terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

INSOLENTES E DELIRANTES

Paul Krugman, prémio Nobel da economia, considerou, recentemente, os responsáveis europeus insolentes e delirantes, pelo facto de insistirem na austeridade que agrava a recessão, a qual provoca o aumento de falências de empresas, o desemprego e a pobreza, além de não resolver, antes pelo contrário, agravar a situação financeira. É o triste caso do nosso país.
Essa insolência e esse delírio começam a ter respostas dos povos europeus, principalmente nos países que alienaram a sua soberania à troika.
Em Portugal, sempre que um membro do governo surge numa actividade pública, é vaiado e brindado com a canção “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, que foi a contra-senha do 25 de Abril.
Miguel Relvas foi, numa dessas manifestações, impedido de falar, no ISCTE, o que está errado, pois toda a gente tem direito à palavra. Aliás, esta era uma reivindicação da oposição antes do 25 de Abril, mas lá que o governo e especialmente o ministro Relvas se têm posto a jeito para estas demonstrações, pois têm primado pela insolência, lá isso têm.
Nas eleições legislativas italianas efectuadas no domingo passado, os cidadãos também refutaram o delírio e a insolência dos responsáveis nacionais pela situação a que o seu país chegou.
O tecnocrata imposto no governo pelos mercados e as instituições comunitárias registou uma copiosa derrota. Berlusconi perdeu por pouco, mas os italianos demonstraram não o querer de volta ao governo, escolhendo para futuro primeiro-ministro Bersani, líder do Partido Democrático e de uma frente de centro-esquerda. Esperamos que não defraude as esperanças nele depositadas, à semelhança do que fez o socialista Hollande em França. Esperamos também que toda esta contestação e vontade de mudança conduza à alteração das políticas vigentes na UE e ao retorno do capitalismo de rosto humano.
Na Itália, a votação elevada no palhaço Grillo (25%) mostra a desilusão de um largo sector do eleitorado com os políticos tradicionais. No entanto, também se provou de nada valer trocar politiqueiros iguais  aos que governam o nosso país por tecnocratas. Ainda bem.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

MODERAÇÃO E COMPETÊNCIA PRECISAM-SE NO PS

O governo apresentou a "ida aos mercados" como um sucesso. No entanto, logo a seguir, ficámos a saber que a economia decresceu 3,2% no ano transacto, tendo, no mesmo período, a dívida pública atingido  mais de 122% do PIB.  Ou seja, o esforço financeiro, além de destruir a economia, provocar desemprego e destruir a classe média,  de nada está a valer... financeiramente.
O  teórico  "iluminado", de laboratório, Vitor Gaspar, reconheceu mais  um dos seus falhanços. A crer nas suas palavras, em 2013 a economia terá um crescimento negativo de 2% (o dobro do previsto no O.E. para o ano corrente). Assim sendo, este documento ficou ultrapassado e mais austeridade nos espera.
Não admira, pois,  que em todas as sondagens o PS seja o grande vencedor, a esquerda apareça em claríssima maioria e António José Seguro surja como o líder mais popular, enquanto a imagem de Passos Coelho anda pelas ruas da amargura.
Mas será Seguro um líder e futuro primeiro-ministro mais credível que Passos Coelho? Tem feito ataques certeiros à política do governo da direita, mas que ideias, que projecto apresentou que demonstrem vir a aplicar uma política diferente, para melhor, do seu adversário do PSD? As "escolas" de ambos são as mesmas: das jotinhas, caracterizadas por umas ideias soltas e desgarradas umas das outras, bem como uma grande incapacidade para o governo da res publica.
Recentemente, houve uma tentativa de António Costa e apoiantes de José Sócrates para tirar o tapete a Seguro, a qual resultou infrutífera.
António Costa seria um melhor primeiro-ministro que António José Seguro, mas mantém-se agarrado a conceitos desactualizados de socialismo, postos de lado pela generalidade dos partidos socialistas, trabalhistas e sociais-democratas. Quando se aperceberão os socialistas portugueses que mesmo vencendo as próximas autárquicas - facto esperado - terão de apostar, nas próximas legislativas, num moderado e bem preparado para a governação como Francisco Assis ou Luis Amado? Qualquer um deles tem condições para captar os votos do núcleo duro do PS, do eleitorado central e de muitos milhares de verdadeiros sociais-democratas e verdadeiros liberais que ainda acreditam no PSD.      

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

PAPA BENTO XVI RENUNCIA

A notícia  provocou uma grande surpresa no mundo inteiro. O Papa Bento XVI anunciou renunciar ao seu cargo no último dia do corrente mês de Fevereiro. Desde o séc. XV que nenhum sucessor de S. Pedro tomava tal atitude.
Bento XVI afirmou não se sentir com capacidade física para enfrentar os problemas e dificuldades decorrentes do papado. Os escândalos surgidos dentro da Igrega Católica, como a pedofilia e situações pouco ou nada claras dentro do próprio Vaticano, não serão alheios a esta decisão, a qual deveria servir de lição a detentores do poder secular mais novos que o Papa, não por incapacidade física sua, mas por incapacidade intelectual e impreparação para os cargos que exercem.  
O cardeal Joseph Ratzinger foi um dos entusiastas dessa grande revolução na Igreja, que foi o Concílio Vaticano II. Nunca deixou de se manter fiel àquele espírito, contrariamente ao que alguns dizem. Esteve, sim, contra os excessos de  alguns membros do clero que pretendiam misturar a doutrina cristã com o marxismo, como alguns "teólogos da libertação".  
Durante os últimos 8 anos, Bento XVI foi conservador, no sentido de procurar manter as tradições da Igreja. Criticou o relativismo moral e filosófico, herdeiro do racionalismo radical, que corrói as sociedades actuais procurando pôr fim à distinção objectiva entre bem e mal.  Tais ideias levadas à práticas conduzem à amoralidade  na sociedade, em geral,  e na própria economia, onde o "vale tudo", "todas as ideias têm o mesmo valor", "tudo é relativo, nada é objectivo"  estão, em parte, na origem do ressurgimento do capitalismo selvagem. Seria bom que certos relativistas de "esquerda" e ultra-liberais meditassem nesta situação.
O Papa defendeu a síntese entre fé e razão, na senda de vários antecessores seus e dos racionalistas moderados dos séculos XVIII e XIX, como David Hume. Aliás, esses cultores da Razão eram quase todos cristãos, uns católicos, outros protestantes.
Em matéria social, condenou os excessos e a financeirização do capitalismo actual, as desigualdades sociais resultantes dos mesmos e os caminhos da globalização, aconselhando vivamente a regularização da mesma, bem como a sua colocação ao serviço de todos e não só de alguns. Já Cristo afirmava pertencerem os bens da Terra a todos.
Embora  a política e a religião devam estar separadas, estas posições sustentadas  por Bento XVI poderão e deverão servir de referência a todos os que, independentemente da sua ideologia,  lutam por um mundo mais justo, fraterno, solidário e inclusivo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

PORTUGAL, A IRLANDA E A IDA AOS MERCADOS

Após a recente "ida aos mercados",  os governantes portugueses rejubilaram  e afirmaram estar o nosso país mais longe da Grécia e mais próximo da Irlanda. Pois bem, a  dívida pública da Irlanda ronda os 120% do PIB, tal como a nossa. O seu défice orçamental equivale a 8%. 
Antes da crise, a Irlanda registava uma situação de pleno emprego e era o segundo país mais rico da Europa. Hoje, tem um desemprego elevado e um grande número de pobres e sem-abrigo. Sem dúvida que temos muito em comum com a Irlanda!
A Irlanda  antecipou-se a Portugal no recurso "aos mercados".  De pouco lhe está a valer. Lá como cá,  tal decisão apenas aumentou a dívida. No nosso caso, a uma taxa de juro claramente superior à imposta pela troika.
As "ajudas" do FMI, da CE, do BCE ou dos mercados apenas afundam os países e povos que estão em crise. É assim que funciona actualmente o capitalismo, bem como as instituições financeiras e políticas ao seu serviço. Até um dia!...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

OMISSÕES A MAIS

Hoje, foram empossados os novos secretários de estado. Entre estes encontra-se Franquelim Alves, que passará a desempenhar as funções de secretário de estado da Inovação, Empreendedorismo e Competitividade, tendo sido já secretário de estado da Economia no  governo de Durão Barroso.
Nos dados biográficos enviados por Franquelim Alves para a imprensa era omitida a sua passagem pela SLN e o BPN. Compreende-se esta omissão da verdade...
No entanto, o novo ajudante de Álvaro Santos Pereira também "esqueceu" que a sua actividade política começou no MRPP e na sua organização estudantil, a FEML (Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas), antes do 25 de Abril, quando era estudante no ISE, actual ISEG.
No II Congresso do PCTP/MRPP, realizado em Junho de 1980, Franquelim Alves foi eleito para o seu Comité Central. Desempenhava, na época, as funções de responsável da organização para a imprensa  e chefe de redacção do "Luta Popular", jornal do partido. Decorridos talvez dois anos, foi afastado do Comité Central, passando a militante de base. Mais tarde abandonou o PCTP/MRPP.
Ao tempo, era eu colaborador do "Luta Popular", tendo contactado com Franquelim Alves várias vezes. Recordo-me  que o último director do órgão oficial do partido com quem trabalhou foi Leopoldo Mesquita, seu antigo colega no ISE e primo do militante do CDS Adolfo Mesquita Nunes, agora também empossado secretário de estado (do turismo), e que passará a trabalhar com Franquelim Alves no Ministério da Economia.
Porque omites o teu passado político e a luta que travaste contra a ditadura, Franquelim? Este comportamento começa a ser hábito entre os antigos esquerdistas que fazem parte do actual governo. Também o ministro da Educação, Nuno Crato, tem fugido como o diabo da cruz a referir-se ao seu passado no PCP(m-l), no CMLP, no PUP e no PCP(R)/UDP. Como o secretário de estado da Inovação, esteve envolvido na luta anti-ditatorial e anti-colonial, tendo passado pela clandestinidade.
Dado o carácter político e ideológico do governo de que fazeis parte, também se compreende por que omitis o vosso passado de luta num tempo em que todos nós, revolucionários de extrema-esquerda da altura,  actuámos com boas intenções, embora animados por ideologismos errados.
O vosso comportamento e a vossa participação no governo de Passos Coelho mostram estardes de acordo com o actual PREC de direita, negador de direitos sociais fundamentais, cavador de maiores desigualdades e do aumento da pobreza e da miséria. A vossa consciência social acabou. Que o poder vos faça bom proveito. É lamentável terdes deixado de ser vós próprios.