quarta-feira, 27 de junho de 2012

ESCRAVIDÃO DE REGRESSO?

Na última edição do jornal "Expresso" vinha inserida uma reportagem sobre pessoas desempregadas e algumas empregadas, a receber o salário mínimo ou pouco mais, que colocam anúncios na internet, oferecendo-se para trabalhar apenas pela alimentação e dormida, prescindindo de dinheiro.
Trabalhar nestas condições tem um nome: escravidão! No capitalismo selvagem dos séculos XVIII e XIX, pagava-se muito pouco por 12, 14 ou 16 horas de trabalho, mas os operários ainda recebiam algum dinheiro. Estaremos a começar o regresso a tempos ainda piores que esses?
Entretanto, Pedro Passos Coelho não põe de lado novas medidas de austeridade. Como o mesmo diz, quando necessário, vai além da troika. É pena ficar aquém do acordado com a mesma troika no tocante à renegociação das parcerias público-privadas. Se neste aspecto se cumprisse o previsto no acordo, certamente a austeridade não iria tão longe. Mas, para estes "sociais-democratas" e "democratas-cristãos", a austeridade é só para pobres e remediados.
Cavaco Silva disse que o povo português já não aguenta mais austeridade. Esperamos que seja consequente se o governo avançar por esse caminho.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

SITUAÇÃO GREGA EM 8 PONTOS

1º - A Nova Democracia, de direita, ganhou as últimas eleições gregas, tendo constituido governo com o PASOK (socialista) e o Partido de Esquerda Democrática, dissidente de esquerda do PASOK.
2º- Aquela vitória foi um "flop", pois mesmo com a bonificação de 50 deputados que o sistema eleitoral grego concede ao partido mais votado, este ficou em clara minoria no parlamento.
3º - Quer a Nova Democracia, quer o PASOK, foram os responsáveis pela situação de quase bancarrota a que a Grécia chegou, levando à intervenção da troika, a qual, lá como cá, só tem agravado a situação económica, financeira e social.
4º- Os partidos referidos em 3º, que, além da situação a que conduziram o seu país, sempre primaram pela corrupção e o nepotismo, totalizavam anteriormente cerca de 80% do eleitorado, obtendo agora cerca de metade daquela percentagem de votos.
5º- Não é verdade que a Grécia e o resto da Europa possam suspirar de alívio. Os incompetentes e corruptos responsáveis pela presente tragédia grega continuam no poder, aliados numa espécie de bloco central lá do sítio. Caso não haja uma grande flexibilidade das instituições comunitárias e da própria troika, o país de Sócrates, Aristóteles e Platão cairá num enorme abismo, arrastando consigo o resto da Europa.
6º - O SYRISA, irmão político do BE, atingiu cerca de 27% de votos, algo nunca visto na Europa, na extrema-esquerda.
7º - Pelos motivos mencionado nos pontos anteriores, o capitalismo desregulado, sem consciência social, vigarista, que domina o mundo, em consequência do neo-liberalismo, falsificação do autêntico liberalismo, caminhará para a implosão. O resultado do SYRISA, as vitórias eleitorais da esquerda inspirada no marxismo em países latino-americanos como a Nicarágua, a Argentina, o Equador, a Venezuela ou a Bolívia,  bem como dos maoistas do "camarada Prachanda" no Nepal, são mudanças, mais qualitativas que quantitativas, chamando a linguagem marxista em nosso apoio, que comprovam o estado já não recuado de tal implosão.
8º - A nova direita, medíocre, dogmática e ignorante do ponto de vista cultural, dominante na Europa, não vê estas realidades e cada vez dá mais razão a Marx quando afirmava "o capitalismo tem dentro de si as contradições que o farão implodir", ou à célebre frase de Lenine: "o capitalismo vender-nos-á a corda com que o havemos de enforcar".


sexta-feira, 15 de junho de 2012

IMPRESSÕES DE UM CONCERTO

No último fim de semana do passado mês de Maio, decorreu na sala Dr. Jaime Gralheiro, no Cine-Teatro de S. Pedro do Sul, um concerto do conjunto Fingertips, organizado pela Conferência de S. Vicente de Paula.
O espectáculo tinha um objectivo social, pois cada um dos espectadores devia levar dois alimentos diferentes, que aquela associação de solidariedade social posteriormente entregaria a pessoas desfavorecidas.
A sala estava praticamente cheia, pelo que foi feita uma boa "colheita" para ajuda aos mais pobres. Em S. Pedro do Sul, a solidariedade não é uma palavra vã.
O concerto foi magnífico. As músicas tocadas pelos Fingertips, desde as "da pesada" às românticas, encantaram os presentes. Todos os músicos mostraram grande capacidade, nas violas, nas teclas, ou na bateria.
Quem, no entanto, se destacou - sem menosprezar os demais elementos - foi Joana Gomes, a vocalista. Além de uma linda e óptima voz, mostrou também os seus dotes musicais nas teclas e na viola. Apesar de bastante jovem, tem bom espírito de liderança e de interacção com o público. Há na Joana condições para atingir o estrelato no mundo da música.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

MAIS UMA (TAMBÉM) DO CRATO

O valor das bolsas para doutoramento no estrangeiro vai baixar em cerca de 60%. É este o apoio que o governo de Passos Coelho e o Ministério da Educação dão à formação de quadros, indispensável ao crescimento económico. Sem dúvida que a estratégia governamental aponta mesmo para o empobrecimento.
Doutoramentos, só para quem tiver muito dinheiro para ir estudar para o estrangeiro. Dúvidas também não restam quanto ao carácter classista (para os de cima) desta gente. O PSD, partido dos que sobem na vida a pulso, também morreu com o passismo.
Mais uma, também, do ex-maoista mendista e seguidor do Chico Bufo (Francisco Martins Rodrigues, já falecido, "pai" da UDP) - assim conhecido entre os seus inimigos na extrema-esquerda, dado o comportamento vergonhoso que teve na PIDE, entregando quantos camaradas por si dirigidos que conhecia - Nuno Crato. Recordamos que este tipo doutorou-se, há 30 anos, nos EUA, com uma bolsa.
Como diria Camões, cujo dia ocorreu recentemente, "continuamente vemos novidades/diferentes em tudo da esperança/do mal ficam as mágoas da lembrança/ e do bem/se algum houve/ a saudade".

sexta-feira, 8 de junho de 2012

VIGARISTA POBRE, VIGARISTA RICO

Fala-se muito das vigarices de pobres - sem dúvida que as há - como os abusos relativos ao RSI, que levaram algumas pessoas a nunca mais trabalhar. Sempre achei que apoios desses se deveriam destinar a situações extremas, especialmente a pessoas impossibilitadas de trabalhar, pois quando assim não acontece, estimulam a preguiça.
Que esses abusos contribuiram para a crise que vivemos, não tenhamos dúvidas, mas não tanto como as actividades mafiosas praticadas a partir de bancos como o BPN, o BPP ou o BCP. O dinheiro que o Estado atirou para cima do BPN dava para assegurar os 13º e 14º meses aos funcionários públicos. Segundo cálculos efectuados e publicados no "Diário de Notícias", deverão ser investidos mais de 8 000 milhões de euros no BPN desde a sua nacionalização. O BPI, controlado pelos amigos de José Eduardo dos Santos e presidido pelo ministro de Cavaco, Mira Amaral, comprou aquele Banco por 40 milhões de euros, mas antes o Estado Português "meteu" lá mais 600 milhões de euros, tendo ainda sido garantido um empréstimo de 300 milhões de euros ao banco comprador. E tal empréstimo só não foi feito a % de juros, porque a Comissão Europeia não consentiu, obrigando o BPI a pagar uma taxa anual de 3%.
Por outro lado, a fuga aos impostos é claramente superior aos gastos com o RSI. Muitos que falam contra este subsídio não só se gabam de fugir aos impostos, como afirmam que nada deveriam pagar pelos luxos que ostentam, devendo o Estado garantir-lhes saúde ou educação para as suas crias gratuitamente.
Quem tem mais culpa na crise que vivemos? Os vigaristas pobres ou os vigaristas ricos?
O que se passa em Portugal também se verifica além fronteiras. Como começou a presente crise no Ocidente? Com os que viviam acima das suas possibilidades e devem empobrecer, como afirma o falso social democrata Passos Coelho, ou com a desindustrialização das sociedades capitalistas e a aposta na economia de casino? Não começou tudo com o "sub-prime" na "pátria", por excelência, do capitalismo, os EUA, que desembocou na falência do Lehman Brothers e outros bancos? Só se fosse o vigarista Madoff que vivesse acima das suas possibilidades, mas esse não era pobre.
O principal culpado da crise é o capitalismo selvagem que novamente mostra os dentes após a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo. Esta é a dura verdade, doa ela a quem doer. Não volte o sistema capitalista a retomar a face humana que exibiu desde o fim da II guerra mundial até há 15 ou 20 anos, e verá o tombo que apanha. Qualquer pessoa minimamente informada já se apercebeu que a teoria do "fim da História e do último homem", com a "vitória do liberalismo", de Francis Fukuyama, não é menos utópica que o finalismo histórico marxista que tantas paixões despertou em intelectuais, estudantes e trabalhadores.

terça-feira, 5 de junho de 2012

ESPELHO PORTUGUÊS DOS QUE MANDAM NO MUNDO


O responsável pelas privatizações, espécie de ministro, António Borges, segundo um jornalista francês, que conhece por dentro o FMI, foi afastado desta instituição por incompetência. No entanto, continua a receber da mesma 224 000,00 euros por ano, livres de impostos. Além do cargo para que foi nomeado pelo governo Coelho/Portas, ainda está ligado à administração da Jerónimo Martins. Este cavalheiro disse, recentemente, que para aumentarmos a nossa competitividade, os salários têm de diminuir para os trabalhadores. Não certamente para ele. Muito menos António Borges e os outros responsáveis do FMI, do Banco Mundial, da ONU e da Comissão Europeia estarão a pensar acabar com essa imoralidade que consiste em não pagarem impostos num momento de grave crise mundial. São estes os que eu apelido de “revisionistas do liberalismo”. Eu sei que o termo é de Lenine e foi muito popularizado no mundo inteiro por Mao Tsé Tung e Enver Hodxa…
Por falar na Comissão Europeia, também o seu presidente, o português Durão Barroso, veio falar de crescimento económico, com uma ressalva: os países do “ajustamento” deverão continuar a praticar a austeridade. Ou seja, deverão empobrecer ainda mais relativamente aos países mais ricos. Como Borges, também disse que os salários, nestes países, terão de baixar. Certamente, quererá ver realizado um dos seus sonhos de juventude: tornar Portugal na China da Europa (só que, agora, no plano capitalista). Aquando da Revolução Cultural Chinesa, iniciada em 1966, ficou célebre uma frase de Mao: “que cem flores desabrochem, que cem escolas rivalizem!”. Durão Barroso, baseando-se no seu antigo mestre, quererá tornar os países mais pobres da Europa em várias Chinas.
O PCTP/MRPP tem razão quando apelida o seu ex-camarada, hoje presidente da C.E., de “oportunista de duas caras”, pois após intensa militância na organização juvenil daquele partido, a que também pertenci, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML), especialmente na Direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa, abandonou a mesma, da qual foi expulso, no Outono de 1976, quando se apercebeu que a classe operária, dirigida pela sua vanguarda e pelo camarada Arnaldo Matos, afinal não tomava o poder.
Adere ao PSD quando Sá Carneiro era primeiro-ministro. Era o que estava a dar.
Foi secretário de Estado e ministro de Cavaco Silva. Quando o cavaquismo acabou, tinha o PSD a seus pés, mas não quis assumir a sua liderança, sabendo das dificuldades que estavam para chegar. No entanto, com o seu carácter calculista e frio, foi conspirando contra Marcelo Rebelo de Sousa, conquistando a liderança do partido quando aquele se demitiu da mesma. Nessa altura, já era previsível não durar muito tempo o guterrismo.
A principal crítica que Durão fazia a Marcelo era a aliança com o CDS e Paulo Portas, precisamente o que fez mais tarde.
Na campanha eleitoral que o conduziu a primeiro-ministro prometeu baixar os impostos em 10%. Chegado ao poder, deu o dito por não dito, aumentando a carga fiscal, pois “as finanças públicas estavam em má situação”. Como se tal já não fosse do conhecimento de toda a gente! Teve dois bons seguidores, no tocante a incumprimento de promessas, em Sócrates e Passos Coelho.
Ao averbar uma copiosa derrota nas “europeias” de 2004, eis que, mais uma vez desmentindo o afirmado pouco antes, Durão Barroso zarpa de armas e bagagens para a Comissão Europeia. As suas palavras acima referidas constituem a prova de que se apercebeu que para estar nas lideranças políticas é necessário submeter-se ao alto capitalismo internacional, que, na realidade, manda no mundo e na política, de pouco valendo o voto popular.
Se e quando Durão for candidato a P.R., esperamos que os eleitores se lembrem de tudo isto.

P.S. 1: recentemente, qualifiquei, neste blogue, Durão Barroso de verdadeiro social-democrata. Após as suas últimas afirmações, reconheço que errei.

P.S. 2: pouco antes de ter saído do MRPP e da FEML, Durão Barroso deslocou-se mais que uma vez a Londres, acompanhando o seu pai a tratamentos, tendo este último falecido, aliás, na capital britânica.
Dentro do MRPP dizia-se que terá aproveitado uma dessas deslocações para levar a sua então namorada e hoje mulher, a fim de esta efectuar um aborto. Não quero acreditar em tal, pois, se por um lado, ouvi muitas mentiras no MRPP, por outro lado, Durão Barroso até se manifestou contra a despenalização do aborto quando a mesma foi referendada.