sexta-feira, 8 de junho de 2012

VIGARISTA POBRE, VIGARISTA RICO

Fala-se muito das vigarices de pobres - sem dúvida que as há - como os abusos relativos ao RSI, que levaram algumas pessoas a nunca mais trabalhar. Sempre achei que apoios desses se deveriam destinar a situações extremas, especialmente a pessoas impossibilitadas de trabalhar, pois quando assim não acontece, estimulam a preguiça.
Que esses abusos contribuiram para a crise que vivemos, não tenhamos dúvidas, mas não tanto como as actividades mafiosas praticadas a partir de bancos como o BPN, o BPP ou o BCP. O dinheiro que o Estado atirou para cima do BPN dava para assegurar os 13º e 14º meses aos funcionários públicos. Segundo cálculos efectuados e publicados no "Diário de Notícias", deverão ser investidos mais de 8 000 milhões de euros no BPN desde a sua nacionalização. O BPI, controlado pelos amigos de José Eduardo dos Santos e presidido pelo ministro de Cavaco, Mira Amaral, comprou aquele Banco por 40 milhões de euros, mas antes o Estado Português "meteu" lá mais 600 milhões de euros, tendo ainda sido garantido um empréstimo de 300 milhões de euros ao banco comprador. E tal empréstimo só não foi feito a % de juros, porque a Comissão Europeia não consentiu, obrigando o BPI a pagar uma taxa anual de 3%.
Por outro lado, a fuga aos impostos é claramente superior aos gastos com o RSI. Muitos que falam contra este subsídio não só se gabam de fugir aos impostos, como afirmam que nada deveriam pagar pelos luxos que ostentam, devendo o Estado garantir-lhes saúde ou educação para as suas crias gratuitamente.
Quem tem mais culpa na crise que vivemos? Os vigaristas pobres ou os vigaristas ricos?
O que se passa em Portugal também se verifica além fronteiras. Como começou a presente crise no Ocidente? Com os que viviam acima das suas possibilidades e devem empobrecer, como afirma o falso social democrata Passos Coelho, ou com a desindustrialização das sociedades capitalistas e a aposta na economia de casino? Não começou tudo com o "sub-prime" na "pátria", por excelência, do capitalismo, os EUA, que desembocou na falência do Lehman Brothers e outros bancos? Só se fosse o vigarista Madoff que vivesse acima das suas possibilidades, mas esse não era pobre.
O principal culpado da crise é o capitalismo selvagem que novamente mostra os dentes após a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo. Esta é a dura verdade, doa ela a quem doer. Não volte o sistema capitalista a retomar a face humana que exibiu desde o fim da II guerra mundial até há 15 ou 20 anos, e verá o tombo que apanha. Qualquer pessoa minimamente informada já se apercebeu que a teoria do "fim da História e do último homem", com a "vitória do liberalismo", de Francis Fukuyama, não é menos utópica que o finalismo histórico marxista que tantas paixões despertou em intelectuais, estudantes e trabalhadores.

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