quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O LIXO OCIDENTAL

Há menos de um ano, o ditador líbio agora morto, Kadafi, era recebido com todas as honras por chefes de Estado e de Governo no Ocidente, como Obama, Sarkozy, Cameron, Berlusconi, Sócrates, e outros que agora provocaram a sua queda.
Após Kadafi se haver tornado inimigo da Al-Qaeda e ter deixado de apoiar grupos terroristas esquerdistas na Europa, passou a ser a “coqueluche” dos governantes ocidentais, da NATO e da UE no mundo árabe. Os negócios entre estes e a Líbia, especialmente à volta do petróleo, aumentaram com vantagens mútuas. Os crimes do ditador e o sofrimento do seu povo passaram a ser esquecidos pelos campeões dos direitos humanos.
Entretanto, explodem várias revoltas em países árabes, entre os quais a própria Líbia. A ONU autorizou uma intervenção por parte da NATO, a fim de evitar o massacre dos revoltosos líbios pelas forças leais a Kadafi. Ultrapassando o mandato das Nações Unidas, as tropas da NATO ajudaram à vitoria daqueles. Kadafi passou novamente de amigo a inimigo. Estas atitudes dos governantes políticos e chefes militares ocidentais fazem lembrar as tácticas de Lenine, Estaline ou Mao relativamente à política de alianças…
Kadafi foi preso pelos seus inimigos. Seguidamente, é assassinado barbaramente, sem ter oportunidade de se defender num julgamento justo.
O comportamento dos vencedores do conflito prova que falar de democracia na Líbia, em termos de futuro, seria cómico se o que aí vem, como se prevê, não fosse trágico. Como dizia no “Público” do passado dia 24 de Outubro João Carlos Espada, a propósito destes acontecimentos que compara, aliás, com os crimes praticados pelos jacobinos no período de terror que se seguiu à Revolução Francesa de 1789, “a ditadura de um não pode ser substituída pela ditadura de todos ou da maioria”.
Uma verdadeira democracia pressupõe um governo limitado pela lei, a existência de poderes que se controlem uns aos outros, a garantia das liberdades e direitos humanos, eleições livres e a co-existência pacífica de vários partidos. Nada nos diz que será o que se irá passar na “nova” Líbia.
As tropas da NATO não fizeram nada para poupar a vida de Kadafi – é bom não esquecer que a sua detenção começou com um ataque aéreo daquela organização militar – levando-o a julgamento no Tribunal Penal Internacional. Obviamente, esta “falha” da NATO teve o apoio dos governantes dos países membros da mesma. Até agora não houve um único que se distanciasse da falta de acção dos militares às suas ordens no terreno, possibilitando um acto de justiça dita popular.
Eis uma prova do ponto a que está a chegar a civilização ocidental. Ainda existe prática da mesma, mas essencialmente por organizações da sociedade civil. Esta actuação por parte de quem exerce o poder político faz lembrar uma antiga canção brasileira que diz a certa altura: “será que você não verá o lixo ocidental?”

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