sexta-feira, 24 de maio de 2013

FALECERAM GEORGE MOUSTAKI E RAY MANZAREK

Ah, os que já não criam
vêem cumprir o seu ideal
diz-lhes que uma flor vermelha
floriu em Portugal

George Moustaki


Faleceram durante esta semana o cantor francês George Moustaki e o músico americano Ray Manzarek, ex-teclista dos lendários “Doors”. De formas diferentes, mas parecidas, ambos eram representantes do espírito contestatário e rebelde dos anos 60 do século XX.
Contra o conservadorismo social e a hipocrisia moral daquela época, surgem movimentos como o dos hippies, os situacionistas (o nome não é para ser levada à letra) ou os beatniks, os quais influenciaram grupos de rock como os “Doors”, liderados pelo lendário Jim Morrison.
O grupo constituído por Morrison, John Densmore, Robert Krieger e Ray Manzarek fez enorme sucesso entre a juventude da época e, com as suas canções, deu um grande contributo para as revoluções de então, especialmente a revolução sexual. Embora as suas letras não fossem políticas no sentido mais ortodoxo do termo, estiveram também na origem de uma maior abertura social .
Politicamente, na década de 60, a tendência de grande parte da juventude, especialmente os estudantes, era para a militância na extrema-esquerda. O Maio de 68, as lutas nos “campus” das universidades americanas e em vários países europeus, incluindo Portugal, comprovam-no de forma clara.
George Moustaki foi um cantor de intervenção, apoiante activo do Maio de 68. Que haja conhecimento, nunca esteve ligado a qualquer organização ou ideologia revolucionária. No entanto, sempre foi de esquerda radical, utópico, mas possuidor de uma grande generosidade e defensor de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Lembro-me de o ouvir pela primeira vez, com 14 anos de idade, após o 25 de Abril. Quem viveu aquela época jamais esquecerá a sua canção dedicada à nossa revolução, “Avril au Portugal”, cantada em português pelo brasileiro Chico Buarque, da qual se publicam alguns versos em epígrafe.
Moustaki visitou Portugal pouco depois de Abril de 1974, tendo contactado com o povo na rua e actuado ao lado de Zeca Afonso.
Até à morte continuou a cantar os problemas dos trabalhadores, de todos os mais fracos, não esquecendo os imigrantes, e combatendo o racismo e a xenofobia.
Com a morte de Ray Manzarek e George Moustaki, a cultura, desprezada pelo economicismo neo-liberal dominante, fica mais pobre. A melhor homenagem que os seus admiradores lhes poderão prestar é continuar a sua luta contra o conservadorismo e as injustiças sociais trazidos novamente pelo liberalismo económico e a nova direita dominante na Europa.

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