quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CAVACO P.R. VERSUS CAVACO P.M.

Recentemente, o Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou que nos devemos voltar novamente para o mar, a agricultura e a indústria, corrigindo assim erros das últimas décadas.
Aquela afirmação, além de visar todos os governos e respectivos primeiros-ministros daquele período de tempo, fá-lo especialmente em relação ao primeiro-ministro homónimo do P.R.. Foi nos primeiros anos da década de 90 do século anterior que esse senhor e o seu governo pagaram a agricultores para abandonarem as suas terras, diminuiram a actividade pesqueira e liquidaram parte considerável da indústria, por incapacidade sua de defesa daqueles sectores junto da UE.
Os produtos fabricados por tais sectores passaram a ser comprados aos países comunitários mais ricos como a França, a Espanha ou a Alemanha. Em consequência, Portugal endividou-se.
Assim teve início o elevado endividamento que provocou a presente crise.
Dir-se-á que desde o início do cavaquismo e até aí a economia cresceu consideravelmente, o desemprego baixou e o nível de vida melhorou. Pudera! Após a significativa melhoria da situação financeira conseguida durante o governo do bloco central, seguida da vinda de dinheiro a rodos da então CEE – até para onde não devia-  a baixa do dólar e do preço do petróleo, até o rato Mickey seria um bom primeiro-ministro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

GREVE GERAL FOI UM SUCESSO

A greve geral convocada pela CGTP e ocorrida ontem teve uma enorme adesão, especialmente entre os trabalhadores do sector público, mas também junto de muitos trabalhadores de empresas privadas.
Mais uma vez ficou demonstrado nos locais de trabalho e na rua o repúdio pela política de Passos Coelho e Paulo Portas. Os números conhecidos no dia da greve sobre o desemprego (quase 900 000 trabalhadores, segundo o INE, e 1 400 000 - 23% da população activa - contabilizando os sub-empregados e quem não tem procurado trabalho nas últimas 4 semanas, de acordo com a edição de hoje do jornal “Correia da Manhã”), uma queda do PIB de quase 4% até esta altura do ano e de 1,6%, segundo as previsões oficiais, no próximo ano, o empobrecimento geral da população, justificam esta elevada participação na greve.
Em outros países europeus, decorreram outras greves gerais com muita adesão e alguns confrontos entre grevistas e polícias.
Estas greves devem constituir uma chamada à razão das instituições europeias e vários governos nacionais para pararem com a actual política de excessiva austeridade, sem qualquer preocupação social, a qual destroi as economias, agrava o fosso entre ricos e pobres, bem como está a levar ao desaparecimento das classes médias.
Após a manifestação que culminou a greve, entre o Rossio e S. Bento, houve graves confrontos entre a polícia e inúmeras pessoas junto ao parlamento.
Apenas uma minoria dos participantes naquela manifestação permaneceram no local provocando e agredindo agentes da autoridade, os quais tiveram necessidade de recorrer à força para pôr fim aos distúrbios.
Aquela gente sujou (é o termo apropriado) a greve. A sua actuação é típica de uma certa extrema-esquerda e dos anarquistas. Recordo, aliás, que o terrorismo político moderno tem origem em organizações anarquistas do século XIX, influenciadas pelo chamado “catecismo revolucionário” de Netchaiev, um revolucionário russo que viveu no século XVIII.
Uma das acções mais conhecidas dos “anarcas”, no séc. XIX, foi o lançamento de uma bomba para o interior de um café, em Paris, provocando a morte a mais de 100 pessoas. Na altura, o autor da “façanha” afirmou: “ninguém é inocente!”
Em toda a Europa, mas principalmente nos países em dificuldade, as forças extremistas de direita e de esquerda tem avançado consideravelmente, obtendo apoio de sectores importantes das populações, especialmente de jovens, em desespero. Tal facto deve conduzir à reflexão sobre as políticas erradas praticadas no âmbito da UE, no plano económico-financeiro e no avanço do federalismo, repudiado pelos povos, por parte dos políticos defensores da democracia, da liberdade e dos direitos humanos, estejam no poder ou na oposição.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

OS AMERICANOS NÃO QUEREM A DIREITA NO PODER

Obama venceu as eleições presidenciais americanas. O candidato da direita, Mitt Romney, foi derrotado.
A pátria, por excelência, do capitalismo e do liberalismo económico  reelegeu  o candidato  a Presidente mais à esquerda.
Nos últimos 4 anos, Barak Obama manteve a economia de mercado, mas acompanhada de uma componente social. Criou o seguro de saúde obrigatório para todos os  americanos. Para o presidente agora reeleito, o american way of life também deve passar pela solidariedade e o equilíbrio social. Esse é também o entender da maioria dos seus compatriotas que o elegeu, repudiando o egoismo de uma certa América.
Romney acenou com a baixa de impostos para os mais ricos, afirmando ser a forma de criar postos de trabalho. No entanto, para aquela baixa ser possível, o mormon pretendia acabar com direitos e regalias sociais alcançados pelos pobres e as camadas médias da população desde 2008, agravando as desigualdades e aumentando a pobreza, à semelhança do que fazem os seus pares da nova direita europeia como Angela Merkel, Mariano Rajoy,  David Cameron ou o "nosso" Pedro Passos Coelho.
O conservadorismo dos republicanos atingiu aspectos pitorescos, dos quais destacamos a afirmação de um seu responsável próximo de Mitt Romney, segundo a qual a gravidez de uma mulher violada constitui uma vontade de Deus, pelo que nem numa situação destas o aborto deverá ser legal. 
Na véspera das eleições americanas, Pires de Lima, gestor, democrata-cristão e defensor do liberalismo social, alto responsável do CDS, afirmou no 2º canal da RTP estar o Partido Republicano a seguir uma via ultra-conservadora, pelo que desejava também a vitória de Obama.
Que este resultado constitui uma decepção para a nova direita na Europa e no resto do planeta, não temos dúvidas. É um alento para a esquerda? Não é certamente para a esquerda comunista, esquerdista, no sentido leninista do termo, e socialista estatista. Mas vem dar novo ânimo à esquerda liberal, defensora da terceira via dentro dos partidos socialistas e sociais-democratas.
Na actual situação de crise, a única alternativa viável de esquerda passa pela defesa do regresso do capitalismo de rosto humano e do liberalismo social.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O JARDINISMO CHEGOU AO FIM

Após uma vitória - que pode considerar-se com sabor a derrota - nas últimas eleições regionais da Madeira, em que o seu partido manteve a maioria no parlamento por uma pequena margem, recentemente Alberto João Jardim foi eleito líder do PSD naquela região por uma percentagem de 51% de votos, mais 83 que os obtidos pelo seu adversário, Miguel Albuquerque.
Jardim fez obra na Madeira. Disso ninguém duvida. Mas, uma boa parte da mesma foi feita com os impostos de todos nós, até porque poucos governantes continentais tinham coragem  de o enfrentar.
O seu poder caracteriza-se também por perseguição aos adversários. Empresas  independentes relativamente ao poder  são quase inexistentes. Tudo está submetido  ao "Sr. Presidente". O ambiente naquele arquipélago é pouco ou nada  respirável, não sendo excessivo falar em défice democrático na região.
Pela primeira vez,  alguém no PSD (Miguel Albuquerque e os seus companheiros de lista) ousou enfrentar  o caciquismo local, logrando obter 49% de votos, ficando muito próximo da vitória.
O poder de Jardim está a acabar. Também na Madeira irá haver uma verdadeira democracia. Estão de parabens Miguel Albuquerque e quem corajosamente o apoiou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O GOVERNO QUER FUGIR?

A receita encontrada pelo actual governo para combater o défice e a dívida pública, assente essencialmente no aumento das receitas (leia-se impostos), falhou. No próximo ano, no entanto, insiste na mesma utopia, no pior sentido da expressão.
Em 2014,  Passos Coelho e os seus mestres Vitor Gaspar e  António Borges pretendem  cortar 4 000 milhões de euros nas despesas,  "refundando o memorando da troika", na linguagem cada vez mais  exotérica do primeiro-ministro.
Aquela "refundação" consiste no co-pagamento pelos cidadãos da prestação de cuidados de saúde ou educação, reforma da segurança social e privatização de funções actuais do Estado.
O Estado Social deve ser reformado e quem pode deverá pagar as respectivas prestações mediante os seus rendimentos, sem prejuizo de  as mesmas serem  asseguradas gratuitamente a quem  não  as pode suportar. Esta deveria ser a política do governo desde a sua posse - o que foi prometido em campanha eleitoral  pelos partidos que o constituem, especialmente pelo  partido dito social-democrata. Mas o que o governo fez  foi começar pelo lado mais fácil: aumentar os impostos. E ainda se dizem eles liberais...
Dir-se-ia ter o governo feito "mea culpa", cortando, dentro de um ano, nas despesas "a sério". No entanto, tudo tem o seu tempo e o seu modo. Para os verdadeiros liberais, os co-pagamentos por quem pode nas prestações sociais só se justificam perante a diminuição da carga fiscal. Não há nada no discurso passista-portista que aponte nesse sentido. Ou seja, além do aumento brutal da carga fiscal, a classe média ainda suportaria o aumento de encargos com a saúde ou a educação. Os mais ricos pouco ou nada se importam com o pagamento de tais encargos, pois, tendo ou não seguros de saúde, recorrem, de um modo geral, à medicina privada, bem como a escolas particulares.
Mais uma vez o governo PSD/CDS mostra o seu carácter de classe. Mas, para o pôr em prática nas políticas em apreço, tem que ser revista a Constituição da República. Daí o convite envenenado ao PS para tal efeito, o qual, de forma inteligente, o rejeitou. Diz, entretanto, o governo, avançar naquela aventura mesmo sem apoio dos socialistas. Certamente sabe ser a generalidade das suas propostas reprovadas pelo Tribunal Constitucional (TC). Estaremos perante um gesto maquivélico do executivo para fugir à sua responsabilidade, dizendo, posteriormente, não ter condições para governar por culpa do PS e do TC, abandonando, consequentemente, o barco que mais parece o Titanic?  O futuro o dirá, provavelmente mais depressa do que muito boa gente pensa.