quinta-feira, 8 de março de 2012

O HOMEM NOVO, SEGUNDO O PRIMEIRO-MINISTRO

A propósito da não concessão de tolerância de ponto no dia de carnaval, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho afirmou não se compadecer a situação difícil em que Portugal se encontra e a necessidade de aumentar a competitividade e a produtividade com a manutenção de tradições como a comemorada naquela data.
Quanto a melhoria da competitividade e da produção, a queda do crescimento económico em 1,5% no ano passado e que se prevê ultrapassar, no ano presente, os 3%, podendo mesmo chegar aos 4%, ou o aumento do desemprego, o qual já atinge mais de 1 milhão de portugueses, dizem tudo da política passista-portista na matéria. Estes factos, aliados à quebra de 8% nas receitas fiscais, no pretérito mês de Janeiro, relativamente a igual mês de 2011, provam que se está a somar crise à crise. Foi assim que começou a actual tragédia grega.
Passos Coelho foi comunista, tendo militado no PCP e na JCP na sua adolescência. Parece ter captado bem as teses marxistas-leninistas sobre a criação do “homem novo”, robotizado e controlado pelo poder, sendo para tal necessário acabar com a maior parte das tradições.
Agora, como homem de direita – já toda a gente se apercebeu que não é social democrata e o seu liberalismo foi muito mal estudado – parece querer criar o “homem novo”, “descomplexado produtivo”, que, como diz o guru do ultra-liberalismo, defensor da ditadura do mercado, Manuel Forjaz, não tem mais emprego, mas terá que estar sempre prestável para trabalhar sem qualquer vínculo à entidade patronal. Quem assim não pensar é um “preguiçoso autocentrado”. Se a construção do “homem novo” comunista conduziu a um totalitarismo colectivista responsável por enormes violações dos direitos humanos e à morte de 100 milhões de pessoas em todo o planeta, este “homem novo” não passará de um robot manipulado pelo pior que o capitalismo tem. As experiências laboratoriais deste governo põem ponto final no capitalismo de rosto humano e marcam o regresso ao século XIX, em termos laborais e sociais. Por outro lado, tal como nos regimes comunistas, esta governação ultra-liberal e ultra-capitalista tende a pôr fim a tradições ancestrais.
Quem sabe, ainda regressaremos ao ano zero como o Camboja governado por Pol Pot e o Partido Comunista Cambojano (os famigerados kmers vermelhos), de inspiração maoista?
Passos Coelho aprendeu bem a lição dos seus verdes anos, adaptando-a às políticas de direita e negadoras da social democracia que representa. Também deve ter aprendido que “onde há repressão, há luta”.
No dia de carnaval, à excepção dos funcionários públicos, porque foram obrigados, todos os outros portugueses, trabalhadores ou empresários, descansaram, não dando importância à decisão governamental. Há tradições que não acabam por decreto. Mais: essas tradições mantêm-se e quem com elas quer acabar passa. Foi essa mais uma das lições da queda do comunismo em praticamente todo o mundo.

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