segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PAÍS GOVERNAMENTAL E PAÍS REAL

De há uns anos a esta parte, o país governamental parece viver numa galáxia diferente do país real. Foi assim com José Sócrates, que dizia estarmos sempre no melhor dos mundos até o seu governo se render à troika e perder as eleições que se seguiram ao acordo com a mesma.
Passos Coelho, após o não cumprimento de uma série de promessas feitas na campanha em que venceu aquelas eleições, como nunca cortar o 13º e/ou o 14º mês aos funcionários públicos, ou não aumentar os impostos, veio afirmar no comício realizado recentemente no Algarve que no próximo ano teremos uma inversão na marcha da economia.
Nesse mesmo dia, o desemprego atingia novo record. Segundo as contas do próprio INE, haverá já mais de 1 300 000 portugueses sem trabalho. Sabia-se também que a economia continua a decrescer, prevendo-se para o final do ano uma descida da mesma na ordem dos 3% ou mais do PIB.
O tão falado equilíbrio entre importações e exportações, que não se via desde 1943, deve-se ao aumento da pobreza e miséria. Não importamos mais, porque as empresas (95% delas são PME) e as pessoas não têm dinheiro para o fazer. Por outro lado, segundo afirmava na última edição do "Expresso" o seu director-adjunto, João Garcia, "9% da subida registada nas exportações no primeiro semestre deste ano foram conseguidos pelo disparo na venda de ouro para o estrangeiro. (...) Vendemos ouro em segunda mão; 382 milhões de euros, mais 84% do que no primeiro semestre de 2011. (...) Foi um péssimo negócio para quem a ele recorreu, pois o grama de ouro foi vendido, em regra, a 25 euros, quando nas ourivesarias era comprado a 42, de acordo com a cotação em bolsa. Parte do milagre das exportações foi possível porque alguns ficaram bem mais pobres". Fica assim desmascarado o ouropel do governo relativamente ao chamado equilíbrio da balança de transacções.
A dívida pública continua a aumentar. Para cumprirmos o acordado com a troika relativamente ao défice, em 2012 (4,5%), segundo os entendidos na matéria, teríamos de diminuir o mesmo em 12,5% até ao final do ano. Comentários para quê?
Como pensa - não o disse - o primeiro-ministro conseguir um crescimento económico positivo nesta situação? Acha que pode baixar impostos para atrair investimentos? Afinal, a liberalização da legislação laboral, a roçar, em diversos aspectos o capitalismo selvagem, também não está a ter efeitos práticos. O que espera mais o PM? Proibir as greves e os sindicatos?
Tal como o seu antecessor, Passos Coelho parece viver em outra galáxia. Tal dever-se-á a algum inusitado entusiasmo pelo sucesso da chegada da Curiosity a Marte e posterior divulgação de imagens espectaculares daquele planeta?


PS: Soube hoje pela net que Scott Mackenzie, o cantor de "San Francisco", hino dos hippies, divulgado em 1967, faleceu com 73 anos de idade.
Aquela canção inseriu-se no movimento contestário do conservadorismo social da época, o qual deu um grande contributo para sociedades mais abertas.
Aqui presto a minha homenagem àquele cantor, desejando que descanse em paz.
A tua luta e de tantos outros, Scott, não foi em vão. A melhor homenagem que sucessivas gerações identificadas com essa luta te poderão prestar no presente é continuar o combate por um mundo mais justo, contra o economicismo e a tecnocracia dos comedores de dinheiro, a que se referia o cantor português Adriano Correia de Oliveira, também falecido, os quais dominam o mundo.

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