segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ONDE ESTAVAS TU, CAMARADA?

Aquando da realização do célebre XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em 1956, o seu então líder, Nikita Krutchev, qualificou o seu antecessor, Estaline, como “um déspota”, “um bandido”, “um assassino”, “um criminoso”, “um tirano”, e outros nomes do género. Então, diz um congressista: “onde estavas tu, camarada?”. Krutchev, que havia sido um dos principais membros do Comité Central daquele partido durante a liderança do georgiano, perguntou: “quem falou? “. Respondeu-lhe o silêncio. Então, Krutchev diz: “estava aí, onde tu estás, camarada”.
Recentemente, António José Seguro criticou Passos Coelho por ter faltado ao prometido em campanha eleitoral, no tocante ao aumento de impostos. E tem toda a razão. Tem criticado a responsabilidade de Alberto João Jardim na elevada dívida da Madeira. E mais uma vez tem razão.
Mas, onde estava Seguro quando, como já ninguém tem dúvidas, Sócrates mentia com as estatísticas? Quando a troika averiguou que o défice em 2010 não foi de 7%, mas 9% do PIB, contrariamente ao que a dupla Sócrates/Teixeira dos Santos afirmava? Quando a mesma troika constatou mais tarde existir um buraco de 2 000 milhões de euros nas contas públicas, resultante de pagamentos acima do orçamentado em vários ministérios, tal como o governo actual denunciou? Porque fica calado sobre o facto de o défice, no final do 1º semestre deste ano, ter atingido 8,3% do PIB? Quando terminou tal semestre, o actual governo tinha sido empossado há pouco mais de uma semana.
António José Seguro estava exactamente no mesmo sítio de Sócrates, pactuando com ele. Ou seja, estava como Krutchev para Estaline, não tendo, no entanto, rompido com o seu antecessor, mas adoptado a "evolução na continuidade", de que falava Marcelo Caetano relativamente a Salazar.
Responsáveis do PSD, do PS e do CDS, ou mesmo o Sr. Presidente da República, que não gostaram das propostas de Angela Merkel no sentido da criação de um governo económico constituído pelo Conselho Europeu, tirando poderes à Comissão Europeia, ou da retirada de soberania aos países não cumpridores dos limites do Pacto de Estabilidade, onde estavam quando defendiam a abortada Constituição Europeia ou o Tratado de Lisboa que vai dar ao mesmo? Não sabiam que essas e outras decisões e medidas federalistas iam acabar no poder dos países grandes e ricos e não na Europa das Pátrias de que falava De Gaulle, onde todos os países seriam tratados de igual forma, como era o sonho dos fundadores da CEE, tal como muitos políticos, intelectuais e analistas afirmaram oportunamente?
Atitudes como estas só desprestigiam a classe política e, numa época de crise, dão uma prestimosa ajuda ao populismo mais radical e perigoso, venha o mesmo da direita ou da esquerda.

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