A notícia provocou uma grande surpresa no mundo inteiro. O Papa Bento XVI anunciou renunciar ao seu cargo no último dia do corrente mês de Fevereiro. Desde o séc. XV que nenhum sucessor de S. Pedro tomava tal atitude.
Bento XVI afirmou não se sentir com capacidade física para enfrentar os problemas e dificuldades decorrentes do papado. Os escândalos surgidos dentro da Igrega Católica, como a pedofilia e situações pouco ou nada claras dentro do próprio Vaticano, não serão alheios a esta decisão, a qual deveria servir de lição a detentores do poder secular mais novos que o Papa, não por incapacidade física sua, mas por incapacidade intelectual e impreparação para os cargos que exercem.
O cardeal Joseph Ratzinger foi um dos entusiastas dessa grande revolução na Igreja, que foi o Concílio Vaticano II. Nunca deixou de se manter fiel àquele espírito, contrariamente ao que alguns dizem. Esteve, sim, contra os excessos de alguns membros do clero que pretendiam misturar a doutrina cristã com o marxismo, como alguns "teólogos da libertação".
Durante os últimos 8 anos, Bento XVI foi conservador, no sentido de procurar manter as tradições da Igreja. Criticou o relativismo moral e filosófico, herdeiro do racionalismo radical, que corrói as sociedades actuais procurando pôr fim à distinção objectiva entre bem e mal. Tais ideias levadas à práticas conduzem à amoralidade na sociedade, em geral, e na própria economia, onde o "vale tudo", "todas as ideias têm o mesmo valor", "tudo é relativo, nada é objectivo" estão, em parte, na origem do ressurgimento do capitalismo selvagem. Seria bom que certos relativistas de "esquerda" e ultra-liberais meditassem nesta situação.
O Papa defendeu a síntese entre fé e razão, na senda de vários antecessores seus e dos racionalistas moderados dos séculos XVIII e XIX, como David Hume. Aliás, esses cultores da Razão eram quase todos cristãos, uns católicos, outros protestantes.
Em matéria social, condenou os excessos e a financeirização do capitalismo actual, as desigualdades sociais resultantes dos mesmos e os caminhos da globalização, aconselhando vivamente a regularização da mesma, bem como a sua colocação ao serviço de todos e não só de alguns. Já Cristo afirmava pertencerem os bens da Terra a todos.
Embora a política e a religião devam estar separadas, estas posições sustentadas por Bento XVI poderão e deverão servir de referência a todos os que, independentemente da sua ideologia, lutam por um mundo mais justo, fraterno, solidário e inclusivo.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
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