quarta-feira, 2 de maio de 2012

ORWELL, TITANIC E A SITUAÇÃO POLÍTICA PORTUGUESA

Passos Coelho e Vitor Gaspar não se cansam de afirmar que não serão aplicadas novas medidas de austeridade. No entanto, são suspensas, provavelmente "ad eternum", as reformas antecipadas, tal como a reposição dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos, os quais vão ser sujeitos a mobilidade susceptível de provocar o deslaçamento familiar (e diz-se esta gente, particularmente o partido de Portas, defensora da família...), a convites para caminharem para o desemprego, Assunção Cristas aplica nova taxa em produtos alimentares, que irá sobrecarregar o contribuinte, os impostos continuarão a subir até 2016, etc, etc. Que é isto senão austeridade?
Fazendo lembrar George Orwell, estes governantes têm uma dupla linguagem. Por outras palavras, quando os ouvir, amigo leitor, prepare-se para eles fazerem o inverso do que dizem. De que serviu a austeridade a que o governo Passos/Portas nos sujeitou desde há quase um ano a esta parte? A dívida pública aumentou. Apesar do aumento da carga fiscal, as receitas dos impostos diminuem. Estamos, pois, perante a soma de austeridade à austeridade, de crise à crise. Esta política falhou rotundamente, como no resto da Europa.
A Comissão Europeia, que tem à frente um verdadeiro social democrata, e o FMI já se aperceberam de que esta austeridade excessiva está errada, propondo outra política, virada para o crescimento, a qual terá de passar pelo apoio às empresas, mas também pelo investimento público, o qual puxará pelo investimento privado.
A propósito, recordamos que, após o 25 de Abril, a economia e os salários reais cresceram mais e o desemprego baixou quando aumentou o investimento público. Foi assim com Sá Carneiro, com Cavaco Silva e António Guterres. Aliás, a partir do momento em que o governo deste último terminou com obras que continuou de governos anteriores, como a EXPO 98, a ponte Vasco da Gama, ou várias auto-estradas, a nossa economia passou a crescer menos, entrando em divergência acentuada com os nossos parceiros comunitários.
A Srª Merkel já disse que pretende continuar a austeridade. Por outro lado, como se prevê, a partir do próximo domingo os franceses dispensarão o marido de Carla Bruni e elegerão o socialista Hollande, o qual alinha com as posições defendidas pela C.E. e o FMI anteriormente referidas, tal como aliás, vários primeiros-ministros, entre os quais, o conservador inglês Cameron e o independente italiano Monti.
Todas estas condições objectivas e subjectivas, como diria Marx, determinarão grandes confrontos entre os governos e as instituições europeias. O governo português terá que se definir: se está com quem quer o crescimento e o investimento como forma de combater a crise ou com quem aposta no empobrecimento elogiado já pelo primeiro-ministro, tornando a Europa poderosa, económica e socialmente, do pós II Guerra Mundial numa espécie de nova China. Pelos antecedentes e pelo discurso que continua a ser corrente entre os governantes, não é difícil adivinhar para que lado cairá o mesmo...
Tal como Sócrates, enquanto o país se afunda, Passos Coelho, Gaspar, Relvas e Portas - quem, na realidade, manda em Portugal - fazem lembrar a orquestra do Titanic a tocar quando o mesmo também se afundava. Esta atitude terá consequências. Passos Coelho poderá cair do seu pedestal da mesma forma que o seu antecessor. E, tal como ele, talvez antes do tempo, até da mesma forma que foram substituidos os seus anteriores colegas grego e italiano.

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