sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ECONOMIA OU SOCIEDADE DE MERCADO ?

                           
Há muitos anos, quando era director do jornal "Expresso", José António Saraiva qualificou, naquele semanário, Proença de Carvalho, Vitor Cunha Rego e Maria Elisa Domingues, como defensores de um liberalismo económico selvagem. Não tinha razão, pois todos eles, no que diziam e escreviam, mostravam preocupações sociais e a defesa da ascenção social dos mais pobres.
Passado todo este tempo, José António Saraiva é director do semanário "Sol", ao serviço da cleptocracia angolana e porta-voz das posições do governo Portas-Passos. A ideologia, falhada em todo o mundo e também no nosso país, que serve de base a esse governo, é o neo-liberalismo, herdeiro de Ronald Reagan e Margareth Thatcher. Saraiva  tornou-se num dos seus maiores seguidores. Pela sua lógica de há 20 anos, é hoje um dos defensores do capitalismo selvagem. Aliás, é vê-lo elogiar a facilidade em despedir - chegou a escrever que os despedimentos deveriam ser totalmente livres, o que Paulo Portas também fez no "Independente", afirmar estar certo baixar salários e trabalhar mais, cortar nas reformas, aumentar impostos, e tudo o mais levado à prática pelos partidos ditos social-democrata e democrata-cristão, ao contrário do afirmado na campanha eleitoral de há dois anos.
Recentemente, escrevia no jornal com cheiro a sangue de angolanos e não só "vivermos numa sociedade de mercado, como defendiam o PS, o PSD e o CDS".
Nenhum daqueles partidos, nos seus programas, fala em "sociedade de mercado". Pelo contrário, falam em "economia de mercado regulada pelo Estado". Antes de estarem no actual governo, PSD e CDS afirmavam que "a solução, mesmo na economia, não estava toda no mercado". O PS, após ter abandonado o estatismo que o caracterizou em outros tempos e o próprio marxismo, passou a defender o funcionamento do mercado sob supervisão do Estado, rejeitando muito claramente a sociedade de mercado.
Se Saraiva mentiu relativamente aos programas daqueles partidos, falou verdade quanto ao funcionamento das sociedades ocidentais, onde a política está submetida à economia e os grandes grupos económicos mandam e controlam o poder político, especialmente nos países onde a nova direita liberal-conservadora, capitaneada por Angela Merkel, recentemente apelidada de falsa democrata-cristã por uma sua companheira de partido, ex- assessora do chanceler Helmut Kholl, de pouco valendo o voto popular. Ou seja, o poder económico está a destruir a democracia política e também a democracia económica, acentuando as desigualdades sociais e a exploração de mão de obra barata, em favor dos privilegiados. Recordamos, a propósito, ter o liberalismo clássico a luta contra o privilégio como ponto comum com sociais-democratas, socialistas, comunistas e anarquistas.
Por outro lado, o PSD e o CDS, apesar do que está escrito nos seus programas, têm encaminhado Portugal para uma sociedade de mercado, ao gosto do capitalismo sem alma e dos seus serventuários, como José António Saraiva. É a esta gente, apesar de desacreditada e moribunda do ponto de vista político, que vamos continuar entregues por obra e graça do Senhor Presidente da República.
               
PS: cada vez mais este PSD se afasta da verdadeira social-democracia. O partido mais próximo de tal ideologia e do pensamento de Sá Carneiro, adaptado aos novos tempos, apesar de todas as críticas que lhe possam ser feitas, é o PS.
É também necessário, nas próximas eleições autárquicas, infligir, a nível nacional, uma pessada derrota aos partidos do governo, para a mudança rumo a um país mais justo, fraterno, solidário e inclusivo.


Publicado no jornal "Gazeta da Beira", de 25/7/2013

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