terça-feira, 9 de novembro de 2010
O QUE PRETENDE CAVACO SILVA ?
Que o nível da classe política tem baixado significativamente em relação ao pós-25 de Abril é uma verdade. Que muita gente de fraca qualidade intelectual e até ética está na política, não por causas, mas por interesses próprios e dos seus familiares, é uma constatação. Que alguma dessa gente rodeou o Prof. Cavaco Silva quando era primeiro-ministro, todos sabemos. Veja-se quem é suspeito e/ou arguido no caso BPN.
Mas a preocupação de Cavaco Silva terá apenas a ver com aqueles factores? Porque surgiu a mesma em cima das próximas eleições presidenciais às quais é, de novo, candidato? Constituirá um sinal de que o possível segundo mandato do presente inquilino de Belém poderá ser diferente, tendo um protagonismo condicionador do PSD, fazendo-o regressar a um passado não distante, falhado? Pretenderá Sua Exª, a partir da Presidência, atrair sectores do PSD e do PS para a criação de uma nova força política, contra os partidos existentes e acima das ideologias, à semelhança do que Eanes, curiosamente presidente da sua Comissão de Honra, fez também no seu segundo mandato?
A propósito, recordamos uma expressão de Francisco Sá Carneiro “os inimigos da democracia portuguesa são o general Eanes e o PCP”. A candidatura do general Soares Carneiro, apoiada pela AD, tinha como objectivo derrotar Eanes nas eleições presidenciais de 1980, dado o mesmo fazer tudo para impedir a construção de um Portugal moderno e justo, como pretendia aquela coligação e os seus responsáveis. A recordação aqui fica para informação dos mais novos e, como costuma dizer Pacheco Pereira, “dinamitar o cérebro” dos menos jovens.
PS: apesar da minha posição crítica face a Cavaco Silva, irei votar na sua candidatura. Não por acumulação de certezas, como facilmente se conclui, mas por exclusão de partes, tendo em conta a grave situação em que Portugal se encontra.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
ACONTECIMENTOS INTERNACIONAIS COM REFLEXO INTERNO
Recentemente, o guia da revolução comunista cubana, Fidel Castro, afirmou não valer a pena exportar o seu modelo revolucionário, pois o mesmo falhou em casa.
Seguidamente, o seu irmão e sucessor no PC cubano, Raul Castro, defendia o despedimento de um milhão de funcionários públicos, os quais serão incentivados, através de subsídios, a passarem a pequenos e médios proprietários. Haverá também incentivos fiscais para investidores estrangeiros.
Espera-se que à liberalização da economia corresponda a liberalização política, com a libertação de todos os presos políticos, a restauração das liberdades fundamentais, a criação de partidos e a realização de eleições livres.
Aquelas medidas são o dobre de finados pelo regime cubano. Foi tarde, mas um dia os seus dirigentes reconheceram que o seu modelo falhou, começando já por reformar o Estado Social.
Por cá, o PCP continua agarrado a ideias abandonadas pelos abencerragens do marxismo-leninismo. Sócrates, o governo e o PS armam-se em campeões do Estado Social que vão destruindo, como se pode ver através dos vários PECs…
NOBEL DA LITERATURA PARA VARGAS LLOSA
Mário Vargas Llosa, um dos melhores escritores do mundo, finalmente, foi agraciado com o prémio Nobel da Literatura. A atribuição deste prémio a um liberal e ex-comunista indicia ter acabado a correcção política na distinção de escritores com aquele galardão.
Mário Soares afirmou que quando era Presidente da República e este escritor visitou Portugal, convidou-o para jantar no conhecido Restaurante Gambrinus.
Como Soares se esqueceu de marcar lugar, na chegada ao conhecido restaurante da Rua das Portas de Santo Antão, não havia lugar vago. Mário Vargas Llosa disse “o Chefe de Estado e um escritor conhecido, seu convidado, chegarem a um restaurante e não terem lugar mostra ser Portugal uma democracia”.
Atitudes como esta mostram a coerência de quem luta por um mundo verdadeiramente livre.
NOBEL DA PAZ PARA LI SHIAOBO
O dissidente chinês, preso a cumprir uma pesada pena, Li Shiaobo, viu ser-lhe atribuído o prémio Nobel da Paz.
Li Shiaobo luta pela democracia e eleições livres, o que não acontece em qualquer regime comunista, como até o Senhor de La Palisse diria, se cá voltasse.
O PCP, o seu secretário-geral e o seu candidato presidencial espumaram de raiva, numa demonstração do que entendem por democracia. Para certas mentes o mundo parou mesmo. No entanto, não estão sós. Também a eminência parda da actual liderança do PSD, Ângelo Correia, disse ao EXPRESSO que a Academia Sueca, na atribuição do Nobel da Paz, teve mais em conta a opinião pública e dos intelectuais que das empresas e dos estados. Mais disse, como se tal justificasse os crimes da ditadura chinesa, que “naquela zona do globo não há o mesmo respeito pela vida humana que existe no ocidente”.
Aquelas expressões definem aquele senhor, que, além de político, é empresário. Para ele, os interesses contam mais que a defesa dos direitos humanos, da liberdade e da democracia. Também não é de espantar virem tais afirmações de quem foi presidente da Associação de Amizade Portugal-Iraque quando o tirano Saddam Hussein oprimia aquele país.
Ângelo Correia, em recente entrevista ao EXPRESSO, disse ainda, à semelhança de vários responsáveis sociais democratas, como é o caso do seu secretário-geral, Miguel Relvas, que o PSD, num futuro governo que constituísse, deveria aliar-se ao CDS e dar a pasta da Administração Interna a Paulo Portas.
Não foi para isto que as bases do PSD elegeram os seus responsáveis actuais, pois viam em Pedro Passos Coelho e em quem o acompanhava liberais progressistas, até pelas ideias que defendiam relativamente a costumes. A política de alianças do PSD, o seu tacticismo errante e a irresponsabilidade quanto à aprovação ou não do O.E. constituem uma considerável apreensão para a maioria de quem votou em Passos Coelho.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
PSD: UMA FRENTE REFORMISTA PASSA PELA RECUSA DE ALIANÇAS COM PORTAS
Ouvido sobre a mesma sondagem, o secretário-geral social-democrata, Miguel Relvas, afirmou à imprensa que mesmo que o PSD obtivesse uma votação idêntica nas próximas legislativas, o que lhe permitiria alcançar uma maioria absoluta, coligar-se-ia posteriormente com o CDS e com sectores independentes, de esquerda e direita democráticas, contando também com cidadãos ligados à cultura, conotados com essas áreas.
Nem o líder do partido, nem qualquer outro dirigente puseram em causa a posição assumida por Relvas. Dos militantes mais destacados, apenas Paulo Rangel, em entrevista ao "Público", afirmou que o Partido Social Democrata deverá lutar por ganhar com maioria absoluta e, nesse caso, não deverá fazer coligações. É, pois, de pressupôr que as afirmações do secretário-geral do PSD reflictam a posição oficial do partido na matéria.
Para romper com o socialismo tecnocrático e estatista ultrapassado de Sócrates e realizar toda uma série de reformas no sentido liberalizante e desestatizante, o PSD procurará, à semelhança de Sá Carneiro, criar uma frente reformista, que preservando o Estado Social, o porá essencialmente ao serviço de quem dele precisa, diminuindo as despesas para, como contraponto, baixar os impostos para trabalhadores e empresários, incentivando o investimento privado como forma de combater o desemprego, a pobreza, a miséria (em Portugal, há, sim, senhor, cada vez mais miséria, especialmente envergonhada, até na classe média) e vencer o atraso económico e social do nosso país no mundo ocidental.
A frente criada há três décadas foi a Aliança Democrática (AD), que incluia o PSD, o CDS, o PPM e os Reformadores, dissidentes do PS. Não era uma frente de direita, mas uma frente inclusiva da direita democrática, conservadora e liberal, do centro e de uma parte da esquerda, a qual já na altura era contra o marxismo então ainda endossado pelo Partido Socialista, dirigido por Mário Soares. A liderança desse espaço cabia ao centro reformista e, acima de tudo, a Francisco Sá Carneiro, seu principal representante, antes e depois do 25 de Abril. A AD teve sucesso nas urnas e nas políticas aplicadas.
Só que, o CDS liderado por Freitas do Amaral, cujo principal ideólogo e estratega foi Adelino Amaro da Costa, era um partido de direita, conservador, mas inequivocamente democrata-cristão e europeista. Daí que, Homens de esquerda moderada, como António Barreto, Medeiros Ferreira ou Vitor Cunha Rego, todos vindos da extrema-esquerda - os dois primeiros passaram antes pelo PCP, na clandestinidade - não tivessem complexos em integrar a Aliança Democrática.
O actual CDS e o seu líder são excessivamente conservadores, praticam a pior hipocrisia moral da direita mais retrógrada e, em alguns aspectos, têm-se situado próximo da direita radical europeia e não só...
Freitas do Amaral, à semelhança do ex-ministro franquista Fraga Iribarne, em Espanha, integrou a direita na democracia. Só que, a maioria das bases do CDS nunca se identificou com o regime nascido na Grécia há 2 500 anos. Daí o seu abandono por Freitas do Amaral. Paulo Portas, que muda facilmente de posição (política), após a militância no PSD e na JSD, a passagem pelo liberalismo conservador democrático, identifica-se perfeitamente com aquela direita, que não é herdeira do liberalismo e mesmo do conservadorismo europeu e americano, mas do absolutismo, dos caceteiros miguelistas, do salazarismo e do sidonismo.
Na companhia desta gente, os sociais democratas não conseguirão o apoio do eleitorado central, o que dá vitórias. Muito menos terão do seu lado a esquerda, especialmente intelectual, que detesta o PS e abomina o marxismo nas suas mais diversas variantes. Mais: no tempo em que Cavaco liderava o PSD, este partido obteve mais de 50% de votos graças, em grande parte, ao apoio conseguido entre operários das cinturas industriais de Lisboa e de Setúbal, desiludios com o PCP e o comunismo, então a ruir em toda a parte, e o próprio PS. Alguém pensa que esses sectores votam numa candidatura que faça regressar Portas e o PP ao poder?
Se o PS se livrasse de Sócrates e encontrasse o seu Blair, certamente, no quadro atrás referido, poderia voltar a ganhar as eleições e manter-se muitos anos no poder. Mas, a curto prazo, pelo menos, tal não é previsível. Basta ver as recentes entrevistas de dirigentes socialistas mais jovens e moderados, como António José Seguro ou Francisco Assis, os quais mantêm a defesa de um certo estatismo e são contrários à reforma do Estado Social, ao arrepio de boa parte dos próprios partidos da Internacional Socialista.
Por este andamento, o centro poderá ficar abandonado, aumentando a abstenção e o descrédito da classe política, não se sabendo a quem Portugal ficará entregue no momento grave que atravessamos. Por isso, o PSD deverá concorrer sem coligações, procurando o apoio da direita e da esquerda moderadas, repudiando o socialismo, mas também o conservadorismo social. Se o fizer, derrotará os socialistas e poderá encaminhar Portugal no caminho da modernidade, do progresseo e da justiça.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
TERRORISMO POLÍTICO EM SÃO PEDRO DO SUL
segunda-feira, 7 de junho de 2010
FALECEU SALDANHA SANCHES
terça-feira, 4 de maio de 2010
O PSD E O CRAVO DE ABRIL
Aquele gesto significa que:
1º - o 25 de Abril não tem donos. Também não é de todos os portugueses. Obviamente, não é dos nostálgicos do regime salazarista e inimigos da democracia, mas é de todos os que se identificam com o Estado de Direito Democrático, as liberdades fundamentais e os direitos humanos.
2º - O PSD é um partido identificado com os ideais do espírito original de Abril, deturpado por certa “esquerda” durante o PREC.
3º - Quem, dizendo-se do PSD, é contra o 25 de Abril, melhor será procurar lugar em outro partido mais à direita.
4º - O PSD não é de direita, nem conservador. A este propósito, foi com satisfação que vi, em entrevista concedida ao semanário “Sol”, a primeira vice-presidente social democrata, Paula Teixeira da Cruz, afirmar não haver qualquer aproximação do PSD ao CDS, repudiando o conservadorismo social e de valores do partido liderado por Paulo Portas e defendendo a participação do PSD em eleições sem coligações, mas apenas aberto a independentes, política e ideologicamente situados próximo do partido.
terça-feira, 27 de abril de 2010
AINDA O POLITICAMENTE CORRECTO E A CONSTRUÇÃO EUROPEIA
Na sua recente visita a Praga, foi o "europeista" (leia-se federalista) Cavaco Silva quem ouviu as que não esperava do Presidente da República checo, Vaclav Klaus. Disse este que o seu país, porque tem um défice de 5% do PIB, vive muito preocupado, tendo aconselhado Portugal a não falar do seu défice (9,4%). Afirmou ainda "aprofundar o Tratado de Lisboa o défice democrático europeu".
Os nossos europeistas de pacotilha, que incluem a anterior direcção do PSD (acerca da matéria não são conhecidas as posições do novo PSD. Não coloco a expressão NOVO entre aspas propositadamente), o PS e o CDS, em tempos próximo do autêntico nacionalismo reaccionário de Le Pen ou Haider, hoje euro-calmo, que, seguramente, ninguém sabe o que significa, considerarão Vaclav Klaus "nacionalista", "inimigo da integração europeia", etc.
O presidente checo sempre esteve empenhado na edificação de uma Europa Unida. Daí a adesão da República Checa, com o seu apoio, à UE, há vários anos, e a defesa que faz da aliança e solidariedade transatlânticas. Não quer, e bem, é ver a maioria dos países da comunidade subordinados aos grandes, especialmente ao eixo franco-alemão. Parece ser dos poucos políticos e estadistas a ver o alcance das posições - essas, sim, nacionalistas - do marido de Carla Bruni, em defesa da agricultura francesa, prejudicando a agricultura polaca, ou as reticências de Angela Merkel em apoiar a Grécia. Além disso, viu o seu país ocupado pela defunta URSS em 1968. Sabe bem o que é ser dominado por estrangeiros, pelo que quer uma Europa unida, mas livre, na qual todos os países sejam tratados em pé de igualdade. PS: o CDS, apesar de ter passado a "euro-calmo", não deixou de ser um partido próximo da direita radical, como se pode ver pela sua política securitária e em defesa do pior que pode ter o conservadorismo social. Por isso, o PSD deve rejeitar qualquer aliança com tal partido e efectuar uma "coligação" com o país, como foi aprovado no seu último congresso, unindo o centro-direita, o centro e o centro esquerda. Uma aliança com o CDS afastará o eleitorado central, beneficiando o PS, o qual, caso afaste com o seu actual líder e encontre o seu Tony Blair, poderá ficar no poder por muitos e bons anos.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
A MORTE DO PRESIDENTE POLACO E A CORRECÇÃO POLÍTICA
terça-feira, 13 de abril de 2010
A Lei da Rolha e o Dr. António Carlos Figueiredo
terça-feira, 6 de abril de 2010
MILITANTES DO PSD OPTAM PELA MUDANÇA
Estes resultados provam que a anterior direcção do PSD estava divorciada das bases, como outras anteriores. Eis a principal explicação para as sucessivas derrotas quer o partido registou nos últimos 5 anos.
Passos Coelho demonstrou na campanha ser o melhor preparado para a liderança e para derrotar o governo decrépito, incompetente e desacreditado de José Sócrates. Isso mesmo expressaram maioritariamente os sociais democratas, rejeitando o desvio de direita e conservador e a sua possível continuidade. Eu sei que o termo "desvio de direita" é da autoria de Mao Tsé Tung. É escusado algum comentador lembrá-lo. Eu próprio o faço, porque independentemente do autor da expressão, era um risco que o PSD corria, deixando o eleitorado central ao PS.
Passos Coelho, com a defesa de um liberalismo político, económico e de costumes, com consciência social, representa hoje a social democracia portuguesa, no que tem de específico e de diferente da social-democracia dos partidos da Internacional Socialista, tal como foi concebida em outra situação pelos fundadores do PPD, especialmente Sá Carneiro. Com a aplicação prática das ideias divulgadas por Passos Coelho e os que com ele estiveram, o PSD caracterizar-se-á pela sua matriz de sempre: um partido central e reformista, que capta todo um conjunto de eleitores, do centro-direita ao centro-esquerda.
O novo líder estendeu, após a vitória, a mão aos seus adversários, convidando-os a entrarem nos órgãos nacionais do PSD a serem eleitos no próximo congresso. Aquele gesto foi correspondido pelos mesmos, pelo que se prevê uma nova unidade de todos os sociais democratas, convergente de diferentes opiniões integradas no mesmo ideário. Agora, os adversários são Sócrates e o PS, cuja política há que derrotar.
terça-feira, 30 de março de 2010
S. PEDRO DO SUL E A LOJA DO CIDADÃO
Tal como os outros 13 pontos, também este foi recusado pela maioria do Partido Social Democrata.
Numa tentativa desesperada de justificar o injustificável, os deputados municipais deste partido político e o Dr. António Calos Figueiredo tentaram argumentar que o local não era o melhor. Não cheguei a perceber os motivos que supostamente sustentavam esta opinião.
De nada serviu explicar o que está à vista de todos: que uma Loja do Cidadão no centro de São Pedro do Sul seria uma mais-valia para todos os sampedrenses; que seria um investimento praticamente nulo para a autarquia, uma vez que a maior parte das obras são financiadas, existindo mesmo a hipótese de ser cobrada uma renda pelo município; que seria uma oportunidade de conferir utilidade a um imóvel que está ao abandono; que seria uma possibilidade de criação de mais postos de trabalho.
Numa última tentativa de obter a aprovação desta proposta, a bancada do Partido Socialista sugeriu ainda que se promovesse a instalação da Loja do Cidadão noutro local qualquer da cidade.
Mais uma sugestão caída em saco roto.
Mais uma oportunidade perdida para São Pedro do Sul.
Foi esse o caso da autarquia de Cantanhede (que o conseguiu em pouco mais de um ano, como se pode ver aqui e aqui), liderada pelo Prof. Dr. João Moura, eleito pelo Partido Social Democrata e, tal como o Dr. António Carlos Figueiredo, também ele apoiante da candidatura do Dr. Paulo Rangel à liderança do PSD.
Pena que as semelhanças entre os dois se fiquem pelo partido e pelo apoio à liderança interna do PSD, pois que, no resto, as diferenças estão à vista: Cantanhede transformou o antigo quartel dos bombeiros, situado no centro da cidade e que pertence à autarquia, numa Loja do Cidadão de 2ª Geração, tendo assim recebido do Estado um investimento de cerca de 800.000,00 €; São Pedro do Sul continua com um imóvel seu situado no centro da cidade, vazio, abandonado, sem Loja do Cidadão e sem investimento por parte do Estado.
Como temos dito noutras ocasiões, se não querem seguir as sugestões do Partido Socialista de São Pedro do Sul, sigam, pelo menos, os exemplos que vêm de outros municípios liderados por eleitos do PSD. São Pedro do Sul ficará a ganhar!
quinta-feira, 25 de março de 2010
O HOMEM DE PLÁSTICO
Nova Colaboração
Bem-vindo!
quinta-feira, 11 de março de 2010
SÃO PEDRO DO SUL, HOJE – O MEDO DE EXISTIR
Eis o pensamento de José Gil, expresso no livro «Portugal, Hoje – O Medo de Existir», da Relógio d’Água, 2004.
«Em São Pedro do Sul, nada acontece [...]; Em São Pedro do Sul, não há debate político [...]; Em São Pedro do Sul, a arte não tem espaço público [...]; Em São Pedro do Sul, a arte não entra na vida, não transforma as existências individuais[...]; Em São Pedro do Sul, não há uma comunidade literária como não há uma comunidade artística ou científica [...]; Em São Pedro do Sul, o espaço público falta cruelmente [...]; Em São Pedro do Sul, nada mudou [...]; Em São Pedro do Sul, os trabalhos académicos não circulam na opinião pública [...]; Em São Pedro do Sul, o nível de conhecimento geral é extremamente baixo [...]; Em São Pedro do Sul, o direito à cultura e ao conhecimento ainda não chegou ao sentimento da população [...]; Em São Pedro do Sul, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão de liberdade [...]; o São Pedro do Sul democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo [...]; Em São Pedro do Sul, vivemos numa sociedade sem espírito crítico [...]; São Pedro do Sul conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade [...]; Em São Pedro do Sul, não existe o fora [...]; Em São Pedro do Sul, nada se inscreve, quer dizer, nada acontece [...]; São Pedro do Sul é o país por excelência da não-inscrição [...]; Em São Pedro do Sul, a lei não se cumpre, os programas não se realizam, não se pensa nunca a longo prazo, as fiscalizações não se fazem, a administração não se transforma realmente, os projectos de reforma não se executam, os governos não governam [...]; Em São Pedro do Sul, nada tem realmente existência[...]; Em São Pedro do Sul, nada tem efeitos reais [...]; Em São Pedro do Sul...»
Não tenho por hábito ter uma atitude derrotista ou pessimista perante a vida, pelo contrário. Relativamente a São Pedro do Sul, então, auguro um grande e radioso futuro, atentas as características naturais que lhe são inerentes e a qualidade das pessoas que nela vivem (ainda que algumas estejam neste momento como que adormecidas, arredadas da vida pública, perante a mediocridade reinante).
Apesar disso, a minha atitude perante a nossa cidade foi ultrapassada pela realidade dos factos e sou (quase) forçado a subscrever o texto alterado. A crueza dos números não me permite subscrever opinião contrária.
Vem isto a propósito da Assembleia Municipal extraordinária convocada pelo Partido Socialista e pelo Bloco de Esquerda. Já agora, para sossegar aqueles que ainda se não aperceberam da razão do nome, diz-se «extraordinária» porque não é conforme ao ordinário ou ao costume, na prática porque não faz parte daquelas – ordinárias – cuja obrigatoriedade a lei prescreve, e não por servirem apenas para tratar de assuntos excepcionais ou urgentes.
Passando à frente de (mais uma) discussão estéril, a bancada do Partido Socialista inscreveu, nessa dita assembleia, os pontos na ordem de trabalhos que a seguir enuncio, cujo mérito deixo à consideração dos sampedrenses:
2. Proposta de revisão do regimento com aprovação em plenário;
3. Proposta de criação da marca «São Pedro do Sul – Capital do Desporto de Aventura»;
4. Análise e fiscalização das empreitadas das Variantes e da Estrada de Pindelo dos Milagres para efeitos de apresentação de proposta de aplicação das multas contratuais previstas;
5. Proposta de verificação do cumprimento das acessibilidades de deficientes motores aos seguintes edifícios públicos situados na cidade de São Pedro do Sul: CM, Tribunal, Finanças e Segurança Social;
6. Proposta de verificação do cumprimento da legislação da qualidade do ar interior e eficiência energética dos seguintes edifícios públicos situados na cidade de São Pedro do Sul: CM, Tribunal, Finanças e Segurança Social;
7. Proposta de atribuição de um subsídio de nascimento no valor de 500,00 € a cada nascimento no concelho de São Pedro do Sul;
8. Proposta de alteração do local da reunião da Assembleia Municipal;
9. Análise e debate sobre o projecto da criação dos cosméticos pela Termalistur – pedir dados e verificar métodos na escolha dos parceiros;
10. Proposta de implementação de um modelo um sistema de avaliação de carácter indicativo, ou seja, não vinculativo, dos subordinados às chefias;
11. Proposta sobre o seguinte destino a dar à antiga cadeia de S. Pedro do Sul: criação de uma Loja do Cidadão;
12. Proposta de adesão ao Simplex Autárquico;
13. Recomendação sobre procedimentos a adoptar junto da administração central relativamente aos planos de ordenamento do território em elaboração;
14. Proposta de criação de um pólo de um politécnico na área do Termalismo em S. Pedro do Sul.
Ainda a apresentação de cada um dos pontos inscritos não tinha começado, ou seja, ainda as vantagens, custos e impactos de cada um não tinham sido explanados e quantificados, e já o líder da bancada do partido do poder tinha deixado escapar a intenção da sua bancada em expressar um voto massivo contra. O chamado voto cego.
Não serviu de nada. Decorridas cerca de 5 horas de exposições, argumentações e explicações, o resultado foi o bloqueio total de todas as iniciativas postas à votação pelo Partido Socialista.
Por tudo isto, a assembleia municipal referida ficou impressivamente marcada pela negativa. Catorze negativas desferidas contra propostas que poderiam contribuir para algum desenvolvimento de São Pedro do Sul. Catorze chumbos deliberados de forma cega e antecipada pelo partido do poder. Catorze oportunidades perdidas para São Pedro do Sul.
Não pretendemos inventar a roda. Sabemos que já foi inventada há muito. Não deixaremos, contudo, de levar a todas as assembleias futuras propostas que sirvam os interesses de São Pedro do Sul.
Desta vez foram catorze propostas apresentadas e outras tantas chumbadas. Veremos nas próximas assembleias quantas serão (de certeza) apresentadas pelo Partido Socialista e qual o número das que verão a luz do dia por parte do partido do poder.
Os sampedrenses estarão atentos à forma e ao conteúdo das propostas que venhamos a apresentar e aos motivos (se é que os há!) que conduzam à respectiva aprovação ou chumbo.
Até lá, e fazendo uso da adaptação ao texto de José Gil, direi que «em São Pedro do Sul, vivemos numa sociedade sem espírito crítico [...]; São Pedro do Sul conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade». São estas as tristes conclusões a retirar depois do espectáculo degradante que foi a última assembleia municipal.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
A Caixa Agrícola de Lafões: A Direcção que se demita!!!...
Confesso que não sou daqueles que têm da vida empresarial uma perspectiva emocional.
Investir é uma actividade de risco, e isso obriga que seja a razão a determinar as opções empresariais.
A empresa tem de gerir os bens escassos que lhe são postos á disposição tendo em vista a obtenção dos maiores lucros possíveis.
Sem lucros a empresa em um ente inviável e a sua morte implica um conjunto de fenómenos de repercussões negativas em todo o tecido social.
A racionalidade é assim, do meu ponto de vista, o correcto modo de agir empresarial, tendo em vista o fim social na criação de riqueza.
Uma empresa não é só a relação da sua administração com o mercado onde ela está inserida e com aquele para o qual ela está vocacionada. A empresa é muito mais do que isso, são também os seus trabalhadores e os seus accionistas.
As opções empresarias para liderarem têm primeiro de convencer para depois vencerem. É essencial, por isso, que sejam facilmente perceptíveis, entendíveis, assimiladas e aceites pelo mercado, trabalhadores e accionistas.
A existência de ruído que leve a um bloqueio comunicacional entre a empresa, o mercado, os seus trabalhadores e os seus accionistas, impedindo, ou pior, distorcendo a mensagem que corporiza as opções estratégicas da administração, pode levar ao fracasso da empresa.
Falar verdade é, por isso, fundamental na vida empresarial.
Tudo isto para dizer que vejo com muita preocupação o que se está a passar na Caixa Agrícola de Lafões.
Se estrategicamente, numa perspectiva de viabilidade para o futuro da instituição, a opção acertada é a da sua unificação com a Caixa Agrícola das Terras de Viriato, pois que se faça a mesma tão urgentemente quanto possível. Cada dia passado pode ser um dia perdido na defesa do mercado próprio onde ela actua, dos postos de trabalho dos seus colaboradores e de perdas para os seus associados.
Se há um problema, é obrigação dos órgãos sócias, mormente da Direcção, estudá-lo e apresentar fundadas soluções para o mesmo, discutindo-as com o mercado, com os trabalhadores e com os associados.
Infelizmente não foi nada disso que se passou.
O que tem vindo a acontecer na instituição nestes últimos meses é, numa linguagem moderada, própria para ser usada na comunicação social, uma verdadeira trapalhada, ao ponto de hoje ser legítimo questionar se é ou não verdade que haja um problema. Logo, se há dúvidas sobre a existência do problema deixa de ser necessária a solução da unificação.
À inexistência de um discurso simples, concretizável através de factos de veracidade indiscutível, facilmente entendível por todos, respondeu o mercado, os trabalhadores e os associados através de argumentos nada empresariais, verdadeiro blá,blá, blá de escola primária: que a sede saía de Lafões, que os impostos passavam a ser pagos fora da região, que os trabalhadores iriam ser despedidos, que para os órgãos sociais iam pessoas que ninguém conhece, blá, blá, blá. Contrapôs a Direcção que não era bem assim, porque até ficavam determinadas pessoas da região nalguns dos órgãos sociais, que as instalações da sede ficariam em S. Pedro, que os postos de trabalho estavam assegurados…. blá, blá, blá… Até a Assembleia Municipal se meteu ao barulho!!!... Verdadeira conversa de surdos. Conversa da treta. Toda a gente a falar, a falar, mas a não dizerem nada.
Se a instituição não for financeiramente viável, aí sim, lá se vai a sede, os impostos, os postos de trabalho, os lugares nos órgãos sociais.
O que me interessa saber é a verdade. Há ou não um problema. Se há, então ele tem de ser resolvido e por isso é necessário descobrirem-se as acertadas soluções. Não conheço outro caminho.
Acontece que com toda esta trapalhada foi exponencialmente agravada na última Assembleia Geral Extraordinária marcada para uma 5ª feira às 14horas.
Sinceramente, não há explicação entendível para se admitir que se faça a discussão de uma questão tão importante para a vida da instituição, como seja a dela poder vir a unir-se com outra, somente cerca de 6 meses depois desse tema ter sido discutido em Assembleia bastante concorrida e aí ter sido rejeitado de forma democraticamente indiscutível. Que facto novo ocorreu que justificasse uma nova Assembleia?
Depois, porquê numa 5ª feira às 14h. Porque não ao Sábado da parte da tarde, altura da semana onde consabidamente as pessoas têm maior disponibilidade para poderem participar no debate?
O alarido social e a indignação contra este modo de agir levou a que a última Assembleia tornasse a ser bastante concorrida e, espanto dos espantos, a Direcção escreveu ao Exº Sr. Presidente da Assembleia Geral informado que retirava da Ordem de Trabalho todos os pontos para a qual ela havia sido convocada, com o peregrino e incrível argumento de que o Sr. Presidente do Conselho Fiscal tinha pedido a demissão….
Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra???!!!.....
Em face do sucedido, parece-me que o descrédito em que a Direcção da Caixa caiu é de tal modo que, em defesa dos interesses da instituição, valor supremo a defender, só há uma sida: a demissão.
João Carlos Gralheiro, 22 de Fevereiro de 2010
domingo, 7 de fevereiro de 2010
QUE FUTURO PARA O VINHO DE LAFÕES, Reflexões sobre um Debate
Reflexões sobre um Debate
Organizado pela Gazeta da Beira e difundida pela Rádio Vouzela, realizou-se na noite da passada sexta feira, dia 05/02/2010, um debate subordinado ao tema: “Que futuro para o Vinho de Lafões”.
No debate, que foi moderado pelo Dr. Arsénio Martins, participaram deputados da Assembleia da República, um dos quais é o presidente da comissão de agricultura; investidores e investigadores na área da vitivinicultura e das actividades económicas a ela associadas, como o enoturismo; actuais e antigos dirigentes da Adega Cooperativa de Lafões (a mais antiga adega cooperativa do país, a passar momentos de enorme dificuldade, que põem em causa a sua viabilidade financeira); representantes locais de alguns dos partidos com assento parlamentar (CDS. BE, PCP e Verdes), para além do muito público que encheu por completo o auditório da Rádio Vouzela, local onde a iniciativa teve lugar.
Se as entidades envolvidas na idealização e concretização da iniciativa estão de parabéns pelo evento, também o estarão, certamente, os intervenientes no debate que, com a qualidade das reflexões que compartilharam com todos quanto, ao vivo, através do sinal de rádio ou da internet, o acompanharam, o elevaram a um verdadeiro fórum, onde a análise dos sintomas, o diagnóstico desse quadro sintomatológico e a terapia para a recuperação do mesmo terão, obrigatoriamente, de ser levados em consideração em quaisquer outras análises futuras desta problemática.
A questão colocada para reflexão aos palestrantes tinha em si mesmo todos os condimentos necessários para a abordagem do tema. Na verdade, perguntar-se “que futuro para o Vinho de Lafões” implica uma dupla análise: uma subjectiva, onde a questão nuclear é “que futuro”, e outra objectiva, ancorada na realidade “Vinho de Lafões”.
A combinação destes dois elementos, atenta a realidade concreta em análise, implica aceitar-se a premissa da existência de um passado e de um presente que representam um lastro histórico-antropo-sociológico de tal modo importante para a região e para o país que obriga reflectir sobre o seu futuro. Se isso não acontecesse, isto é, se o objecto de análise não tivesse qualquer tipo de relevância na compreensão das indiossincracias de um povo, entendendo-se este como uma realidade sociológica num determinado tempo histórico, com todas as suas valências de interacção, não seria objecto, por parte de pessoas oriundas de áreas tão diversificadas como sendo as do conhecimento puro (os académicos) do conhecimento prático (os investidores e os dirigentes associativos) e as do conhecimento combinado destes dois saberes (os políticos), de análise especulativa e reflexiva.
Atenta a natureza muito específica do solo existentes nesta região de Lafões, ao seu clima e às castas plantadas nas propriedades agrícolas, aceita-se que o Vinho de Lafões tem características organolépticas (cor, brilho, sabor, odor e textura) muito próprias, que o fazem distinguir de todos os demais vinhos: não é um vinho maduro, mas também não é um vinho verde.
Ora, esta sua particularidade fez com que, quer ele quer a aguardente vínica dele derivada, já tivessem sido produtos de elevada qualidade, ao ponto de, pelo menos o vinho ter recebido algumas medalhas de ouro em importantes certames internacionais vitivinícolas.
O conhecimento dessa mais-valia e a percepção dos dividendos financeiros que a lavra, colheita, produção e comercialização deste produto autóctone traria, fez com que os agricultores de Lafões tivessem, na segunda metade dos anos 40 do século passado, criado a Adega Cooperativa de Lafões, que foi a entidade que projectou para todo o lado, quer no país, quer no estrangeiro, este nosso bem.
Com a entrada de Portugal na União Europeia, a aplicação das regras da Política Agrícola Comum, a abertura da nossa economia aos especuladores mundiais, a opção centralizadora do estado, tudo isto combinado fez com que este nosso produto fosse definhando ao ponto de se lhe ter já anunciado a sua entrada num processo de morte lenta, no dizer da Srª Professora Leonor Corte Real e do jovem Pedro Mouro. Na verdade, em razão das opções de política económica que nos são impostas pela União Europeia em benefício dos grandes grupos económicos, levaram a que os nossos agricultores fossem deixando ao abandono as suas propriedades, fazendo hoje perigar a nossa autonomia alimentar, por inexistência de capacidade produtiva própria para alimentar o país. A isto associam-se negativamente as políticas de permissão dos grandes grupos económicos oferecerem aos produtores preços muito baixos pela aquisição dos bens que eles produzem, para depois serem vendidos a preços elevados nas grandes superfícies; as políticas fiscais altamente penalizadoras comparativamente com as dos países que connosco concorrem directamente e o elevado custo dos factores de produção, como sendo os combustíveis, adubos, energia eléctrica.
No quadro das reais grandes opções estratégicas, dos partidos do denominado “arco governativo” (do CDS ao PS) que têm governado este país desde o 25 de Novembro de 1976, tem havido uma clara desconsideração pelo interior em benefício das zonas litorais. Na prossecução destas reais opções tem-se vindo a ver uma permanente deslocalização, lenta desactivação e mesmo extinção dos serviços regionais, de apoio à agricultura em particular e á vida no interior em geral.
Este quadro levou a que os agricultores abandonassem as terras, os jovens as aldeias e vilas (hoje alguma delas cidades…), pelo que a pouca agricultura que ainda se vai fazendo nesta região ocupa uma reduzida área do solo disponível e é feita genericamente por idosos sem qualquer tipo de formação técnica ou apoio nesse nível.
Obviamente que, tal como acontece a quase todos os produtos agrícolas, em razão da miséria em que os agricultores foram lançados pelas políticas nacionais e europeias, também o Vinho de Lafões sofre com este quadro um corte na sua capacidade produtiva, quer em quantidade quer em qualidade: hoje é muito pouco o Vinho de Lafões que se produz e mesmo esse é de baixa qualidade. A agravar este quadro negro temos as recentes medidas aprovadas pela Organização Comum dos Mercados, já ratificadas pela União Europeia, que virão permitir a entrada em Portugal de vinhos a poderem-se chamar de Lafões, feitos num qualquer canto deste globo que não a nossa região e, bem assim, a poderem ser feitos com a adição de sacarose, o que os torna consabidamente mais baratos, mas que não são efectivamente vinhos verdadeiros, com isto se beneficiando apenas os produtores franceses ou alemães de beterraba, uma vez mais, em detrimento dos nossos agricultores e, no caso particular, deste específico produto regional que é o Vinho de Lafões.
Apesar de todos estes ataques a verdade é que, em resultado de estudos estatísticos feitos pelo académico Doutor Alfredo Simões, Lafões é uma denominação percentualmente bastante conhecida dos portugueses e, dentro dos que afirma conhecer esta região, uma elevada percentagem diz conhecer o Vinho de Lafões. O grave problema é que este saber é uma realidade imputada a um sector da população nacional com idade mais avançada. Isto é, os jovens cada vez mais conhecem cada vez menos este produto regional.
Temos assim um produto que já deu provas de ser um bem de qualidade vendável e lucrativo que fruto de opções políticas erradas tem vindo a definhar. Assim sendo, ao segmento objectivo da questão posta à reflexão podemos responder que há um Vinho de Lafões.
Depois de feita uma sucinta análise ao segmento subjectivo da questão, na vertente da análise histórica do que foi e do que é a realidade do Vinho de Lafões, importa agora debruçarmo-nos sobre a vertente de futuro desse produto: que futuro para o vinho de Lafões.
O mundo em que vivemos é este e, como diz uma pessoa minha amiga, “o que tem de ser tem muita força”. Não interessa por isso pensar em respostas para esta questão tendo como premissa um outro país ou este país com outras opções estratégicas, quer a nível nacional que a nível da sua integração e relacionamento nos e com os grandes espaços e organizações económicos mundiais. Vivemos numa economia de mercado, estamos na União Europeia, na Organização Comum dos Mercados e na Organização Mundial do Comércio. Esta é a nossa realidade política. A globalização das economias faz com que Lafões esteja em concorrência directa com toda e qualquer outra região do mundo que produza vinhos e que procure consumidores para os seus produtos.
O que é que Lafões tem para oferecer neste mundo globalizado? O que tem de melhoro é o seu “atraso”, que permitiu que as suas belezas naturais (serras, vales, rios, aldeias típicas, caça e pesca, desportos radicais), as suas termas (termalismo, fisioterapia, spa), a sua gastronomia (vitela, cabrito, doçarias vinhos), o seu património histórico e antropológico (pedra de Serrazes, cárcoda de Carvalhais, Torre de Vilharigues, pedras pintadas de Benfeitas, ranchos folclóricos, grupos de cantares, etc.), a amizade, simpatia e prazer de bem receber e acolher das suas gentes, não tivessem sido poluídas e descaracterizadas pelo crescimento desmesurado das sociedades de consumo. Aqui “the small is beautifull” (o pequeno é bonito). É exactamente isso que temos de bom para oferecer, o nosso “atraso”, o sossego, tranquilidade e pureza o das nossas paisagens, ares, águas e produtos regionais, para aqueles que vivem nas evoluídas cidades, metidos horas e horas dentro de carros em intermináveis filas de trânsito a respirarem CO2; que bebem água bacteriologicamente pura mas moralmente impura; que vivem em infindáveis arranha-céus onde não conhecem sequer o vizinho da frente e que comem apenas aquilo que o supermercados lhes dá, não sabendo de onde e como esses produtos provieram. Isto é, Lafões tem todas as condições objectivas para se poder acreditar que tem capacidades para oferecer produtos de elevadíssima qualidade na área do turismo.
Para tanto necessário se torna congregar vontades, no sentido de se definir um plano estratégico de desenvolvimento, planos de acção, nas palavras do Sr. Engenheiro Vítor Martinho, a longo prazo para a região, criando-se parcerias entre as autarquias, o sector privado, cooperativo, social (as Assembleias de Compartes dos baldios), as organizações ligadas ao sector agrícola e ao desenvolvimento regional e do mundo rural, os agentes culturais e desportivos e as escolas, como se de um verdadeiro “cluster” industrial se tratasse, que, com o apoio da administração central e com o recurso aos fundos disponíveis, designadamente aos comunitários, tivesse por objectivo a criação das infra-estruturas, da promoção e da exploração desse complexo produto turístico.
Desse projecto, e no que tange ao Vinho de Lafões, será indispensável a aposta na qualidade. Pelas limitações naturais do espaço geográfico colocado à disponibilidade da produção deste produto não se pode almejar atingir vastos mercados, usando-os assim factores multiplicadores na obtenção de lucros na sua comercialização. Não. Isso não será possível. O espaço é limitado, a realidade fundiária é a que é, onde a maioria da propriedade rural agrícola tem áreas muito pequenas. Assim, a aposta tem de ser, numa primeira fase em “target” (alvos) regionais. Ter-se-ão de ganhar os Lafonenses para o consumo desse seu produto. Nos Restaurantes, Hotéis, Pensões, Casas de Turismo Rural, Cafés da região ter-se-ão de ganhar os clientes para o seu consumo. Após a consolidação do produto no mercado alvo desta primeira fase, e em razão da mesma, dever-se-á partir, então, para uma segunda fase, onde o “público-alvo” já será definido por nichos de mercado de média elevada capacidade económica (aquele público que se deseja tenha ficado fidelizado ao produto em razão do consumo feitos na restauração regional) e aquele que se irá ganhar com concertadas e correctas campanhas de promoção do seu consumo. Para além da qualidade, nesta concorrência global, o Vinho de Lafões terá de oferecer outras mais-valias relativamente aos produtos congéneres que deverão ser a inovação do design colocado na sua apresentação e à agressividade do marketing na sua promoção junto do mercado composto pelo público-alvo.
Para se obter a desejada qualidade será indispensável, tal como referenciou o Sr Engenheiro António Aido, a intervenção das Universidades e de outras Escolas de Ensino Superior no sentido de se definirem as adequadas castas a plantar, trabalhando-as geneticamente, se necessário for, no sentido de potenciar todas as suas capacidades produtivas e de resistência aos ataques próprios da natureza, designadamente aos climatéricos, estudando, por exemplo os feitos que a futura barragem de Ribeiradio possam vir a ter sobre a produção do Vinho de Lafões, questão esta pertinentemente colocada pelo Sr. Geógrafo Nuno Miguel Martins; definindo os adequados terrenos, adaptando-os, se isso for exigido, organicamente para o mesmo objectivo; auxiliando os agricultores em toda as fases posteriores até à colheita, de modo a se obterem uvas de elevadíssima qualidade e, finalmente, definindo as mais correctas técnicas de fabrico, engarrafamento, armazenamento e distribuição, bem como ajudando a restauração no sentido de serem aplicadas boas e idênticas práticas na apresentação para consumo e consumo propriamente dito, tudo isto para que o produto final possa ser oferecido ao consumidor como produto de elevada qualidade. Nesse trabalho ter-se-á de ter em consideração a necessidade de se assegurar uma qualidade média muito próxima em todas as campanhas, de modo a não se defraudarem os consumidores de um ano para o outro.
Modernidade na criação do produto final e na sua apresentação e agressividade na sua promoção implicam, nas palavras do Sr. Engenheiro Casimiro Gomes, uma alteração de mentalidades, que, em princípio exigirá alterações geracionais na produção e comercialização do Vinho de Lafões. Lafões necessitará de jovens agricultores a gerir as explorações agrícolas e de jovens comerciantes a vender esse nosso produto, uma vez que a juventude é mais apta para absorver e adaptar os modos de fazer às adequadas técnicas e, bem assim, está mais aberta para soluções associativas que permitem, nas palavras do Sr. Enólogo João Paulo Gouveia, ganhos com economias de escala. Aliás, a prova da existência dessa modernidade foi constatada pela presença e participação do jovem Pedro Mouro, que com pouco mais de 20 anos aceitou agarrar e dirigir um projecto agrícola familiar na nossa região (parabéns Pedro pela coragem e pelo sinal positivo de esperança no futuro que representa esse seu gesto, numa região envelhecida e deprimida).
Como acima se deixou dito, a viabilidade deste projecto passa por uma concertada e efectiva intervenção dos poderes nacionais e locais, e isto porque, conforme frisou o Doutor Pedro Soares, a questão do Vinho de Lafões não é um problema exclusivo dos Lafoneneses, mas antes sim de todos. Portugal é o que é porque é composto de uma antropo-diversidade que assegura a sua identidade, unidade e coesão social. Tal como na natureza, na estrutura social o desaparecimento de um produto consabidamente enraizado na cultura e hábitos da nossa região é uma perda imediata para a região, mas também o será para o todo nacional. Se aceitarmos a inevitabilidade e inelutabilidade desses tipos de fenómenos acabamos por admitir o desaparecimento do que nos torna diferentes e melhores. O que nos faz beber um bom vinho em vez de uma coca-cola ou de comer um bife de uma boa vitela em vez de um hambúrguer. São estas pequenas coisas que também serviram para nos afirmarmos no concerto das nações como o país com as fronteiras mais estáveis e antigas da Europa.
A compreensão desta vertente nacional do problema levou a que os Senhores Deputados presentes tivessem assumido o compromisso, se essa fosse a vontade real das forças vivas da região, de levar a questão do Vinho de Lafões à Comissão de Agricultura da Assembleia da República, podendo esta vir a chamar os autarcas da região para, em conjunto com eles, se analisarem soluções e métodos de as alcançar, de modo a evitar a anunciada morte lenta do Vinho de Lafões.
E qual o papel da Adega Cooperativa de Lafões neste projecto? Antes de tudo terá de deixar de ser parte do problema e passar a ser parte da solução. Ela, conjuntamente com as demais estruturas do sector cooperativo e social da região deverão ser as “organizações âncoras” da dinamização e credibilização deste projecto. Deverá ser em tais estruturas que ele terá de ser alavancado, uma vez que elas, melhor do que ninguém, conhecem os concretos proprietários e produtores vinícolas da região, as suas necessidades, dificuldades, anseios, e estes, por outro lado, nelas confiam, uma vez que, pela relação de proximidade que com elas e seus dirigentes mantêm, também as conhecem, sabendo que sobre elas e seus dirigentes podem exercer um mais apertado, efectivo e positivo poder de controlo. Depois, são essas estruturas, designadamente a Adega Cooperativa, que já detêm o “know how” (saber fazer) e os meios necessários para a produção e comercialização do novo Vinho de Lafões. Serão para elas que todos os input necessários ao bom desenvolvimento do projecto terão de ser canalizados e será delas que terão de partir todos os outputs indispensáveis ao êxito do mesmo.
Uma última palavra, notou-se a ausência dos Srs. Presidentes de Câmaras da região no debate. Quero crer que tal se ficou a dever a questões alheias à vontade dos mesmos, pois custa-me a acreditar que intencionalmente e sem qualquer justificação plausível e aceitável, os mesmos tenham querido faltar a um debate tão importante para a região que ocupa o espaço geográfico e a população dos municípios que eles representam.
João Carlos Gralheiro
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
A VARIANTE DO PORCO JÁ RUIU
Esperávamos esclarecer que se trata de um blogue aberto a todos quantos queiram debater ideias, traçar objectivos, apresentar projectos, independentemente da sua cor partidária.
No entanto, a realidade é mais rápida do que as nossas intenções e, em vez do tal texto geral, somos «forçados» a dar conta de um problema específico: a chamada variante a S. Pedro do Sul.
Depois de uma inauguração que teve mais de porco e cerveja do que de pompa e circunstância, bastaram as primeiras chuvas da estação para pôr a nu aquilo que a sabedoria popular há muito nos ensinou: a pressa é inimiga da perfeição.
A «obra do mandato», com claros objectivos eleitoralistas, construída em tempo recorde (embora ultrapassando clara e largamente mente os prazos contratualmente previstos) e sem nenhuma planificação, não poderia ter outro resultado que não fosse o visível na fotografia acima publicada.
Onde antes existiu tapete de alcatrão existem agora fendas, sendo claro o abatimento do suporte da dita variante. E só passaram 4 meses!
Há muito que se adivinhava este desfecho, como se pode ver aqui. No entanto, a época era de captação de votos e não de discussão de soluções alternativas… A ver vamos como, quando, com que custos e por quem será resolvido o problema.
Esperamos, contudo, que a reparação ocorra antes das próximas eleições autárquicas e que, na altura da reabertura, não aproveitem para chacinar mais uns quantos suínos e sorver mais uns quantos copos de Super Bock, passe a publicidade. É que, da última vez, a brincadeira custou mais de 8 salários mínimos nacionais!