segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O POLITICAMENTE CORRECTO E A FALSIFICAÇÃO DA HISTÓRIA

Na edição da Revista do "Expresso" do passado dia 7 de Setembro, vinha publicado um trabalho de reportagem sobre 25 dos 100 considerados ilustres portugueses do séc. XX. Entre aqueles conta-se o já falecido Francisco Martins Rodrigues, que em 1963 abandonou o PCP, de que era um dos principais dirigentes, fundando no ano seguinte, com mais dois dissidentes do partido já liderado por Álvaro Cunhal, João Pulido Valente e Rui d'Espiney, a FAP (Frente de Acção Popular) e mais tarde o CMLP (Comité Marxista-Leninista Português), o qual tornou aquela frente seu braço armado. Estas foram as primeiras organizações maoistas portuguesas.
A prosa sobre Francisco Martins Rodrigues, assinada por Valdemar Cruz, refere ter o mesmo sido preso no início do ano de 1966 com muitos militantes do CMLP/FAP. Esquece, no entanto, o autor da prosa de dizer que tais prisões se deveram à delação do herói revolucionário Francisco Martins Rodrigues na PIDE.
A história verdadeira é esta: havia desconfiança de que um militante do CMLP/FAP, de seu nome Mário Mateus, seria um pide infiltrado. Numa noite, Martins Rodrigues e Rui d'Espiney levaram o tal Mateus para a mata de Sintra, onde este, após levar uma carga de porrada, confessou trabalhar para a PIDE e receber da mesma 2 500 escudos por mês. De seguida, os outros dois matam-no a tiro de pistola.
A PIDE rapidamente prendeu os executantes de Mário Mateus, sujeitando-os a intensa tortura, à qual não resistiram, tendo delatado todos os camaradas que conheciam. Essa sua atitude é que permitiu o desbaratar da organização de que eram dirigentes pela polícia política do regime.
Alguns militantes conseguem fugir para França, juntando-se a outros camaradas aí exilados. Acabaram com o braço armado da organização (FAP) e expulsaram posteriormente Francisco Martins Rodrigues e Rui d'Espiney. A partir dessa altura (1968), o princpial dirigente do CMLP passa a ser o futuro líder do PCP (m-l), hoje militante do PSD e neo-salazarista, Heduino Gomes (Vilar).
Francisco Martins Rodrigues foi condenado na pena de 19 anos de prisão, apenas saindo da cadeia no 25 de Abril. Após a revolução, foi o "pai" da UDP e do PCP(R). O comunista brasileiro, que pertenceu ao círculo de Estaline, Diógenes Arruda, após a "reconstrução do partido", leia-se: o surgimento do PCP(R) no fim de 1975, veio para Portugal controlar o mesmo, tendo levado o respectivo Comité Central, devido ao seu comportamento na PIDE, contrário à chamada firmeza bolchevique, a expulsar Rui d'Espiney e afastar daquele comité Martins Rodrigues, na condição de nunca mais lhe pertencer. Esta atitude relativamente ao Chico, como era tratado na organização, deveu-se ao relevante papel dirigente que teve na reconstituição do partido. Rui d'Espiney permaneceu na UDP.
Em 1984, Francisco Martins Rodrigues sai do PCP(R) e cria a organização denominada "Política Operária", passando a ser director de uma revista com o mesmo nome até à sua morte em 2008.
A extrema-esquerda que não gostava de Martins Rodrigues, dada a sua delação na PIDE, passou, desde os anos 60 do século passado, a apelidá-lo de Chico Bufo.
Quando Francisco Martins Rodrigues morreu, rezei pela sua alma. Desejo que descanse em paz. Reconheço que teve um papel importantíssimo na luta anti-fascista, embora defendesse uma ditadura de sinal contrário. No entanto, não concordo nem pactuo com a correcção política do jornalista Valdemar Cruz. Sempre que se fale ou escreva sobre Francisco Martins Rodrigues, não se refira apenas o que o beneficia. O seu comportamento na polícia, inadmissível em qualquer partido ou organização comunista, levou à prisão e ao exílio muita gente.

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