quarta-feira, 8 de junho de 2011

CONCLUSÕES DOS RESULTADOS DAS LEGISLATIVAS

Terminou um ciclo político de seis anos, durante o qual o secretário-geral do PS, José Sócrates, foi primeiro-ministro.
Eleito por maioria absoluta em 2005, quatro anos depois o PS viu exibido um cartão amarelo pelo eleitorado, tendo vencido as eleições então ocorridas por maioria simples.
Nas legislativas do passado domingo, os socialistas foram clara e inequivocamente derrotados, tendo obtido um resultado abaixo dos 30%, o que não acontecia há mais de vinte anos. José Sócrates demitiu-se da liderança do partido, afirmando não permanecer sequer como deputado na próxima legislatura. Deixa uma situação económica, social e financeira muita má: país à beira da bancarrota, de mão estendida à “troika”, quase um milhão de desempregados, aumento da pobreza e da miséria, com destaque para os novos pobres que fizeram parte da classe média.
Se a crise internacional contribuiu para Portugal chegar a este estado, a culpa principal cabe aos ainda detentores do poder, pois entre 2005 e 2008, ano em que a crise despoletou, a nossa economia cresceu claramente abaixo da média comunitária. Após aquele último ano, apenas Portugal, Grécia e Irlanda tiveram que recorrer à ajuda externa, a fim de evitar a bancarrota. Nenhum dos outros 24 países pertencentes à UE se encontra em tal situação.
Por outro lado, a governação de Sócrates caracterizou-se pela crispação, a arrogância, a perseguição a adversários, tentativas de controle da imprensa, o benefício de certas empresas, distorcendo a concorrência, vendo o primeiro-ministro, ainda que nunca fosse constituído arguido nem ouvido como testemunha, o seu nome envolvido em processos judiciais relacionados com investigação de corrupção. Alturas houve em que Portugal mais parecia uma república de bananas. A maioria dos portugueses, ao remover José Sócrates da chefia do governo, praticou um acto de sanidade política mais que necessário.
Os partidos parlamentares oponentes ao acordo com a “troika” (PCP/CDU e BE) obtiveram, no seu conjunto, 13% de votos, o que prova estarem os portugueses fartos de promessas utópicas e preparados para arregaçar as mangas e enfrentar os sacrifícios decorrentes da herança socrática.
O Bloco de Esquerda perdeu metade do eleitorado. A partir de agora, ou assume uma posição de extrema-esquerda, de onde é oriundo, ou imita os “Verdes” alemães. Caso opte pela primeira atitude, transformar-se-á numa organização utópica e contestatária, desaparecendo do parlamento dentro de alguns anos. Se seguir a segunda via, poderá, no futuro, fazer parte de uma alternativa de “esquerda”, à semelhança do partido de Joshka Fisher e Daniel Cohn Bendit.
Pedro Passos Coelho e o PSD foram claramente vencedores. Também o CDS e Paulo Portas se podem considerar vitoriosos, pois além de terem aumentado o seu “score” eleitoral, participarão no próximo governo.
Sempre discordei, neste blogue e em outras sedes, de uma aliança do PSD com o partido de Portas. No entanto, na situação em que nos encontramos, não tendo o PSD obtido maioria absoluta, tal aliança é necessária para cumprir o memorando da “troika” e efectuar as reformas estruturais necessárias – inicialmente muito difíceis – com vista a combater a crise e a construir um Portugal moderno, desenvolvido e com coesão social.
O governo que brevemente tomará posse deverá enfrentar democraticamente a esperada contestação social. Está mandatado por 51,5% dos votantes, os quais estão conscientes das dificuldades, não suportam a demagogia e não têm medo do “papão liberal” de uma “esquerda” que deverá aprender mais com a esquerda liberal representada por Blair e teorizada por Tony Giddens.
Os partidos extra-parlamentares (12) somaram apenas cerca de 4,5% de votos. Entre eles destacaram-se o PCTP/MRPP (63 000 votos – 1,1%) e o PAN (58 000 votos – 1%). O primeiro recolheu muitos votos anti-sistema, o segundo, que concorreu pela primeira vez a um acto eleitoral, conquistou o apoio de alguns ecologistas, amigos dos animais, militantes anti-touradas e vegetarianos desiludidos com os partidos parlamentares.
O MRPP deixou de ser um partido de pessoas na casa dos 50, 60 ou 70 anos, que permaneceram fieis aos seus ideais de juventude, antes e nos anos seguintes ao 25 de Abril, tendo nas suas fileiras – e na candidatura à A.R. – vários jovens estudantes (como nos velhos tempos), desempregados e à procura do primeiro emprego. Sinais dos tempos.

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