terça-feira, 25 de setembro de 2012

ORGANIZAÇÕES MAOISTAS VOLTAM A MULTUPLICAR-SE

O século XXI será o século do comunismo.
Arnaldo Matos


Nos anos 60 e 70 do século passado, à semelhança do resto da Europa, havia em Portugal uma série de partidos e organizações maoistas. No pós-25 de Abril eram mais de uma dezena.
A viragem verificada no processo político português em 25 de Novembro de 1975, as mudanças pró-capitalistas na economia chinesa, as divergências dos que os maoistas da linha dura apelidavam de novos mandarins com a Albânia, e o fim do chamado socialismo científico neste país, levaram ao fim da maioria daqueles partidos e organizações em todo o Ocidente. Em Portugal, desde há 25 anos, que apenas o PCTP/MRPP, fundado em 1970, se mantinha, com poucos militantes e simpatizantes, até ao início do séc XXI.
No início do terceiro milénio, um grupo radical, após ter operado uma cisão de esquerda no partido de Arnaldo Matos, criou o Círculo Revolucionário (CR), que edita o jornal "Bandeira Vermelha" e a "Página Vermelha", na internet.
Recentemente, descobri também na net que surgiu no ano de 2011 uma terceira organização maoista, a União Comunista Revolucionária (UCR).
Estas duas últimas organizações têm ligação ao Movimento Revolucionário Internacionalista (MRI), fundado em 1984, espécie de internacional maoista. O MRPP, como sempre, aliás, continua a não reconhecer nenhuma organização com as mesmas afinidades ideológicas em qualquer país, pois, no seu entender, tal constitui "um problema para a classe operária e demais trabalhadores dos outros países". Por outro lado, entende ter sido o maoismo um desenvolvimento importante do marxismo-leninismo, mas apenas no tocante à experiência chinesa. Já não considera o maoismo como nova etapa do marxismo-leninismo. Também não vê o Presidente Gonzalo, pseudónimo de Abimael Guzzman, líder do Partido Comunista do Perú, mais conhecido por Sendero Luminoso, preso há 20 anos no seu país, como o "maior marxista-leninista vivo", nem o "pensamento gonzalo" como nova etapa do marxismo, como os seus dissidentes do Círculo Revolucionário, os quais consideram Arnaldo Matos, Garcia Pereira e demais militantes do seu antigo partido traidores à causa revolucionária, bem como a UCR.
CR e UCR tem ligações ao MRI. A UCR apela à guerra popular contra o actual sistema.
Um pouco por toda a Europa, têm reaparecido várias organizações inspiradas no maoismo. No Perú, após a prisão de Abimael Guzzman e outros dirigentes senderistas importantes, o seu partido atravessa muitas dificuldades, incluindo algumas cisões. No entanto, no Nepal, o Partido Comunista Maoista, de Prachanda, venceu as últimas eleições legislativas, com 40% de votos, tendo o próprio Prachanda sido primeiro-ministro algum tempo. Na Índia, nas Filipinas ou na Tailândia, estão activas guerrilhas inspiradas no maoismo e no pensamento gonzalo.
No início do século XXI, Arnaldo Matos afirmou que o mesmo seria "o século do comunismo". O maoismo, considerado morto nos anos 80 e 90, volta a organizar-se, multiplicando-se as organizações que do mesmo se reclamam, tal como nos velhos tempos da minha militância nesse campo ideológico, dado o caminho seguido pelo capitalismo após a queda do muro de Berlim, tendo, de um modo geral, deixado de ser o capitalismo de rosto social e humanista do pós-segunda guerra mundial,tornando-se na subtracção de rendimentos do factor trabalho para o factor capital, agravando e criando novas gritantes desigualdades, para o que contribuiu a globalização desregulada. As injustiças resultantes desta situação, a desilusão face aos partidos comunistas em tempos ligados a Moscovo e a não alternativa de boa parte dos partidos socialistas, de que o português é caso paradigmático, estão na origem desta ressurreição dos seguidores do "grande timoneiro", embora com muito menos pujança que há 30, 40 ou 50 anos.
Se o capitalismo tem abusado e criado cada vez mais injustiças, e a esquerda tradicional está na situação acima dita, não tenham também ilusões relativamente ao maoismo, quer velhos militantes honestos, a maioria meus antigos camaradas e amigos, quer jovens radicais desesperados. Mao foi um tirano. Se qualquer das organizações maoistas da nossa praça alcançasse o poder, outra tirania nos esperava. Vós, meus ex-camaradas, por quem ainda tenho muita estima pessoal, e jovens iludidos por tais ideais, seríeis as primeiras vítimas dos vossos chefes, esses devidamente informados. Vede o que aconteceu a muitos companheiros de Lenine na revolução de 1917, ou de Mao, na revolução de 1949.

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