sexta-feira, 14 de junho de 2013

ALTERNÂNCIA E ALTERNATIVA

A democraia pressupõe, naturalmente, a alternância entre partidos e projectos políticos diferentes. Mais importante que a alternância entre forças adversárias é a alternativa entre políticas.
Em França, por exemplo, apesar de todas as promessas de mudança de François Hollande, algo mudou para que tudo continuasse na mesma, nomeadamente na cedência às políticas neo-liberais da ex-comunista e falsa democrata-cristã Angela Merkel. Está-se perante mera alternância. O novo governo italiano tem um projecto de mudança, ou seja, alternativo às políticas anteriormente aplicadas.
A política seguida em Portugal, na senda das medidas postas em prática pela nova direita europeia, influenciadas pelo liberalismo económico, tem destruido a economia e empobrecido ainda mais quem já é pobre e as classes médias, enquanto a elite económica não sente a crise. Apesar de todos os sacrifícios suportados pelos cidadãos, em nome da correcção da situação financeira herdada de anteriores governos, a dívida pública continua a aumentar, situando-se em 127% do PIB, e o défice continua claramente elevado relativamente ao acordado com a troika. Nos primeiros três meses de 2013 atingiu mais de 8%. Por outro lado, o governo PSD/CDS encontra-se dividido e paralisado, não tendo o primeiro-ministro o mínimo de autoridade.
Em consequência desta situação, o governo encontra-se completamente isolado na sociedade, inclusivé entre militantes e simpatizantes do PSD e do CDS. Só tem o apoio dos aparelhos dos partidos que o constituem e de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, o mais impopular dos Chefes de Estado após o 25 de Abril.
É necessário encontrar uma alternativa ao actual governo. No passado dia 30 de Maio, sob a égide de Mário Soares, reuniram na Aula Magna da Universidade de Lisboa os partidos parlamentares de esquerda, PS, PCP e BE, o PCTP/MRPP (ignorado pela imprensa), os líderes das centrais sindicais e diversos independentes, incluindo militares de Abril. O militante do PSD, Pacheco Pereira, pertenceu à organização daquele encontro.
Dentro do maior partido governamental, os verdadeiros sociais-democratas, que não estão na política por tachos e sinecuras para eles e demais familiares, mas na defesa de uma sociedade coesa e solidária, contestam também vivamente o actual poder executivo e o seu protector, Aníbal Cavaco Silva. Está criada uma frente rejeicionista da política actual, a qual vai da ala esquerda - fiel à herança de Sá Carneiro e à social-democracia - do PSD à extrema-esquerda, maioritária política e sociologicamente no país.
Há condições para mudar de política em Portugal e nos restantes países da UE, abandonando o economicismo constante de todos os tratados europeus, desde Maastricht, admitindo taxas de inflação, défices e dívidas superiores às definidas nos mesmos, sem, obviamente, cair em exageros, e apostando no Keinesianismo, na parte económica, abandonando o neo-liberalisno, falhado, ultrapassado e detestado nas sociedades modernas. O investimento estatal é importante para relançar a economia e puxar pela iniciativa privada. O new deal americano, na sequência da crise de 1929, e o Plano Marshall, após a II guerra mundial, aí estão a comprová-lo. Numa primeira fase, o défice e a dívida poderão aumentar, mas, com o crescimento económico, a criação de emprego e o consequente aumento do consumo, os mesmos diminuirão. A experiência prova-o.
Nos outros países, os partidos de direita e esquerda democráticas, se levarem à prática aquelas políticas económicas e sociais, poderão pôr fim à crise e conduzir os respectivos povos à retoma da esperança em melhores dias.
No nosso país, os sociais-democratas do PSD poderão assumir esse papel, se limparem o seu aparelho, afastarem a actual direcção e o respectivo líder, escolhendo para o seu lugar e o governo reformistas com consciência social. Se não forem capazes de cumprir tal tarefa, poderá sê-lo o PS, com um secretário-geral e restantes dirigentes credíveis, sozinho, ou em coligação com os restantes partidos de esquerda, desde que estes ponham de lado os dogmas a que estão presos e adaptem as suas ideologias aos novos tempos.

publicado na GAZETA DA BEIRA, de 6/6/2013

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