sexta-feira, 28 de junho de 2013

GREVE GERAL: O MEDO ACABOU

A greve geral realizada ontem, dia 27 de Junho, foi um êxito. Em idênticas greves anteriores, registou-se assinalável adesão no sector público, mas muito menor no sector privado. Muitos trabalhadores tinham medo de exercer aquele seu direito constitucional.
Desta vez, a adesão foi novamente massiva na administração e empresas públicas, mas também em muitas empresas privadas, especialmente em algumas das maiores. O medo acabou. A greve recente dos professores mostrou que lutar é vencer.
O governo PSD/CDS está isolado junto dos trabalhadores, tendo contra si as centrais sindicais e sendo alvo de fortes críticas por parte das associações empresariais, as quais defendem um novo rumo económico, afastado da austeridade cega e virado para o investimento. Nem os representantes dos trabalhadores, nem os do patronato concordam com este caminho absurdo.
A legitimidade não reside apenas numa vitória eleitoral e no suporte maioritário no parlamento, ou no apoio do Presidente da República, pois o país real está contra esta política e os seus executantes, que venceram as últimas eleições com base na mentira. Este simples facto já é suficiente para a sua perda de legitimidade !

domingo, 23 de junho de 2013

HUMOR E FALTA DE ÉTICA

Recentemente, o líder do grupo parlamentar do  PSD, Luis Montenegro, teve o desplante de afirmar que o país se encontra melhor que há dois anos, quando o governo do seu partido e do CDS tomou posse.
Houve tempos em que só entrava para a maçonaria quem se pautasse por uma ética irrepreensível. Até aquela agremiação já não é o que era. Sinais dos tempos...
O ministro das Finanças, Vitor Gaspar,  disse na A.R. ser a crise na construção civil devida ao mau tempo verificado no primeiro trimestre do ano em curso. O comentador laranja, da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa, procurou desculpar o mago falhado das finanças, dizendo tratar-se de humor  anglo-saxónico. Humor ou não, demonstra uma grande falta de ética e de preocupação com quem vive mal devido à sua política. Aquela "graça" não admira, vinda de quem, tendo as responsabilidades que tem, se preocupa com os desaires do Benfica, não se lhe ouvindo uma palavra de apoio a quem não tem pão nem trabalho.
Estas provocações merecem uma resposta. No próximo dia 27, vamos tornar a greve geral contra a política do governo num grande sucesso !

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ALTERNÂNCIA E ALTERNATIVA

A democraia pressupõe, naturalmente, a alternância entre partidos e projectos políticos diferentes. Mais importante que a alternância entre forças adversárias é a alternativa entre políticas.
Em França, por exemplo, apesar de todas as promessas de mudança de François Hollande, algo mudou para que tudo continuasse na mesma, nomeadamente na cedência às políticas neo-liberais da ex-comunista e falsa democrata-cristã Angela Merkel. Está-se perante mera alternância. O novo governo italiano tem um projecto de mudança, ou seja, alternativo às políticas anteriormente aplicadas.
A política seguida em Portugal, na senda das medidas postas em prática pela nova direita europeia, influenciadas pelo liberalismo económico, tem destruido a economia e empobrecido ainda mais quem já é pobre e as classes médias, enquanto a elite económica não sente a crise. Apesar de todos os sacrifícios suportados pelos cidadãos, em nome da correcção da situação financeira herdada de anteriores governos, a dívida pública continua a aumentar, situando-se em 127% do PIB, e o défice continua claramente elevado relativamente ao acordado com a troika. Nos primeiros três meses de 2013 atingiu mais de 8%. Por outro lado, o governo PSD/CDS encontra-se dividido e paralisado, não tendo o primeiro-ministro o mínimo de autoridade.
Em consequência desta situação, o governo encontra-se completamente isolado na sociedade, inclusivé entre militantes e simpatizantes do PSD e do CDS. Só tem o apoio dos aparelhos dos partidos que o constituem e de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, o mais impopular dos Chefes de Estado após o 25 de Abril.
É necessário encontrar uma alternativa ao actual governo. No passado dia 30 de Maio, sob a égide de Mário Soares, reuniram na Aula Magna da Universidade de Lisboa os partidos parlamentares de esquerda, PS, PCP e BE, o PCTP/MRPP (ignorado pela imprensa), os líderes das centrais sindicais e diversos independentes, incluindo militares de Abril. O militante do PSD, Pacheco Pereira, pertenceu à organização daquele encontro.
Dentro do maior partido governamental, os verdadeiros sociais-democratas, que não estão na política por tachos e sinecuras para eles e demais familiares, mas na defesa de uma sociedade coesa e solidária, contestam também vivamente o actual poder executivo e o seu protector, Aníbal Cavaco Silva. Está criada uma frente rejeicionista da política actual, a qual vai da ala esquerda - fiel à herança de Sá Carneiro e à social-democracia - do PSD à extrema-esquerda, maioritária política e sociologicamente no país.
Há condições para mudar de política em Portugal e nos restantes países da UE, abandonando o economicismo constante de todos os tratados europeus, desde Maastricht, admitindo taxas de inflação, défices e dívidas superiores às definidas nos mesmos, sem, obviamente, cair em exageros, e apostando no Keinesianismo, na parte económica, abandonando o neo-liberalisno, falhado, ultrapassado e detestado nas sociedades modernas. O investimento estatal é importante para relançar a economia e puxar pela iniciativa privada. O new deal americano, na sequência da crise de 1929, e o Plano Marshall, após a II guerra mundial, aí estão a comprová-lo. Numa primeira fase, o défice e a dívida poderão aumentar, mas, com o crescimento económico, a criação de emprego e o consequente aumento do consumo, os mesmos diminuirão. A experiência prova-o.
Nos outros países, os partidos de direita e esquerda democráticas, se levarem à prática aquelas políticas económicas e sociais, poderão pôr fim à crise e conduzir os respectivos povos à retoma da esperança em melhores dias.
No nosso país, os sociais-democratas do PSD poderão assumir esse papel, se limparem o seu aparelho, afastarem a actual direcção e o respectivo líder, escolhendo para o seu lugar e o governo reformistas com consciência social. Se não forem capazes de cumprir tal tarefa, poderá sê-lo o PS, com um secretário-geral e restantes dirigentes credíveis, sozinho, ou em coligação com os restantes partidos de esquerda, desde que estes ponham de lado os dogmas a que estão presos e adaptem as suas ideologias aos novos tempos.

publicado na GAZETA DA BEIRA, de 6/6/2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

QUE LEGITIMIDADE?

Os apoiantes do actual governo afirmam ter o mesmo legitimidade, por ser apoiado por uma maioria na Assembleia da República.
Aquela legitimidade é formal.
Será legítimo ganhar eleições mentindo ao eleitorado, dizendo não aumentar impostos, não despedir funcionários públicos, não cortar pensões de reforma, e, no poder, fazer exactamente o oposto?
Será legítimo destruir económica e socialmente um país, em nome da diminuição da dívida pública e do défice, quando aquela aumenta cada vez mais e este se mantem muito elevado relativamente ao acordado com a troika?
Será legítimo afrontar o Tribunal Constitucional, procurando contornar a legalidade, invocando o fim da crise, enquanto a mesma não pára de aumentar?
A legitimidade do governo Passos/Portas não é real. As sondagens, embora tenham o valor que têm, mostram que os partidos governamentais cada vez têm menos apoio popular. Onde o primeiro-ministro e os seus ajudantes se deslocam são alvo de grandes vaias e muito poucos aplausos. Nas conversas de rua ou de café, ouça-se o que as pessoas pensam de quem as (des)governa.
A permanência deste governo em funções apenas afunda o buraco em que há muito caímos. Se Portugal tivesse um Chefe de Estado na verdadeira acepção do termo, já estaria demitido, procurando-se outra solução governamental no actual quadro parlamentar ou dando a voz ao eleitorado.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SÁ CARNEIRO APLAUDIDO EM REUNIÃO DA ESQUERDA

Na reunião em que participaram os partidos de esquerda, PS, PCP, BE e PCTP/MRPP, realizada no passado dia 30 de Maio na Aula Magna da Universidade de Lisboa, sob a égide de Mário Soares, o nome de Sá Carneiro, mencionado numa mensagem enviada pelo militante do PSD, Pacheco Pereira, foi aplaudido pela generalidade dos presentes.
Há uma explicação para aquela atitude. Contrariamente ao primeiro-ministro e à actual direcção do PSD, Sá Carneiro era social-democrata, tendo como referência a social-democracia histórica e a sua aplicação prática, especialmente nos países nórdicos. Já numa entrevista concedida a Jaime Gama, no "República", em 1971, quando era deputado da ala liberal da Assembleia Nacional, afirmou-se social-democrata.
Na oposição e no poder, defendia a diminuição do peso do Estado na economia - a qual deveria assentar na iniciativa privada - porque na época revolucionária aquele peso foi demasiado longe, imitando as então auto-proclamadas democracias populares do leste europeu. Por outro lado, sempre considerou que alguns sectores fundamentais deveriam pertencer à esfera pública, devendo o Estado ter um carácter regulador. No seu tempo, surgiu a "moda" do liberalismo económico, com Reagan e Thatcher, o qual nunca endossou.
A social-democracia "sá carneirista" era a síntese de partes de ieologias, como costuma dizer Pacheco Pereira: o humanismo cristão e a doutrina social da Igreja, o personalismo, a economia de mercado, e a tradição social-democrata e socialista, em geral, no combate à pobreza. Este conjunto de ideias tornou o PSD num partido central e reformista, albergando no seu seio pessoas que iam do centro-direita ao centro-esquerda. Hoje, é um partido de direita e ultra-liberal. A própria AD não era um projecto de direita, mas uma frente que englobava a direita, o centro e uma parte da esquerda.
Quem estiver minimamente atento, poderá constatar encontrar-se, presentemente, mais próximo daqueles ideais o PS que o PSD.
Se houver no PSD quem retome a social-democracia, varra o aparelho, afaste Passos Coelho e restante direcção partidária, poderá, mudando de política, ainda captar muitos votos de pessoas de esquerda e ter esperança na vitória em próximas eleições. Se na S. Caetano à Lapa tudo continuar na mesma, até porque o espaço outrora ocupado por Sá Carneiro, está-o hoje pelo PS, António José Seguro será o primeiro-ministro escolhido pelos portugueses em tais eleições. Foi o militante do PSD e ministro de Cavaco Silva, Mira Amaral, quem o afirmou em entrevista radiofónica realizada no sábado passado.