segunda-feira, 25 de abril de 2011

O SENDERO LUMINOSO DE FERNANDO NOBRE

Uma das frases mais conhecidas de Mao Tsé Tung é a seguinte: "o futuro é luminoso, mas o caminho é sinuoso".
Aquando do chamado cisma no movimento comunista internacional, em finais dos anos 50 e primeiros anos da década de 60 do século passado, entre os comunistas soviéticos e chineses, a esmagadora maioria dos PCs ficou fiel a Moscovo. No entanto, houve cisões em praticamente todos aqueles partidos, operadas essencialmente por jovens (trabalhadores e estudantes) e intelectuais defensores do maoismo.
Em 1964, saiu do Partido Comunista Português (PCP) o CMLP/FAP (Comité Marxista Leninista Português/Frente de Acção Popular), organização liderada por Francisco Martins Rodrigues, ex-dirigente do partido já chefiado por Álvaro Cunhal. Todas as organizações maoistas portuguesas, com excepção do actual PCTP/MRPP, tiveram origem no CMLP/FAP.-
Também em 1964, um grupo constituido maioritariamente por intelectuais e estudantes, dirigido pelo professor de filosofia Abimael Guzzman, abandona o Partido Comunista Peruano e cria uma organização maoista intitulada "Bandeira Vermelha". Em 1970 este grupo reúne em congresso, no qual foi "reconstituido o velho PC, fundado por José Mariatégui".
O nome que Abimael Guzzman e seus camaradas atribuiram à nova agremiação política foi "Partido Comunista do Perú". Como subtítulo sempre colocaram por baixo do nome do partido a frase "par el sendero luminoso de José Mariatégui". Para distinguir os maoistas do velho PC pró-soviético, a imprensa peruana passou a referir-se aos mesmos como "Sendero Luminoso", assim como a imprensa de todo o mundo, especialmente a partir de 1980, quando começou a guerrilha senderista, que obteve os resultados conhecidos.
A expressão "sendero luminoso" está relacionada com a frase do "grande timoneiro" referida no início deste texto e significa, em português, "carreiro luminoso".
Fernando Nobre, apesar de várias experiências políticas contraditórias umas com as outras, que se saiba, nunca foi maoista, mas, como homem culto que é, deverá conhecer tal ideologia, a qual influenciou imensos jovens da sua geração.
Apoiou - e atacou posteriormente - Durão Barroso nas eleições em que o mesmo alcançou o cargo de primeiro ministro, esteve com António Capucho na corrida à Câmara Municipal de Cascais, foi mandatário do BE nas últimas eleições para o Parlamento Europeu e apoiante de Mário Soares numas presidenciais. Há escassos meses, candidatou-se a Presidente da República contra o "sistema", contra os partidos e, especialmente, contra o Presidente reeleito, Cavaco Silva, apoiado pelo PSD, de que é militante e foi líder durante 10 anos.
Para espanto e num gesto que não faz jus ao seu sobrenome, aquele médico aparece como cabeça de lista do PSD por Lisboa, nas eleições legislativas do próximo dia 5 de Junho, na qualidade de independente e, pasme-se, como candidato a Presidente da AR.
Nobre, no meio de todas as sinuosidades políticas por que passou, pensará ter encontrado o "sendero luminoso" para finalmente alcançar um futuro também luminoso como segunda figura do Estado. Provavelmente pensará também na hipótese de ser o próximo candidato presidencial do PSD em 2016. Só que, a eleição para Presidente da A.R., independentemente do partido vencedor das legislativas, não está assegurada. É ver a repulsa que a sua candidatura suscitou nas hostes sociais-democratas.
Devido - embora não só - a esta incongruência, o PSD é que começa a ver a sua hipótese de vencer as legislativas, que parecia mais que certa, cada vez menos luminosa, como mostram as últimas sondagens. E a procissão ainda não saiu da Igreja...

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