quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A FELICIDADE É UM ESTADO DE ALMA INDIVIDUAL

Quantas vezes o leitor já ouviu a expressão: "em que é que isso contribui para a nossa felicidade?". Normalmente, tal expressão é pronunciada por pessoas culturalmente limitadas, as quais desconhecem ser a felicidade um estado de alma individual e não colectivo. O que faz um ser humano feliz poderá fazer outro infeliz ou ser indiferente para uma ou mais pessoas.
As utopias da felicidade colectiva conduziram a grandes infelicidades e assassinatos em massa. O "paraíso" prometido pelos mentores dessas utopias tornou-se um inferno. Um seu antigo seguidor, ainda que por pouco tempo, de seu nome Pedro Passos Coelho, que, como estamos em época natalícia, certamente para expiação dos nossos pecados, continua a ser primeiro-ministro deste país, talvez ainda influenciado pelo finalismo histórico marxista, disse na mensagem dirigida aos portugueses, precisamente no dia de Natal, que o futuro "nos reserva dias felizes".
Como liberal que diz ser, embora o "liberalismo" moderno já não seja o que era, devia saber que o aumento de impostos previsto para 2013 afastará investimentos, liquidará muitas pequenas e médias empresas, aumentará o desemprego e, como se tem visto pela mesma receita aplicada em 2011 e 2012, ainda agravará mais a situação financeira nacional.
A única "felicidade" esperada desta situação é a que antigamente falava do "português pobrete, mas alegrete". É esse o caminho que nos espera se o actual govermo não fôr demitido e não se mudar de política, apostando na baixa dos impostos e em incentivos fiscais, com vista ao aumento do investimento e ao desafogo das pequenas e médias empresas, acompanhada de um corte efectivo das gorduras do Estado e na reforma do Estado Social, passando o acesso à saúde e ao ensino a ser pago de acordo com os rendimentos de cada família, permanecendo, no entanto, gratuito para quem tem rendimentos baixos. Obviamente, as despesas referentes àquelas prestações deverão ser deduzidas em termos fiscais.
Na segurança social, a partir dos ordenados superiores a 5 ou 6 salários mínimos, por exemplo, deverá ser concedida liberdade de escolha ao utente para optar, em regime de capitalização, pelo desconto para os sistemas público, privado, cooperativo ou social.
Também na saúde e no ensino, através do cheque-saúde ou cheque-educação, deverá ser garantida idêntica liberdade para escolherem os estabelecimentos de saúde e as escolas públicos ou privados a todos os utentes, para que o acesso a estes últimos deixe de ser um privilégio dos ricos.
Isto é o verdadeiro liberalismo. A política passista-portista não é liberal, social-democrata ou democrata-cristã, mas uma operação de subtracção de riqueza de quem tem pouco ou é remediado para os que têm muito. Desta forma, como nas utopias em que Passos Coelho acreditou nos seus verdes anos, teremos poucos portugueses felizes e a maioria dos seus conterrâneos a viver como (ou ainda pior) há 50 ou 60 anos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

BOAS FESTAS

O Natal está próximo. Sobre esta data festiva publicamos um poema de Fernando Pessoa.
A todos os colaboradores e leitores deste blogue apresentamos votos de um Feliz Natal e um bom Ano Novo, pelo menos no tocante a saúde, porque quanto ao resto, vamos de mal a pior, como poderemos constatar em 2013.

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade !
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei !

Fernando Pessoa

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

DESTACADO DIRIGENTE SENDERISTA CONVERTE-SE À DEMOCRACIA PARLAMENTAR

Óscar Ramirez, o “camarada Feliciano”, antigo dirigente e líder após a prisão de Abimael Guzzman (Gonzalo), do Partido Comunista do Perú (PCP), mais conhecido por Sendero Luminoso, converteu-se na prisão à democracia parlamentar.
Óscar Ramirez, actualmente com 59 anos, é filho de um general do exército peruano na reserva. Dotado de rara inteligência e nível intelectual, foi um excelente aluno desde o ensino básico até à universidade. Nesta, estudou engenharia, tendo abandonado o curso, nos primeiros anos, no início da década de 70, para se tornar revolucionário profissional, segundo o conceito leninista da expressão. Deixou a mulher e quatro filhos. Antes de romper com o ambiente em que vivia disse ao seu pai: ”tem que haver uma revolução no Perú. O pai está com as forças da repressão.” Então, o general respondeu: “se um dia nos encontrarmos num campo de batalha, dispara primeiro, que eu não tenho coragem de atirar em ti, que és meu filho”.
Posteriormente, veio a ser um dos principais dirigentes do PCP e da guerrilha dirigida pelo mesmo.
Quando Abimael Guzzman e a maioria dos membros do Comité Central (CC) do partido foram presos, em 1992, foi constituída uma nova direcção da organização, que passou a ter como presidente precisamente Óscar Ramirez (Feliciano). A sua nova companheira, Margie Calvo Peralta (Nancy) passou também a ser uma das principais responsáveis da guerrilha maoista peruana.
Enquanto da prisão, Abimael Guzzman, a sua companheira, Elena Iparraguirre (Miriam) e outros dirigentes senderistas escreviam uma carta ao então presidente Fujimori, a propôr conversações de paz, os seguidores do presidente Feliciano recusaram abdicar da luta armada, afirmando ser a carta referida “uma patranha” do ditador mais tarde demitido por crimes contra a humanidade e por roubar.
Em 1999, Feliciano é também preso. Na cadeia, passou a defender um acordo de paz, à semelhança dos seus camaradas antes detidos.
No julgamento dos dirigentes senderistas realizado já em democracia, Feliciano foi condenado numa pena de 24 anos de prisão. Esta foi uma das penas mais leves. Gonzalo, Miriam e outros membros do CC foram condenados a prisão perpétua.
A pena aplicada ao segundo líder do PCP deveu-se à sua colaboração com o Tribunal e à denúncia que fez das atrocidades ordenadas por Abimael Guzzman e a sua cara metade.
Na prisão, concedeu uma entrevista, na qual afirmou ter abandonado o Partido Comunista do Perú, defendeu o fim da violência revolucionária, propondo-se servir de interlocutor entre as autoridades e os seus ex-camaradas, autocriticou-se por ter dirigido uma guerrilha responsável por cerca de 25 000 mortes, considerando não ser esse o caminho para uma sociedade mais justa, mas a via democrática e eleitoral. Disse ainda serem Abimael Guzzman, Elena Iparraguirre e a primeira mulher da “quarta espada do marxismo-leninismo-maoismo”, Augusta de la Torre (Norah), uns psicopatas estalinistas e assassinos.
Nessa entrevista afirmou ainda a sua conversão à democracia parlamentar, citando uma frase de Churchill: “a democracia é o pior dos sistemas, com excepção de todos os outros”.
Um histórico do Sendero, que chegou a ser seu líder, concluiu ter falhado a revolução comunista-maoista no Perú, país onde a maioria da população é pobre ou miserável. Não pensem os maoistas da nossa praça, do PCTP/MRPP, os seus dissidentes do Círculo Revolucionário/Bandeira Vermelha/Página Vermelha, ou da UCR (União Comunista Revolucionária), os quais já estarão a ranger os dentes e a apelidar Óscar Ramirez de traidor, renegado, oportunista, etc, que apesar das injustiças praticadas pelos actuais governantes, serventuários da pior face do capitalismo, o poder lhes cairá nas mãos, dando lugar à constituição de “um governo de esquerda democrático patriótico”, como afirma a propaganda do primeiro destes partidos.
Que o governo Passos/Portas tem os pés para a cova é um facto. Muito provavelmente não cumprirá a presente legislatura, mas a alternativa a esta política inserir-se-á nas novas ideias do vosso e meu ex-camarada Feliciano.

PS: Sir Karl Popper, um comunista convertido ao liberalismo, afirmou um dia: “todo o esquerdista é um liberal em potência”. Se hoje cá estivesse, condenaria, certamente, os falsos liberais nacionais e estrangeiros que tantos estragos causam à ideologia que afirmam defender.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

OS IMITADORES DO NAZI GOERING

No meio da mediocridade e imbecilização televisivas, sempre convenientes a detentores do poder que estão para a Política como a música pimba para a Música, o canal 2 da RTP tem primado por uma qualidade acentuada. Um dos seus melhores programas é "Câmara Clara".
Aquele programa vai acabar. Ao seu fim não é certamente alheia a tutela do licenciado de farinha amparo, como disse um dia o seu companheiro Marcelo Rebelo de Sousa por José Sócrates, Miguel Relvas, pessoa que nunca mostrou qualquer formação cultural e intelectual, tal como o seu chefe de governo, que até inventa obras de Sarte, que o autor de "Náusea" nunca publicou.
Estes tipos, além de falta de sensibilidade social, têm desprezo pela cultura e pelos intelectuais. Apesar das distâncias político- ideológicas,  fazem lembrar o ministro nazi da Defesa, Goering, que afirmava: "quando ouço falar de cultura, apetece-me puxar da pistola". Há uns possuidores de mentes retrógradas na nossa região que, ainda que por outras palavras, dizem o mesmo que aquele servidor da besta nazi.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ELES NÃO SE ENTENDEM? OBVIAMENTE DEMITAM-SE

O governo  é cada vez mais um poço de contradições, ilusões e mentiras.
O ministro da Economia afirma ser necessário apostar no investimento e no crescimento, pois apenas austeridade conduz à recessão. Chegou tarde a esta conclusão, mas mais vale tarde que nunca. De seguida, em entrevista televisiva, o primeiro-ministro diz que o país não pode afastar-se da austeridade. Quanto ao crescimento, aos costumes disse nada.
Na mesma entrevista, Passos Coelho insinuou que os portugueses teriam que passar a pagar propinas pelos estudos dos seus filhos no ensino secundário, agora obrigatório. Tal não acontece em nenhum outro país da UE. Logo, vem o ministro Crato afirmar que a gratuitidade daquele ensino não está em causa.
O CDS está claramente com um pé dentro e outro fora do governo.
O "guru" da economia e finanças, fracassado nos objectivos que propôs, insistindo, no entanto, no mesmo método, Vitor Gaspar, aproveitou o recente benefício concedido à Grécia para reclamar o mesmo para Portugal, no parlamento. Bastou que os ministros das Finanças da Alemanha e da França dissessem não serem tais benefícios extensivos ao nosso país e à Irlanda - afinal, Durão Barroso e Van Rompuy não riscam mesmo nada na UE - para Gaspar recuar, dando-lhes razão, abdicando de defender o interesse nacional e dizer que não disse o que disse. Foi tudo má interpretação da comunicação social...
Nem no governo de Santana Lopes, de má memória, se viu tanto desentendimento, mediocridade, incompetência e aldrabice mental. Se eles não se entendem e, cantando e rindo, prejudicam o país e os seus cidadãos, obviamente demitam-se.
Substitua-se esta gente por um governo de salvação nacional, constituido pelos partidos do arco constitucional e/ou independentes. Há no PSD pessoas competentes e preparadas para um melhor desempenho  governamental, que poderão encabeçar esse governo.
Passos Coelho, como também dizia Humberto Delgado, na sua campanha para Presidente da República, em 1958, a propósito de Salazar e seus sequazes, "cansou-nos! Reforme-se!".

PS:  passam hoje 32 anos sobre a morte de Sá Carneiro, Amaro da Costa e seus acompanhantes, em Camarate. No ano passado, o PSD e o CDS mandaram celebrar uma missa pelos então falecidos, na qual participaram Passos Coelho, Paulo Portas, diversos responsáveis dos seus partidos e muitos socialistas. Creio que o próprio Mário Soares, mesmo não sendo crente, participou na liturgia. Hoje, que haja conhecimento, não decorrerá qualquer homenagem nacional àqueles democratas e patriotas. Este comportamento dos partidos governamentais mostra não acreditarem na social democracia e na democracia cristã defendidas por aqueles Homens. Por outro lado, ainda bem que assim procedem, pois os principais defensores do pior que o capitalismo tem homenagearem-nos seria um insulto à sua memória.   

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CAVACO P.R. VERSUS CAVACO P.M.

Recentemente, o Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou que nos devemos voltar novamente para o mar, a agricultura e a indústria, corrigindo assim erros das últimas décadas.
Aquela afirmação, além de visar todos os governos e respectivos primeiros-ministros daquele período de tempo, fá-lo especialmente em relação ao primeiro-ministro homónimo do P.R.. Foi nos primeiros anos da década de 90 do século anterior que esse senhor e o seu governo pagaram a agricultores para abandonarem as suas terras, diminuiram a actividade pesqueira e liquidaram parte considerável da indústria, por incapacidade sua de defesa daqueles sectores junto da UE.
Os produtos fabricados por tais sectores passaram a ser comprados aos países comunitários mais ricos como a França, a Espanha ou a Alemanha. Em consequência, Portugal endividou-se.
Assim teve início o elevado endividamento que provocou a presente crise.
Dir-se-á que desde o início do cavaquismo e até aí a economia cresceu consideravelmente, o desemprego baixou e o nível de vida melhorou. Pudera! Após a significativa melhoria da situação financeira conseguida durante o governo do bloco central, seguida da vinda de dinheiro a rodos da então CEE – até para onde não devia-  a baixa do dólar e do preço do petróleo, até o rato Mickey seria um bom primeiro-ministro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

GREVE GERAL FOI UM SUCESSO

A greve geral convocada pela CGTP e ocorrida ontem teve uma enorme adesão, especialmente entre os trabalhadores do sector público, mas também junto de muitos trabalhadores de empresas privadas.
Mais uma vez ficou demonstrado nos locais de trabalho e na rua o repúdio pela política de Passos Coelho e Paulo Portas. Os números conhecidos no dia da greve sobre o desemprego (quase 900 000 trabalhadores, segundo o INE, e 1 400 000 - 23% da população activa - contabilizando os sub-empregados e quem não tem procurado trabalho nas últimas 4 semanas, de acordo com a edição de hoje do jornal “Correia da Manhã”), uma queda do PIB de quase 4% até esta altura do ano e de 1,6%, segundo as previsões oficiais, no próximo ano, o empobrecimento geral da população, justificam esta elevada participação na greve.
Em outros países europeus, decorreram outras greves gerais com muita adesão e alguns confrontos entre grevistas e polícias.
Estas greves devem constituir uma chamada à razão das instituições europeias e vários governos nacionais para pararem com a actual política de excessiva austeridade, sem qualquer preocupação social, a qual destroi as economias, agrava o fosso entre ricos e pobres, bem como está a levar ao desaparecimento das classes médias.
Após a manifestação que culminou a greve, entre o Rossio e S. Bento, houve graves confrontos entre a polícia e inúmeras pessoas junto ao parlamento.
Apenas uma minoria dos participantes naquela manifestação permaneceram no local provocando e agredindo agentes da autoridade, os quais tiveram necessidade de recorrer à força para pôr fim aos distúrbios.
Aquela gente sujou (é o termo apropriado) a greve. A sua actuação é típica de uma certa extrema-esquerda e dos anarquistas. Recordo, aliás, que o terrorismo político moderno tem origem em organizações anarquistas do século XIX, influenciadas pelo chamado “catecismo revolucionário” de Netchaiev, um revolucionário russo que viveu no século XVIII.
Uma das acções mais conhecidas dos “anarcas”, no séc. XIX, foi o lançamento de uma bomba para o interior de um café, em Paris, provocando a morte a mais de 100 pessoas. Na altura, o autor da “façanha” afirmou: “ninguém é inocente!”
Em toda a Europa, mas principalmente nos países em dificuldade, as forças extremistas de direita e de esquerda tem avançado consideravelmente, obtendo apoio de sectores importantes das populações, especialmente de jovens, em desespero. Tal facto deve conduzir à reflexão sobre as políticas erradas praticadas no âmbito da UE, no plano económico-financeiro e no avanço do federalismo, repudiado pelos povos, por parte dos políticos defensores da democracia, da liberdade e dos direitos humanos, estejam no poder ou na oposição.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

OS AMERICANOS NÃO QUEREM A DIREITA NO PODER

Obama venceu as eleições presidenciais americanas. O candidato da direita, Mitt Romney, foi derrotado.
A pátria, por excelência, do capitalismo e do liberalismo económico  reelegeu  o candidato  a Presidente mais à esquerda.
Nos últimos 4 anos, Barak Obama manteve a economia de mercado, mas acompanhada de uma componente social. Criou o seguro de saúde obrigatório para todos os  americanos. Para o presidente agora reeleito, o american way of life também deve passar pela solidariedade e o equilíbrio social. Esse é também o entender da maioria dos seus compatriotas que o elegeu, repudiando o egoismo de uma certa América.
Romney acenou com a baixa de impostos para os mais ricos, afirmando ser a forma de criar postos de trabalho. No entanto, para aquela baixa ser possível, o mormon pretendia acabar com direitos e regalias sociais alcançados pelos pobres e as camadas médias da população desde 2008, agravando as desigualdades e aumentando a pobreza, à semelhança do que fazem os seus pares da nova direita europeia como Angela Merkel, Mariano Rajoy,  David Cameron ou o "nosso" Pedro Passos Coelho.
O conservadorismo dos republicanos atingiu aspectos pitorescos, dos quais destacamos a afirmação de um seu responsável próximo de Mitt Romney, segundo a qual a gravidez de uma mulher violada constitui uma vontade de Deus, pelo que nem numa situação destas o aborto deverá ser legal. 
Na véspera das eleições americanas, Pires de Lima, gestor, democrata-cristão e defensor do liberalismo social, alto responsável do CDS, afirmou no 2º canal da RTP estar o Partido Republicano a seguir uma via ultra-conservadora, pelo que desejava também a vitória de Obama.
Que este resultado constitui uma decepção para a nova direita na Europa e no resto do planeta, não temos dúvidas. É um alento para a esquerda? Não é certamente para a esquerda comunista, esquerdista, no sentido leninista do termo, e socialista estatista. Mas vem dar novo ânimo à esquerda liberal, defensora da terceira via dentro dos partidos socialistas e sociais-democratas.
Na actual situação de crise, a única alternativa viável de esquerda passa pela defesa do regresso do capitalismo de rosto humano e do liberalismo social.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O JARDINISMO CHEGOU AO FIM

Após uma vitória - que pode considerar-se com sabor a derrota - nas últimas eleições regionais da Madeira, em que o seu partido manteve a maioria no parlamento por uma pequena margem, recentemente Alberto João Jardim foi eleito líder do PSD naquela região por uma percentagem de 51% de votos, mais 83 que os obtidos pelo seu adversário, Miguel Albuquerque.
Jardim fez obra na Madeira. Disso ninguém duvida. Mas, uma boa parte da mesma foi feita com os impostos de todos nós, até porque poucos governantes continentais tinham coragem  de o enfrentar.
O seu poder caracteriza-se também por perseguição aos adversários. Empresas  independentes relativamente ao poder  são quase inexistentes. Tudo está submetido  ao "Sr. Presidente". O ambiente naquele arquipélago é pouco ou nada  respirável, não sendo excessivo falar em défice democrático na região.
Pela primeira vez,  alguém no PSD (Miguel Albuquerque e os seus companheiros de lista) ousou enfrentar  o caciquismo local, logrando obter 49% de votos, ficando muito próximo da vitória.
O poder de Jardim está a acabar. Também na Madeira irá haver uma verdadeira democracia. Estão de parabens Miguel Albuquerque e quem corajosamente o apoiou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O GOVERNO QUER FUGIR?

A receita encontrada pelo actual governo para combater o défice e a dívida pública, assente essencialmente no aumento das receitas (leia-se impostos), falhou. No próximo ano, no entanto, insiste na mesma utopia, no pior sentido da expressão.
Em 2014,  Passos Coelho e os seus mestres Vitor Gaspar e  António Borges pretendem  cortar 4 000 milhões de euros nas despesas,  "refundando o memorando da troika", na linguagem cada vez mais  exotérica do primeiro-ministro.
Aquela "refundação" consiste no co-pagamento pelos cidadãos da prestação de cuidados de saúde ou educação, reforma da segurança social e privatização de funções actuais do Estado.
O Estado Social deve ser reformado e quem pode deverá pagar as respectivas prestações mediante os seus rendimentos, sem prejuizo de  as mesmas serem  asseguradas gratuitamente a quem  não  as pode suportar. Esta deveria ser a política do governo desde a sua posse - o que foi prometido em campanha eleitoral  pelos partidos que o constituem, especialmente pelo  partido dito social-democrata. Mas o que o governo fez  foi começar pelo lado mais fácil: aumentar os impostos. E ainda se dizem eles liberais...
Dir-se-ia ter o governo feito "mea culpa", cortando, dentro de um ano, nas despesas "a sério". No entanto, tudo tem o seu tempo e o seu modo. Para os verdadeiros liberais, os co-pagamentos por quem pode nas prestações sociais só se justificam perante a diminuição da carga fiscal. Não há nada no discurso passista-portista que aponte nesse sentido. Ou seja, além do aumento brutal da carga fiscal, a classe média ainda suportaria o aumento de encargos com a saúde ou a educação. Os mais ricos pouco ou nada se importam com o pagamento de tais encargos, pois, tendo ou não seguros de saúde, recorrem, de um modo geral, à medicina privada, bem como a escolas particulares.
Mais uma vez o governo PSD/CDS mostra o seu carácter de classe. Mas, para o pôr em prática nas políticas em apreço, tem que ser revista a Constituição da República. Daí o convite envenenado ao PS para tal efeito, o qual, de forma inteligente, o rejeitou. Diz, entretanto, o governo, avançar naquela aventura mesmo sem apoio dos socialistas. Certamente sabe ser a generalidade das suas propostas reprovadas pelo Tribunal Constitucional (TC). Estaremos perante um gesto maquivélico do executivo para fugir à sua responsabilidade, dizendo, posteriormente, não ter condições para governar por culpa do PS e do TC, abandonando, consequentemente, o barco que mais parece o Titanic?  O futuro o dirá, provavelmente mais depressa do que muito boa gente pensa.  
   

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A OPÇÃO DE CLASSE DO GOVERNO

"Opção de classe" é uma terminologia tipicamente marxista e significa "opção pelo proletariado", "pela classe operária e demais trabalhadores", na luta de classes que, segundo aquela ideologia, conduzirá à sociedade sem classes: o comunismo.
Recentemente, o democrata-cristão que integrou a direita na democracia no pós-25 de Abril, Diogo Freitas do Amaral, afirmou ser a "nova luta de classes uma luta dos ricos contra os pobres". Mais dizia assentar tal luta nas ideias liberais postas em prática por Reagan e Thatcher desde há mais de 30 anos.
Discordo da segunda parte da sua opinião, pois aquelas políticas, ao defenderem a promoção segundo o mérito de cada um, conjugado com a igualdade de oportunidades e a liberdade de escolha que lhe é intrínseca, fez baixar o desemprego, melhorar o nível de vida dos mais desfavorecidos e das classes médias, embora também dos ricos, em consequência, essencialmente, do crescimento do poder de compra daqueles e da baixa dos impostos.
Só que, a baixa das contribuições não foi apenas para o factor capital, mas também para os trabalhadores. Recordo que na Grã-Bretanha e nos EUA, naquele tempo, a classe média cresceu consideravelmente, tornando-se amplamente maioritária.
Já quanto à primeira parte da opinião do Prof. Freitas do Amaral, estou inteiramente de acordo. Só que, os pseudo-liberais que dominam o mundo, nos quais se incluem Passos Coelho e o PSD, em nome do liberalismo aplicam uma política de direita nada liberal. Aumentam os impostos, especialmente sobre as classes médias, as quais se estão a proletarizar, como previa Karl Marx há 150 anos, e tornam os pobres miseráveis. Onde está a diminuição do peso do Estado? Onde está a definição das funções do Estado? Com a tripla Passos-Gaspar-Portas passámos a ter mais estado e pior estado, ao contrário de um slogan de Cavaco, de meados dos anos 80 do século passado, o qual não era nem é liberal.
O autêntico liberalismo implica o inter-classismo e a ascenção social dos "de baixo". Se quisermos utilizar uma linguagem marxista, contrariamente à proletarização da burguesia defendida pelos comunistas, os verdadeiros liberais opõem o aburguesamento do proletariado. Leia-se atentamente os clássicos do liberalismo e veja-se se são ou não estas as ideias plasmadas nas suas obras.
Que o PSD e o CDS têm uma política de classe a favor dos "de cima" e de empobrecimento dos "de baixo" já muita gente tinha concluido. A proposta da baixa do IRC, nos termos em que é feita, só o vem confirmar. Fala "o Álvaro" na "mais baixa taxa de IRC da UE", a taxa única de 10%, relativa àquele imposto. Mas para quem? Apenas para empresas que efectuem investimentos muito elevados, não para os pequenos e médios industriais e comerciantes, os quais continuariam a pagar as quantias elevadas actualmente suportadas. Tal conduziria ao desaparecimento das pequenas e médias empresas, que constituem mais de 90% das empresas nacionais, ficando a economia na mão dos "grandes" nacionais e estrangeiros, enquanto todos os demais cidadãos continuariam condenados à pobreza e a todo o cortejo de humilhações caracterizadoras da mesma.
Em vários países da Europa, especialmente no leste, existem taxas fiscais únicas baixas, mas para todos os empresários e trabalhadores. Desta forma mantém-se a progressividade fiscal (quem mais ganha mais paga) e atrai-se investimento, criando riqueza e emprego.
Se dúvidas existiam, esta proposta dissipou-as de vez: a opção de classe dos partidos governamentais é apenas e só pelos ricos, contra os pobres e remediados. Nada tem de social-democrata, democrata-cristã ou liberal clássica. Insere-se na política de uma nova direita reaccionária e pseudo-liberal contra a qual há que desencadear uma luta sem tréguas, não, na opinião do autor destas linhas, em defesa de socialismos ultrapassados e falidos, mas na promoção de um capitalismo de rosto humano, controlado pelo poder emanado da vontade popular. A propósito, o governo Coelho/Portas, por ter colocado em prática uma política muito diferente da prometida em campanha pelo PSD e o CDS, deveria ser imediatamente demitido, pois enganou e traiu os portugueses.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O MINISTRO DA PROPAGANDA


Em debate realizado ontem na A.R., o deputado do PCP Honório Novo apelidou Álvaro Santos Pereira de ministro da propaganda.
O ministro da propaganda mais conhecido no século XX foi Goebels, do governo de Hitler, na Alemanha nazi.
Goebels dizia que “uma mentira suficientemente repetida passa a ser verdade”. Nesse aspecto, o actual governo, bem como, infelizmente, boa parte dos governos e políticos das próprias democracias, parecem ter aprendido tal lição daquele dirigente nazi. No entanto, compará-los politicamente, incluindo “o Álvaro”, com Goebels, é absurdo, pois seria relativizar a barbárie nazi de má memória. Recordamos que aquele ministro de Hitler, ao ver a vitória inequívoca dos aliados na II grande guerra mundial, suicidou-se, assim como a sua mulher, e matou, por envenenamento, as crianças suas filhas.
Álvaro Santos Pereira e Goebels têm um aspecto comum: serem professores universitários, de profissão. No entanto, o Prof. Doutor Santos Pereira não tem o nível intelectual do Prof. Doutor Goebels, o qual era um sobredotado genial ao serviço do mal.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O ANTICICLONE AÇOREANO

O anticiclone eleitoral registado no passado domingo nos Açores, além de uma grande vitória para o PS, ao fim de muitos anos de poder, constituiu uma derrota de consideráveis proporções para os partidos do governo nacional, especialmente o PSD, o que, aliás, foi reconhecido pelo seu líder e primeiro-ministro.
De nada valeu a candidata”social democrata” Berta Cabral distanciar-se do governo central. Nada ajudaram as visitas de Moreira da Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, ou Paulo Portas, aos Açores, pelo que esta derrota também é deles.
Se este governo está cada vez mais isolado da sociedade, Passos Coelho e Vítor Gaspar estão isolados no governo, como se pôde constatar por notícias relativas às prolongadas reuniões do Conselho de Ministros aquando da discussão da aprovação do Orçamento Geral de Estado para 2013.
Nesta situação de crise económica, financeira, social e, agora, sobretudo política, usando uma linguagem popular, o governo “deu o que tinha a dar” (tirar, já tirou demais). Impõe-se o seu fim e a constituição de um governo de salvação nacional, partidário ou constituído por independentes, com óbvio suporte parlamentar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

12 DE OUTUBRO

Passam hoje 40 anos sobre o assassinato do estudante José António Ribeiro Santos pela PIDE, a polícia política do regime reaccionário da época, no então ISE, actual ISEG.
José António Ribeiro Santos era estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, militava no MRPP e na sua organização estudantil, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML).
Decorria um "meeting" contra a guerra colonial no ISE. Um indivíduo suspeito de pertencer à PIDE tirava apontamentos dos cartazes afixados. Quando os estudantes se preparavam para lhe dar o justo correctivo, o presidente da Associação de Estudantes da escola, Pedro Aranda, militante do PCP e da UEC, teve a "brilhante" ideia de chamar a PIDE para confirmar se o tipo em causa pertencia aos seus quadros. Quando os agentes da PIDE chegam há confrontos. Um dos pides assassina, a tiro, Ribeiro Santos e fere numa perna José Lamego, hoje militante do PS, que após o 25 de Abril, ainda ligado ao MRPP, foi professor na Escola Emídio Navarro, em Viseu, tendo-se deslocado por diversas vezes a S. Pedro do Sul.
O funeral de Ribeiro Santos foi uma enorme manifestação contra o regime, que deixava cair a máscara da "liberalização", apesar da violência policial, que levou à agressão e prisão de inúmeras pessoas, especialmente jovens.
A morte de Ribeiro Santos provocou uma grande onda de contestação nas escolas e em muitos locais de trabalho.
No madrugada do dia 9 de Outubro de 1975, no Terreiro do Paço, um grupo de 6 militantes do MRPP colava cartazes ilustrativos de um comício que no seguinte dia 12 comemorava precisamente o 3º aniversário do homicídio de Ribeiro Santos. Um bando de 60 membros da UDP, força hoje integrante do Bloco de Esquerda (BE) atacou aquele grupo, com barras de ferro e paus, tendo lançado vários elementos do MRPP ao Tejo. Entre eles estava Alexandrino de Sousa, também estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, dirigente da FEML e director do seu jornal, "Guarda Vermelha", que foi selvaticamente agredido pelos UDPs, os quais bateram com a sua cabeça no chão e nas paredes, lançando-o ao rio, tendo conhecimento de que não sabia nadar, assim provocando a sua morte.
Em comício da UDP realizado no mesmo dia, o seu "pai", Francisco Martins Rodrigues, vangloriou-se da morte do jovem Alexandrino de Sousa. Com a mesma valentia com que ajoelhou aos pés da PIDE, denunciando e permitindo a captura de diversos camaradas por si dirigidos no Comité Marxista-Leninista Português (CMLP), em meados dos anos 60. A traição de Martins Rodrigues na PIDE levou a que o mesmo ficasse conhecido como Chico Bufo.
Quando Ribeiro Santos foi assassinado era eu criança. Creio só ter ouvido falar dele após o 25 de Abril. Em Outubro de 1975, com 16 anos, era um activista do MRPP e da FEML. Ouvi falar de Alexandrino de Sousa, mas nunca tive a honra de o conhecer, como aconteceu com José Lamego, acima mencionado.
Hoje, penso terem Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa morrido heroicamente, plenos de generosidade, e com esperança numa sociedade justa e fraterna. No entanto, os seus ideais - e meus, à época - mostraram-se errados e injustos.
Quando a pior faceta do capitalismo domina o mundo, e muito especialmente o nosso país, entregue a incompetentes, seguidores de tal faceta, provocando a destruição da classe média e a miséria dos pobres, o desemprego, na realidade superior a um milhão de trabalhadores, entre os quais se encontram mais de um terço dos jovens, há que seguir o exemplo de luta abnegada de Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa contra esta situação. Sem luta nada se consegue. Mas, a ideologia a que aqueles mártires aderiram não é boa solução. Conduz também a ditadura. Tal luta deverá ser travada dentro dos limites do regime democrático e parlamentar.
Não vou especular sobre se Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa, caso fossem vivos, estariam ou não no PCTP/MRPP. Para essa especulação não há, obviamente, resposta. Como crente, tenho fé e esperança de um dia me encontrar com eles e termos uma longa conversa.
HONRA A RIBEIRO SANTOS E ALEXANDRINO DE SOUSA !

domingo, 7 de outubro de 2012

O MUNDO ESTÁ PERIGOSO. NÓS, POR CÁ, TODOS BEM...

O saudoso intelectual, jornalista e político Vitor Cunha Rego dizia, há já cerca de 20 anos, que o mundo estava perigoso. Na mesma altura, afirmava ter a globalização como objectivo servir 500 multinacionais. Onde estiver, verá que a História lhe está a dar razão.
Que o mundo, hoje, está muito mais perigoso, provam-no o princípio de guerra entre a Síria e a Turquia, país da NATO, a guerra civil no primeiro daqueles paises, o novo Vietname dos EUA no Afeganistão, o eterno conflito entre Israel e a Palestina, o confronto que opõe Sudão do Norte e Sudão do Sul, a provável independência da Catalunha, que será o início da implosão da Espanha, e tantos outros factos, entre os quais se destaca o acentuar das desigualdades entre ricos e pobres, especialmente nos países ricos, provocando situações explosivas.
Mas, nós, por cá, segundo afirmou o primeiro-ministro no Algarve, no passado mês de Agosto, estávamos bem. Então a crise não tinha passado? No próximo ano não haveria recuperação da economia? Fazia lembrar Sócrates nos seus melhores ou piores (que cada um entenda como quiser) momentos.
O governo, em uníssono, afirmava, no há pouco findo verão, que não eram necessárias mais medidas de austeridade.
Passos Coelho, no pouco tempo que militou no PCP e na sua organização de juventude terá intuido o optimismo antropológico. Apesar de hoje estar vincadamente à direita -não sei como alguém pode qualificar este fulano de social-democrata sem se rir - manteve aquela característica típica das pessoas da esquerda a que pertenceu. Só que, à semelhança dessas pessoas, vê os seus sonhos esbarrar na dura realidade, a qual foi ilustrada recentemente pelo seu ministro das finanças, que o desmentiu, afirmando cair a economia no próximo ano 1% e aumentar o desemprego(nas estatísticas, pois o real já ultrapassa os 20%) para 16,4% da população activa em 2013. Já não falamos do enorme aumento de impostos (Vitor Gaspar dixit), o qual penalizará o crescimento económico, empobrecerá ainda mais a classe média e lançará os pobres na miséria.
Se a esquerda e os sindicatos contestam esta política, o ambiente à direita não é melhor para o governo. Hoje mesmo, o presidente da CIP, António Saraiva, afirma em entrevista ao "Diário de Notícias" ser pena não poder haver uma greve dos patrões. Nunca tal se ouviu após o 25 de Abril. Paulo Portas e o CDS estão com um pé dentro e outro fora do governo.
Resumindo e concluindo: contrariamente ao que que o optimista sr. Coelho afirmava há menos de 2 meses, nós por cá, incluindo ele, estamos muito mal. O seu governo está no estertor, aguardando o golpe de misericórdia, o qual é um imperativo. Espera-se que o Senhor Presidente da República rapidamente demita este governo que conduziu o país ao colapso, palavra tão do seu agrado, e encontre uma alternativa com os partidos parlamentares e os parceiros sociais. Se tal não acontecer, a situação nas ruas poderá tornar-se incontrolável e - o que não passaria pela cabeça de ninguém há pouco tempo - o populismo e o desespero poderão conduzir a uma revolução ou contra-revolução.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ACORDAI

Nas recentes manifestações de 15 de Setembro, foi cantado o tema "Acordai", que tem letra de José Gomes Ferreira e música de Fernando Lopes Graça. Seguidamente, publicamos tal poema.


Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

ORGANIZAÇÕES MAOISTAS VOLTAM A MULTUPLICAR-SE

O século XXI será o século do comunismo.
Arnaldo Matos


Nos anos 60 e 70 do século passado, à semelhança do resto da Europa, havia em Portugal uma série de partidos e organizações maoistas. No pós-25 de Abril eram mais de uma dezena.
A viragem verificada no processo político português em 25 de Novembro de 1975, as mudanças pró-capitalistas na economia chinesa, as divergências dos que os maoistas da linha dura apelidavam de novos mandarins com a Albânia, e o fim do chamado socialismo científico neste país, levaram ao fim da maioria daqueles partidos e organizações em todo o Ocidente. Em Portugal, desde há 25 anos, que apenas o PCTP/MRPP, fundado em 1970, se mantinha, com poucos militantes e simpatizantes, até ao início do séc XXI.
No início do terceiro milénio, um grupo radical, após ter operado uma cisão de esquerda no partido de Arnaldo Matos, criou o Círculo Revolucionário (CR), que edita o jornal "Bandeira Vermelha" e a "Página Vermelha", na internet.
Recentemente, descobri também na net que surgiu no ano de 2011 uma terceira organização maoista, a União Comunista Revolucionária (UCR).
Estas duas últimas organizações têm ligação ao Movimento Revolucionário Internacionalista (MRI), fundado em 1984, espécie de internacional maoista. O MRPP, como sempre, aliás, continua a não reconhecer nenhuma organização com as mesmas afinidades ideológicas em qualquer país, pois, no seu entender, tal constitui "um problema para a classe operária e demais trabalhadores dos outros países". Por outro lado, entende ter sido o maoismo um desenvolvimento importante do marxismo-leninismo, mas apenas no tocante à experiência chinesa. Já não considera o maoismo como nova etapa do marxismo-leninismo. Também não vê o Presidente Gonzalo, pseudónimo de Abimael Guzzman, líder do Partido Comunista do Perú, mais conhecido por Sendero Luminoso, preso há 20 anos no seu país, como o "maior marxista-leninista vivo", nem o "pensamento gonzalo" como nova etapa do marxismo, como os seus dissidentes do Círculo Revolucionário, os quais consideram Arnaldo Matos, Garcia Pereira e demais militantes do seu antigo partido traidores à causa revolucionária, bem como a UCR.
CR e UCR tem ligações ao MRI. A UCR apela à guerra popular contra o actual sistema.
Um pouco por toda a Europa, têm reaparecido várias organizações inspiradas no maoismo. No Perú, após a prisão de Abimael Guzzman e outros dirigentes senderistas importantes, o seu partido atravessa muitas dificuldades, incluindo algumas cisões. No entanto, no Nepal, o Partido Comunista Maoista, de Prachanda, venceu as últimas eleições legislativas, com 40% de votos, tendo o próprio Prachanda sido primeiro-ministro algum tempo. Na Índia, nas Filipinas ou na Tailândia, estão activas guerrilhas inspiradas no maoismo e no pensamento gonzalo.
No início do século XXI, Arnaldo Matos afirmou que o mesmo seria "o século do comunismo". O maoismo, considerado morto nos anos 80 e 90, volta a organizar-se, multiplicando-se as organizações que do mesmo se reclamam, tal como nos velhos tempos da minha militância nesse campo ideológico, dado o caminho seguido pelo capitalismo após a queda do muro de Berlim, tendo, de um modo geral, deixado de ser o capitalismo de rosto social e humanista do pós-segunda guerra mundial,tornando-se na subtracção de rendimentos do factor trabalho para o factor capital, agravando e criando novas gritantes desigualdades, para o que contribuiu a globalização desregulada. As injustiças resultantes desta situação, a desilusão face aos partidos comunistas em tempos ligados a Moscovo e a não alternativa de boa parte dos partidos socialistas, de que o português é caso paradigmático, estão na origem desta ressurreição dos seguidores do "grande timoneiro", embora com muito menos pujança que há 30, 40 ou 50 anos.
Se o capitalismo tem abusado e criado cada vez mais injustiças, e a esquerda tradicional está na situação acima dita, não tenham também ilusões relativamente ao maoismo, quer velhos militantes honestos, a maioria meus antigos camaradas e amigos, quer jovens radicais desesperados. Mao foi um tirano. Se qualquer das organizações maoistas da nossa praça alcançasse o poder, outra tirania nos esperava. Vós, meus ex-camaradas, por quem ainda tenho muita estima pessoal, e jovens iludidos por tais ideais, seríeis as primeiras vítimas dos vossos chefes, esses devidamente informados. Vede o que aconteceu a muitos companheiros de Lenine na revolução de 1917, ou de Mao, na revolução de 1949.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

UNIÃO NACIONAL CONTRA O GOVERNO

Durante quase meio século Portugal foi governado por um partido único chamado União Nacional, que no tempo de Marcelo Caetano passou a denominar-se Acção Nacional Popular.
Tal regime autoritário entendia que a democracia dividia os cidadãos, os quais, como carneiros, deveriam enfileirar atrás do chefe político.
Passos Coelho conseguiu, em democracia, criar uma união nacional de pernas para o ar. Melhor dizendo, conseguiu uma verdadeira união da esmagadora maioria dos portugueses contra si, a sua política e a troika, com a retirada de dinheiro aos trabalhadores para aliviar os patrões através das mudanças introduzidas na TSU.
No passado sábado, dia 15, um milhão de pessoas, convocadas por movimentos espontâneos, contestaram tal política na rua. Confederações patronais e sindicais não concordam com as alterações na TSU. Umas e outras afirmam conduzirem as mesmas não a mais, mas a menos emprego, dado diminuirem o poder de compra da população.
Não são muitas as empresas viradas para as exportações. 95% do tecido empresarial português é constituido por pequenas e médias empresas, as quais vivem essencialmente do mercado interno. Passos Coelho e quem o rodeia desconhecem isto, porque não conhecem o país que governam, o que é gravíssimo na actual situação económica e social.
Além do PS, o PCP, o BE e a extrema-esquerda, também Paulo Portas e o CDS contestam esta perfeita loucura. Passos está isolado como nenhum primeiro-ministro esteve após as primeiras eleições legislativas. Se não tiver a humildade de mudar de política, ouvir os outros partidos, os parceiros sociais, o povo que cada vez o contesta mais e o PR, haverá uma crise política de graves proporções. O culpado da mesma será ele, com a sua incompetência.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

11 DE SETEMBRO, DIA DE AZAR

No dia 11 de Setembro de 1973, o general Pinochet, através de um golpe de Estado, acabava com o regime democrático no Chile, iniciando um regime repressivo e sanguinário.
No dia 11 de Setembro de 2001, terroristas suicidas da Al Qaeda, no ataque às torres gémeas, em Nova Iorque, matavam cerca de 3 000 pessoas.
No dia 11 de Setembro do corrente ano, após as dolorosas medidas anunciadas pelo primeiro-ministro poucos dias antes, a que me referi no post anterior, em que comparava esse cavalheiro a Mitt Romney, o ministro das Finanças afirmava que, apesar de o cumprimento do memorando durar mais um ano – a pedido do governo, segundo um representante da troika – o executivo terá de aumentar impostos, diminuir salários e pensões, entre outras decisões gravosas para os portugueses.
Na campanha eleitoral, o actual primeiro-ministro prometeu não aumentar impostos, nem cortar salários aos funcionários públicos. Há poucos meses afirmou não serem necessárias mais medidas de austeridade. Há menos de um mês, no Pontal, disse prever um crescimento positivo da economia no próximo ano. No dia 11 de Setembro, Vítor Gaspar desmentia-o, considerando continuar a aumentar o número de desempregados e ter a economia um crescimento negativo, de 1%, em 2013.
Para além de não haver uma liderança, nem tão pouco coordenação neste governo, os seus membros, especialmente o primeiro-ministro, primam pela mentira. Como dizia o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht, “o que é difícil não é governar, mas explicar a escravidão e a mentira”.
O actual governo está desacreditado ao fim de pouco mais de um ano. Os seus objectivos como fim dos enormes sacrifícios para a maioria da população portuguesa falharam rotundamente. Na coligação governamental, e especialmente no PSD, o desnorte é enorme, devido a tanta incompetência, aldrabice e falta de estratégia num tempo tão difícil.
Tudo isto terá consequências, das quais o Senhor Presidente da República não poderá lavar as mãos como Pilatos.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O MITT ROMNEY PORTUGUÊS

Qual a diferença entre o candidato republicano à presidência dos EUA, Mit Romney e Passos Coelho? O primeiro é mórmon e o segundo é agnóstico.
No plano político, nada os distingue. Romney, em nome da promoção do emprego, quer cortar os impostos pagos pelos ricos, os quais, comparados com os impostos europeus, são bem incentivadores para os empresários. Como contrapartida, pretende acabar com uma série de benefícios sociais concedidos aos pobres, especialmente no campo da saúde, pela administração Obama. Isto para não falar no reaccionarismo social do candidato republicano e do seu nº 2, Paul Ryan, que até afirmam não serem a violação e o incesto motivos para despenalização do aborto.
God save América! Que Obama seja eleito em Novembro!
Pedro Passos Coelho, pelo seu lado, confirmou, com as últimas medidas de austeridade anunciadas, o carácter de classe do seu governo e do PSD.Os trabalhadores passam a descontar mais 7%, por mês, para a segurança social, enquanto o patronato passa a pagar quase menos 6%. São os póprios empresários, como o ex-presidente da CIP, Van Zeller, que afirmam não promover tal decisão a baixa do desemprego.
Quanto a mexidas nas PPP e nas rendas, o executivo fica aquém da troika. Ir mais além da dita, só para os pobres e a classe média. Ainda há dúvidas que a social-democracia morreu no partido que provocatoriamente ainda a utiliza na sua designação? Que o CDS nada tem a ver com a democracia-cristã europeia, criadora de um estado de bem-estar?
A direita, europeia ou americana, com algumas raras excepções, nada tem de social. Espelha perfeitamente o retrato que dela faz a esquerda: ao serviço dos ricos e contra os pobres, bem como a classe média, cada vez mais proletarizada, usando a linguagem marxista.
Von Mises afirmava que os liberais não deveriam constituir partidos, mas entrar para os partidos democráticos, de direita, centro ou esquerda, e procurar influenciá-los. Não é nesta "nova" direita, herdeira das piores tradições direitistas e conservadoras, que alguém pode pensar defender o liberalismo clássico. Terá de o fazer na sociedade civil, preferencialmente em "think thanks", ou nos partidos socialistas, na esperança de os mesmos seguirem a terceira via, de Clinton, Schroeder, Blair, ou da "praxis" de Lula e do PT, no Brasil.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PORQUE NÃO TRABALHAR 7 DIAS POR SEMANA?

A troika sugeriu que os trabalhadores gregos passem a laborar 6 dias por semana e a ganhar menos.
Na Austrália, a mulher mais rica do mundo afirmou que "está farta da inveja", aconselhando os trabalhadores a "trabalhar mais e beberem menos". Pois, divertimento, só para burgueses como ela! Como dizia o outro, "o que ela quer sei eu".
A troika encontra-se em Portugal. Já descartou responsabilidades no falhanço do cumprimento do défice e no aumento da dívida pública, atirando-as para cima do governo PSD/CDS, que também as tem, sem dúvida alguma. É a paga pelo facto de o governo ser mais papista que o Papa, leia-se, mais troikista que a troika.
Esperamos o que a troika vai sugerir, em meados deste mês, para o cumprimento do seu falhado memorando e respectiva política ultra-liberal, que fará Adam Smith dar voltas no túmulo, na impossibilidade de execrar pessoalmente os seus falsos seguidores como Lenine execrou os ultra-esquerdistas. Estaremos condenados também a ter apenas um dia de descanso por semana? Já agora, para recuperar a tão famigerada competitividade, a qual, nos termos em que é proposta, agrava as desigualdades sociais, porque não propôr 7 dias semanais de trabalho, regredindo, em termos sociais, ao século XIX?
Era este o fim da História a que se referia, há 20 anos, Francis Fukuyama?

terça-feira, 28 de agosto de 2012

LER SONDAGENS

Segundo a última sondagem publicada no "Expresso", o PSD ganharia eleições, neste momento, com apenas 1 ponto de vantagem sobre o PS (34% - 33%). No entanto, haveria uma clara maioria de esquerda no parlamento. Relativamente ao último acto eleitoral para a A.R., PSD e CDS descem, PS e BE sobem as respectivas votações, e a CDU mantém essencialmente o mesmo score.
No entanto, Pedro Passos Coelho é o mais impopular dos líderes partidários, enquanto Paulo Portas regista o maior apoio, logo seguido, de perto, por António José Seguro.
Cavaco continua a registar uma imagem bastante má, o que não havia acontecido com nenhum outro PR eleito, tal como o parlamento e o governo. A "votação" neste último órgão de soberania é péssima (ultrapassa os 20 pontos negativos).
Desta sondagem pode concluir-se:
1º - analisando a intenção de voto nos partidos, a popularidade dos seus líderes e a imagem do governo, está-se perante um empate técnico, ou seja, tanto poderiam, caso agora se realizassem eleições, vencer as mesmas o PSD como o PS.
2º - Havendo uma maioria de esquerda, PSD e CDS seriam afastados do poder, tendo António José Seguro muitas probabilidades (mais do que Passos Coelho) de ser eleito primeiro-ministro.
3º- A receita governamental e da troika para a crise falhou, o que é claramente perceptível pelo cidadão comum, hoje desiludido com o governo PSD/CDS.
4º- Paulo Portas e o CDS (a descida deste partido é pequena) têm-se resguardado da intempérie que começa a fustigar o governo, pagando as "despesas" apenas o PSD.
5º- Os órgãos de soberania estão desacreditados aos olhos da população.
E, quando aquela sondagem foi publicada, ainda não eram conhecidos os números que apontam para o incumprimento da meta do défice no presente ano, bem como a vergonhosa solução anunciada para a RTP pelo "12º ministro", António Borges...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PAÍS GOVERNAMENTAL E PAÍS REAL

De há uns anos a esta parte, o país governamental parece viver numa galáxia diferente do país real. Foi assim com José Sócrates, que dizia estarmos sempre no melhor dos mundos até o seu governo se render à troika e perder as eleições que se seguiram ao acordo com a mesma.
Passos Coelho, após o não cumprimento de uma série de promessas feitas na campanha em que venceu aquelas eleições, como nunca cortar o 13º e/ou o 14º mês aos funcionários públicos, ou não aumentar os impostos, veio afirmar no comício realizado recentemente no Algarve que no próximo ano teremos uma inversão na marcha da economia.
Nesse mesmo dia, o desemprego atingia novo record. Segundo as contas do próprio INE, haverá já mais de 1 300 000 portugueses sem trabalho. Sabia-se também que a economia continua a decrescer, prevendo-se para o final do ano uma descida da mesma na ordem dos 3% ou mais do PIB.
O tão falado equilíbrio entre importações e exportações, que não se via desde 1943, deve-se ao aumento da pobreza e miséria. Não importamos mais, porque as empresas (95% delas são PME) e as pessoas não têm dinheiro para o fazer. Por outro lado, segundo afirmava na última edição do "Expresso" o seu director-adjunto, João Garcia, "9% da subida registada nas exportações no primeiro semestre deste ano foram conseguidos pelo disparo na venda de ouro para o estrangeiro. (...) Vendemos ouro em segunda mão; 382 milhões de euros, mais 84% do que no primeiro semestre de 2011. (...) Foi um péssimo negócio para quem a ele recorreu, pois o grama de ouro foi vendido, em regra, a 25 euros, quando nas ourivesarias era comprado a 42, de acordo com a cotação em bolsa. Parte do milagre das exportações foi possível porque alguns ficaram bem mais pobres". Fica assim desmascarado o ouropel do governo relativamente ao chamado equilíbrio da balança de transacções.
A dívida pública continua a aumentar. Para cumprirmos o acordado com a troika relativamente ao défice, em 2012 (4,5%), segundo os entendidos na matéria, teríamos de diminuir o mesmo em 12,5% até ao final do ano. Comentários para quê?
Como pensa - não o disse - o primeiro-ministro conseguir um crescimento económico positivo nesta situação? Acha que pode baixar impostos para atrair investimentos? Afinal, a liberalização da legislação laboral, a roçar, em diversos aspectos o capitalismo selvagem, também não está a ter efeitos práticos. O que espera mais o PM? Proibir as greves e os sindicatos?
Tal como o seu antecessor, Passos Coelho parece viver em outra galáxia. Tal dever-se-á a algum inusitado entusiasmo pelo sucesso da chegada da Curiosity a Marte e posterior divulgação de imagens espectaculares daquele planeta?


PS: Soube hoje pela net que Scott Mackenzie, o cantor de "San Francisco", hino dos hippies, divulgado em 1967, faleceu com 73 anos de idade.
Aquela canção inseriu-se no movimento contestário do conservadorismo social da época, o qual deu um grande contributo para sociedades mais abertas.
Aqui presto a minha homenagem àquele cantor, desejando que descanse em paz.
A tua luta e de tantos outros, Scott, não foi em vão. A melhor homenagem que sucessivas gerações identificadas com essa luta te poderão prestar no presente é continuar o combate por um mundo mais justo, contra o economicismo e a tecnocracia dos comedores de dinheiro, a que se referia o cantor português Adriano Correia de Oliveira, também falecido, os quais dominam o mundo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

LIGEIREZA E (FALTA DE) CREDIBILIDADE

Em recente conversa televisiva, a ex-dirigente comunista e actual militante do PSD, Zita Seabra, insinuou que o ar condicionado colocado, na década de 80 do século passado, pela FNAC, presidida por Alexandre Alves, militante do PCP, nos ministérios, conteria aparelhos de escuta eventualmente fabricados na então RDA. Mais disse que tais escutas serviriam o seu partido de então.
Zita Seabra não apresentou dados comprovativos das suas afirmações, fazendo lembrar a velha escola que frequentou quando, com falta de provas relativas a qualquer assunto, afirmava: "está mais que provado que..."
Por outro lado, quando o mesmo Alexandre Alves tem um diferendo com o governo presidido pelo líder do partido de Zita Seabra, estas "revelações" vêm mesmo a calhar... Estes métodos aprendem-se na mesma escola, que Passos Coelho também frequentou.
Porque só passado cerca de um quarto de século - a serem verdadeiros os factos, a FNAC e o PCP teriam cometido um crime gravíssimo - Zita faz estas afirmações? Não lhe passa pela cabeça que esta "ligeireza", como lhe chamou Marcelo Rebelo de Sousa na análise de ontem, na TVI, põe em causa a credibilidade de tudo quanto tem dito e escrito sobre o PCP e a URSS que conheceu?

O MAIOR PARTIDO DO GOVERNO TEME A POPULAÇÃO?

Desde 1975 que o PSD (então PPD) organiza uma festa no Algarve.
Amanhã, dia 14 de Agosto, tal festa será repetida, não em recinto público, aberta ao povo, como nos anos anteriores, mas num hotel de 4 estrelas.
A que se deve esta mudança para o conforto de um hotel? O PSD tem medo de enfrentar as populações, que onde se deslocam os membros do governo, especialmente o primeiro-ministro, surgem a vaiar os mesmos? Este receio mais do que verosímil contrasta com o "partido das pessoas sem medo", como se auto-afirmava o PPD no PREC.
Recordo que durante a primeira daquelas acções, num clima de pré-guerra civil, o PPD esteve em força no Algarve. Contou-me o Dr. Carlos Matias, ali presente, que umas dezenas de militantes da FUR (Frente Unida Revolucionária), que agrupava a extrema-esquerda, com excepção dos maoistas, tentaram boicotar o comício a que presidia Sá Carneiro. Quando este invectivou "aqueles furiosos", como lhes chamou, os mesmos levaram uma grande corrida e o comício continuou calmamente.
A propósito do encontro de amanhã do partido de Passos Coelho, disse Marcelo Rebelo de Sousa que "o PSD que não está na rua não é o PSD". Tem inteira razão, Professor. Esta atitude medrosa e de afastamento do povo mostra mais uma vez que este já não é o partido que ajudou a lançar e, mais tarde, liderou.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MUDAR SEM TRAIR

No ano de 1984, surgiu a revista "Risco", órgão do Clube da Esquerda Liberal, cujo director era João Carlos Espada. O seu lema era "mudar para não trair".
A quase totalidade dos membros daquele clube e redactores da revista eram antigos militantes de extrema-esquerda, especialmente de organizações maoistas.
Naquela época ainda existia a guerra fria, Gorbatchev ainda não era líder da então URSS e o muro de Berlim manter-se-ia erguido mais 5 anos. Na Albânia, ainda se mantinha no poder o marxista-leninista e anti-revisionista Enver Hodxa. Na China, sim, o maoismo tinha mostrado a sua falência após a morte de Mao Tsé Tung.
Aquele grupo de homens e mulheres tinha-se apercebido que as ideologias radicais que defendeu no tempo da ditadura salazarenta, no PREC e já posteriormente, com generosidade, convencidos que lutavam por uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, não conduziam ao paraíso terreno, mas ao inferno, em nome da felicidade colectiva. Foi assim com Lenine, com Estaline, com Mao, com Hodxa, com Fidel, com Pol Pot, com Kim Il Sung e tutti quanti. Por isso, mudou para não trair.
Aderiu ao liberalismo progressivo, o qual, em termos práticos, significa capitalismo regulado pela democracia, com submissão do poder económico ao poder político, acompanhado de forte componente social e respeito pelos direitos de quem trabalha. Assim se poderia alcançar não uma sociedade perfeita, porque tal é uma utopia, mas uma sociedade mais justa e inclusiva, como aliás, tinha mostrado a experiência prática de tais ideias em outros países. Por isso se considerava que permanecer na defesa do marxismo-leninismo, isso sim, seria um acto de traição aos ideais generosos da juventude.
Persistir na defesa daqueles princípios - que influenciaram os partidos socialistas da terceira via, com destaque para o Partido Trabalhista Britânico, o Partido Social Democrata Alemão, ou mesmo a prática do Partido do Trabalho, no Brasil, provando que se pode ser de esquerda e defender o capitalismo, desde que o mesmo se revista de um carácter humanista - continua a ser um acto simultaneamente reformista e revolucionário, no sentido de conciliar o desenvolvimento com a justiça.
Apoiar a política desta nova direita anti-social europeia, e, no que nos toca, do governo português, independentemente de se estar no governo, como Nuno Crato, ou não, é um acto de pura traição. Quem andou na extrema-esquerda e apoia o que aí está não passa de um traidor. Assim será julgado pela História.

Post Scriptum: neste momento, todos os partidos portugueses, especialmente os do arco constitucional, estão afastados do liberalismo progressivo veiculado pelo Clube da Esquerda Liberal. O CDS é bastante conservador. O "liberalismo " do PSD nada tem a ver com os princípios defendidos por Adam Smith, Schumpeter, Hayek, Karl Popper, Raymond Aron e tantos outros, pois este partido trocou a mobilidade e ascenção sociais, que eram seu apanágio desde 1974, por uma política classista, a favor dos "de cima", estando já à direita do CDS. O PS, apesar de aceitar a economia de mercado, continua a ter um forte pendor estatizante e a recusar qualquer reforma do estado social.
Os liberais que ainda permanecem nesses partidos deverão lutar dentro dos mesmos pelas suas ideias, como dizia o grande mestre do liberalismo, Von Mises. Os liberais que não pertencem a qualquer partido, como é o meu caso, terão que se bater pelos seus princípios fora do sistema, em grupos de reflexão, ou usando os meios de comunicação disponíveis.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O DISCURSO DE ALMADA

No Verão de 1975, o então primeiro-ministro do V governo provisório, general Vasco Gonçalves, ao ser contestado pela esmagadora maioria dos portugueses e também pela maioria dos militares de Abril, apoiantes dos "nove", fez um discurso desesperado em Almada. O seu fim estava para breve.
Passadas poucas semanas, demitia-se do cargo que exercia, sendo substituido pelo almirante Pinheiro de Azevedo, militar moderado. O VI governo provisório foi constituido maioritariamente por militantes do PS e do então PPD, tendo o PCP uma pasta no mesmo.
Aquele discurso veio-nos à memória, nos últimos tempos, ao ouvir Passos Coelho, antigo "compagnon de route" do general Vasco, quando, ainda que fugazmente, passou pelo PCP e pela JCP.
O seu projecto de "ajustamento" falhou, como mostram o aumento do défice e da dívida pública. Constatando tal facto, passou a proferir uma linguagem típica de café ou taberna de subúrbio e demonstrativa de desespero. Pressentirá que estará para lhe acontecer o mesmo que a Vasco Gonçalves? Que a troika e as instituições comunitárias lhe tirarão o tapete como a anteriores chefes de governo grego e italiano?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

VELHOS SEM PRESENTE, JOVENS SEM FUTURO

Uma das frases mais célebres de Francisco Sá Carneiro, na segunda metade da década de 70 do século passado, era a seguinte: "Portugal é um país onde os velhos não têm presente e os jovens não têm futuro".
A luta de Sá Carneiro contra o socialismo terceiro-mundista, no plano económico e em alguns aspectos políticos, consignado na Constituição aprovada em 1976, era por um capitalismo de rosto humano, regulado pelo regime democrático, que não fosse um objectivo, mas um meio para tornar Portugal num país próspero e desenvolvido, com justiça social, de onde fossem erradicadas a pobreza e a miséria. Combatia o igualitarismo, mas defendia a igualdade de oportunidades. Era pelo mérito, mas sempre conjugado com a justiça social, ou, como diria o "papa" do liberalismo económico, Adam Smith, deturpado pelo actual poder passista/portista, com uma rede social abaixo da qual ninguém caia.
Não é necessária grande formação política e ideológica, ou um curso superior obtido na Lusófona, ainda que feito num ano e com apenas 4 disciplinas, para ver que o actual PSD nada tem a ver com aqueles princípios. O Partido Social Democrata morreu, sendo fundado, em seu lugar, um partido neo-liberal, deturpador da ideologia fundacional do conceito moderno de democracia, conservador e reaccionário, como demonstram muitas medidas tomadas recentemente pelo mesmo.
Contrariamente ao "sá carneirismo", o "passismo" não tem preocupações de carácter social. O elevado desemprego, a miséria e fome que se fazem sentir, principalmente nos grandes meios, a proletarização da classe média, o abandono da universidade por alunos com poucos recursos (ainda se lembra, Doutor Nuno Crato, quando berrava por um ensino ao serviço do povo? Renegar o marxismo-leninismo-maoismo, como eu também fiz, é uma virtude. Esquecer os aspectos positivos do marxismo e da tradição da esquerda, em geral, inscritos na matriz original do PSD e que o capitalismo inteligente do pós-segunda guerra mundial endossou, é um acto de traição, sim, à generosidade com que defendemos ideais errados no passado e que nos levou a defender a democracia liberal, mas também social) não preocupam Passos e "sus muchachos".
O PSD é um partido claramente à direita do próprio CDS. A pessoa mais à esquerda no actual governo, é, sem dúvida, a ministra Assunção Cristas, que se bate por uma reforma agrária democrática, como se vê pela sua política relativamente ao banco de terras.
Recentemente, o bispo mais odiado pela direita, D. Januário Torgal Ferreira, ao denunciar a política anti-social - e que só tem agravado a crise financeira - do governo, demonstrou, por A+B, que a mesma nada tem a ver com o "sá carneirismo", pois, segundo afirmou, conheceu o primeiro líder do PSD em realizações da Igreja Católica antes do 25 de Abril, onde o mesmo mostrava uma grande preocupação com os mais pobres e desfavorecidos.
Está explicado porque este poder não gosta deste bispo. Os motivos são, em situações históricas diferentes, os mesmos pelos quais os poderosos de há dois milénios perseguiram e mataram Jesus Cristo. Para estes falsos sociais democratas, falar de justiça social, solidariedade e opção pelos pobres, é ser um "perigoso esquerdista".
Como, com esta idade, já vi muita coisa, pouco ou nada me faz admirar. Muito menos que este PSD venha, quando tiver condições para isso, a apelidar também Sá Carneiro de "perigoso esquerdista" e a social-democracia de ideologia revolucionária e inimiga do que pensam ser liberalismo. Ah! Ainda eles, provavelmente, não sabem nem sonham, como diria António Gedeão, que os bolcheviques, liderados por Lenine, autores da primeira revolução comunista vitoriosa no mundo, sairam do POSDR (Partido Operário Social-Democrata Russo), ou que os espartaquistas alemães (comunistas), de Rosa Luxemburgo e Karl Libknecht, também sairam do velho SPD do país hoje dominante na UE. Mas, para que certas mentes não fiquem confusas, eu esclareço-as: após o falhanço da Comuna de Paris, em 1871, Marx defendeu a entrada dos comunistas para os partidos socialistas e sociais-democratas, para melhor se protegerem da repressão que sobre os mesmos se fez abater. Daí que a genaralidade dos partidos comunistas tenham saído daqueles partidos no final da década de 10 e na década de 20, no século XX, após a vitória dos bolcheviques.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

DEPOIS DE SÓCRATES, RELVAS

Há alguns anos, o PSD, na oposição, usou como tema de campanha contra Sócrates a sua licenciatura na Universidade Independente, entretanto encerrada. Tinha razão aquele partido. Completar disciplinas ao fim de semana e numa simples folha A-4, é, no mínimo, duvidoso.
Idêntica nódoa atinge o actual governo PSD/CDS. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais, na Universidade Lusófona, em apenas 1 ano, tendo sido aprovado em 4 disciplinas, num curso que tem a duração de 3 anos, com 36 disciplinas. Aquela universidade teve em conta o "curriculum" profissional e a frequência universitária do ministro Relvas para lhe atribuir a licenciatura.
A frequência universitária do sr. Relvas é a seguinte: matriculou-se nos cursos de Direito, Relações Internacionais e História. Concluiu apenas uma disciplina no primeiro daqueles cursos, com a nota mínima (10 valores), e em nenhuma disciplina foi aprovado nos outros cursos. Quanto a experiência "profissional", Relvas passou pela política e trabalhou numa empresa que nada tem a ver com o curso que lhe foi oferecido(é o termo apropriado).
Esta situação é ofensiva de quem andou 4, 5 ou 6 anos, especialmente trabalhadores estudantes, a estudar e a gastar dinheiro numa Faculdade.
Só um pacóvio que não sabe o que é uma universidade pode aceitar esta situação. Como é possível o primeiro ministro, que, segundo o "Correio da Manhã", completou o curso de Economia em tempo normal e com boas notas, poder pactuar com isto? Como pode aceitar tantos "lapsos" deste homem, que em 1985 mentiu à AR, quando para a qual foi eleito deputado pela primeira vez, afirmando ter obtido frequência do 2º ano de Direito e se "esquece" de um almoço com esse exemplo de isenção e honestidade, como o anterior director do SIED, há pouco mais de um ano?
As sondagens, as vaias a Passos Coelho e seus ajudantes - bem como ao PR - são significativas do descontentamento popular. A "paciência" dos portugueses está a esgotar-se.
Desconheço os gostos musicais de Pedro Passos Coelho. Não sei se continuará a gostar da música das "Doce", com uma das quais foi casado. Seria bom que ouvisse uma canção com quase 50 anos, de Paul Simon e Art Garfunkel: "the sounds of silence", que a determinada altura diz "o silêncio, como o cancro, cresce"...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

ESCRAVIDÃO DE REGRESSO?

Na última edição do jornal "Expresso" vinha inserida uma reportagem sobre pessoas desempregadas e algumas empregadas, a receber o salário mínimo ou pouco mais, que colocam anúncios na internet, oferecendo-se para trabalhar apenas pela alimentação e dormida, prescindindo de dinheiro.
Trabalhar nestas condições tem um nome: escravidão! No capitalismo selvagem dos séculos XVIII e XIX, pagava-se muito pouco por 12, 14 ou 16 horas de trabalho, mas os operários ainda recebiam algum dinheiro. Estaremos a começar o regresso a tempos ainda piores que esses?
Entretanto, Pedro Passos Coelho não põe de lado novas medidas de austeridade. Como o mesmo diz, quando necessário, vai além da troika. É pena ficar aquém do acordado com a mesma troika no tocante à renegociação das parcerias público-privadas. Se neste aspecto se cumprisse o previsto no acordo, certamente a austeridade não iria tão longe. Mas, para estes "sociais-democratas" e "democratas-cristãos", a austeridade é só para pobres e remediados.
Cavaco Silva disse que o povo português já não aguenta mais austeridade. Esperamos que seja consequente se o governo avançar por esse caminho.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

SITUAÇÃO GREGA EM 8 PONTOS

1º - A Nova Democracia, de direita, ganhou as últimas eleições gregas, tendo constituido governo com o PASOK (socialista) e o Partido de Esquerda Democrática, dissidente de esquerda do PASOK.
2º- Aquela vitória foi um "flop", pois mesmo com a bonificação de 50 deputados que o sistema eleitoral grego concede ao partido mais votado, este ficou em clara minoria no parlamento.
3º - Quer a Nova Democracia, quer o PASOK, foram os responsáveis pela situação de quase bancarrota a que a Grécia chegou, levando à intervenção da troika, a qual, lá como cá, só tem agravado a situação económica, financeira e social.
4º- Os partidos referidos em 3º, que, além da situação a que conduziram o seu país, sempre primaram pela corrupção e o nepotismo, totalizavam anteriormente cerca de 80% do eleitorado, obtendo agora cerca de metade daquela percentagem de votos.
5º- Não é verdade que a Grécia e o resto da Europa possam suspirar de alívio. Os incompetentes e corruptos responsáveis pela presente tragédia grega continuam no poder, aliados numa espécie de bloco central lá do sítio. Caso não haja uma grande flexibilidade das instituições comunitárias e da própria troika, o país de Sócrates, Aristóteles e Platão cairá num enorme abismo, arrastando consigo o resto da Europa.
6º - O SYRISA, irmão político do BE, atingiu cerca de 27% de votos, algo nunca visto na Europa, na extrema-esquerda.
7º - Pelos motivos mencionado nos pontos anteriores, o capitalismo desregulado, sem consciência social, vigarista, que domina o mundo, em consequência do neo-liberalismo, falsificação do autêntico liberalismo, caminhará para a implosão. O resultado do SYRISA, as vitórias eleitorais da esquerda inspirada no marxismo em países latino-americanos como a Nicarágua, a Argentina, o Equador, a Venezuela ou a Bolívia,  bem como dos maoistas do "camarada Prachanda" no Nepal, são mudanças, mais qualitativas que quantitativas, chamando a linguagem marxista em nosso apoio, que comprovam o estado já não recuado de tal implosão.
8º - A nova direita, medíocre, dogmática e ignorante do ponto de vista cultural, dominante na Europa, não vê estas realidades e cada vez dá mais razão a Marx quando afirmava "o capitalismo tem dentro de si as contradições que o farão implodir", ou à célebre frase de Lenine: "o capitalismo vender-nos-á a corda com que o havemos de enforcar".


sexta-feira, 15 de junho de 2012

IMPRESSÕES DE UM CONCERTO

No último fim de semana do passado mês de Maio, decorreu na sala Dr. Jaime Gralheiro, no Cine-Teatro de S. Pedro do Sul, um concerto do conjunto Fingertips, organizado pela Conferência de S. Vicente de Paula.
O espectáculo tinha um objectivo social, pois cada um dos espectadores devia levar dois alimentos diferentes, que aquela associação de solidariedade social posteriormente entregaria a pessoas desfavorecidas.
A sala estava praticamente cheia, pelo que foi feita uma boa "colheita" para ajuda aos mais pobres. Em S. Pedro do Sul, a solidariedade não é uma palavra vã.
O concerto foi magnífico. As músicas tocadas pelos Fingertips, desde as "da pesada" às românticas, encantaram os presentes. Todos os músicos mostraram grande capacidade, nas violas, nas teclas, ou na bateria.
Quem, no entanto, se destacou - sem menosprezar os demais elementos - foi Joana Gomes, a vocalista. Além de uma linda e óptima voz, mostrou também os seus dotes musicais nas teclas e na viola. Apesar de bastante jovem, tem bom espírito de liderança e de interacção com o público. Há na Joana condições para atingir o estrelato no mundo da música.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

MAIS UMA (TAMBÉM) DO CRATO

O valor das bolsas para doutoramento no estrangeiro vai baixar em cerca de 60%. É este o apoio que o governo de Passos Coelho e o Ministério da Educação dão à formação de quadros, indispensável ao crescimento económico. Sem dúvida que a estratégia governamental aponta mesmo para o empobrecimento.
Doutoramentos, só para quem tiver muito dinheiro para ir estudar para o estrangeiro. Dúvidas também não restam quanto ao carácter classista (para os de cima) desta gente. O PSD, partido dos que sobem na vida a pulso, também morreu com o passismo.
Mais uma, também, do ex-maoista mendista e seguidor do Chico Bufo (Francisco Martins Rodrigues, já falecido, "pai" da UDP) - assim conhecido entre os seus inimigos na extrema-esquerda, dado o comportamento vergonhoso que teve na PIDE, entregando quantos camaradas por si dirigidos que conhecia - Nuno Crato. Recordamos que este tipo doutorou-se, há 30 anos, nos EUA, com uma bolsa.
Como diria Camões, cujo dia ocorreu recentemente, "continuamente vemos novidades/diferentes em tudo da esperança/do mal ficam as mágoas da lembrança/ e do bem/se algum houve/ a saudade".

sexta-feira, 8 de junho de 2012

VIGARISTA POBRE, VIGARISTA RICO

Fala-se muito das vigarices de pobres - sem dúvida que as há - como os abusos relativos ao RSI, que levaram algumas pessoas a nunca mais trabalhar. Sempre achei que apoios desses se deveriam destinar a situações extremas, especialmente a pessoas impossibilitadas de trabalhar, pois quando assim não acontece, estimulam a preguiça.
Que esses abusos contribuiram para a crise que vivemos, não tenhamos dúvidas, mas não tanto como as actividades mafiosas praticadas a partir de bancos como o BPN, o BPP ou o BCP. O dinheiro que o Estado atirou para cima do BPN dava para assegurar os 13º e 14º meses aos funcionários públicos. Segundo cálculos efectuados e publicados no "Diário de Notícias", deverão ser investidos mais de 8 000 milhões de euros no BPN desde a sua nacionalização. O BPI, controlado pelos amigos de José Eduardo dos Santos e presidido pelo ministro de Cavaco, Mira Amaral, comprou aquele Banco por 40 milhões de euros, mas antes o Estado Português "meteu" lá mais 600 milhões de euros, tendo ainda sido garantido um empréstimo de 300 milhões de euros ao banco comprador. E tal empréstimo só não foi feito a % de juros, porque a Comissão Europeia não consentiu, obrigando o BPI a pagar uma taxa anual de 3%.
Por outro lado, a fuga aos impostos é claramente superior aos gastos com o RSI. Muitos que falam contra este subsídio não só se gabam de fugir aos impostos, como afirmam que nada deveriam pagar pelos luxos que ostentam, devendo o Estado garantir-lhes saúde ou educação para as suas crias gratuitamente.
Quem tem mais culpa na crise que vivemos? Os vigaristas pobres ou os vigaristas ricos?
O que se passa em Portugal também se verifica além fronteiras. Como começou a presente crise no Ocidente? Com os que viviam acima das suas possibilidades e devem empobrecer, como afirma o falso social democrata Passos Coelho, ou com a desindustrialização das sociedades capitalistas e a aposta na economia de casino? Não começou tudo com o "sub-prime" na "pátria", por excelência, do capitalismo, os EUA, que desembocou na falência do Lehman Brothers e outros bancos? Só se fosse o vigarista Madoff que vivesse acima das suas possibilidades, mas esse não era pobre.
O principal culpado da crise é o capitalismo selvagem que novamente mostra os dentes após a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo. Esta é a dura verdade, doa ela a quem doer. Não volte o sistema capitalista a retomar a face humana que exibiu desde o fim da II guerra mundial até há 15 ou 20 anos, e verá o tombo que apanha. Qualquer pessoa minimamente informada já se apercebeu que a teoria do "fim da História e do último homem", com a "vitória do liberalismo", de Francis Fukuyama, não é menos utópica que o finalismo histórico marxista que tantas paixões despertou em intelectuais, estudantes e trabalhadores.

terça-feira, 5 de junho de 2012

ESPELHO PORTUGUÊS DOS QUE MANDAM NO MUNDO


O responsável pelas privatizações, espécie de ministro, António Borges, segundo um jornalista francês, que conhece por dentro o FMI, foi afastado desta instituição por incompetência. No entanto, continua a receber da mesma 224 000,00 euros por ano, livres de impostos. Além do cargo para que foi nomeado pelo governo Coelho/Portas, ainda está ligado à administração da Jerónimo Martins. Este cavalheiro disse, recentemente, que para aumentarmos a nossa competitividade, os salários têm de diminuir para os trabalhadores. Não certamente para ele. Muito menos António Borges e os outros responsáveis do FMI, do Banco Mundial, da ONU e da Comissão Europeia estarão a pensar acabar com essa imoralidade que consiste em não pagarem impostos num momento de grave crise mundial. São estes os que eu apelido de “revisionistas do liberalismo”. Eu sei que o termo é de Lenine e foi muito popularizado no mundo inteiro por Mao Tsé Tung e Enver Hodxa…
Por falar na Comissão Europeia, também o seu presidente, o português Durão Barroso, veio falar de crescimento económico, com uma ressalva: os países do “ajustamento” deverão continuar a praticar a austeridade. Ou seja, deverão empobrecer ainda mais relativamente aos países mais ricos. Como Borges, também disse que os salários, nestes países, terão de baixar. Certamente, quererá ver realizado um dos seus sonhos de juventude: tornar Portugal na China da Europa (só que, agora, no plano capitalista). Aquando da Revolução Cultural Chinesa, iniciada em 1966, ficou célebre uma frase de Mao: “que cem flores desabrochem, que cem escolas rivalizem!”. Durão Barroso, baseando-se no seu antigo mestre, quererá tornar os países mais pobres da Europa em várias Chinas.
O PCTP/MRPP tem razão quando apelida o seu ex-camarada, hoje presidente da C.E., de “oportunista de duas caras”, pois após intensa militância na organização juvenil daquele partido, a que também pertenci, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML), especialmente na Direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa, abandonou a mesma, da qual foi expulso, no Outono de 1976, quando se apercebeu que a classe operária, dirigida pela sua vanguarda e pelo camarada Arnaldo Matos, afinal não tomava o poder.
Adere ao PSD quando Sá Carneiro era primeiro-ministro. Era o que estava a dar.
Foi secretário de Estado e ministro de Cavaco Silva. Quando o cavaquismo acabou, tinha o PSD a seus pés, mas não quis assumir a sua liderança, sabendo das dificuldades que estavam para chegar. No entanto, com o seu carácter calculista e frio, foi conspirando contra Marcelo Rebelo de Sousa, conquistando a liderança do partido quando aquele se demitiu da mesma. Nessa altura, já era previsível não durar muito tempo o guterrismo.
A principal crítica que Durão fazia a Marcelo era a aliança com o CDS e Paulo Portas, precisamente o que fez mais tarde.
Na campanha eleitoral que o conduziu a primeiro-ministro prometeu baixar os impostos em 10%. Chegado ao poder, deu o dito por não dito, aumentando a carga fiscal, pois “as finanças públicas estavam em má situação”. Como se tal já não fosse do conhecimento de toda a gente! Teve dois bons seguidores, no tocante a incumprimento de promessas, em Sócrates e Passos Coelho.
Ao averbar uma copiosa derrota nas “europeias” de 2004, eis que, mais uma vez desmentindo o afirmado pouco antes, Durão Barroso zarpa de armas e bagagens para a Comissão Europeia. As suas palavras acima referidas constituem a prova de que se apercebeu que para estar nas lideranças políticas é necessário submeter-se ao alto capitalismo internacional, que, na realidade, manda no mundo e na política, de pouco valendo o voto popular.
Se e quando Durão for candidato a P.R., esperamos que os eleitores se lembrem de tudo isto.

P.S. 1: recentemente, qualifiquei, neste blogue, Durão Barroso de verdadeiro social-democrata. Após as suas últimas afirmações, reconheço que errei.

P.S. 2: pouco antes de ter saído do MRPP e da FEML, Durão Barroso deslocou-se mais que uma vez a Londres, acompanhando o seu pai a tratamentos, tendo este último falecido, aliás, na capital britânica.
Dentro do MRPP dizia-se que terá aproveitado uma dessas deslocações para levar a sua então namorada e hoje mulher, a fim de esta efectuar um aborto. Não quero acreditar em tal, pois, se por um lado, ouvi muitas mentiras no MRPP, por outro lado, Durão Barroso até se manifestou contra a despenalização do aborto quando a mesma foi referendada.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O POVO NÃO QUER ESTA DIREITA NO PODER



Até há cerca de um ano, uma onda eleitoral de direita varreu a Europa, especialmente nos países onde até aí se encontravam no poder os partidos socialistas. Tal deveu-se à crise provocada pelo alto capitalismo financeiro, fruto do neo-liberalismo, verdadeira deturpação do liberalismo tradicional. Porque os governos socialistas não encontraram resposta para ultrapassar aquela situação, a direita regressou em força.
Aquela direita, de que Pedro Passos Coelho, o actual governo e o PSD são expoente máximo, só agravou a crise. Seguindo uma lógica tecnocrático-economicista, apenas se preocupou em diminuir o défice e a dívida, “custasse o que custasse” (Passos Coelho dixit).
O corte drástico e cego das despesas, sem qualquer sentido social, a liquidação de direitos sociais e laborais conquistados pelos trabalhadores nos séculos XIX e XX, o aumento dos impostos (e ainda eles se dizem liberais…) têm vindo a liquidar as economias, provocando recessão, desemprego, pobreza e miséria, especialmente nos países sujeitos a “ajustamento”, como Portugal, a Grécia e a Irlanda. As “ajudas da troika” apenas aprofundaram ainda mais a crise. É o próprio FMI, membro daquela, que o afirma.
Devido a todo aquele conjunto de factores, ultimamente, a esquerda venceu as eleições legislativas na Dinamarca, na Eslováquia e na Grécia, as presidenciais em França, e as autárquicas e regionais na Inglaterra e na Alemanha, prenunciando a queda de Angela Merkel em próximas legislativas. Na repetição do acto eleitoral, a realizar no próximo dia 17 de Junho na Grécia, muito provavelmente vencerá o movimento SYRISA, organização de esquerda radical, irmão político do Bloco de Esquerda.
Na América Latina, a esquerda marxista tem obtido vitórias em quase todas as eleições, nos últimos anos. No Nepal, os maoistas, liderados pelo “camarada Prachanda”, foram o partido mais votado nas últimas eleições, com 40% de votos, mais de três décadas após o fim do maoismo na própria China.
A direita continua a nada aprender com a História e a actualidade. Nem estes resultados a fazem abrir os olhos. Continua a recusar políticas viradas para o crescimento, ainda que conjugadas com disciplina financeira, e a defender a austeridade pura e dura, a qual está a destruir abruptamente a Europa social e de bem-estar conquistada após a II guerra mundial. Por isso perde eleições, umas atrás de outras. Um antigo slogan da UDP dizia :“o povo não quer a direita no poder”. Os povos europeus também demonstram não querer esta direita no poder.
A esquerda, pelo contrário, bate-se pelo crescimento económico. Mas, além dos “eurobonds” e do aumento do investimento público, nada mais acrescenta. É pouco. Terá que defender também a baixa dos impostos e a reforma do Estado Providência, colocando-o essencialmente ao lado dos mais desfavorecidos, bem como garantir liberdade de escolha, de forma equitativa, na saúde ou no ensino. Ou seja, terá que ser influenciada pela prática de Blair, Schroeder, Clinton, Obama ou Lula, e não dar ouvidos, em muitos aspectos, a Mário Soares ou Manuel Alegre.
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quinta-feira, 10 de maio de 2012

O QUE O PODER FAZ A CERTAS PESSOAS !

Na Grécia, há pais a entregar filhos a orfanatos. Há muitas crianças que vão para a escola sem comer e desmaiam nas aulas. Estas situações, o elevado desemprego e a miséria visível, principalmente nas grandes cidades daquele país, não comovem os eurocratas e a Srª Merkel, que até é democrata-cristã e perfilha a doutrina social da Igreja. Se Cristo cá voltasse, tinha muito vendilhão e muita vendilhona a expulsar do templo…
O que é preciso é pagar dívidas e diminuir défices, nem que seja a matar pessoas à fome, incluindo crianças.
Em Portugal, há alunos a abandonar as universidades por dificuldades económicas. Nas escolas dos ensinos básico e secundário há inúmeras carências, constantemente noticiadas na comunicação social.
Perante esta situação, o ministro dito da Educação, Nuno Crato, fica de braços cruzados.
Onde está o Nuno Crato, funcionário do PCP (m-l), que pouco antes do 25 de Abril se deslocou clandestinamente a França, com o objectivo de conciliar as duas facções desavindas do partido, a de Heduino Gomes (Vilar), exilado naquele país, e a de Carlos Janeiro (Mendes), que se encontrava clandestino em Portugal?
Após o 25 de Abril, o PCP(m-l) partiu-se em dois. Nuno Crato permaneceu na facção Mendes, a qual criou o PUP (Partido de Unidade Popular), mais tarde integrado no PCP(R)/UDP. Na segunda metade dos anos 70, Nuno Crato foi um dos mais destacados dirigentes da UDP, surgindo constantemente ao lado da sua figura mais conhecida da época, o deputado Acácio Barreiros, já falecido.
Naqueles tempos, o jovem Nuno Crato defendia um ensino “ao serviço do povo, geral e gratuito”. Uma das palavras de ordem do PUP era “democracia para os pobres! ditadura para os ricos!”. A UDP proclamava: “os ricos que paguem a crise!”.
Como muitos outros jovens da sua geração, Crato abandonou a extrema-esquerda e abraçou a democracia parlamentar. Actualmente, faz parte de um governo para quem os desempregados, os pobres e as crianças filhas dos mesmos são apenas números. Este seu alheamento relativamente ao abandono do ensino por alunos com poucos recursos económicos mostra que não está no governo para mudar a situação por dentro. Assim se abandonam os ideais de justiça social e de solidariedade pelos quais se lutou nos melhores anos da vida. O que o poder faz a certas pessoas !

domingo, 6 de maio de 2012

A PROVA DE QUE ESTE PSD NÃO É O FUNDADO HÁ 38 ANOS

Hoje passam 38 anos sobre a data da fundação do Partido Popular Democrático (PPD), actual Partido Social Democrata (PSD), por Sá Carneiro (seu primeiro líder), Pinto Balsemão e Magalhães Mota.
Evocando tal data, aquele partido organizou ontem uma sessão, na qual foi principal orador o seu líder, Passos Coelho. Não esteve presente nenhum dos anteriores líderes vivos, o que prova estarmos, presentemente, perante um outro partido - ultra-liberal, cultor do conservadorismo social e representante do país dos de cima - e não o Partido Social Democrata de que os ausentes foram presidentes: inter-classista, reformista, defensor da conjugação da promoção segundo o mérito com a igualdade de oportunidades e da livre iniciativa com a justiça social.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

ORWELL, TITANIC E A SITUAÇÃO POLÍTICA PORTUGUESA

Passos Coelho e Vitor Gaspar não se cansam de afirmar que não serão aplicadas novas medidas de austeridade. No entanto, são suspensas, provavelmente "ad eternum", as reformas antecipadas, tal como a reposição dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos, os quais vão ser sujeitos a mobilidade susceptível de provocar o deslaçamento familiar (e diz-se esta gente, particularmente o partido de Portas, defensora da família...), a convites para caminharem para o desemprego, Assunção Cristas aplica nova taxa em produtos alimentares, que irá sobrecarregar o contribuinte, os impostos continuarão a subir até 2016, etc, etc. Que é isto senão austeridade?
Fazendo lembrar George Orwell, estes governantes têm uma dupla linguagem. Por outras palavras, quando os ouvir, amigo leitor, prepare-se para eles fazerem o inverso do que dizem. De que serviu a austeridade a que o governo Passos/Portas nos sujeitou desde há quase um ano a esta parte? A dívida pública aumentou. Apesar do aumento da carga fiscal, as receitas dos impostos diminuem. Estamos, pois, perante a soma de austeridade à austeridade, de crise à crise. Esta política falhou rotundamente, como no resto da Europa.
A Comissão Europeia, que tem à frente um verdadeiro social democrata, e o FMI já se aperceberam de que esta austeridade excessiva está errada, propondo outra política, virada para o crescimento, a qual terá de passar pelo apoio às empresas, mas também pelo investimento público, o qual puxará pelo investimento privado.
A propósito, recordamos que, após o 25 de Abril, a economia e os salários reais cresceram mais e o desemprego baixou quando aumentou o investimento público. Foi assim com Sá Carneiro, com Cavaco Silva e António Guterres. Aliás, a partir do momento em que o governo deste último terminou com obras que continuou de governos anteriores, como a EXPO 98, a ponte Vasco da Gama, ou várias auto-estradas, a nossa economia passou a crescer menos, entrando em divergência acentuada com os nossos parceiros comunitários.
A Srª Merkel já disse que pretende continuar a austeridade. Por outro lado, como se prevê, a partir do próximo domingo os franceses dispensarão o marido de Carla Bruni e elegerão o socialista Hollande, o qual alinha com as posições defendidas pela C.E. e o FMI anteriormente referidas, tal como aliás, vários primeiros-ministros, entre os quais, o conservador inglês Cameron e o independente italiano Monti.
Todas estas condições objectivas e subjectivas, como diria Marx, determinarão grandes confrontos entre os governos e as instituições europeias. O governo português terá que se definir: se está com quem quer o crescimento e o investimento como forma de combater a crise ou com quem aposta no empobrecimento elogiado já pelo primeiro-ministro, tornando a Europa poderosa, económica e socialmente, do pós II Guerra Mundial numa espécie de nova China. Pelos antecedentes e pelo discurso que continua a ser corrente entre os governantes, não é difícil adivinhar para que lado cairá o mesmo...
Tal como Sócrates, enquanto o país se afunda, Passos Coelho, Gaspar, Relvas e Portas - quem, na realidade, manda em Portugal - fazem lembrar a orquestra do Titanic a tocar quando o mesmo também se afundava. Esta atitude terá consequências. Passos Coelho poderá cair do seu pedestal da mesma forma que o seu antecessor. E, tal como ele, talvez antes do tempo, até da mesma forma que foram substituidos os seus anteriores colegas grego e italiano.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

DE CONSCIÊNCIA DE ESQUERDA DO PSD A ULTRA-LIBERAIS

Na segunda metade dos anos oitenta e nos anos noventa do século passado, a direcção da Juventude Social-Democrata (JSD) era considerada a consciência de esquerda do PSD. Os seus membros, especialmente no primeiro daqueles períodos, eram apelidados de balsemistas, dado Pinto Balsemão ser considerado o principal representante máximo da ala esquerda do partido.
De 1986 a princípios dos anos 90, o líder da “jota” era Carlos Coelho, hoje deputado ao Parlamento Europeu. Consigo faziam parte da cúpula da organização, entre outros, o actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, bem como os ministros Miguel Relvas e Miguel Macedo. Todos eles gostavam tanto do liberalismo como Maomé do toucinho. A sua referência era a social-democracia tradicional. Quem na organização juvenil do PSD defendia posições mais próximas do liberalismo eram Nuno Morais Sarmento e Pedro Cebola, tendo este último sido candidato derrotado à liderança da mesma contra Carlos Coelho.
Quando Carlos Coelho, por limite de idade, deixou a JSD, o novo presidente eleito da mesma foi Pedro Passos Coelho, que se distinguiria na luta contra o pagamento de propinas no ensino superior quando Cavaco Silva era primeiro-ministro.
Passados todos estes anos, o primeiro-ministro e demais membros do seu governo que com ele estiveram na JSD tornaram-se ultra-liberais. Recordo que também colocaram reticências à revisão da legislação laboral que provocou uma greve geral convocada pelas duas centrais sindicais em 1988, durante o consulado cavaquista, em nome dos direitos dos trabalhadores.
Como eles mudaram… para pior. Hoje, é vê-los defender os aspectos mais negativos do sistema capitalista: legislação laboral permissiva, pelo menos em alguns aspectos, da arbitrariedade da entidade patronal, cortes cegos de benefícios sociais, aumento dos horários de trabalho por menos dinheiro, entre outras medidas inseridas numa lógica ultra-liberal, fabricada em laboratório, mas que falhou no mundo inteiro e esteve na origem da actual crise nos EUA e na Europa.
Esta engenharia social neo-liberal está também a mostrar as suas consequências em Portugal: recessão, quebra acentuada do poder de compra, desemprego (oficial) de 15% da população activa, pois o desemprego real é muito superior e andará pelos 20%, ultrapassando 1 milhão de trabalhadores.
Toda esta prática tem sido levada a efeito em nome do reequilíbrio financeiro de Portugal. No entanto, a dívida pública, que, segundo o economista liberal João César das Neves, é o nosso pior problema, aumentou desde a tomada de posse do actual governo. Apesar do enorme aumento da carga fiscal, nos primeiros meses de 2012 as receitas fiscais diminuiram relativamente a igual período de 2011. Nesse ano, o défice diminuiu de 10% para 4% do PIB, devido à receita extraordinária dos fundos de pensões da banca, a qual provocou uma nova despesa, o pagamento de tais pensões pela segurança social. Se não fosse aquela receita, o défice do ano passado andaria à volta de 7%. O compromisso com a troika era de diminuir o mesmo para 5,9%. No presente ano, muito poucos especialistas na matéria acreditam que o défice coincida com os previstos 4,5%, podendo chegar aos 6/6,5%. Isto, para já não falar das privatizações que não passam pela bolsa, a venda ao desbarato do BPN, etc.
Esta política falhou. O que se passa no nosso país faz lembrar o princípio da actual tragédia grega. É o que faz renegar a social democracia em nome de “modas” que já não o são.

PS: a compreensão dos portugueses relativamente a esta política está a esvair-se. Segundo uma sondagem publicada na edição de hoje do “Correio da Manhã”, jornal insuspeito de conotação com a oposição, à excepção de Assunção Cristas (só pode ser pela sua beleza), todos os ministros têm uma imagem negativa, sendo a pior a do "Álvaro". Dos líderes partidários, o mais popular é António José Seguro, sendo o mais impopular Passos Coelho. A classificação dos dirigentes políticos é a seguinte: 1º - António José Seguro, 2º - Jerónimo de Sousa, 3º - Francisco Louçã, 4º - Paulo Portas e 5º - Passos Coelho.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O PORQUÊ DE UMA DEMISSÃO E UMA RENÚNCIA

"Sociais democratas, liberais (incluindo os que militam no PS), democratas-cristãos, não estais representados por nenhum dos partidos existentes. Tendes de optar: ou continuais nos vossos partidos à espera de melhores dias, ou abandonais os mesmos, procurando outras formas de lutar por uma sociedade que se identifique com os vossos ideais. Chega de mentira! Chega de hipocrisia! Não foi necessário decorrer um ano para nos cansarem!".

Em anterior post publicado no "Mais São Pedro do Sul", escrevi o que acima fica mencionado.
O último congresso do PSD foi uma reunião laudatória de Passos Coelho e da sua política. Até o anteriormente detestado pelas bases daquele partido, Paulo Portas, foi muito bem recebido.
Não houve qualquer discussão sobre as políticas desenvolvidas pelo actual governo, que nada têm a ver com a social democracia ou o liberalismo de que se reclama. Ou seja, o aparelho e as bases do PSD estão em perfeita sintonia com aquelas políticas e nada os diferencia dessa força de direita, conservadora e retrógrada quanto a valores e costumes, como é o CDS.
Mais parecia um dos congressos do PC soviético, especialmente no tempo de Estaline.
Por aqueles motivos, aliados a divergências e críticas anteriores que fiz ao PSD, decidi abandonar o mesmo ao fim de 26 anos de militância e, por uma questão ética, renunciei ao mandato de deputado na Assembleia Municipal de S. Pedro do Sul, como, aliás, já veio noticiado no "Caricas". A propósito desta notícia, é engraçado como a minha carta de renúncia ao mandato é recebida na Câmara Municipal local no dia 30/3/2012 (assim consta no AR devolvido), sendo tal facto dado a conhecer naquele blogue no dia seguinte...
Como quem mudou foi, na minha óptica, o PSD e não eu, vou lutar em outra sede pelas ideias que durante mais de um quarto de século me bati no meu ex-partido.

quinta-feira, 22 de março de 2012

ESTADO TOTALITÁRIO CHINÊS MANDA NO ESTADO PORTUGUÊS

Numa edição recente do "Público", Vasco Pulido Valente afirmou que o ex-presidente do PSD, Luis Marques Mendes, um dos principais ideólogos actuais daquele partido, disse na TVI 24 que "a EDP é um Estado dentro do Estado" e "manda no Estado". Não vi tal programa da televisão que, começando por ser de inspiração católica, já esteve na mão de colombianos, os quais, como sabemos, investem no estrangeiro com a melhor das boas intenções...
Também não observei nem li qualquer desmentido da peça escrita pelo secretário de estado da Cultura de Sá Carneiro.
Por outro lado, também não perco o meu precioso tempo a ouvir ou ler Marques Mendes ou qualquer outro apoiante deste falso partido social democrata.
Adiante e concluindo: o estado totalitário comunista chinês manda num governo eleito democraticamente. O seu voto, (e)leitor, nada conta, como, aliás, acontece na maioria das sociedades democráticas, nas quais o poder económico se apoderou do poder político, geralmente medíocre.
O actual poder governamental, mais que medíocre, é ridículo. Basta ver a triste figura que faz o viseense "Álvaro".
Tu, militante social democrata (que ainda acreditas neste termo) vais continuar a seguir o partido de direita, defensor dos ricos, que despreza os pobres e ofendidos, bem como as camadas médias em vias de proletarização, como diria Marx, os quais considera meros números, que abandonou a ideologia que abraçaste desde Sá Carneiro e amanhã inicia um congresso laudatário das políticas mais reaccionárias desde o 25 de Abril?

sexta-feira, 16 de março de 2012

QUANDO MEIA VERDADE ESCONDE A MENTIRA

Para a mentira ser segura
e atingir profundidade
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade

António Aleixo


Nesta semana, o secretário de estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, tentou atirar areia para os olhos dos portugueses, fazendo jus à quadra do popular poeta algarvio António Aleixo, acima referida.
Ostentando aquele ar entre os estilos betinho e "yupie" (daqueles rapazolas que na década de 80 do século passado rebentaram com a bolsa de Wall Street e acabaram na cadeia), disse que o "ajustamento" português está a dar frutos na economia. Em que se baseava o moço? No aumento das exportações relativamente às importações. Mas não é necessário ser economista para perceber que tal se deve à falta de dinheiro e às falências de empresas, que conduzem à diminuição das compras ao estrangeiro.
Porque não falou em frutos podres, como o aumento da inflação, a queda do PIB (1,5% no ano passado e 3 a 4%, segundo as previsões para este ano)? Porque "esqueceu" o desemprego real e não o das estatísticas manipuladas, que já atinge mais de um milhão de trabalhadores? Esses frutos não contam?
Assim se procura enganar o Zé Povinho. Não quero comparar este rapaz e os seus companheiros de governo com o tristemente célebre Doutor Goebels, ministro da propaganda nazi, quando afirmava "uma mentira suficientemente repetida passa a ser verdade". Seria banalizar os horrorosos crimes dos nazis. Prefiro ficar pela comparação com o nosso Aleixo.
Os tiros de pólvora seca dados por esta gente, no entanto, estão-lhes a sair pela culatra. O PSD e o CDS estão em queda nas sondagens. Algumas destas apontam já para a perda da maioria absoluta por aqueles partidos, os quais já nada têm de social democrata ou democrata-cristão. Por outro lado, a imagem do governo é muito negativa. Tivesse o PS o seu Tony Blair na liderança e já lideraria os inquéritos à população.
É que, como dizia o presidente americano Lincoln, no século XIX, "pode enganar-se toda a gente durante algum tempo, pode enganar-se alguma gente durante algum tempo, não se pode enganar toda a gente toda a vida". A meia verdade, a esconder uma grande mentira, de Carlos Moedas, aliada a tantas promessas não cumpridas dos actuais detentores do poder executivo, especialmente as feitas durante a campanha eleitoral que os conduziu ao poder, começam a fazer cair as suas máscaras e a mostrar que esta gente não é melhor que Sócrates.
Sociais democratas, liberais (incluindo os que militam no PS), democratas-cristãos, não estais representados por nenhum dos partidos existentes. Tendes de optar: ou continuais nos vossos partidos à espera de melhores dias, ou abandonais os mesmos, procurando outras formas de lutar por uma sociedade que se identifique com os vossos ideais. Chega de mentira! Chega de hipocrisia! Não foi necessário decorrer um ano para nos cansarem!