terça-feira, 28 de maio de 2013

DR. PASSOS COELHO, IMITE O FILHO PRÓDIGO

A parábola do filho pródigo é uma das mais conhecidas passagens do Evangelho.
Segundo a parábola, um filho pede a sua parte na herança ao pai e parte, esbanjando-a até ficar na miséria. Então, regressa à casa paterna, ficando o seu pai muito feliz, tendo feito uma grande festa.
Passos Coelho está a pôr na pobreza e na miséria o país e os seus cidadões (Cavaco dixit), não devido ao esbanjamento, mas ao aperto de cinto provocador da queda do poder de compra, da recessão e de um enorme desemprego. O seu pai afirmou que o país não tem conserto, devendo o filho abandonar a governação. Se tal acontecer, o Dr. Passos Coelho (pai) fará, segundo disse, uma grande festa familiar.
Dr. Passos Coelho (filho), imite o filho pródigo. Dê uma grande alegria ao seu progenitor e a Portugal.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

FALECERAM GEORGE MOUSTAKI E RAY MANZAREK

Ah, os que já não criam
vêem cumprir o seu ideal
diz-lhes que uma flor vermelha
floriu em Portugal

George Moustaki


Faleceram durante esta semana o cantor francês George Moustaki e o músico americano Ray Manzarek, ex-teclista dos lendários “Doors”. De formas diferentes, mas parecidas, ambos eram representantes do espírito contestatário e rebelde dos anos 60 do século XX.
Contra o conservadorismo social e a hipocrisia moral daquela época, surgem movimentos como o dos hippies, os situacionistas (o nome não é para ser levada à letra) ou os beatniks, os quais influenciaram grupos de rock como os “Doors”, liderados pelo lendário Jim Morrison.
O grupo constituído por Morrison, John Densmore, Robert Krieger e Ray Manzarek fez enorme sucesso entre a juventude da época e, com as suas canções, deu um grande contributo para as revoluções de então, especialmente a revolução sexual. Embora as suas letras não fossem políticas no sentido mais ortodoxo do termo, estiveram também na origem de uma maior abertura social .
Politicamente, na década de 60, a tendência de grande parte da juventude, especialmente os estudantes, era para a militância na extrema-esquerda. O Maio de 68, as lutas nos “campus” das universidades americanas e em vários países europeus, incluindo Portugal, comprovam-no de forma clara.
George Moustaki foi um cantor de intervenção, apoiante activo do Maio de 68. Que haja conhecimento, nunca esteve ligado a qualquer organização ou ideologia revolucionária. No entanto, sempre foi de esquerda radical, utópico, mas possuidor de uma grande generosidade e defensor de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Lembro-me de o ouvir pela primeira vez, com 14 anos de idade, após o 25 de Abril. Quem viveu aquela época jamais esquecerá a sua canção dedicada à nossa revolução, “Avril au Portugal”, cantada em português pelo brasileiro Chico Buarque, da qual se publicam alguns versos em epígrafe.
Moustaki visitou Portugal pouco depois de Abril de 1974, tendo contactado com o povo na rua e actuado ao lado de Zeca Afonso.
Até à morte continuou a cantar os problemas dos trabalhadores, de todos os mais fracos, não esquecendo os imigrantes, e combatendo o racismo e a xenofobia.
Com a morte de Ray Manzarek e George Moustaki, a cultura, desprezada pelo economicismo neo-liberal dominante, fica mais pobre. A melhor homenagem que os seus admiradores lhes poderão prestar é continuar a sua luta contra o conservadorismo e as injustiças sociais trazidos novamente pelo liberalismo económico e a nova direita dominante na Europa.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O INTELECTUAL ORGÂNICO E INOCENTE ÚTIL



Com a ajuda dos inocentes (e idiotas) úteis conquistaremos o mundo.

LENINE

Miguel Poiares Maduro sempre se mostrou um intelectual dotado de rara inteligência, espírito crítico e grande independência. Com a sua nomeação para ministro adjunto do primeiro-ministro e do desenvolvimento regional, todos aqueles seus atributos parecem ter ido por água abaixo.
As intervenções do ministro da propaganda, como começa a ser conhecido, das quais se destaca a entrevista concedida à última edição do “Expresso”, são a prova do fim da sua irreverência e da bajulação do actual poder moribundo de Gaspar, Passos, Portas e Cavaco, no qual se integrou perfeitamente. Por outro lado, passa a vida a falar de consenso, palavra que significa, não o que parece, mas o canto de sereia para a submissão do PS ao projecto classista (dos ricos, anti-humanista e destruidor do estado social) do governo e da troika.
O escritor italiano Umberto Eco afirma que o intelectual, para não ser orgânico e servidor do poder, deve ser, mesmo quando o apoia, sua consciência crítica, precisamente aquilo que morreu na alma de Miguel Poiares Maduro, assim ligando, lamentavelmente, a sua imagem ao governo mais medíocre do pós-25 de Abril, do qual é um intelectual orgânico e inocente útil, como diria Lenine. Nesta matéria, o ex-comunista Pedro Passos Coelho aprendeu bem a lição do seu antigo mestre, no uso e manipulação de pessoas... enquanto interessarem.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

FALECEU MARGARETH THATCHER

Recentemente, faleceu Margareth Thatcher, ex-primeira ministra britânica entre os anos de 1979 e 1990.
A dama de ferro, como lhe chamaram, naquele tempo, os soviéticos e assim ficou conhecida, foi eleita pelo Partido Conservador, tendo herdado do Partido Trabalhista, então inspirado no marxismo, uma economia débil, com enorme inflação e desemprego.
Margareth Thatcher, após ter sido eleita primeira-ministra, pôs em prática o liberalismo económico então na moda, hoje causa da decadência europeia.
O governo conservador diminuiu o peso do Estado na economia, privatizando uma série de importantes empresas estatais, cortou despesas públicas e diminuiu os impostos.
Nas privatizações foi aplicado o capitalismo popular através da dispersão do capital das empresas por pequenos accionistas e pelos trabalhadores das mesmas. Thatcher dizia pretender tornar cada inglês num proprietário, o que, em parte, foi conseguido. Dois terços dos britânicos tornaram-se donos de casa própria e automóvel. A inflação baixou. O desemprego, numa primeira fase, aumentou muito, dado o encerramento de empresas deficitárias. Posteriormente diminuiu, quase tendo sido atingido o pleno emprego, facto a que não foi alheia a revisão das leis laborais. O crescimento da economia e do poder de compra dos cidadãos foi acentuado.
A nível da política internacional, recusou, tal como Reagan, a conciliação com a então URSS, apoiando os movimentos contestatários dos países de leste, como o Solidariedade, na Polónia e, numa fase posterior, os esforços de Gorbatchev no sentido de democratizar a chamada pátria soviética. Reagan, Thatcher, o Papa João Paulo II e o próprio Gorbatchev foram os grandes responsáveis pela queda do muro de Berlim e o fim do comunismo.
Margareth Thatcher sempre se manifestou contra o federalismo europeu e a moeda única, prevendo que aqueles conduziriam à diminuição da soberania de cada país e ao domínio alemão. A História está a dar-lhe razão. No entanto, também não tinha uma perspectiva nacionalista. Defendia uma Europa unida, onde pessoas e mercadorias circulassem livremente, mas fosse respeitada a soberania dos parlamentos nacionais.
Estes são os aspectos positivos da política thatcheriana. Mas, como diz uma velha expressão, não há “bela sem senão”.
A outra face da política desta senhora tem muitos aspectos negativos.
Se é verdade que a maioria da população passou a viver melhor e o número de pobres diminuiu, não teve preocupação social relativamente a estes. Esta lady proferiu frases demonstrativas de que quem era pobre o era por culpa própria, devendo assumir essa “cruz”. Não é por acaso que o actual governo tem como referência o liberalismo económico, tendo os partidos que o constituem renegado (é esse mesmo o termo) a social-democracia e a democracia-cristã.
Thatcher afirmou que “a sociedade não existe, mas apenas cidadãos e famílias”. Esta expressão é demonstrativa do individualismo e ausência de sentido social caracterizadores da sua personalidade e de todos os neo-liberais seus seguidores.
O egoísmo decorrente daquela ideologia, fomentador do “cada um por si” e da ausência de sentido espiritual é um dos factores da decadência das sociedades livres ocidentais.
A excessiva desregulamentação praticada por Thatcher e pelo seu amigo e parceiro ideológico Ronald Reagan, em nome da libertação da sociedade civil, está na origem do capitalismo selvagem hoje dominante em boa parte do mundo e da crise devastadora que grassa no Ocidente, especialmente em Portugal e nos outros países do sul da Europa.
Outra faceta de Thatcher era o autoritarismo. Diálogo com as forças da sociedade que em Portugal se chamam parceiros sociais não era com ela. Recordo que o então primeiro-ministro Cavaco Silva dizia ser o diálogo com os parceiros sociais uma das características que o distinguiam da sua colega britânica. Curiosamente, num artigo laudatário de lady Thatcher que escreveu na Revista da edição do “Expresso”, de 13/4/2013, omitiu aquele aspecto…
A desregulamentação já mencionada levou ao controlo do poder político pelo poder económico. É o liberal Mário Vargas Llosa quem o diz, considerando poder conduzir tal situação ao fim da própria democracia.
A globalização injusta, a qual agravou as desigualdades sociais, e a troca da produção pela economia de casino são outros factores decorrentes do neo-liberalismo na origem da grave crise presentemente vivida em boa parte do globo, muito especialmente na UE.
O liberalismo económico na sua faceta reaganista-freedmanista-thatcherista, deturpador do espírito original liberal, é, pois, o principal culpado da crise e injustiças hoje vividas. Para a ultrapassagem desta situação, é necessário e urgente acompanhar a liberdade económica e a globalização por regulação estatal, a primeira, e por uma entidade supra-nacional, a segunda, apenas permitindo o livre comércio a países praticantes da democracia e dos direitos humanos e sociais.
Por outro lado, é necessário o investimento estatal como forma de puxar pela iniciativa privada. Se tal política poderá levar a um aumento da despesa pública e do défice numa primeira fase, o crescimento económico decorrente da mesma diminui-los-á, criando riqueza e emprego. A solução monetarista e “austeritária” das instituições europeias e do FMI apenas soma crise à crise, sendo Portugal , infelizmente, um caso paradigmático, dessa situação. Aos que dizem constituirem estas ideias uma utopia, recordo terem a América após a crise económica de 1929 e a Europa do pós 2ª Guerra Mundial, através do Plano Marshall, adoptado aquela política económica Keynesiana com grande sucesso económico e social.
A terminar: o leitor perguntará: este indivíduo não andou muitos anos a defender o liberalismo? A resposta aqui fica: continuo a ser liberal no plano político e nos costumes. Defendo a liberalização económica (não é o mesmo que liberalismo económico), com “freio”, acompanhada de forte componente social e regulada pelo Estado, o qual deverá ter um papel importante no tocante ao investimento público e na manutenção sob o seu controlo dos chamados monopólios naturais, dos quais destaco a água em vias de ser privatizada pelos incompetentes que nos governam.
Autocritico-me por me ter identificado plenamente com as políticas de Reagan e Thatcher. Embora tenham aspectos positivos, também têm muito de negativo e injusto. Falta-lhes o factor social e de preocupação com os mais pobres da sociedade. Foi o que fez Tony Blair, com a terceira via, adicionando estes aspectos à parte positiva da herança dos conservadores e Margareth Thatcher. Foi essa a política de Sá Carneiro, a terceira via, avant la letre , que em Portugal se chama social-democracia.

publicado no jornal GAZETA DA BEIRA

segunda-feira, 6 de maio de 2013

GOVERNO SANTANA LOPES II

Durante o governo de Pedro Santana Lopes de má memória, era vulgar ministros contradizerem-se, bem como o próprio primeiro-ministro.
Aquela situação volta a verificar-se com o governo actual. Notícias recentemente divulgadas sobre divergências entre Paulo Portas, os outros ministros do CDS e alguns do PSD com Passos Coelho e Vítor Gaspar, tiveram ontem a sua confirmação nas declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros.
Paulo Portas afirma claramente não concordar com uma medida concreta do governo a que pertence, a nova taxa proposta sobre as pensões de reforma.
Está provado que o governo se encontra dividido. O primeiro-ministro, além do seu isolamento social, começa a estar também isolado – com o ministro das Finanças – no próprio executivo a que preside, no qual já não tem a necessária autoridade.
Há, pois, muitas semelhanças com o governo de Santana Lopes, mas com uma diferença: hoje atravessamos uma muito grave crise económica, social e financeira, pelo que, mais que naquele tempo, impõe-se a demissão do governo.
Muitos verdadeiros sociais-democratas, fieis à herança de Sá Carneiro, têm criticado a política do governo e da direcção do PSD. Está na hora de avançarem para a conquista do partido, com vista à constituição de um governo de salvação nacional com as demais forças do arco constitucional, que abandone esta austeridade destruidora do país e concilie o combate à crise com crescimento económico e justiça social.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

MENSAGEM DO PAPA NO 1º DE MAIO

Numa mensagem divulgada no 1º de Maio, o Papa Francisco I criticou a situação de exploração e baixos salários a que estão sujeitos muitos trabalhadores no mundo inteiro.
Recordou a recente tragédia ocorrida no Bangladesh e a afirmação de um operário que se salvou na área onde ocorreram as mortes mencionadas na comunicação social, de que vivia com apenas 38 euros por mês. Contrariando a ideologia culpadora dos desempregados pela situação em que se encontram, dominante na Europa e muito especialmente no governo Coelho/Portas, disse ainda "existirem muitos desempregados a querer trabalhar e não o conseguirem", e "serem injustas as sociedades que os excluem e não têm capacidade de os integrar no mercado de trabalho".
Estas palavras do Sumo Pontífice são um alerta para as injustiças resultantes do neo-liberalismo e da globalização originada pelo mesmo. Esperamos terem eco junto de políticos que se dizem influenciados pela doutrina social da Igreja e o humanismo cristão.