segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

OS DONOS DA VERDADE

Desde Cavaco Silva, vários líderes do PSD acham-se donos da verdade e, quando se encontram no poder, convivem mal com a oposição e a contestação, normais em democracia.
Logo após a sua chegada à liderança social democrata, Cavaco afirmou que "nunca se enganava e raramente tinha dúvidas". Além de arrogância, aquela expressão demonstrava que o seu autor se julgava dono da verdade absoluta. Também disse que os problemas do país eram técnicos e não políticos, o que significava vontade de submeter Portugal à tecnocracia - o que, em grande parte, conseguiu - e desprezo pelo debate político. Foi assim que tiveram início muitas ditaduras chefiadas por "homens providenciais".
Já primeiro-ministro, ficou célebre uma outra frase do actual PR: "deixem-nos trabalhar", a qual tem subjacente, não a natural vontade de governar, mas um mal estar perante a acção da oposição, especialmente a que era feita no parlamento onde o PSD era então minoritário.
Manuela Ferreira Leite, cuja formação é essencialmente tecnocrática, pois as suas intervenções e artigos andam quase sempre à volta de finanças e economia, poucos conhecimentos demonstrando possuir na área da política pura e dura, falava permanentemente na verdade, como se os seus adversários, incluindo os internos, fossem todos uns mentirosos.
Pedro Passos Coelho e seus sequazes dizem  não existir alternativa à sua política de empobrecimento, em nome do combate à crise financeira, a qual, de resto, só tem conhecido agravamento.
Estes tiques demonstram uma formação pouco democrática por banda destas pessoas. Se as condições objectivas e subjectivas do país, chamando em nosso auxílio Karl Marx, fossem outras, talvez já tivessem procedido à suspensão da democracia  por 6 meses ou ... ad eternum.
Quanto aos sentimentos democráticos de certas bases dos "sociais-democratas" nem é bom falar. Como escrevia Paulo Portas, em Novembro de 1983, no primeiro número do extinto jornal "Semanário", "é mais fácil encontrar um cacique laranja que um cacique do CDS a defender a instauração de uma ditadura". Ao fim de 30 anos, a situação no aparelho laranja, nesse aspecto, nada mudou.
Este comportamento dos dirigentes do PSD em causa, no poder ou na oposição, é claramente demonstrativo, entre outros aspectos, de que tal partido, como diz Miguel Sousa Tavares, "só por anedota se pode chamar social-democrata" e, de há muito, se desviou do projecto de Sá Carneiro, o qual repudiava a tecnocracia e defendia o debate democrático, frontal e aberto, com os seus adversários.

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