segunda-feira, 30 de julho de 2012

O DISCURSO DE ALMADA

No Verão de 1975, o então primeiro-ministro do V governo provisório, general Vasco Gonçalves, ao ser contestado pela esmagadora maioria dos portugueses e também pela maioria dos militares de Abril, apoiantes dos "nove", fez um discurso desesperado em Almada. O seu fim estava para breve.
Passadas poucas semanas, demitia-se do cargo que exercia, sendo substituido pelo almirante Pinheiro de Azevedo, militar moderado. O VI governo provisório foi constituido maioritariamente por militantes do PS e do então PPD, tendo o PCP uma pasta no mesmo.
Aquele discurso veio-nos à memória, nos últimos tempos, ao ouvir Passos Coelho, antigo "compagnon de route" do general Vasco, quando, ainda que fugazmente, passou pelo PCP e pela JCP.
O seu projecto de "ajustamento" falhou, como mostram o aumento do défice e da dívida pública. Constatando tal facto, passou a proferir uma linguagem típica de café ou taberna de subúrbio e demonstrativa de desespero. Pressentirá que estará para lhe acontecer o mesmo que a Vasco Gonçalves? Que a troika e as instituições comunitárias lhe tirarão o tapete como a anteriores chefes de governo grego e italiano?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

VELHOS SEM PRESENTE, JOVENS SEM FUTURO

Uma das frases mais célebres de Francisco Sá Carneiro, na segunda metade da década de 70 do século passado, era a seguinte: "Portugal é um país onde os velhos não têm presente e os jovens não têm futuro".
A luta de Sá Carneiro contra o socialismo terceiro-mundista, no plano económico e em alguns aspectos políticos, consignado na Constituição aprovada em 1976, era por um capitalismo de rosto humano, regulado pelo regime democrático, que não fosse um objectivo, mas um meio para tornar Portugal num país próspero e desenvolvido, com justiça social, de onde fossem erradicadas a pobreza e a miséria. Combatia o igualitarismo, mas defendia a igualdade de oportunidades. Era pelo mérito, mas sempre conjugado com a justiça social, ou, como diria o "papa" do liberalismo económico, Adam Smith, deturpado pelo actual poder passista/portista, com uma rede social abaixo da qual ninguém caia.
Não é necessária grande formação política e ideológica, ou um curso superior obtido na Lusófona, ainda que feito num ano e com apenas 4 disciplinas, para ver que o actual PSD nada tem a ver com aqueles princípios. O Partido Social Democrata morreu, sendo fundado, em seu lugar, um partido neo-liberal, deturpador da ideologia fundacional do conceito moderno de democracia, conservador e reaccionário, como demonstram muitas medidas tomadas recentemente pelo mesmo.
Contrariamente ao "sá carneirismo", o "passismo" não tem preocupações de carácter social. O elevado desemprego, a miséria e fome que se fazem sentir, principalmente nos grandes meios, a proletarização da classe média, o abandono da universidade por alunos com poucos recursos (ainda se lembra, Doutor Nuno Crato, quando berrava por um ensino ao serviço do povo? Renegar o marxismo-leninismo-maoismo, como eu também fiz, é uma virtude. Esquecer os aspectos positivos do marxismo e da tradição da esquerda, em geral, inscritos na matriz original do PSD e que o capitalismo inteligente do pós-segunda guerra mundial endossou, é um acto de traição, sim, à generosidade com que defendemos ideais errados no passado e que nos levou a defender a democracia liberal, mas também social) não preocupam Passos e "sus muchachos".
O PSD é um partido claramente à direita do próprio CDS. A pessoa mais à esquerda no actual governo, é, sem dúvida, a ministra Assunção Cristas, que se bate por uma reforma agrária democrática, como se vê pela sua política relativamente ao banco de terras.
Recentemente, o bispo mais odiado pela direita, D. Januário Torgal Ferreira, ao denunciar a política anti-social - e que só tem agravado a crise financeira - do governo, demonstrou, por A+B, que a mesma nada tem a ver com o "sá carneirismo", pois, segundo afirmou, conheceu o primeiro líder do PSD em realizações da Igreja Católica antes do 25 de Abril, onde o mesmo mostrava uma grande preocupação com os mais pobres e desfavorecidos.
Está explicado porque este poder não gosta deste bispo. Os motivos são, em situações históricas diferentes, os mesmos pelos quais os poderosos de há dois milénios perseguiram e mataram Jesus Cristo. Para estes falsos sociais democratas, falar de justiça social, solidariedade e opção pelos pobres, é ser um "perigoso esquerdista".
Como, com esta idade, já vi muita coisa, pouco ou nada me faz admirar. Muito menos que este PSD venha, quando tiver condições para isso, a apelidar também Sá Carneiro de "perigoso esquerdista" e a social-democracia de ideologia revolucionária e inimiga do que pensam ser liberalismo. Ah! Ainda eles, provavelmente, não sabem nem sonham, como diria António Gedeão, que os bolcheviques, liderados por Lenine, autores da primeira revolução comunista vitoriosa no mundo, sairam do POSDR (Partido Operário Social-Democrata Russo), ou que os espartaquistas alemães (comunistas), de Rosa Luxemburgo e Karl Libknecht, também sairam do velho SPD do país hoje dominante na UE. Mas, para que certas mentes não fiquem confusas, eu esclareço-as: após o falhanço da Comuna de Paris, em 1871, Marx defendeu a entrada dos comunistas para os partidos socialistas e sociais-democratas, para melhor se protegerem da repressão que sobre os mesmos se fez abater. Daí que a genaralidade dos partidos comunistas tenham saído daqueles partidos no final da década de 10 e na década de 20, no século XX, após a vitória dos bolcheviques.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

DEPOIS DE SÓCRATES, RELVAS

Há alguns anos, o PSD, na oposição, usou como tema de campanha contra Sócrates a sua licenciatura na Universidade Independente, entretanto encerrada. Tinha razão aquele partido. Completar disciplinas ao fim de semana e numa simples folha A-4, é, no mínimo, duvidoso.
Idêntica nódoa atinge o actual governo PSD/CDS. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais, na Universidade Lusófona, em apenas 1 ano, tendo sido aprovado em 4 disciplinas, num curso que tem a duração de 3 anos, com 36 disciplinas. Aquela universidade teve em conta o "curriculum" profissional e a frequência universitária do ministro Relvas para lhe atribuir a licenciatura.
A frequência universitária do sr. Relvas é a seguinte: matriculou-se nos cursos de Direito, Relações Internacionais e História. Concluiu apenas uma disciplina no primeiro daqueles cursos, com a nota mínima (10 valores), e em nenhuma disciplina foi aprovado nos outros cursos. Quanto a experiência "profissional", Relvas passou pela política e trabalhou numa empresa que nada tem a ver com o curso que lhe foi oferecido(é o termo apropriado).
Esta situação é ofensiva de quem andou 4, 5 ou 6 anos, especialmente trabalhadores estudantes, a estudar e a gastar dinheiro numa Faculdade.
Só um pacóvio que não sabe o que é uma universidade pode aceitar esta situação. Como é possível o primeiro ministro, que, segundo o "Correio da Manhã", completou o curso de Economia em tempo normal e com boas notas, poder pactuar com isto? Como pode aceitar tantos "lapsos" deste homem, que em 1985 mentiu à AR, quando para a qual foi eleito deputado pela primeira vez, afirmando ter obtido frequência do 2º ano de Direito e se "esquece" de um almoço com esse exemplo de isenção e honestidade, como o anterior director do SIED, há pouco mais de um ano?
As sondagens, as vaias a Passos Coelho e seus ajudantes - bem como ao PR - são significativas do descontentamento popular. A "paciência" dos portugueses está a esgotar-se.
Desconheço os gostos musicais de Pedro Passos Coelho. Não sei se continuará a gostar da música das "Doce", com uma das quais foi casado. Seria bom que ouvisse uma canção com quase 50 anos, de Paul Simon e Art Garfunkel: "the sounds of silence", que a determinada altura diz "o silêncio, como o cancro, cresce"...