quinta-feira, 28 de março de 2013

A PÁSCOA, O NOVO PAPA E A LUTA PELA JUSTIÇA

A Páscoa marca a vitória da vida (ressurreição de Cristo) sobre a morte. É uma época de alegria e de esperança.
Num tempo de recessão, desemprego, empobrecimento, crise, não só em Portugal como em muitos outros países, surgiu dentro da Igreja Católica uma voz de esperança, a do Papa Francisco I.
O novo Papa, enquanto cardeal e arcebispo de Buenos Aires, sempre se bateu contra as injustiças e esteve ao lado dos mais pobres. Vivia num apartamento onde cozinhava muitas das suas refeições e, tal como Cristo, estava em constante contacto e ajuda aos mais desfavorecidos. Conhecia grande parte dos sem abrigo da capital da Argentina pelo próprio nome.
Após ter sido eleito sucessor de S. Pedro, afirmou dever ser a Igreja pobre e para os pobres. À semelhança dos anteriores Papas, denunciou o capitalismo selvagem e uma certa lógica da globalização que lhe é inerente.
Quando o Papa João Paulo II, pouco após ser eleito, se deslocou à Polónia, sua terra natal, aí afirmou "não tenhais medo". Francisco I traz também uma mensagem de esperança, alegria e confiança num mundo mais justo. Só com tal prática, segundo os ensinamentos de Cristo, se poderá alcançar a salvação.
Que a mensagem de paz, amor e solidariedade de Francisco I influenciem os poderes seculares!
A todos os leitores desejamos uma Páscoa feliz.

quinta-feira, 21 de março de 2013

QUEM DISSE QUE A ESQUERDA E O MARXISMO ESTÃO DESACTUALIZADOS?

Hugo Chavez, Presidente venezuelano recentemente falecido, embora não tivesse implantado uma ditadura de partido único, também não era nenhum exemplo de democrata. Controlava sectores importantes da comunicação social, com destaque para a televisão, sendo perseguidos muitos dos seus opositores.
No entanto, Chavez foi sempre eleito por confortáveis maiorias. Tal como na Venezuela, em diversos países das Américas Central e do Sul têm sido eleitos presidentes e governos de esquerda socialista de inspiração marxista. Afinal, existem alternativas vencedoras ao neo-liberalismo responsável pela presente crise social, económica e de valores no mundo capitalista ocidental.
Naquelas paragens, o capitalismo apenas tem espalhado pobreza, miséria e desigualdades sociais. Daí a derrota das direitas na generalidade daqueles países. Ah, a CIA já não promove, nem apoia golpes de estado fascistas nessa zona do globo como fez noutros tempos, ensopando-a em sangue, no Chile, na Guatemala, em El Salvador, na Argentina, na Bolívia, no Paraguai, no Panamá, no Haiti, na República Dominicana e tantos outros países latino-americanos. Por um lado, já não tem força para isso, por outro lado, essa América que se identifica com Mitt Romney ou com a idiota e inculta Sarah Palin, é repudiada pelo povo da pátria do Tio Sam, o qual reelegeu, há 4 meses, o democrata, na mais ampla acepção do termo, Barak Obama.
Infelizmente, enquanto na América avançam, com sucesso, políticas parecidas com o que na Europa se considerava (e ainda considera nos países nórdicos) social-democracia e democracia-cristã, no velho continente, da Alemanha para baixo, destroem-se o estado social e os direitos dos trabalhadores.     
Em todo o mundo, se o capitalismo e o liberalismo não recuperarem a sua faceta humanista,  o socialismo mais ortodoxo voltará a triunfar por eleições ou de outra forma, na qual o leitor estará a pensar, até porque está  a diminuir a pobreza,  com as suas políticas anti-capitalistas (ver quadro sobre a situação social da Venezuela). Lembram-se da velha frase de Ché Guevara, morto  às ordens da CIA há quase meio século, "temos que construir um, dois, vários Vietnames"?

                                                                SITUAÇÃO SOCIAL VENEZUELANA
                   1999                                                                                                             2012

População: 23   867  000                                                                                          29 718 000
PIB per capita: 3 150 euros                                                                                         8 300 euros
Taxa de desemprego: 14,9%                                                                                                  6,5%
Pobreza extrema: 21,7%                                                                                                      10,7%
Taxa de inflação: 30,1%                                                                                                       20,1%
Dívida pública: 56,4% do PIB                                                                                       29% do PIB
Taxa de analfabetismo: 20%                                                                                                   4,9%
Mortalidade infantil: 20.06/por mil                                                                                         14,78 por mil
Exportações de petróleo: 12 762 milhões de euros                                                53 218 milhões de euros Número de homicídios: 25 por 100 000 habitantes                                       45,1  por 100 0000 habitantes                                                                                                                                                                            
                                       fonte: jornal "Expresso", de 16/3/2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

PALHAÇADAS ELEITORAIS

José António Saraiva, director do jornal oficioso do governo PSD/CDS, "Sol", escreveu no último editorial  daquele semanário, a propósito das recentes eleições italianas, que "a democracia está a tornar-se numa palhaçada".
Como diz uma velha frase, "Deus escreve direito por linhas tortas". A democracia está a transformar-se numa palhaçada, mas não pelos motivos apontados pelo sr. Saraiva, que mostra um sentimento de desespero e derrota pelo facto de os povos não "compreenderem" a  austeridade e os efeitos da globalização.
Tal palhaçada é resultante  dos seguintes factos:
-  a classe política  cada vez se sente e mostra menos responsável perante os seus eleitores e mais seguidista relativamente ao alto capitalismo e suas sociedades secretas, como o grupo de Bildeberg.
- Com aquele objectivo, mente descarada e vilmente durante as campanhas eleitorais, prometendo uma coisa e fazendo o seu oposto. É o triste caso dos partidos componentes do actual governo português, idolatrado de forma dogmática e fanática pelo sr. Saraiva.
- As elites afastam-se da actividade política, sobretudo por aqueles motivos, abrindo o caminho ao controlo da mesma por medíocres e indigentes intelectuais. Num país e numa situação política normais, Pedro Passos Coelho seria primeiro-ministro? O falso licenciado Relvas coordenaria politicamente um governo? Seguro estaria à frente do maior partido da oposição?
- A austeridade não é para todos, mas para os pobres e a classe média, a qual está a desaparecer, principalmente nos países ocupados (assim mesmo, sem aspas) pela troika.
- A globalização tem aumentado as desigualdades e injustiças sociais, empobrecendo a maioria dos cidadãos dos países desenvolvidos, com a deslocalização de empresas para o terceiro mundo.  
Apesar de ter abandonado  o marxismo há quase 28 anos  - e não pretender voltar a endossá-lo, embora considere ter aquela ideologia aspectos positivos deturpados pelos marxistas e marxólogos - a História está a dar razão a Karl Marx quando afirmava: "as eleições em regime capitalista são uma farsa" e  "o desenvolvimento do capitalismo conduz à destruição das classes médias e à concentração de riqueza nas mãos da alta burguesia." Infelizmente, em nome do liberalismo, ideologia que em tempos idos provou o contrário. Perante isto, vale a pena continuar a ser liberal? Vale, pois, ignorando o ultra e o neo-liberalismo e seguindo em frente. Recordamos, a propósito, ter o escritor checo, anti-comunista, Milan Kundera, afirmado, há várias décadas,  ser a esquerda a grande marcha da História e que perante os crimes do comunismo, as pessoas de esquerda deveriam ignorar o mesmo e seguir em frente.
A terminar: José António Saraiva ainda se lembrará de quando escreveu no "Expresso", do qual era director, conduzir o liberalismo defendido, entre outros, por Vitor Cunha Rego (já falecido), Proença de Carvalho ou Maria Elisa Domingues, ao capitalismo selvagem, no que não tinha razão nenhuma? O governo português e os seus patrões (do sr. Saraiva) da angolana Neshwold, ligada ao poder corrupto, despótico  e com cheiro a sangue, de Angola, sediada no Panamá, pelos motivos em que o leitor está a pensar, representarão, por acaso, um capitalismo inteligente e humanista?
Um historiador, de seu nome António José Saraiva, há cerca de 50 anos, era militante do PCP. Álvaro Cunhal encarregou-o EM MOSCOVO de, juntamente com Maria Lamas, escrever um texto para uma conferência, sobre a guerra colonial portuguesa então no início. Cunhal alterou, em grande parte, o que aqueles seus dois camaradas escreveram. António José Saraiva disse não ler aquilo com que não concordava, tendo o secretário-geral do PCP retorquido ser a alteração ao texto por si efectuada a posição oficial do partido.
O historiador abandonou o local da reunião, demitindo-se, de imediato, do partido que serviu quase 30 anos. Onde estiver, o que "pensará" da incoerência, oportunismo e servilismo de seu filho?        

sexta-feira, 8 de março de 2013

O TRONO É DO CHARLATÃO

Em debate realizado na Assembleia da República, o primeiro-ministro afirmou ser contra o aumento do salário mínimo, chegando a dizer que o mesmo deveria diminuir, para aumentar a competitividade da economia, só não o fazendo, à semelhança do governo irlandês, porque no seu país aquele ordenado é muito maior  que o português.
Embora o salário mínimo seja muito mais elevado na Irlanda que em Portugal, o povo irlandês tem perdido muito poder de compra. O desemprego ali registado é elevado (menos que o nosso), mas anteriormente à crise, a Irlanda tinha atingido praticamente o pleno emprego. Nesse tempo, dificilmente se viam "sem abrigo" nas ruas. Hoje, vêem-se imensos. A dívida e o défice daquele país são, respectivamente, de 120% e 8% do PIB. Malhas que a troika tece...
Mas, voltando a Portugal, o nosso (salvo seja) primeiro-ministro entende que quem vive com o mínimo ainda deveria ganhar menos. O ultra-liberal António Borges é da mesma opinião. Para eles, competitividade significa mão de obra barata e terceiro-mundização das relações laborais. Para qualquer verdadeiro social-democrata ou liberal a competitividade assenta em boa formação profissional e mão de obra qualificada.
Porque não disse Passos Coelho barbaridades destas na campanha eleitoral que o conduziu a chefe do governo? Certamente o resultado final seria outro. Como uma vez afirmei por Sócrates, também a Passos Coelho se aplica  a expressão de uma canção de José Mário Branco e Sérgio Godinho, que dá título a este post.

PS: aos que afirmam que uso violência verbal nos meus escritos, fiquem sabendo que a procissão ainda nem chegou ao adro. Mais uma vez, citando Sérgio Godinho, prefiro "estar de mal com outros e de bem comigo". Como diria António Vitorino em outras circunstâncias de tempo e modo, vão-se habituando...

quarta-feira, 6 de março de 2013

QUANDO SE CANTAVA A GRÂNDOLA NA JSD


No final de um congresso da JSD em que participei, em Tróia, no ano de 1988, todos os delegados ao mesmo almoçámos juntos.
Vários delegados entoaram, durante a refeição, canções regionais. Os delegados de Évora, liderados pela presidente da distrital, uma menina morena e muito bonita, começaram a cantar “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, no que foram seguidos por todos nós.
Naquele almoço encontravam-se o actual primeiro-ministro, então vice-presidente da jota laranja, Miguel Relvas, seu secretário-geral, José Cesário, Feliciano Barreiras Duarte e outros membros do governo Passos-Portas.
Quem diria, na altura, que aqueles jovens, considerados consciência de esquerda do PSD, que efectuavam algumas críticas ao cavaquismo em nome da social-democracia, passado um quarto de século fariam parte do governo mais à direita, mais impopular e com menor consciência social após o 25 de Abril? O que faz o perfume do poder e do dinheiro que cada vez mais manda no mesmo !
No passado sábado, dia 2 de Março, a canção utilizada como contra-senha no 25 de Abril foi cantada por mais de um milhão de portugueses que por todo o país e no estrangeiro, tal como no dia 15 de Setembro de 2012, se manifestaram contra a política deste governo e os que se comportam como donos da Europa e do mundo.
A legitimidade social deste governo morreu. E, na política, não existe o milagre da ressurreição. Nas semanas anteriores a 2 de Março, o primeiro-ministro e vários ministros foram vaiados em todo o lado a que se deslocaram. Nem uma viva alma já os aplaude. A própria legitimidade eleitoral do executivo está em causa, apesar de existir uma maioria a apoiá-lo na A.R.. É que a sua acção tem sido o contrário do prometido pelos seus partidos em campanha. Nessa altura, os eleitores do PSD e do CDS foram enganados de forma vergonhosa.
Se, como perguntava recentemente Henrique Monteiro no “Expresso”, ainda existe Presidente da República, o que espera para demitir o actual executivo moribundo e procurar uma outra solução governativa com os partidos parlamentares?