segunda-feira, 29 de abril de 2013

ESTALINISMO DE DIREITA

Na velha URSS havia uma anedota que dizia ser, não o futuro, mas o passado, imprevisível, pois a cada purga estalinista, alguém era apagado da História do partido e da revolução. Ou seja, nunca tinha existido. Nas suas obras, especialmente o "1984", Orwell afirmava serem aquelas pessoas "vaporizadas".
Na direita portuguesa, também há quem tenha comportamentos idênticos. Segundo uma reportagem publicada na última edição da revista "Sábado", a Drª Assunção Esteves, Presidente da Assembleia da República, ordenou que se apagasse do seu site oficial a referência ao casamento que a uniu a José Lamego, militante do PS e ex-membro do MRPP (onde tive oportunidade de o conhecer aquando da sua passagem por Viseu entre 1974 e 1976, como professor de Introdução à Política na Escola Emídio Navarro), que foi ferido a tiro pela PIDE aquando do assassinato de Ribeiro Santos, sendo posteriormente detido em Caxias.
Mas mais: do mesmo site foi apagada a origem de classe da presidente do parlamento. Ali se dizia - já não diz - ser filha de um alfaiate.
A número dois do Estado tem vergonha de ser filha de um alfaite, a cujo sacrifício, certamente, deve ter chegado onde chegou.
Se aquele apagar de factos se assemelha, nesse aspecto, ao estalinismo, maoismo e tutti quanti, os complexos em ter vindo de baixo  são demonstrativos de que o reformismo social-democrata que, contrariamente ao marxismo, não defendia o fim dos ricos, mas o enriquecimento dos pobres e remediados, com grande apoio dos que subiam na vida a pulso e com mérito, morreu no PSD. Embora ainda haja muitos autênticos sociais-democratas neste partido, o mesmo já não o é há muito, mas um herdeiro do pior do reaganismo e do thatcherismo.

PS: afinal, sempre temos um governo de iniciativa presidencial. Veja-se o discurso de Cavaco Silva no último 25 de Abril, cobrindo a política governamental, bem como atacando a oposição e todos os contestatários do governo Coelho/Portas. É esta a isenção do PR. Também para ele, à boa maneira estalinista, existem palavras que significam o seu contrário. Orwell chamava a isto o "double talk" (dupla linguagem).

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