segunda-feira, 16 de abril de 2012

DE CONSCIÊNCIA DE ESQUERDA DO PSD A ULTRA-LIBERAIS

Na segunda metade dos anos oitenta e nos anos noventa do século passado, a direcção da Juventude Social-Democrata (JSD) era considerada a consciência de esquerda do PSD. Os seus membros, especialmente no primeiro daqueles períodos, eram apelidados de balsemistas, dado Pinto Balsemão ser considerado o principal representante máximo da ala esquerda do partido.
De 1986 a princípios dos anos 90, o líder da “jota” era Carlos Coelho, hoje deputado ao Parlamento Europeu. Consigo faziam parte da cúpula da organização, entre outros, o actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, bem como os ministros Miguel Relvas e Miguel Macedo. Todos eles gostavam tanto do liberalismo como Maomé do toucinho. A sua referência era a social-democracia tradicional. Quem na organização juvenil do PSD defendia posições mais próximas do liberalismo eram Nuno Morais Sarmento e Pedro Cebola, tendo este último sido candidato derrotado à liderança da mesma contra Carlos Coelho.
Quando Carlos Coelho, por limite de idade, deixou a JSD, o novo presidente eleito da mesma foi Pedro Passos Coelho, que se distinguiria na luta contra o pagamento de propinas no ensino superior quando Cavaco Silva era primeiro-ministro.
Passados todos estes anos, o primeiro-ministro e demais membros do seu governo que com ele estiveram na JSD tornaram-se ultra-liberais. Recordo que também colocaram reticências à revisão da legislação laboral que provocou uma greve geral convocada pelas duas centrais sindicais em 1988, durante o consulado cavaquista, em nome dos direitos dos trabalhadores.
Como eles mudaram… para pior. Hoje, é vê-los defender os aspectos mais negativos do sistema capitalista: legislação laboral permissiva, pelo menos em alguns aspectos, da arbitrariedade da entidade patronal, cortes cegos de benefícios sociais, aumento dos horários de trabalho por menos dinheiro, entre outras medidas inseridas numa lógica ultra-liberal, fabricada em laboratório, mas que falhou no mundo inteiro e esteve na origem da actual crise nos EUA e na Europa.
Esta engenharia social neo-liberal está também a mostrar as suas consequências em Portugal: recessão, quebra acentuada do poder de compra, desemprego (oficial) de 15% da população activa, pois o desemprego real é muito superior e andará pelos 20%, ultrapassando 1 milhão de trabalhadores.
Toda esta prática tem sido levada a efeito em nome do reequilíbrio financeiro de Portugal. No entanto, a dívida pública, que, segundo o economista liberal João César das Neves, é o nosso pior problema, aumentou desde a tomada de posse do actual governo. Apesar do enorme aumento da carga fiscal, nos primeiros meses de 2012 as receitas fiscais diminuiram relativamente a igual período de 2011. Nesse ano, o défice diminuiu de 10% para 4% do PIB, devido à receita extraordinária dos fundos de pensões da banca, a qual provocou uma nova despesa, o pagamento de tais pensões pela segurança social. Se não fosse aquela receita, o défice do ano passado andaria à volta de 7%. O compromisso com a troika era de diminuir o mesmo para 5,9%. No presente ano, muito poucos especialistas na matéria acreditam que o défice coincida com os previstos 4,5%, podendo chegar aos 6/6,5%. Isto, para já não falar das privatizações que não passam pela bolsa, a venda ao desbarato do BPN, etc.
Esta política falhou. O que se passa no nosso país faz lembrar o princípio da actual tragédia grega. É o que faz renegar a social democracia em nome de “modas” que já não o são.

PS: a compreensão dos portugueses relativamente a esta política está a esvair-se. Segundo uma sondagem publicada na edição de hoje do “Correio da Manhã”, jornal insuspeito de conotação com a oposição, à excepção de Assunção Cristas (só pode ser pela sua beleza), todos os ministros têm uma imagem negativa, sendo a pior a do "Álvaro". Dos líderes partidários, o mais popular é António José Seguro, sendo o mais impopular Passos Coelho. A classificação dos dirigentes políticos é a seguinte: 1º - António José Seguro, 2º - Jerónimo de Sousa, 3º - Francisco Louçã, 4º - Paulo Portas e 5º - Passos Coelho.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O PORQUÊ DE UMA DEMISSÃO E UMA RENÚNCIA

"Sociais democratas, liberais (incluindo os que militam no PS), democratas-cristãos, não estais representados por nenhum dos partidos existentes. Tendes de optar: ou continuais nos vossos partidos à espera de melhores dias, ou abandonais os mesmos, procurando outras formas de lutar por uma sociedade que se identifique com os vossos ideais. Chega de mentira! Chega de hipocrisia! Não foi necessário decorrer um ano para nos cansarem!".

Em anterior post publicado no "Mais São Pedro do Sul", escrevi o que acima fica mencionado.
O último congresso do PSD foi uma reunião laudatória de Passos Coelho e da sua política. Até o anteriormente detestado pelas bases daquele partido, Paulo Portas, foi muito bem recebido.
Não houve qualquer discussão sobre as políticas desenvolvidas pelo actual governo, que nada têm a ver com a social democracia ou o liberalismo de que se reclama. Ou seja, o aparelho e as bases do PSD estão em perfeita sintonia com aquelas políticas e nada os diferencia dessa força de direita, conservadora e retrógrada quanto a valores e costumes, como é o CDS.
Mais parecia um dos congressos do PC soviético, especialmente no tempo de Estaline.
Por aqueles motivos, aliados a divergências e críticas anteriores que fiz ao PSD, decidi abandonar o mesmo ao fim de 26 anos de militância e, por uma questão ética, renunciei ao mandato de deputado na Assembleia Municipal de S. Pedro do Sul, como, aliás, já veio noticiado no "Caricas". A propósito desta notícia, é engraçado como a minha carta de renúncia ao mandato é recebida na Câmara Municipal local no dia 30/3/2012 (assim consta no AR devolvido), sendo tal facto dado a conhecer naquele blogue no dia seguinte...
Como quem mudou foi, na minha óptica, o PSD e não eu, vou lutar em outra sede pelas ideias que durante mais de um quarto de século me bati no meu ex-partido.