um desvirtuamento da social democracia portuguesa. Este PSD não é mais social democrata, mas um partido de direita, cujas “preocupações sociais” não passam de expressão vã.
Em nome do cumprimento do acordo com a troika, indo-se muito mais longe que o previsto no mesmo, esmaga-se a classe média, prolonga-se ilegalmente o horário de trabalho, pois tal matéria não foi discutida em sede de concertação social, aumenta-se a pobreza, a miséria e o desemprego.
A situação de bancarrota a que Portugal chegou implicava medidas difíceis e duras, mas também não se deveria procurar corrigir em dois anos uma situação iniciada há mais de um quarto de século, agravando a injustiça social e caminhando para uma sociedade dualista.
De há três anos a esta parte, Passos Coelho reclama-se do liberalismo. Quando ambos militávamos na JSD, na segunda metade dos anos 80 do século passado, já aquela ideologia estava em debate na sociedade (era o tempo em que Reagan e Thatcher governavam os EUA e o Reino Unido). Nunca se afirmou liberal.
As actuais concepções pseudo-liberais de Passos Coelho devem ter sido “lidas” em algum livro por si inventado, como o inexistente “Fenomenologia do Ser”, de Jean Paul Sartre. Este intelectual de esquerda francês publicou uma vasta obra. Da mesma não consta qualquer livro com tal título.
A sua política só pode ser considerada liberal se o liberalismo for visto de pernas para o ar. Os liberais clássicos sempre se preocuparam em criar classes médias maioritárias, combatendo assim os socialismos. Adam Smith, "pai" do liberalismo económico, há cerca de 250 anos falava na criação de " uma rede social abaixo da qual ninguém deve cair". Ora, o governo está a destruir a classe média e a tornar grande parte dos pobres ainda mais pobres. Não é isso que o mestre do liberalismo, Schumpeter, definia como “destruição criadora do capitalismo”. Esta política mais parece querer dar razão a Marx quando afirmava: “o desenvolvimento do capitalismo levará à destruição das classes médias e à concentração de riqueza na grande burguesia”.
Bom seria que os governantes actuais lessem Lenine acerca das suas recomendações aos bolcheviques para não assustarem as classes médias, ou a líder comunista alemã Rosa Luxemburgo, quando, no final da segunda década do séc. XX, dizia aos seus camaradas, a fracção auto-denominada espartaquista (marxista-leninista) do Partido Social Democrata Alemão, a propósito da violência praticada pelos mesmos nas ruas: “cuidado! Estamos a assustar a pequena burguesia!”. O esmagamento da revolta espartaquista, o qual levou à morte da própria Rosa Luxemburgo e de Karl Liebknecht, líderes daquele fracção, pelos corpos francos, de extrema-direita, deram-lhe razão. No nosso país temos uma violência social com origem no governo e na maioria PSD/CDS que suporta o mesmo no parlamento, virada essencialmente contra os mesmos sectores de classe.
Quem se lembrar das afirmações de Passos Coelho na campanha eleitoral, certamente chegará à conclusão que o mesmo pratica, em grande parte, o contrário do que prometeu. Mais: as prometidas mudanças estruturais na saúde, na educação ou na segurança social foram metidas na gaveta, tal como o socialismo por Mário Soares, quando era primeiro-ministro. O que se está a fazer é um grande aperto e não qualquer mudança estrutural, pelo que, no fim de 2013, estejamos ou não como a Grécia actualmente, as mudanças tendentes a transformar Portugal num país moderno estarão por efectuar.
Sem dúvida, D. Januário Torgal Ferreira tem toda a razão sobre as considerações que teceu acerca do OGE. A actuação governamental é a segunda morte (agora político-ideológica) de Sá Carneiro. Como o mesmo afirmava no seu tempo, voltámos a ser “um país onde os velhos não têm presente e os jovens não têm futuro”.
A terminar, aconselhamos os governantes a adoptarem como seu hino a canção "o trono é do charlatão", de José Mário Branco e Sérgio Godinho.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ONDE ESTAVAS TU, CAMARADA?

Aquando da realização do célebre XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em 1956, o seu então líder, Nikita Krutchev, qualificou o seu antecessor, Estaline, como “um déspota”, “um bandido”, “um assassino”, “um criminoso”, “um tirano”, e outros nomes do género. Então, diz um congressista: “onde estavas tu, camarada?”. Krutchev, que havia sido um dos principais membros do Comité Central daquele partido durante a liderança do georgiano, perguntou: “quem falou? “. Respondeu-lhe o silêncio. Então, Krutchev diz: “estava aí, onde tu estás, camarada”.
Recentemente, António José Seguro criticou Passos Coelho por ter faltado ao prometido em campanha eleitoral, no tocante ao aumento de impostos. E tem toda a razão. Tem criticado a responsabilidade de Alberto João Jardim na elevada dívida da Madeira. E mais uma vez tem razão.
Mas, onde estava Seguro quando, como já ninguém tem dúvidas, Sócrates mentia com as estatísticas? Quando a troika averiguou que o défice em 2010 não foi de 7%, mas 9% do PIB, contrariamente ao que a dupla Sócrates/Teixeira dos Santos afirmava? Quando a mesma troika constatou mais tarde existir um buraco de 2 000 milhões de euros nas contas públicas, resultante de pagamentos acima do orçamentado em vários ministérios, tal como o governo actual denunciou? Porque fica calado sobre o facto de o défice, no final do 1º semestre deste ano, ter atingido 8,3% do PIB? Quando terminou tal semestre, o actual governo tinha sido empossado há pouco mais de uma semana.
António José Seguro estava exactamente no mesmo sítio de Sócrates, pactuando com ele. Ou seja, estava como Krutchev para Estaline, não tendo, no entanto, rompido com o seu antecessor, mas adoptado a "evolução na continuidade", de que falava Marcelo Caetano relativamente a Salazar.
Responsáveis do PSD, do PS e do CDS, ou mesmo o Sr. Presidente da República, que não gostaram das propostas de Angela Merkel no sentido da criação de um governo económico constituído pelo Conselho Europeu, tirando poderes à Comissão Europeia, ou da retirada de soberania aos países não cumpridores dos limites do Pacto de Estabilidade, onde estavam quando defendiam a abortada Constituição Europeia ou o Tratado de Lisboa que vai dar ao mesmo? Não sabiam que essas e outras decisões e medidas federalistas iam acabar no poder dos países grandes e ricos e não na Europa das Pátrias de que falava De Gaulle, onde todos os países seriam tratados de igual forma, como era o sonho dos fundadores da CEE, tal como muitos políticos, intelectuais e analistas afirmaram oportunamente?
Atitudes como estas só desprestigiam a classe política e, numa época de crise, dão uma prestimosa ajuda ao populismo mais radical e perigoso, venha o mesmo da direita ou da esquerda.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DIREITA INTELIGENTE E DIREITA RONCANTE

Há quem diga ser a direita portuguesa a mais estúpida da Europa. Assim sendo, está na companhia de outras congéneres suas, como a direita conservadora inglesa, hoje no poder, sob a liderança de David Cameron.
Recuando no tempo cerca de 20 anos, recordamos o conflito provocado por negros em Los Angeles, nos EUA, em consequência da violenta agressão de quatro polícias brancos sobre um cidadão também negro.
As autoridades procuraram pôr fim à violência. Uma das medidas adoptadas nesse sentido foi a nomeação de um comandante negro para a polícia de Los Angeles, o qual, mal tomou posse, afirmou ser implacável contra qualquer conflito racial, partisse o mesmo de brancos ou de negros. Por sua vez, o então presidente republicano George Bush (pai) reconheceu que a América tinha falhado na integração da raça negra na sociedade e havia que tomar medidas sociais e económicas para que tal acontecesse, pois estes problemas não se resolvem apenas com a repressão dos crimes praticados por gente pobre e desenraizada socialmente.
Bush e a restante administração tiveram um comportamento típico da direita democrática e progressiva, que tem origem na Revolução Americana de 1776 e nos girondinos da Revolução Francesa de 1789.
CONFRONTOS NA GRÃ-BRETANHA
Aquando dos recentes confrontos na Grã-Bretanha, muito especialmente em Londres, o primeiro-ministro daquele país, David Cameron, teve uma atitude própria do que Jaime Nogueira Pinto, conhecido intelectual de direita nacionalista, apelida de direita roncante. Ainda que tarde, diga-se em abono da verdade, deu ordens à polícia para conter e reprimir, o que se justificou perfeitamente, o vandalismo praticado por jovens e até crianças. No entanto, contrariamente a Bush (pai), não reconheceu que na origem dos conflitos está o elevado desemprego, o empobrecimento registado nos últimos anos e particularmente a incapacidade de integração na sociedade britânica de minorias oriundas de outras culturas. Enquanto não se tomarem decisões para a resolução destes problemas, novos confrontos poderão surgir, não sendo suficiente para a sua contenção a acção policial, por mais eficaz que seja.
No actual governo português também está representada a direita que entende ser a acção musculada e securitária suficiente para combater a criminalidade, que terá tendência para aumentar com o agravamento das condições de vida das populações. Essa não poderá ser a posição assumida pelo partido maioritário da coligação governamental, o qual não é de direita e não poderá esquecer as suas raízes sociais democratas. Além da adopção de medidas para a segurança de pessoas e bens, há, igualmente, que inserir socialmente pessoas desenraizadas e marginalizadas. Uma das funções do Estado, na concepção liberal, também é corrigir as assimetrias sociais. Tal solução não está no mercado.
No governo de Durão Barroso foi criado o Ministério das Cidades, que era uma sugestão de Marcelo Rebelo de Sousa. As suas funções eram reabilitar ambiental e socialmente as cidades, tornando-as mais humanas. É lamentável que desde a chegada de Sócrates ao poder tal ministério tenha acabado.

PS: A ultra-direitista Sarah Palin, ex-candidata a vice-presidente dos EUA, que durante a campanha para tal cargo ficou conhecida por dizer que o mundo tem apenas 6 000 anos e a África é um país, tem-se afirmado ultra-moralista, chegando a condenar as relações sexuais antes do casamento. No entanto, a ser verdade o que sobre aquela senhora, a quem Deus apenas concedeu beleza, diz o autor de um livro recentemente publicado, a mesma terá sido uma consumidora de drogas e infiel ao marido com vários homens. É esta a “moral” de certa direita. Como diz um amigo meu, quando se é moralista, é porque se tem algo a esconder.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

É PRECISO TER LATA !

Em declarações prestadas recentemente, o novo secretário-geral do Partido Socialista (PS), António José Seguro, atacou violentamente os cortes previstos para a saúde, a educação e outros sectores de carácter social no próximo Orçamento Geral de Estado.
Seguro "esquece" três coisas fundamentais: que o governo garante que ninguém deixará de ter acesso àqueles direitos por não poder custeá-los, que estas medidas se inserem no acordo firmado na passada Primavera entre o governo do seu partido (apoiado pelo PSD e pelo CDS) e a troika, que o executivo de Sócrates fez acentuados cortes na saúde e na segurança social. Que o digam os reformados com pensões mais baixas e os desempregados.
Seguro criticou ainda o aumento de impostos. Até parecia um liberal a falar... mas não foi o governo do PS que, sempre que havia dificuldades financeiras, aumentava as receitas, muito especialmente as fiscais? Porque não apoia o imposto extraordinário de 3% sobre as empresas com lucros mais elevados, que tanto reclamava?
Diz ainda o novo líder socialista que os juros e os lucros na bolsa deveriam ser taxados. Na situação actual do mercado de capitais, seria o fim da bolsa. Quanto à taxação de juros, está o leitor a imaginar a fuga de capitais para o estrangeiro e a situação em que os bancos ficariam. Já agora, porque não diz onde se deve cortar nas despesas?
Por aqui se vê a falta de sentido de Estado e a irresponsabilidade do PS e do seu líder, que não engana os portugueses. Apesar das medidas difíceis e impopulares, segundo uma sondagem publicada na última edição do "Expresso", se agora decorressem novas eleições, o PSD e o CDS reforçariam a votação registada no passado dia 5 de Junho e alargariam a actual maioria parlamentar.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

SOB O PAVIMENTO O MAR

Um dos slogans mais utilizados durante o Maio de 1968 foi "sob o pavimento o mar". Numa altura em que o crescimento económico, um desemprego baixo e um bom poder de compra caracterizavam a França, explode naquele país uma revolução intelectual e juvenil de grandes proporções, que mais tarde se estende às fábricas. Sob a aparência de um pavimento social consistente, existia, afinal, um mar em fúria.
Quando os operários, com os acordos de Grenelle, obtiveram 60% de aumento nos seus vencimentos, voltaram ao trabalho. Não queriam revolução nenhuma. Queriam ganhar mais. Claro que tais aumentos provocaram uma acentuada subida da inflação, a qual lhes "comeu" os aumentos salariais.
Seguidamente, em Junho do mesmo ano, a coligação dirigida por De Gaulle vence as eleições legislativas realizadas no seguimento da dissolução do parlamento, por maioria absoluta. Para os "maiistas", como diz José Mário Branco numa das suas canções, "foi um sonho lindo que findou".
Os "maiistas" lutavam por uma sociedade aberta e contra o conservadorismo social e hipócrita daquela época, o qual aliavam ao capitalismo democrático existente no Ocidente. Por outro lado, detestavam a URSS, os seus países satélites e os PCs pró-soviéticos. A todo este caldo cultural não foi, naturalmente, alheia a extrema-esquerda então em força na Europa e nos EUA, especialmente a sua facção maoista.
Passados todos estes anos, quando se pensava termos uma democracia consolidada, estando derrotadas as ideologias que conduziram à II Grande Guerra Mundial (fascismo, nazismo e comunismo), eis que novos atentados e revoltas surgem em todo o Ocidente.
Como se não bastasse um terrorismo externo ao Ocidente, praticado nos EUA e em alguns paises europeus pelo pior inimigo da liberdade nos nossos dias, o fundamentalismo islâmico, surgem movimentos niilistas e destrutivos dentro das próprias sociedades democráticas.
Na pacífica e estável Noruega, Breivik, militante de extrema-direita, anti-nazi e anti-marxista, admirador de Israel, católico fundamentalista, colocou uma bomba no edifício governamental e assassinou largas dezenas de jovens militantes trabalhistas, conotados com o partido no poder naquele país.
Na Grécia, na França, há alguns anos, e presentemente, na Grã-Bretanha, movimentos de jovens desempregados e até crianças, desenraizados socialmente, muitos emigrantes ou filhos dos mesmos, destroem casas comerciais, habitações e automóveis, provocando o pânico. Atacam a propriedade a que não têm acesso. Porquê?
Embora Breivik não nos pareça um louco, mas um homem inteligente e com capacidade de organização, politicamente fanático, custa-nos crer ter actuado isolado. A extrema-direita em que milita tem crescido muito nas últimas décadas na Europa, especialmente devido ao avanço do federalismo que pretende dissolver as identidades nacionais. Recordamos que os fundadores da CEE sonhavam com uma Europa unida económica e politicamente, mas respeitadora daquelas identidades. Esse sonho resumia-se na vontade da criação de uma "Europa das Pátrias, do Atlântico aos Urais", como dizia De Gaulle.
Por outro lado, os abusos do capitalismo, especialmente do financeiro, conduziram à crise económica, financeira e social hoje vigente na Europa rica (será que ainda o é?)e nos EUA, provocaram desemprego, pobreza e miséria, não só entre os menos favorecidos, mas também nas classes médias. As revoltas a que temos assistido são a consequência desses factores. Como o comunismo tradicional está desacreditado, assistimos a movimentos espontâneos ou controlados por organizações esquerdistas, segundo a concepção leninista do termo, blanquistas e anarquistas.
É bom que os partidos, personalidades e forças crentes na liberdade e na democracia actuem em defesa do regresso a um capitalismo de rosto humano, dotado de justiça social, do qual também beneficiem os trabalhadores e todos os pobres, especialmente os desempregados e marginalizados, que conjuge o mérito necessário ao crescimento e desenvolvimento económicos com a justiça social e humana. Mas também devem convencer-se, no velho continente, que a UE ou respeita as especificidades de cada nação ou implodirá política e economicamente. Caso assim não procedam, assistiremos ao aumento do niilismo que, provavelmente, ninguém sabe onde nos conduzirá. É que a História não tem um sentido unidimensional...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O CAPITALISMO É UM SISTEMA AMORAL E INJUSTO

Quem proferiu a frase que dá título ao presente post? Marx? Lenine? Estaline? Mao? Ché Guevara? Herbert Marcuse? Não, foi o intelectual ex-comunista, convertido ao liberalismo, Mário Vargas Llosa. Fê-lo, há muitos anos, a propósito do escândalo com a ENRON. Mais dizia o actual prémio Nobel da literatura que o capitalismo, apesar daquela perversidade, foi, desde sempre, o melhor sistema económico para criar riqueza e emprego, bem como possibilitar uma vida digna aos trabalhadores, DESDE QUE REGULADO PELO REGIME DEMOCRÁTICO ASSENTE NA VONTADE POPULAR.
O capitalismo foi adoptado por forças reaccionárias e democráticas. Desde sempre houve um capitalismo selvagem e um capitalismo de rosto humano. Este último foi posto em prática nas democracias do mundo inteiro. O "casamento" da democracia com o capitalismo, como afirma o também liberal e militante do PSD, ex-ministro das Finanças, Braga de Macedo, garantiu a democracia, as liberdades fundamentais e o melhor nível de vida para os operários e demais trabalhadores.
A democracia e o também chamado (justamente) capitalismo inteligente levaram à queda do comunismo e do estatismo económico, há duas décadas. Os próprios partidos socialistas endossaram este sistema, o que constituiu um dos motivos para cada vez fazer menos sentido falar em direita e esquerda na política.
Tudo parecia ir no bom sentido. Há 20 anos, dizia-se: "queiram ou não fascistas e comunistas, estamos "condenados" à democracia". Francis Fukuyama falava mesmo no "fim da História, com a vitória das democracias liberais".
No entanto, o capitalismo selvagem, pensando que com o fim do comunismo poderia voltar a impôr-se, levanta novamente a cabeça, sendo vigorosamente denunciado, nos anos 90 do século passado, pelo saudoso Papa João Paulo II, o qual chegou a afirmar ter o comunismo, que sentiu na pele na Polónia, um papel positivo: obrigar o capitalismo a democratizar-se, respeitar os pobres, os trabalhadores, aqueles que nada mais têm para viver do que o seu salário.
O que vemos hoje MESMO NOS PAÍSES CAPITALISTAS MAIS DESENVOLVIDOS? O poder político cada vez mais entregue a tecnocratas e medíocres, submetidos ao poder económico, que na realidade manda. O seu voto, caro leitor, pouco ou nada conta perante as agências de rating e o alto capitalismo financeiro que domina o mundo e procura destruir os países em dificuldades como Portugal, Grécia ou Irlanda, agravando as condições de vida já precárias de importantes sectores da população e criando novos pobres entre quem já pertenceu à classe média.
Nos países mais ricos também já se verifica aquela situação. Na Alemanha, os salários dos trabalhadores estão congelados há 15 anos. Como a economia daquele país tem crescido de forma sustentada, quem usufruiu do desenvolvimento foi o patronato, agravando-se assim as desigualdades sociais e perdendo os trabalhadores poder de compra. O mesmo acontece, há muito, nos EUA. Uma das consequências paradoxais desta política é a destruição do próprio sistema financeiro e das forças produtivas. Este alto capitalismo sem escrúpulos caminha para a implosão. A História repete-se. No século XIX, ao qual estamos a regressar em termos sociais, o capitalismo dominante deturpou o liberalismo. Recordamos, a propósito, que o "pai" do liberalismo económico, Adam Smith, falava, em meados dos séc XVIII, na criação de uma rede social abaixo da qual ninguém poderia cair. Em nome do liberalismo, nos nossos dias, tem-se praticado uma selvajaria mafiosa, económica e social, que de liberal nada tem.
Em Portugal, temos o governo mais liberal de sempre. Caso seja capaz, além de salvar o país da bancarrota, de regular a necessária libertação da sociedade civil, travando a amoralidade de um certo capitalismo que só não vê quem não quer, faço votos que tenha sucesso e se mantenha até tudo mudar na edificação de um Portugal moderno e socialmente mais justo. Caso se deixe dominar por "lobbies" económicos nada honestos, os quais têm as suas antenas também no PSD e no CDS, desejo a sua implosão, à semelhança do que está a acontecer com um sistema económico sem ética.
A terminar e para reflectir, deixamos algumas frases de grandes revolucionários.
Karl Marx: "as contradições do capitalismo levá-lo-ão à sua destruição", "com o desenvolvimento do capitalismo, as classes médias desaparecerão, concentrando-se a riqueza nas mãos da grande burguesia", "proletários de todos os países, povos e nações oprimidas do mundo, uni-vos. Nada tendes a perder, a não ser as cadeias da opressão".
Lenine: "o capitalismo vender-nos-á a corda com que o havemos de enforcar", "para combater o inimigo principal, devemos aliar-nos ao inimigo secundário. Liquidado o inimigo principal, o inimigo secundário transformar-se-á automaticamente em inimigo principal. Assim, abateremos os nossos inimigos um a um, até à vitória final", "com a ajuda dos idiotas úteis dominaremos o mundo", "o dinheiro não tem ideologia".
Mao Tsé Tung: "uma só faísca pode incendiar toda a pradaria".
Engels: "a violência é a parteira da História".

sexta-feira, 8 de julho de 2011

ALGUMAS QUESTÕES SOBRE DITOS E ACONTECIMENTOS RECENTES

O líder da UGT, João Proença, disse, recentemente, que o imposto extraordinário sobre o 13º mês agrava as desigualdades sociais.
Como assim, se os trabalhadores no activo e os reformados com ordenados e pensões iguais ou inferiores ao salário mínimo nacional ficam isentos daquele imposto?
Como assim, se quem recebe acima daquele montante descontará metade do que ao mesmo acresce? Qualquer aluno do ensino básico conclui que os mais pobres nada descontarão e entre os sujeitos a tal imposto, quem mais ganha mais paga. Onde está o agravamento, neste aspecto, das desigualdades sociais? Sugerimos ao sr. ministro da Educação que crie um curso especial de aritmética e matemática para certos sindicalistas. Dará, certamente, um grande contributo para uma melhor formação desses representantes dos trabalhadores, os quais poderão ser mais realistas e dizer menos asneiras, atraindo mais gente aos sindicatos. Por estas e por outras compreendemos o afastamento dos trabalhadores dos sindicatos, o que não ajuda nada a democracia.
Já agora, onde estava João Proença quando Sócrates cortou o abono de família aos mais ricos (o que apoiamos, pois dele não precisam), mas também às classes média e média baixa? Quando o mesmo Sócrates aumentou o preço dos medicamentos, incluindo para quem vive com pensões muito abaixo do salário mínimo nacional? Quando os socialistas estão no poder aceita injustiças como aquelas, fazendo lembrar um slogan lançado por Chiang Ching, mulher de Mao Tsé Tung, nos anos 60 do século passado, aquando da "Grande Revolução Cultural Proletária", o qual afirmava: "antes erva socialista que manteiga capitalista?" A erva a que se referia era mesmo a erva destinada aos animais irracionais e não a do pessoal da "passa".
*
A agência de rating Moody's, que deu altas notações ao Lehman Brothers e à Islândia nas vésperas das falências daquele banco e daquele país, resolveu, com a notação dada a Portugal, pôr o nosso país ao nível do lixo, como fez anteriormente com a Grécia. Numa altura em que o governo e o parlamento gregos aprovaram mais um pacote patriótico e altamente impopular para evitar a bancarrota, e o governo português adopta medidas igualmente patrióticas e difíceis, a fim de atingir o mesmo objectivo.
Curiosamente, aquela agência americana, numa atitude "mais papista que o Papa", atribuiu um triplo A à economia americana numa altura em que o próprio presidente Obama considera a situação económico-financeira dos EUA muito difícil e apela à oposição republicana para colaborar com o governo democrata, a fim de travar o endividamento.
Mais que um ataque ao euro, as atitudes de várias agências de rating mais não pretendem que calcar aos pés (é o termo apropriado) e humilhar os países mais pobres, fazendo lembrar o capitalismo selvagem de outros tempos, bem como um extracto da canção "Rosalinda", de Fausto, quando afirma "os que mandam no mundo/ só vivem querendo ganhar/mesmo matando aquele que morrendo/vive a trabalhar".
Como dizia, há talvez 10 anos, o prémio Nobel da literatura, Mário Vargas Llosa, liberal em matéria política, económica e de costumes (como o autor destas linhas), "o poder económico domina o poder político, o que poderá pôr em perigo a democracia". Mais dizia que o verdadeiro liberalismo implica a regulação do poder económico pelo poder político eleito democraticamente. Lamentavelmente, entre governantes dos países democráticos mais desenvolvidos, como os EUA, os constituintes da UE, o Japão, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia, etc, não se vê quem se levante contra a desumanidade de certo capital, procurando regular os mercados, à semelhança do que têm defendido o actual e o anterior Papas.
Deixamos a pergunta: se estivéssemos no tempo da guerra fria, existisse a URSS e o muro de Berlim estivesse de pé, haveria estes abusos por parte de certos empresários e especialmente de certo capitalismo financeiro?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

CONCLUSÕES DOS RESULTADOS DAS LEGISLATIVAS

Terminou um ciclo político de seis anos, durante o qual o secretário-geral do PS, José Sócrates, foi primeiro-ministro.
Eleito por maioria absoluta em 2005, quatro anos depois o PS viu exibido um cartão amarelo pelo eleitorado, tendo vencido as eleições então ocorridas por maioria simples.
Nas legislativas do passado domingo, os socialistas foram clara e inequivocamente derrotados, tendo obtido um resultado abaixo dos 30%, o que não acontecia há mais de vinte anos. José Sócrates demitiu-se da liderança do partido, afirmando não permanecer sequer como deputado na próxima legislatura. Deixa uma situação económica, social e financeira muita má: país à beira da bancarrota, de mão estendida à “troika”, quase um milhão de desempregados, aumento da pobreza e da miséria, com destaque para os novos pobres que fizeram parte da classe média.
Se a crise internacional contribuiu para Portugal chegar a este estado, a culpa principal cabe aos ainda detentores do poder, pois entre 2005 e 2008, ano em que a crise despoletou, a nossa economia cresceu claramente abaixo da média comunitária. Após aquele último ano, apenas Portugal, Grécia e Irlanda tiveram que recorrer à ajuda externa, a fim de evitar a bancarrota. Nenhum dos outros 24 países pertencentes à UE se encontra em tal situação.
Por outro lado, a governação de Sócrates caracterizou-se pela crispação, a arrogância, a perseguição a adversários, tentativas de controle da imprensa, o benefício de certas empresas, distorcendo a concorrência, vendo o primeiro-ministro, ainda que nunca fosse constituído arguido nem ouvido como testemunha, o seu nome envolvido em processos judiciais relacionados com investigação de corrupção. Alturas houve em que Portugal mais parecia uma república de bananas. A maioria dos portugueses, ao remover José Sócrates da chefia do governo, praticou um acto de sanidade política mais que necessário.
Os partidos parlamentares oponentes ao acordo com a “troika” (PCP/CDU e BE) obtiveram, no seu conjunto, 13% de votos, o que prova estarem os portugueses fartos de promessas utópicas e preparados para arregaçar as mangas e enfrentar os sacrifícios decorrentes da herança socrática.
O Bloco de Esquerda perdeu metade do eleitorado. A partir de agora, ou assume uma posição de extrema-esquerda, de onde é oriundo, ou imita os “Verdes” alemães. Caso opte pela primeira atitude, transformar-se-á numa organização utópica e contestatária, desaparecendo do parlamento dentro de alguns anos. Se seguir a segunda via, poderá, no futuro, fazer parte de uma alternativa de “esquerda”, à semelhança do partido de Joshka Fisher e Daniel Cohn Bendit.
Pedro Passos Coelho e o PSD foram claramente vencedores. Também o CDS e Paulo Portas se podem considerar vitoriosos, pois além de terem aumentado o seu “score” eleitoral, participarão no próximo governo.
Sempre discordei, neste blogue e em outras sedes, de uma aliança do PSD com o partido de Portas. No entanto, na situação em que nos encontramos, não tendo o PSD obtido maioria absoluta, tal aliança é necessária para cumprir o memorando da “troika” e efectuar as reformas estruturais necessárias – inicialmente muito difíceis – com vista a combater a crise e a construir um Portugal moderno, desenvolvido e com coesão social.
O governo que brevemente tomará posse deverá enfrentar democraticamente a esperada contestação social. Está mandatado por 51,5% dos votantes, os quais estão conscientes das dificuldades, não suportam a demagogia e não têm medo do “papão liberal” de uma “esquerda” que deverá aprender mais com a esquerda liberal representada por Blair e teorizada por Tony Giddens.
Os partidos extra-parlamentares (12) somaram apenas cerca de 4,5% de votos. Entre eles destacaram-se o PCTP/MRPP (63 000 votos – 1,1%) e o PAN (58 000 votos – 1%). O primeiro recolheu muitos votos anti-sistema, o segundo, que concorreu pela primeira vez a um acto eleitoral, conquistou o apoio de alguns ecologistas, amigos dos animais, militantes anti-touradas e vegetarianos desiludidos com os partidos parlamentares.
O MRPP deixou de ser um partido de pessoas na casa dos 50, 60 ou 70 anos, que permaneceram fieis aos seus ideais de juventude, antes e nos anos seguintes ao 25 de Abril, tendo nas suas fileiras – e na candidatura à A.R. – vários jovens estudantes (como nos velhos tempos), desempregados e à procura do primeiro emprego. Sinais dos tempos.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

PRESIDENTE DA CIP DEFENDE O REGRESSO AO SÉC. XIX

Recentemente, um senhor que foi sindicalista na Lisnave, se afirma simpatizante do centro-esquerda e preside à Confederação dos Industriais Portugueses (CIP), afirmou deverem ser admitidos os despedimentos sem justa causa. Na prática, defende o despedimento livre. Provavelmente, estará já a pensar acabar com direitos fundamentais como os de reunião, actividade sindical e de greve, pôr os trabalhadores a laborar as horas necessárias, não para “a defesa e salvaguarda da revolução”, como dizia Arnaldo Matos em 1975, mas talvez para uma nova “batalha da produção”, expressão criada por Vasco Gonçalves, só que, agora, de direita e ao serviço do capitalismo sem alma ou escrúpulos.
Os partidos chamados de esquerda reagiram contra aquela afirmação de António Saraiva. O PSD e o CDS não se pronunciaram. Recordamos, no entanto, que Paulo Portas, quando era director do defunto “Independente”, também escreveu no mesmo que os despedimentos não deviam estar regulados por lei, pois isso era um problema dos empresários. Está, pois, justificado o silêncio do CDS e do seu líder, o qual, só por demagogia, fala dos reformados e da lavoura.
O PSD deve defender uma posição inequívoca contra esta vontade de regresso ao capitalismo selvagem do séc. XIX. É certo que o mercado de trabalho deve ser flexibilizado e caracterizado por maior mobilidade, mas dentro do espírito da flexisegurança, da conciliação entre capital e trabalho, e não do abuso do patronato. Há que ter em conta que muitos empresários não interiorizaram o espírito da modernidade e de um capitalismo inteligente, com rosto humano. Continuam a ser patrões à moda antiga.
Se o PSD assumir tal posição, tem uma boa oportunidade, após a proposta de uma aliança governamental pós-eleitoral com o CDS, para desmentir analistas que afirmam “ser este PSD uma nova direita, muito diferente do partido fundado por Sá Carneiro”. Mais poderá demonstrar que o liberalismo, além de compatível, é integrante da social democracia portuguesa, tal como foi concebida pelo primeiro líder do então Partido Popular Democrático (PPD), há 37 anos. Caso contrário, poderá “ajudar” a que Portugal continue governado por quem mente descaradamente, conduziu o país à bancarrota e provocou um desemprego de quase um milhão de trabalhadores. A taxa real de desemprego é de 15,5% da população activa. É o INE que o afirma. Mais: certamente uma alteração como a que António Saraiva propõe provocará lutas nos locais de trabalho e na rua, dirigidas pelos herdeiros de Marx, cujas teorias tiveram (e ainda não deixaram totalmente de ter) grande sucesso e apoio, devido ao capitalismo desumano do séc XIX. Onde o autor de “O Capital” estiver dirá, então: “a História está a dar-me razão quando afirmava que a mesma se repetia, não como farsa, mas como tragédia”.

PS 1: o presidente da CIP diz o que acima vai afirmado, porque, infelizmente, nas actuais democracias, como disse, há alguns anos, o liberal, actual prémio Nobel da literatura, Mário Vargas Llosa, “o poder económico domina o poder político, o que constitui uma perversão do liberalismo”. O governo saído das eleições do próximo domingo deverá garantir liberdade e emancipação da sociedade civil, logo do poder económico, mas regulado e dirigido pelo Estado de Direito.
PS 2: Comparar José Sócrates com Salazar ou Hitler é absurdo, do ponto de vista ideológico. Mas, observando a personalidade do ainda primeiro-ministro, parece ter lido e assimilado as teorias do ministro nazi da propaganda, Prof. Doutor Goebels, especialmente a que diz tornar-se verdade uma mentira sucessivamente repetida. Tal como o Doutor Salazar, também para Sócrates quem contestar a sua política não é patriota. Até parece que a pátria começa e acaba nele. Vaidades patológicas…

quarta-feira, 18 de maio de 2011

SOBRE A MORTE DE BIN LADEN

Em qualquer Estado de direito democrático, se for provada a prática de um crime através de métodos ilegais como a tortura, aquela prova é nula. Sem qualquer outra prova obtida legalmente, o autor do crime não poderá ser condenado.
A morte de Bin Laden é saudável. Tratava-se de um terrorista fanático e psicopata, que não tinha qualquer respeito pela vida humana. Os vários atentados praticados pela Al Qaeda, da qual era dirigente máximo, de que se destacam os de 11 de Setembro de 2001, nos EUA, mataram vários milhares de pessoas.
Bin Laden era, nos nossos dias, o pior inimigo da liberdade. Queria impor uma teocracia demencial, idêntica à que vigorou no Afeganistão no tempo dos talibans, no mundo inteiro, considerando todas as pessoas que pensavam de maneira diferente da sua como infiéis, fossem cristãos, praticantes do judaísmo ou de qualquer outra religião, ateus, agnósticos, e mesmo islâmicos moderados.
O terrorismo e o fundamentalismo islâmicos não acabaram, mas sofreram uma forte machadada com a morte de Bin Laden. No entanto, tem-se afirmado ter sido encontrado o seu esconderijo através de torturas infligidas a detidos no campo de Guantanamo. Tal informação não foi oficialmente desmentida. A ser verdadeira, é inadmissível tal comportamento por parte de um país com uma democracia de séculos. Os fins, por melhores que sejam (e este era-o) não justificam os meios. Tais métodos são próprios de ditaduras militares, fascistas, a nazi, ou as comunistas.
Por outro lado, a luta contra a ameaça terrorista está a pôr em causa, nos países democráticos ocidentais, liberdades fundamentais. O cartão de cidadão, as filmagens públicas, ou o controle de passageiros nas portagens, são formas de ingerência na vida das pessoas, fazendo lembrar o “Big Brother “ descrito por George Orwell no livro intitulado “1984”. Em nome da nossa liberdade e da nossa segurança, lindos valores, estamos a ser vigiados e controlados. Por outras palavras, em vez de termos a liberdade e a segurança garantidas, temo-las cada vez mais coarctadas, bem como o nosso espaço individual, onde ninguém pode entrar, como já diziam os liberais clássicos, invadido. Daria para rir a afirmação segundo a qual “vivemos sob o pensamento único neo-liberal”, se estes factos, além de a desmentirem, não pusessem em causa a própria democracia.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A BANCARROTA DA POLÍTICA DE SÓCRATES

A política económica e financeira dos governos de José Sócrates conduziu Portugal ao descalabro. Em consequência, o FMI, a CE e o BCE tiveram que vir em nosso auxílio para não cairmos na bancarrota.
Segundo os membros da troika que negociou o empréstimo ao nosso país, o PEC IV não era suficiente para não recorrer à ajuda externa, contrariamente ao afirmado por Sócrates, o qual, mais uma vez, é apanhado a mentir e a enganar os portugueses.
Sócrates também havia dito que não governaria com o FMI. Vai acabar por fazê-lo (esperamos que por muito pouco tempo).
Mas onde José Sócrates atingiu a bancarrota ideológica, não havendo “ajuda” que lhe valha, foi no modelo político-económico que defendia com unhas e dentes. Um olhar atento sobre as medidas acordadas pelos partidos do chamado arco governamental com a troika comprova-o.
Sócrates sempre foi favorável às “golden-shares”. Vão acabar dentro de dois meses, pondo fim ao privilégio de tais empresas relativamente às restantes, no tocante à concorrência. Dizia que o Estado é o centro da actividade económica. A troika manda privatizar e reduzir ao mínimo indispensável a intervenção do Estado. Tal como o PSD, também a troika entende dever baixar-se a taxa social única para as empresas com vista a estimular o investimento, o crescimento económico e o emprego, e aumentar o IVA para travar o consumo de um país que se encontra a viver acima das suas possibilidades. Na saúde, as taxas moderadoras aumentarão, salvaguardando os direitos dos mais desfavorecidos, como propõem os liberais que o primeiro-ministro tanto abomina.
Perante este atestado de menoridade e incompetência passado pelo FMI, a CE e o BCE, os portugueses ainda estarão dispostos a reeleger quem os conduziu ao abismo? Como se dizia no pós-25 de Abril, “o voto é uma arma do povo”. Espera-se que, num acto de lucidez, o povo não erre no alvo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O SENDERO LUMINOSO DE FERNANDO NOBRE

Uma das frases mais conhecidas de Mao Tsé Tung é a seguinte: "o futuro é luminoso, mas o caminho é sinuoso".
Aquando do chamado cisma no movimento comunista internacional, em finais dos anos 50 e primeiros anos da década de 60 do século passado, entre os comunistas soviéticos e chineses, a esmagadora maioria dos PCs ficou fiel a Moscovo. No entanto, houve cisões em praticamente todos aqueles partidos, operadas essencialmente por jovens (trabalhadores e estudantes) e intelectuais defensores do maoismo.
Em 1964, saiu do Partido Comunista Português (PCP) o CMLP/FAP (Comité Marxista Leninista Português/Frente de Acção Popular), organização liderada por Francisco Martins Rodrigues, ex-dirigente do partido já chefiado por Álvaro Cunhal. Todas as organizações maoistas portuguesas, com excepção do actual PCTP/MRPP, tiveram origem no CMLP/FAP.-
Também em 1964, um grupo constituido maioritariamente por intelectuais e estudantes, dirigido pelo professor de filosofia Abimael Guzzman, abandona o Partido Comunista Peruano e cria uma organização maoista intitulada "Bandeira Vermelha". Em 1970 este grupo reúne em congresso, no qual foi "reconstituido o velho PC, fundado por José Mariatégui".
O nome que Abimael Guzzman e seus camaradas atribuiram à nova agremiação política foi "Partido Comunista do Perú". Como subtítulo sempre colocaram por baixo do nome do partido a frase "par el sendero luminoso de José Mariatégui". Para distinguir os maoistas do velho PC pró-soviético, a imprensa peruana passou a referir-se aos mesmos como "Sendero Luminoso", assim como a imprensa de todo o mundo, especialmente a partir de 1980, quando começou a guerrilha senderista, que obteve os resultados conhecidos.
A expressão "sendero luminoso" está relacionada com a frase do "grande timoneiro" referida no início deste texto e significa, em português, "carreiro luminoso".
Fernando Nobre, apesar de várias experiências políticas contraditórias umas com as outras, que se saiba, nunca foi maoista, mas, como homem culto que é, deverá conhecer tal ideologia, a qual influenciou imensos jovens da sua geração.
Apoiou - e atacou posteriormente - Durão Barroso nas eleições em que o mesmo alcançou o cargo de primeiro ministro, esteve com António Capucho na corrida à Câmara Municipal de Cascais, foi mandatário do BE nas últimas eleições para o Parlamento Europeu e apoiante de Mário Soares numas presidenciais. Há escassos meses, candidatou-se a Presidente da República contra o "sistema", contra os partidos e, especialmente, contra o Presidente reeleito, Cavaco Silva, apoiado pelo PSD, de que é militante e foi líder durante 10 anos.
Para espanto e num gesto que não faz jus ao seu sobrenome, aquele médico aparece como cabeça de lista do PSD por Lisboa, nas eleições legislativas do próximo dia 5 de Junho, na qualidade de independente e, pasme-se, como candidato a Presidente da AR.
Nobre, no meio de todas as sinuosidades políticas por que passou, pensará ter encontrado o "sendero luminoso" para finalmente alcançar um futuro também luminoso como segunda figura do Estado. Provavelmente pensará também na hipótese de ser o próximo candidato presidencial do PSD em 2016. Só que, a eleição para Presidente da A.R., independentemente do partido vencedor das legislativas, não está assegurada. É ver a repulsa que a sua candidatura suscitou nas hostes sociais-democratas.
Devido - embora não só - a esta incongruência, o PSD é que começa a ver a sua hipótese de vencer as legislativas, que parecia mais que certa, cada vez menos luminosa, como mostram as últimas sondagens. E a procissão ainda não saiu da Igreja...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A SOPA DOS POBRES DO FMI

No editorial do primeiro número do jornal “SEMANÁRIO”, publicado em fins de 1983, aquando da anterior “ajuda externa” do FMI a Portugal, o seu então director, Vítor Cunha Rego, escrevia: “a feira popular do MFA acabou na sopa dos pobres do FMI”. A feira popular significava a época revolucionária de 1974/75, também conhecida por PREC (processo revolucionário em curso), protagonizada pelo PCP, as forças actualmente integrantes do BE e outras organizações de extrema-esquerda, que deixaram Portugal à beira da bancarrota e a economia esfrangalhada.
As consequências desse revolucionarismo destruidor e estéril, bem como a manutenção pelo PS do sistema económico herdado do PREC e consignado na Constituição de 1976 estiveram na origem das visitas do FMI em 1978 e 1983.
As medidas impostas pelo FMI originaram desemprego, inflação, perda de poder de compra, fome e mesmo alguns suicídios. Foram os custos da recuperação financeira e da salvação da bancarrota.
Neste ano de 2011, o recurso ao FMI não se deve a qualquer PREC, mas à política errada e incompetente de José Sócrates.
Quando, há 6 anos, Sócrates chegou ao poder, começou por ensaiar algumas reformas positivas no funcionamento do Estado e na segurança social, mas foi “sol de pouca dura”. Pôs o Estado ao serviço de interesses particulares, os quais, por sua vez, capturaram o mesmo Estado, distorcendo a concorrência. Tal facto, aliado à elevada carga fiscal, afastou o investimento, determinando um crescimento anual abaixo da média europeia e, consequentemente, aumento do desemprego e diminuição dos salários reais.
Por outro lado, manteve-se o calcanhar de Aquiles do nosso atraso económico e social: um Estado Providência com elevados encargos e uma aposta excessiva nas obras públicas como motor da economia, que nos custam, com as demais despesas públicas, quase metade da riqueza criada. Esta situação teve o mesmo efeito que a “feira popular” do MFA nas finanças públicas: obrigar o país a capitular perante a “ajuda externa” para evitar a bancarrota.
Para ousarmos sair deste inferno que nos espera, é necessário apostar numa economia aberta, concorrencial e competitiva. Para tal há que, logo que possível, baixar os impostos, estimular a cultura do mérito conjugado com a igualdade de oportunidades, flexibilizar o mercado de trabalho e as leis laborais, sem, contudo, permitir a arbitrariedade da entidade patronal. Essa flexibilização deverá sempre ser aprovada através de acordos entre o governo e os parceiros sociais.
Há que definir as funções do Estado, as quais deverão passar pelo assegurar da ordem pública, da justiça, da defesa nacional, uma presença meramente supletiva na economia, e, no plano social, nos termos abaixo descritos.
No plano social, as responsabilidades deverão ser repartidas entre o Estado, as empresas, as organizações particulares de solidariedade social e de voluntariado.
Até, por exemplo, ao valor de 5 salários mínimos, o Estado deverá assegurar integralmente as pensões de reforma. A partir desse patamar deverá ser dada liberdade de escolha aos cidadãos para optarem pelo sistema que quiserem: público ou privado, devendo ser atribuídos benefícios fiscais a quem opte pelo sistema privado.
Na saúde, o Estado tem um papel importante a desempenhar, mas os sectores privado, cooperativo ou religioso não podem ter menor importância.
O Estado deverá assegurar o acesso a todos à saúde, mas deve tratar de forma igual o que é igual e de forma diferente o que é diferente. Ou seja, a prestação de cuidados de saúde deverá ser gratuita apenas para quem tem rendimentos baixos. Quem pode, terá que pagar tal prestação segundos os seus rendimentos. Mais: as pessoas, independentemente das suas posses, deverão ter liberdade de escolher os médicos e estabelecimentos públicos ou privados, sendo essa liberdade garantida pelo Estado através do cheque-saúde, pagando nos privados quem pode o que pagaria na medicina pública e não pagando nada quem não pode.
Também no ensino deverá ser dada garantia idêntica através do cheque-educação. O ensino só deverá ser gratuito para quem não puder pagá-lo. Quem pode deverá continuar a pagar propinas.
Além do mais, a concorrência originada por tais medidas melhorará a qualidade do ensino e da saúde, pois quem prestar mau serviço não tem clientela e fecha a porta, como em qualquer outro sector.
Como se faz nas escolas, deverá também existir um ranking de hospitais e demais estabelecimentos de saúde.
Assim se baixa a despesa pública, permitindo o regresso do défice e da dívida pública para patamares aceitáveis pelas normas comunitárias, se garante uma verdadeira justiça social e igualdade de oportunidades para todos e mantém um estado social no verdadeiro sentido do termo.
José Sócrates enche a boca com o dito estado social, no entanto, baixa comparticipações nos medicamentos, no que nem os idosos com pensões baixíssimas escapam, praticamente acabou com o abono de família. À boa maneira socialista, trata todos por igual. Ou ninguém paga nada ou pagam todos o mesmo, como se os rendimentos fossem iguais. Quem são os mais prejudicados? Obviamente, os mais pobres e a classe média em vias de proletarização, chamando Marx em nosso auxílio.
Nos termos em que defende a escola e a saúde públicas, Sócrates quer que as suas equivalentes privadas apenas sirvam os ricos. Os que ele apelida de liberais ( o liberalismo é o novo anátema criado pelo primeiro-ministro) querem acabar com esses privilégios e que pobres e ricos tenham os mesmos direitos.

PS: os ataques de Sócrates ao liberalismo fazem lembrar a “estória” das criancinhas ao pequeno almoço inventada, aliás, pela Internacional Comunista nos anos 30 do século XX, para ridicularizar os seus inimigos. O primeiro-ministro, neste ponto, acaba por cair no ridículo. Recordo que ainda antes de ser líder do PS, numa entrevista ao “EXPRESSO”, referia-se entusiasticamente a Karl Popper, um dos “papas” do liberalismo. Tê-lo-á feito por ignorância? Não saberá quem foi mesmo Popper? Efectivamente, além de outros defeitos que tantos danos têm causado ao país – e beneficiado certas clientelas – já toda a gente viu que a cultura não é o seu forte.

terça-feira, 29 de março de 2011

OMISSÕES DA EXTREMA-ESQUERDA AMERICANA E DA EXTREMA-ESQUERDA PORTUGUESA

Recentemente, esteve em Portugal uma delegação de antigos dirigentes dos “Panteras Negras”, uma organização americana de negros de extrema-esquerda, que esteve activa nos anos 60 e 70 do século passado, praticando alguns actos terroristas, contrariamente ao seu contemporâneo também negro Martin Luther King, o qual lutava pelos direitos daquela raça de forma pacífica.
Em entrevista ao jornal “Público”, três daqueles dirigentes referiram os nomes de vários membros do Comité Central da organização, omitindo, no entanto, o nome de um dos mais destacados “panteras”, Eldrige Cleaver, o seu ideólogo, já falecido, que quando passou por Argel nos anos 60, fez amizade com Manuel Alegre.
Aquela omissão deve-se certamente à deserção de Cleaver dos "Panteras Negras" em meados da década de 1970, quando aderiu ao cristianismo e se tornou militante do Partido Republicano, sendo mais tarde assessor do Presidente Ronald Reagan.
Em resposta à afirmação do líder parlamentar do PS, Francisco Assis, segundo a qual o Bloco de Esquerda (BE) e os seus militantes apoiaram regimes totalitários de esquerda, Francisco Louçã disse que tal era mentira e que o Estado Português, sim, tem bom relacionamento com a Líbia.
O regime de Khadafi é equivalente ao poder popular de base, apoiado no PREC e posteriormente por algumas das organizações que deram origem ao BE, destacando-se entre elas a LCI (Liga Comunista Internacionalista), integrada em 1978 no PSR (Partido Socialista Revolucionário), dos quais Louçã foi dirigente. Esse esquerdismo romântico-populista acaba em ditaduras e no poder de um caudilho como o líder líbio, que teve em Otelo um seu semelhante.
Que se saiba, Francisco Louçã nunca deixou de ser trotskista. O seu mentor ideológico, Leon Trotsky, à frente do Exército Vermelho e sob as ordens de Lenine, chacinou aldeias inteiras que repudiavam o regime instaurado após a vitória dos bolcheviques na Rússia. Quando, em 1922, marinheiros ultra-esquerdistas e anarquistas se revoltaram em Kronstadt, foram barbaramente assassinados pelos homens de Trotsky. Quando Estaline sucedeu a Lenine, a imprensa americana rejubilou por o novo líder não ser Trotsky, pois Estaline era “liberal” em relação àquele. Pelos crimes do “liberal” Estaline se pode constatar onde poderia chegar o poder trotskista.
Outra das organizações na origem do BE, a UDP, apoiou Lenine, Estaline, Mao, Enver Hodxa e outros dirigentes comunistas responsáveis por dezenas de milhões de mortos.
Por aqui se pode ver a “democracia” em que o BE se revê e como a extrema-esquerda americana e portuguesa (bem como todas as outras) falsificam e apagam figuras da História. No essencial, não mudaram , como sabem os que conhecem o aparecimento e evolução deste tipo de organizações.

domingo, 6 de março de 2011

JUVENTUDE E IDEOLOGIA

Passam hoje 90 anos sobre a fundação do Partido Comunista Português(PCP). A propósito do evento, o jornal "Público" ouviu vários militantes da JCP (Juventude Comunista Portuguesa). Todos diziam ter aderido ao partido e àquela organização juvenil por razões ideológicas. Uma militante dizia abertamente ter sido o marxismo-leninismo que a levou à actividade política.
Concorde-se ou não com a ideologia marxista-leninista e o PCP, há que reconhecer que esta juventude adere a valores e ideias em que acredita. Perguntem à maioria dos e das militantes das jotinhas dos partidos que disputam o poder (JSD e JS) em que consistem as ideologias norteadoras daqueles e quem foram os mestres e ideólogos das mesmas. Não sabem nem com tal se preocupam, pois a sua adesão a tais organizações não se baseia em ideias, que, aliás, escasseiam cada vez mais no PS e no PSD, mas nos motivos em que o amigo leitor está a pensar...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

+ E – NO PSD

POSITIVO

1 - A procura do apoio de personalidades da sociedade civil, situadas no centro-direita e no centro-esquerda, por forma a criar uma frente reformista incluidora do centro, da direita e da esquerda mais moderadas.
2 – A escolha de António Carrapatoso, um dos melhores gestores portugueses, possuidor de uma boa formação política e ideológica, para presidir aos Estados Gerais, tendentes a unir as forças ditas em 1, bem como a estudar os problemas com que o país se debate e a preparar um programa de governo.
3- O sentido de Estado demonstrado ao deixar passar um orçamento com que não concordava, tendo, no entanto, através de acordo com o PS e o governo, minimizado os efeitos mais negativos daquele documento.

NEGATIVO

1- A proposta de coligação pós-eleitoral com o partido de Paulo Portas, mesmo obtendo maioria absoluta em próximas eleições legislativas, dado o carácter bastante conservador daquela formação partidária e especialmente do seu líder, que poderá afastar o eleitorado central (o que garante vitórias, como ainda se viu nas últimas presidenciais).
2 – O aparelho do partido, cheio de oportunistas que apenas querem o poder para tratarem das suas vidinhas, bem como dos seus familiares e amigos, e não para efectuar reformas com vista à edificação de um Portugal moderno e mais justo.
3- A mediocridade de boa parte dos “aparatchics”, que impedem os militantes competentes de se afirmarem no partido.
4- A impreparação do líder para o exercício do cargo de primeiro-ministro. Basta analisar o seu “liberalismo” serôdio e mal estudado. É curioso, aliás, como só há 2 ou 3 anos começou a definir-se como liberal, após 3 décadas de actividade político-partidária, quando existem, há muitos anos, liberais a assumirem-se como tal no PSD, no CDS e mesmo no PS ou em “think thanks”, como o Clube da Esquerda Liberal, criado em 1984 e hoje extinto.
5 – O silêncio – cúmplice – face às propostas de um federalismo económico e mesmo político pela Srª Merkel, secundada pelo patusco marido de Carla Bruni, que, na prática, acabará com a soberania partilhada e criará uma soberania limitada, como diria Brejnev, nos tempos em que dirigia a então URSS, a qual conduzirá ao domínio da Alemanha e da França sobre os restantes países.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011


Em entrevista concedida a Jaime Gama, no jornal "República", em 1972, Sá Carneiro definiu-se como social-democrata. Naquela época, o primeiro líder do PSD era deputado, como independente, à então Assembleia Nacional. Em 1969, aceitou a eleição, naquela qualidade, para tal órgão, onde se bateu pela democratização da sociedade. Em Janeiro de 1973, por ter concluido que Marcelo Caetano, embora não fosse tão ditador como Salazar, também não queria encaminhar o país na senda da democracia, demitiu-se de deputado, tendo o seu exemplo sido seguido por todos os outros deputados da chamada ala liberal, com excepção de Mota Amaral, no final do mandato para que foram eleitos.



Na mesma altura surge o "Expresso", onde Sá Carneiro, numa coluna intitulada "Visto", continua a bater-se pela liberalização e democratização da sociedade.



Após o 25 de Abril, no dia 6 de Maio de 1974, com outros dois colegas seus da "Ala Liberal", Pinto Balsemão e Magalhães Mota, funda o Partido Popular Democrático (PPD), actual Partido Social Democrata (PSD), definindo o mesmo como social democrata.





Sá Carneiro nunca viu a ideologia como dogma ou "ópio dos intelectuais", como dizia Raymond Aron, utilizando esta expressão essencialmente em relação aos intelectuais marxistas. Para Sá Carneiro, a ideologia era como uma luz a iluminar o caminho, mas tendo em conta as suas sinuosidades.





Como disse, há muitos anos, o deputado social democrata Pacheco Pereira, também defensor do liberalismo, o PPD não se baseava numa ideologia estanque, como o PCP (marxismo-leninismo), o PS (socialismo democrático, herdeiro da II Internacional e, no pós-25 de Abril, também marxista), o CDS (democracia-cristã). Era a síntese de partes de ideologias: o humanismo cristão, apesar do carácter laico do partido, de que resultava a valorização da pessoa, o liberalismo, na organização do Estado e da economia, e a social-democracia, como, aliás, a tradição socialista, em geral, no tocante à defesa dos pobres e desfavorecidos da sociedade.




Aquela síntese constituía a social democracia portuguesa, diferente dos partidos sociais-democratas da Internacional Socialista.



Hoje, quanto a nós, a dicotomia esquerda-direita está desactualizada, mas, naquele tempo, fazia todo o sentido. O PPD, como facilmente se constata, tinha influências consideradas historicamente de direita, na economia, e de esquerda, no plano social. Não era, consequentemente, um partido “de direita”, mas um partido central e reformista, que albergava um vasto conjunto de pessoas que iam da direita democrática à esquerda também democrática, não marxista e não estatista. Contra os ventos de então, Sá Carneiro batia-se pela defesa da propriedade privada, como base da economia, e do mérito pessoal, conjugados com a igualdade de oportunidades.





No primeiro programa do PPD, era afirmado que o objectivo final da social democracia seria a sociedade socialista. Tal deveu-se ao clima então vivido. Quem não fosse pelo socialismo sujeitava-se a ir parar à cadeia. Por outro lado, havia muita gente no PPD a pretender transformá-lo num apêndice do PS. Foi contra essas pessoas, que acabaram por abandonar o PSD, indo algumas parar ao PS, que Sá Carneiro travou muitas batalhas no partido. A sua vontade, desde sempre, mas principalmente após o PREC, era a da aplicação de um liberalismo regrado, acompanhado de uma forte componente social. Nunca foi, no entanto, de direita, nem o PSD, depois de clarificado e livre dos aliados internos do PS.



Em 1979, sabendo que o país se encontrava em muito má situação económica, financeira e social, e com o sistema partidário consignado na Constituição, tinha a noção de que o seu partido, sozinho, dificilmente conseguiria obter uma maioria absoluta. Inicialmente, propôs uma coligação ao PS, repudiada por Mário Soares. Seguidamente, construiu com Freitas do Amaral (CDS), Ribeiro Teles (PPM) e o Movimento Reformador, dissidente do PS, a Aliança Democrática (AD), a qual não era “a direita", mas uma frente reformista, englobadora de vários sectores, desde os conservadores, inequivocamente democratas, até à esquerda moderada. A AD conquistou o eleitorado central, o que lhe garantiu duas maiorias absolutas, em 1979 e 1980, tendo esta reforçado a primeira.





A AD que hoje se perspectiva é diferente. E não é só pela distância temporal. Por um lado, nem Passos Coelho, nem Portas têm o nível e o carisma de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles, por outro, o PP não é o CDS, partido conservador e democrata-cristão, mas defensor da democracia e das liberdades fundamentais. O PP, além de ser um partido que já afirmou tudo e o seu contrário, reviu-se, por diversas vezes, em posições próximas da direita radical. Se o PSD quiser, mesmo tendo maioria no parlamento, aliar-se ao PP (onde estão os "reformadores" de hoje, situados à "esquerda"?), assumirá uma posição de direita, se ainda quisermos utilizar a dicotomia acima mencionada, afastando-se da sua matriz original. O eleitorado central - o que dá vitórias – aproximar-se-á do PS, até porque quando decorrerem as próximas eleições legislativas dificilmente Sócrates liderará o PS. Aparecerá no seu lugar, certamente, outro líder não "queimado".



Se o liberalismo fosse a prática de Passos Coelho, como dizia recentemente um analista político, Adam Smith, caso cá voltasse, seria anarquista.