terça-feira, 18 de dezembro de 2012

DESTACADO DIRIGENTE SENDERISTA CONVERTE-SE À DEMOCRACIA PARLAMENTAR

Óscar Ramirez, o “camarada Feliciano”, antigo dirigente e líder após a prisão de Abimael Guzzman (Gonzalo), do Partido Comunista do Perú (PCP), mais conhecido por Sendero Luminoso, converteu-se na prisão à democracia parlamentar.
Óscar Ramirez, actualmente com 59 anos, é filho de um general do exército peruano na reserva. Dotado de rara inteligência e nível intelectual, foi um excelente aluno desde o ensino básico até à universidade. Nesta, estudou engenharia, tendo abandonado o curso, nos primeiros anos, no início da década de 70, para se tornar revolucionário profissional, segundo o conceito leninista da expressão. Deixou a mulher e quatro filhos. Antes de romper com o ambiente em que vivia disse ao seu pai: ”tem que haver uma revolução no Perú. O pai está com as forças da repressão.” Então, o general respondeu: “se um dia nos encontrarmos num campo de batalha, dispara primeiro, que eu não tenho coragem de atirar em ti, que és meu filho”.
Posteriormente, veio a ser um dos principais dirigentes do PCP e da guerrilha dirigida pelo mesmo.
Quando Abimael Guzzman e a maioria dos membros do Comité Central (CC) do partido foram presos, em 1992, foi constituída uma nova direcção da organização, que passou a ter como presidente precisamente Óscar Ramirez (Feliciano). A sua nova companheira, Margie Calvo Peralta (Nancy) passou também a ser uma das principais responsáveis da guerrilha maoista peruana.
Enquanto da prisão, Abimael Guzzman, a sua companheira, Elena Iparraguirre (Miriam) e outros dirigentes senderistas escreviam uma carta ao então presidente Fujimori, a propôr conversações de paz, os seguidores do presidente Feliciano recusaram abdicar da luta armada, afirmando ser a carta referida “uma patranha” do ditador mais tarde demitido por crimes contra a humanidade e por roubar.
Em 1999, Feliciano é também preso. Na cadeia, passou a defender um acordo de paz, à semelhança dos seus camaradas antes detidos.
No julgamento dos dirigentes senderistas realizado já em democracia, Feliciano foi condenado numa pena de 24 anos de prisão. Esta foi uma das penas mais leves. Gonzalo, Miriam e outros membros do CC foram condenados a prisão perpétua.
A pena aplicada ao segundo líder do PCP deveu-se à sua colaboração com o Tribunal e à denúncia que fez das atrocidades ordenadas por Abimael Guzzman e a sua cara metade.
Na prisão, concedeu uma entrevista, na qual afirmou ter abandonado o Partido Comunista do Perú, defendeu o fim da violência revolucionária, propondo-se servir de interlocutor entre as autoridades e os seus ex-camaradas, autocriticou-se por ter dirigido uma guerrilha responsável por cerca de 25 000 mortes, considerando não ser esse o caminho para uma sociedade mais justa, mas a via democrática e eleitoral. Disse ainda serem Abimael Guzzman, Elena Iparraguirre e a primeira mulher da “quarta espada do marxismo-leninismo-maoismo”, Augusta de la Torre (Norah), uns psicopatas estalinistas e assassinos.
Nessa entrevista afirmou ainda a sua conversão à democracia parlamentar, citando uma frase de Churchill: “a democracia é o pior dos sistemas, com excepção de todos os outros”.
Um histórico do Sendero, que chegou a ser seu líder, concluiu ter falhado a revolução comunista-maoista no Perú, país onde a maioria da população é pobre ou miserável. Não pensem os maoistas da nossa praça, do PCTP/MRPP, os seus dissidentes do Círculo Revolucionário/Bandeira Vermelha/Página Vermelha, ou da UCR (União Comunista Revolucionária), os quais já estarão a ranger os dentes e a apelidar Óscar Ramirez de traidor, renegado, oportunista, etc, que apesar das injustiças praticadas pelos actuais governantes, serventuários da pior face do capitalismo, o poder lhes cairá nas mãos, dando lugar à constituição de “um governo de esquerda democrático patriótico”, como afirma a propaganda do primeiro destes partidos.
Que o governo Passos/Portas tem os pés para a cova é um facto. Muito provavelmente não cumprirá a presente legislatura, mas a alternativa a esta política inserir-se-á nas novas ideias do vosso e meu ex-camarada Feliciano.

PS: Sir Karl Popper, um comunista convertido ao liberalismo, afirmou um dia: “todo o esquerdista é um liberal em potência”. Se hoje cá estivesse, condenaria, certamente, os falsos liberais nacionais e estrangeiros que tantos estragos causam à ideologia que afirmam defender.

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