sexta-feira, 12 de outubro de 2012

12 DE OUTUBRO

Passam hoje 40 anos sobre o assassinato do estudante José António Ribeiro Santos pela PIDE, a polícia política do regime reaccionário da época, no então ISE, actual ISEG.
José António Ribeiro Santos era estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, militava no MRPP e na sua organização estudantil, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML).
Decorria um "meeting" contra a guerra colonial no ISE. Um indivíduo suspeito de pertencer à PIDE tirava apontamentos dos cartazes afixados. Quando os estudantes se preparavam para lhe dar o justo correctivo, o presidente da Associação de Estudantes da escola, Pedro Aranda, militante do PCP e da UEC, teve a "brilhante" ideia de chamar a PIDE para confirmar se o tipo em causa pertencia aos seus quadros. Quando os agentes da PIDE chegam há confrontos. Um dos pides assassina, a tiro, Ribeiro Santos e fere numa perna José Lamego, hoje militante do PS, que após o 25 de Abril, ainda ligado ao MRPP, foi professor na Escola Emídio Navarro, em Viseu, tendo-se deslocado por diversas vezes a S. Pedro do Sul.
O funeral de Ribeiro Santos foi uma enorme manifestação contra o regime, que deixava cair a máscara da "liberalização", apesar da violência policial, que levou à agressão e prisão de inúmeras pessoas, especialmente jovens.
A morte de Ribeiro Santos provocou uma grande onda de contestação nas escolas e em muitos locais de trabalho.
No madrugada do dia 9 de Outubro de 1975, no Terreiro do Paço, um grupo de 6 militantes do MRPP colava cartazes ilustrativos de um comício que no seguinte dia 12 comemorava precisamente o 3º aniversário do homicídio de Ribeiro Santos. Um bando de 60 membros da UDP, força hoje integrante do Bloco de Esquerda (BE) atacou aquele grupo, com barras de ferro e paus, tendo lançado vários elementos do MRPP ao Tejo. Entre eles estava Alexandrino de Sousa, também estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, dirigente da FEML e director do seu jornal, "Guarda Vermelha", que foi selvaticamente agredido pelos UDPs, os quais bateram com a sua cabeça no chão e nas paredes, lançando-o ao rio, tendo conhecimento de que não sabia nadar, assim provocando a sua morte.
Em comício da UDP realizado no mesmo dia, o seu "pai", Francisco Martins Rodrigues, vangloriou-se da morte do jovem Alexandrino de Sousa. Com a mesma valentia com que ajoelhou aos pés da PIDE, denunciando e permitindo a captura de diversos camaradas por si dirigidos no Comité Marxista-Leninista Português (CMLP), em meados dos anos 60. A traição de Martins Rodrigues na PIDE levou a que o mesmo ficasse conhecido como Chico Bufo.
Quando Ribeiro Santos foi assassinado era eu criança. Creio só ter ouvido falar dele após o 25 de Abril. Em Outubro de 1975, com 16 anos, era um activista do MRPP e da FEML. Ouvi falar de Alexandrino de Sousa, mas nunca tive a honra de o conhecer, como aconteceu com José Lamego, acima mencionado.
Hoje, penso terem Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa morrido heroicamente, plenos de generosidade, e com esperança numa sociedade justa e fraterna. No entanto, os seus ideais - e meus, à época - mostraram-se errados e injustos.
Quando a pior faceta do capitalismo domina o mundo, e muito especialmente o nosso país, entregue a incompetentes, seguidores de tal faceta, provocando a destruição da classe média e a miséria dos pobres, o desemprego, na realidade superior a um milhão de trabalhadores, entre os quais se encontram mais de um terço dos jovens, há que seguir o exemplo de luta abnegada de Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa contra esta situação. Sem luta nada se consegue. Mas, a ideologia a que aqueles mártires aderiram não é boa solução. Conduz também a ditadura. Tal luta deverá ser travada dentro dos limites do regime democrático e parlamentar.
Não vou especular sobre se Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa, caso fossem vivos, estariam ou não no PCTP/MRPP. Para essa especulação não há, obviamente, resposta. Como crente, tenho fé e esperança de um dia me encontrar com eles e termos uma longa conversa.
HONRA A RIBEIRO SANTOS E ALEXANDRINO DE SOUSA !

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